Mais um texto sobre o testo do nosso
tacho tapando o guisado e o desaguisado da nossa facúndia educativa, composto
por Amens e Vade retros da nossa sensibilidade de excitação.
É proibido permitir
Chegámos a este curioso ponto de
evolução da sociedade humana em que os que se dizem democratas proíbem, e os
que permitem se arriscam a passar por fascistas.
ALEXANDRE BORGES Escritor e
argumentista
OBSERVADOR, 23
mai. 2024, 00:1624
Um cidadão até estava de acordo com
Alexandra Leitão, com o PS, com a esquerda. Também achava que não se pode, ou
pelo menos não se deve – e talvez aqui resida toda a diferença –, dizer que
determinada etnia é mais burra ou preguiçosa do que as outras, num lugar como a
Assembleia da República. E que, portanto, se algum deputado, por seu triste
entendimento do mundo, o decida fazer, a Presidência da Assembleia da República
pode – e talvez deva – chamar de pronto à atenção para o facto de qualquer
observação daquela natureza ser injuriosa, ofensiva e totalmente contrária ao
espírito da Constituição da República Portuguesa e dos tratados internacionais
de que essa mesma república é signatária. Assim se evitaria abrir uma porta
fácil aos célebres “discursos de ódio”, e, já agora, eventuais embaraços diplomáticos com
países amigos e aliados.
Mas, depois, encheram-lhe as redes
sociais de tanto “não, não pode”, que o conseguiram fazer mudar de ideias.
Entre
a humildade de um Presidente da AR que tem o cuidado de dizer “a meu ver,
pode”, e a certeza dogmática dos catequizadores de bancada (já não bastavam os
treinadores e, oh, saudade, os especialistas em vírus e vacinas), ou, dito de outro
modo, entre liberais e aqueles que tudo querem regular, ressalta à evidência
tratar-se de um “parlamento”, onde as demais bancadas podem – e aqui certamente
devem – contestar e desmontar o que outra possa dizer de contrário aos seus
princípios e convicções. Não é necessário ir a correr para um Presidente da
AR paizinho, a apontar como quem diz: “aquele menino disse um palavrão”. Afinal, a tirada de Ventura foi tão
absurda, tão despropositada, tão gratuita, tão facilmente desmontável, que o
próprio se deve ter arrependido na hora de a ter dito. (Mas temos algum
problema com os turcos? Alguém tinha qualquer espécie de impressão acerca da
capacidade de trabalho dos turcos antes disto? Valeria ao Chega meio voto este
bitaite saído dum bate-boca de uma tasca em Tebas?) Até transformarem isto num
caso e lhe permitirem sair duma trapalhada completamente desnecessária como
mártir da liberdade de expressão.
Depois, é claro, faltava a reacção dessa
grande mesa de café chamada redes sociais – como é que havíamos de viver
sem ela?
Ainda mal o episódio se tinha dado e já
os feeds de Facebooks, Instagrams e Xises, se enchiam de quadradinhos (pretos,
claro, não fosse alguém não sentir o peso do drama) clamando que “não, não
pode”. E, ora bem, era para eles que o cidadão gostaria, hoje, de chamar à
atenção.
Para que é que isto serve,
exactamente - Estes “não,
não pode”, estes “não passarão”
(viu-se), estes “cala-te, ó facho”,
enfim estas variantes do “ele não”,
começado no Brasil (e que, como se viu, também sortiu imenso efeito)? Algum dos
vossos amigos, seguidores, stalkers, o que quer que seja, lê aquilo e pensa: “ah, pois é. Eu, por caso, até achava que se
podia, mas agora que te leio dizer que ‘não pode’, penso epá, ‘tá bem visto:
não pode.” É para aliviar a
consciência? “Já fiz o meu papel. Já disse que não se podia. Sou um grande
defensor da democracia”? Sobretudo quando já uma, duas, três pessoas
disseram o mesmo, publicaram a mesmíssima mensagem, o que é que acham que a
vossa acrescenta, exactamente? “Eh pá, já 23 pessoas no meu Insta tinham dito
que não se pode, mas, agora que o Gervásio disse, é que eu estou a parar e a
pensar: eh pá, tu queres ver que realmente não se pode?”. Se querem mesmo falar
do assunto, porque é que não se dão ao trabalho de escreverem mesmo qualquer
coisa? De produzirem um – como é que se chama? – raciocínio? De tentar
convencer alguém? De desmontar o argumento do adversário? De explicarem porque é que não se pode, em vez de simplesmente,
papaguearem o mantra da semana? O mandamento? A regra? Agitarem a bandeirinha
distribuída na manifestação? Ao menos os românticos do Maio de 68 diziam que
era proibido proibir – quão distante está desses dias a esquerda de hoje?
Falta
dizer que muitos destes grandes educadores do povo são os mesmos que se gabam
de terem “removido” todos os amigos “cheganos”. Portanto,
estão a falar para quem? E aos poucos, indignação a indignação, causa a causa,
refrão a refrão, o exercício, previsível e inútil, mais previsível e inútil se
torna, e mais passa por mera exibição de vaidade, sinalização de virtude, caça
ao like, frívolo cartucho de futilidade que, na melhor das hipóteses, não serve
de nada e, na pior, desperta exactamente a reacção oposta à que supostamente
pretenderia.
Talvez
Aguiar-Branco tenha uma leitura demasiado permissiva do regimento
da Assembleia da República. Mas chegámos a este curioso ponto de evolução da
sociedade humana em que os que se dizem democratas proíbem e os que permitem
se arriscam a passar por fascistas. Por
todo o Ocidente, o descontentamento que alimenta partidos como o Chega tem de
ser resolvido com diálogo, debate, argumentação, enfim, com as regras
definidoras da liberdade e da democracia. Se será suficiente? O cidadão
acredita e deseja com todas as suas forças que sim. Agora, haverá um só
descontente a menos por lhe espetarem na cara com mais um “não pode”, um “não
passarão” ou, melhor ainda, aquele selo na boca do “cala-te ó facho”?
Não me podam.
COMENTÁRIOS (de 24)
LIBERDADE DE EXPRESSÃO LIBERDADES
SOCIEDADE
João Floriano: A esquerda está desesperada, a
campanha das europeias está a correr muito mal: Temido é muito fraca, Oliveira
está de rastos, ninguém liga a Catarina Martins, o PAN passa despercebido e o
LIVRE insiste em bandeiras woke recusadas por grande parte do eleitorado. A
esquerda a seu favor tem a boa educação e o perfil discreto do candidato Tânger
que aparentemente é melhor na Rádio do que na TV. Se o candidato do CHEGA
tivesse metade do à vontade que Ventura tem num estúdio de televisão, a uma
mesa de debate, a esquerda estaria mais desbaratada do que já está. Por isso o
parlamento envolveu-se numa guerra ridícula de Alecrim e Manjerona, uma espécie
de Tomatina simbólica, a que os eleitores assistem entre incrédulos divertidos,
especulando se foi para este triste espectáculo que se fizeram eleições.
Falamos muito de Alexandra Leitão mas Isabel Moreira também se tem esmerado em
figuras ridículas, mas aí ainda dá mais vontade de rir. Um dia destes Isabel
Moreira vai tomar a palavra e queixar-se a Aguiar Branco que um deputado do
CHEGA lhe levantou as saias, como acontece nas turmas do 6ºAno. Só que a
deputada usa calças. Durante muito tempo a esquerda habituou-se a insultar, a
humilhar e é verdade que António Costa muitas vezes ultrapassou a urbanidade e
boa educação com os comentários que fazia aos deputados da oposição, mas isso
até não corresponde á verdade como ontem insistia o filho do pai. Hoje a
esquerda está em maus lençóis e cada vez que insulta, leva o troco. Para a
esquerda o insulto é uma arma legítima no combate político contra a direita e
os perigos inventados de extrema direita, por muito que lhes seja explicado que
não há partidos de extrema direita em S. Bento. Muito sensível a nossa extrema
esquerda! Pobre
Portugal: Parabéns "cidadão". Foi com um misto de pena e nojo que vi aquele
Nuno Markl, e outros que tal, a escreverem “não, não pode”. Caiu-lhes a
máscara. Não passam, afinal, de uns insolentes arrogantes. Tim do A: A esquerda são os novos
fascistas. Luis
FigueiredoE pode-se dizer que Trump era ou é racista ou xenófobo , que Putin é um
nazi puro e duro, que A ou B é anti-semita?. E não se critica? Enfim, dois
pesos e duas medidas. José B
Dias: O cronista descreveu ao pormenor alguns que por aqui se fazem notar ... Daniela
Braga > Luis Figueiredo: E, pelos vistos, também se pode
dizer que os orientais são "lentos" e que os nortenhos têm
comportamentos "rurais"... Meio
Vazio: Só foi pena o Sr. P.esidente da AR não ter tido a presença de espírito para
responder à interpelação/desafio viperino da D. Alexandra com outra pergunta:
"Está a pensar fazê-lo? Na altura própria o saberá." M. Caldas: Corria o ano de 1984 e nos
Estados Unidos da América um activista de nome Gregory Lee Johnson foi
condenado no Estado do Texas por ter queimado a bandeira nacional. O caso
chegou ao Supremo Tribunal que decidiu a favor de Gregory Lee Johnson. A
maioria dos juízes considerou que aquele acto estava protegido pela primeira
emenda da Constituição Americana que garante a liberdade de expressão aos
cidadãos. Sim, há países onde a liberdade de expressão é mesmo levada a sério,
ao contrário de outros onde se quer censurar tudo o que contrarie os seus ideais.
Quando festejarem o 25 de Abr lembrem-se da liberdade de expressão da
esquerda... Ascensão Botelho: Que venha alguém dizer
"basta de tanta histeria insana"!....e oportunista. O Ventura, ao seu estilo de
caserna com o qual perde muito, disse uma piadola de taberna, sem pensar onde
estava e estou certa que sem a intenção que maldosamente lhe querem imputar. E
logo vem o grupo de "crepideiras" a defender a "honra"
daqueles que nem dariam pela patetice do Ventura se não fosse a berraria
estúpida! Cresçam e trabalhem que é para isso que o país vos paga! Começam a
ser os mais inúteis e insanos da nação! bento
guerra: Já não há pachorra!
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