A de AG. A nossa também, assim condenados ao
ridículo, por tanta chateza, que AG. salienta, como sempre, magistralmente – chateza de falas, de acções aparentemente benévolas, numa ilusão de simpatia
humana, e de puro nudismo - autismo - intelectual e psicológico, quando não igualmente
físico, por alturas de praia, com a naturalidade do homem comum, ou do menino
feliz…
O artista anteriormente conhecido por prof. Marcelo
No mundo dos adultos onde o
“comentariado” não entra e que a famosa “bolha mediática” não reflecte, as “considerações”
do prof. Marcelo envergonham.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 25
mai. 2024, 00:20
Na
quinta-feira, em Florença, o prof. Marcelo participou numa conferência sobre o
“futuro da União Europeia”. Aí, amanhou uns palpites acerca das próximas
“presidenciais” americanas em benefício dos elementos da audiência que ainda
não tinham adormecido ou escapado da sala. Para Sua Excelência, cito quase com
exactidão, a vitória de Biden será boa para a Europa e a vitória de Trump será
boa para a Rússia. No mesmo dia, dois ou três jornais portugueses noticiaram o
episódio em rodapé. Eu dediquei o meu programa na Rádio Observador ao dito. Que
eu saiba, fui caso único. Ninguém, e sublinho a palavra, comentou as
declarações do homem que formalmente desempenha as funções de presidente da
República.
Das duas, uma. Ou a generalidade do
abundante “comentariado” concorda com o prof. Marcelo ou o prof. Marcelo já atingiu um grau de inimputabilidade que desmotiva
as críticas e embaraça os críticos. Se gostaria de acreditar na segunda
hipótese, inclino-me para a primeira. É que há por aí gente que não evita
avaliar o que lhe aparece à frente. Às vezes avalia, até com simpatia, o
candidato do Livre às “europeias”, uma personagem tão burlesca que é impossível
não ter sido concebida de propósito. E quem leva a sério o comediante do Livre,
que a bem ver nem existe, não deve
deixar de levar a sério o comediante de Belém. E, muito provavelmente,
de achar pertinentes as suas “considerações”.
Entretanto,
no mundo dos adultos onde o “comentariado” não entra e que a famosa “bolha
mediática” não reflecte, as “considerações” do prof. Marcelo envergonham.
Envergonhar não é sinónimo de surpreender. Estamos a falar da criatura que
começou a presidência com uma viagem a Cuba para homenagear o Carniceiro de
Havana e que, há menos de uma semana, lamentou em nome do povo português a
morte do Carniceiro de Teerão. Pelo meio, vão oito anos e tal
dedicados a arrastar a figura do chefe de Estado, e com frequência o próprio
Estado, por um lamaçal sem fim. Embora as afirmações em Florença não desmereçam
esse valoroso percurso, não há maneira de as pessoas decentes se habituarem ao
lamaçal. A vergonha é imensa, e só a falta dela explica o silêncio que se
seguiu.
Vale a pena explicar as razões, da
vergonha que não do silêncio? A título de higiene, esclareço que nada disto
pressupõe a veneração de Trump, de resto um espécime pouco venerável. O
critério são os factos. E um facto assaz evidente é o de que o representante
oficial de uma nação soberana não pode aliviar-se de opiniões alusivas às
escolhas democráticas de uma nação soberana diferente. A coisa piora quando as
opiniões em causa não possuem qualquer vínculo à realidade e obedecem a vozes
que ecoam na cabecita do prof. Marcelo ou nas redacções do Público e do Expresso.
Com que então o sr. Putin prefere Trump
a Biden para realizar os seus sonhos imperiais? Claro que sim, e por isso é que
esperou que Trump saísse da Casa Branca para invadir a Ucrânia, como em 2014
não esperara que Trump entrasse na Casa Branca para anexar a Crimeia. Com os
democratas no poder, de Obama a Biden, o sr. Putin não brinca. Nem o sr. Putin
nem, acrescente-se dois meros exemplos, os amáveis taliban e os senhores que
tutelam o Ministério da Saúde de Gaza, vulgo o popular Hamas. Trump, é
sabido, iniciou a IIIª Guerra Mundial e, se reeleito, prepara-se para iniciá-la
de novo. Com Biden, incapaz de se calçar sozinho, a paz reina, na Europa e no
planeta inteiro. Planeta que, aliás, é plano. E de cujos céus os aviões
despejam químicos para aniquilar a humanidade. E os homens, que nunca foram à
Lua, conseguem menstruar se o desejarem com força. E a força de todos libertará
a “Palestina” do genocídio e do apartheid.
O prof. Marcelo, que fizera uma
carreira estimável nas variedades televisivas, jamais se distinguiu pela
sofisticação intelectual excepto na perspectiva dos pasmados que lhe admiravam
os truques: produzir baixa intriga e fingir ler baixa
literatura. Porém, a situação em que se exibe desde 2016, e receio que com
tendência de agravamento nos últimos tempos, é de outro nível. Artistas
medíocres temos com fartura, em concertos pagos por autarquias e em lugares de
aparente responsabilidade. Infelizmente, a simples mediania já não contém o
prof. Marcelo, que a cada oportunidade pulveriza recordes de inconveniência e
devaneio. Por mais do que um motivo, compreende-se que o prof. Marcelo
veja em Biden uma inspiração, mas era escusado inspirar-se tanto. O homem,
em suma, não está bem. E um país em que as classes política e jornalística,
para usar um horrendo termo em voga, “normalizam” as respectivas acções não
está muito melhor.
Restam dois anos, e não se vislumbra quem,
divino ou terreno, possa ajudar o prof. Marcelo a terminar o mandato, antes que
sem ajuda ele termine com tudo em redor. A dignidade não é para aqui chamada.
MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 13)
Maria Paula
Silva: Está tudo dito, e muito bem,
por AG. É embaraçoso, para não dizer pior. Parece que baixou a popularidade nas
últimas sondagens (seja lá o que isso for). Mas mesmo assim, a política actual
e o nível dos comentadeiros-políticos (nunca o país esteve tão recheado deles)
prova o nível de ignorância, iliteracia e baixo nível intelectual da maioria do
povo português. Como diria um amigo meu "aqui não se aprende nada". Mas
até acrescento: "aprende-se, sim senhor, aprende-se como não devemos
ser".
Xico Nhoca: Julgo que só quando o homem aparecer todo nu às portas
do palácio de Belém é que a malta vai perceber o seu estado de saúde.
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