Dando mostras de uma solidariedade de pose e mistificação, para vasão - essa sincera - de um sentimento de ódio e frustração.
Notícias
falsas sobre o racismo
Qualquer incidente com um imigrante é
logo diagnosticado como “racista”. E quando não há incidentes, inventam-se,
seguindo a velha regra do jornalista anti-clerical de Eça de Queiroz.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 24
mai. 2024, 00:204
A actualidade continua a não nos faltar
com pequenos factos luminosos. O último foi este: em escola de Lisboa, uma
“criança nepalesa de 9 anos” teria sido “linchada” por colegas da sua idade,
ébrios de “xenofobia e racismo”. Foi sobre isto que, durante um dia, o país que
comenta foi exortado a indignar-se. Mas ainda o campeonato de retórica virtuosa
ia a meio, e houve dúvidas. Primeiro, sobre o “linchamento”; a seguir, sobre os
supostos autores; e finalmente, sobre a “criança nepalesa de 9 anos”. De
repente, o país comentador pressentiu que talvez nada tivesse existido: nem
linchamento, nem criança. Perguntar-me-ão: e esse país, de indignação tão pronta, não se indignou outra vez com
a falsidade da notícia? Não, não se indignou. Calou-se. Passou à frente.
Porquê? Porque esta notícia falsa foi uma ocasião para exalar superioridade
moral contra a “xenofobia” e o “racismo”. Como tal, foi uma boa notícia falsa.
Serviço público, como dizem os entusiastas.
Que sugere esta história? Que
há na sociedade portuguesa, como no resto do Ocidente, uma máquina de inventar
racismo, em que muita gente está ansiosa por meter a sua moeda. Se preferirem,
acreditem que é apenas uma excentricidade da época. Mas não. Faz parte da luta
política. Nos últimos anos, a esquerda que se diz centrista abriu-se à
influência da extrema-esquerda, e facilitou-lhe a entrada nas instituições. Um
dos resultados foi a globalização do movimento woke americano, de que os
esquerdistas são os mais zelosos empresários. Desse movimento, é parte esta
tentativa de aproveitar as migrações para levar as sociedades ocidentais a
imaginarem que são como o sul dos EUA em 1930, no auge da segregação racial.
Qualquer incidente com um imigrante é logo diagnosticado como “racista”. E
quando não há incidentes, inventam-se, seguindo a velha regra do jornalista
anti-clerical de Eça de Queiroz. Foi o que vimos.
A propósito de migrações, todos queremos
acreditar na “integração” dos migrantes. Ora, nada mais contrário a isso do que
esta indústria de suposto “anti-racismo” que vive de linchamentos que não
aconteceram e de crianças que não existem. Eis o que, com notícias como as da
escola de Lisboa, diz aos imigrantes: “Cuidado, vocês chegaram a Portugal, o
país mais racista do mundo, onde até há um Ku Klux Klan infantil que organiza
linchamentos de crianças estrangeiras nas escolas”.
Não sorriam. Ou antes: sorriam, mas
percebam que isto é a sério. Não há
nada que a extrema-esquerda mais receie do que ver os imigrantes integrarem-se
nas sociedades ocidentais, como se integrou a velha “classe operária”. Deseja
vê-los confinados em guetos, inseguros e desconfiados, e assim disponíveis para
a guerra santa contra o capitalismo e a democracia liberal. Porque o “racismo”, como os doutores da
extrema-esquerda ensinam, é um efeito do capitalismo e do liberalismo, e só
desaparecerá quando Portugal for uma radiosa Coreia do Norte.
Andámos, a respeito deste e de outros
assuntos, demasiado ocupados com a “extrema-direita”. Quase nos convenceram de
que só aí havia perigos. Não é assim. Enquanto olhávamos todos para o balão
“populista”, a extrema-esquerda instalou-se nas instituições e, através do
movimento woke, alargou a sua influência até onde não costumava chegar, como as
grandes empresas. Não se “moderou”: continua tão inconformada como em 1917 com
a economia de mercado e com o pluralismo político. Os problemas sociais só lhe
importam na medida em que os possa transformar em princípios de guerra civil. É
isso que tenta fazer com as migrações. A equanimidade com que são recebidas notícias
falsas sobre episódios de racismo dá ideia do que já conseguiu. Estejam
preocupados.
RACISMO DISCRIMINAÇÃO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS
Rui Lima: Tudo
serve para combater o Ocidente Rico, branco, capitalista e democrático , é
feito por países com regimes autoritários , mais os grandes inimigos
estão cá dentro quase toda a esquerda , nisto o PS ê igual ao BE . José B Dias: Excelente análise e alerta. Alexandra
Ferraz: Gowoke,
gobroke! Oxalá 🙏🙏🙏 Obrigada como sempre Rui Ramos. Maria Paula Silva: Por
acaso, estou. Acho mesmo tudo muito preocupante. O wokismo desenfreado,
histérico e fanático assume proporções e abrangências nunca imaginadas. O
excesso e os discursos de ódio baseado em clichés fazem estas
pessoas de esquerda serem piores que as de extrema-direita. Não há bom senso
que os dissuada, é tudo alucinado. Mas dizia-me o João Pedro Marques, hoje ao
trocarmos algumas ideias sobre isto, que o wokismo está a cair nos EUA.
Deus queira que sim, essa é uma boa notícia. Rezo para que assim seja. A vida é
feita de ciclos, nada é eterno, e esta estupidez generalizada e reinante não
pode durar para sempre. É preocupante e perigosa. Muito perigosa porque
consegue atabafar toda e qualquer manifestação de bom senso. O wokismo é a
antítese do bom senso. Como sempre, hoje
gostei muito do podcast do "E o Resto é História", “Abrilada:
conflitos na Casa de Bragança em 1824”, pelos vistos uma época igualmente
difícil. O RR é um excelente professor! Mto obrigada.
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