domingo, 26 de maio de 2024

Trevas


De sabor medieval, nas tais “prácticas” destes tempos de tenebrosa virtude.

Buenas prácticas

O discurso de ódio contra a “extrema-direita”, não é discurso de ódio, são “boas prácticas de comunicação”, que moem, não matam mas podem levar a matar.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 25 mai. 2024, 08:1941

É uma jornalista de referência. Foi conselheira da RTVE, chefe de redacção da edição catalã do jornal El Mundo e recebeu o prémio Buenas Prácticas de Comunicación No Sexista. Pauta-se, portanto, pelo rigor, pela verdade, pela tolerância e pelas boas prácticas de comunicação. Por tudo isto, poderia pensar-se, ninguém melhor do que Cristina Fallarás Sánchez para comentar de forma objectiva a reunião Viva 24.

E o que foi a reunião Viva 24? Um encontro de líderes de partidos da direita nacional-conservadora em Madrid, no passado Domingo, 19 de Maio? Nada disso. Diz-nos a escritora e jornalista no jornal digital espanhol Público que se tratou, isso sim, do tenebroso conclave de um “gangue” de malfeitores a que acorreu “lo más granadado del fascismo internacional”. Quem encabeçou o “sinistro elenco” foi o presidente Milei da Argentina, acabado de chegar do país “depois do assassinato por ódio de quatro lésbicas, queimadas vivas em Buenos Aires”– com as mãos ainda chamuscadas, poderíamos supor, se na pensão onde moravam as vítimas o fogo não tivesse sido ateado por um cocktail incendiário, atirado por um vizinho, que a seguir tentou suicidar-se e que está preso, dando fortes indícios de paranóia… mas isso são pormenores que a jornalista de referência não achou dignos de referência, preferindo associar Milei a uma “queima das bruxas” das antigas.

Seguia-se então, no jornal digital espanhol, a lista dos malfeitores: a francesa Marine Le Pen, o polaco Mateusz Morawiecki, o chileno José António Kast, o português André Ventura e, não presenciais, a “líder fascista italiana Giorgia Meloni” e o primeiro ministro húngaro Viktor Orbán (estranhamente sem adjectivos de referência).

O gangue

E qual o programa, o objectivo, de semelhante “panda de dirigentes fascistas”? Organizarem-se para “destrozar la mera idea de derechos humanos, la decencia, toda ética, toda igualdad y la paz a las que aspiramos como sociedad”. O que não é de estranhar, uma vez que é de vilões de filme B conluiados para praticar o mal que Fallarás fala.

Cristina tinha apelado para que todos os antifascistas de boa-vontade denunciassem o gangue, reunindo-se em protesto no centro de Madrid no Sábado 18 de Maio, véspera da cimeira da “extrema-direita fascista europeia”. Infelizmente, foram quase tantos os manifestantes como as organizações convocantes, velhos conhecidos que ali se juntavam para professar bem alto a sua fé na tolerância, na inclusão, nos direitos humanos, na decência, na ética, na igualdade, na paz e no diálogoe para renunciar ao ódio e aos seus agentes, destilando ódio e empunhando tenebrosas caricaturas dos filhos do Maligno, a esconjurar.

Ora acontece que os agentes do mal, os inimigos da democracia, os odiosos fascistas em causa foram eleitos em eleições livres e justas pelos respectivos povos e eleitores: Milei, Meloni e Orbán estão no poder depois de grandes vitórias eleitorais e não acabaram com a democracia; Le Pen é a líder histórica do maior partido francês, Le Rassemblement National; os outros representam forças políticas que, nas eleições, têm recebido o apoio de milhões de europeus de todas as proveniências e classes sociais.

Vive e deixa morrer

Outro sinal dos resultados destes discursos e campanhas de ódio contra adversários políticos, neste caso contra os “fascistas e nacionalistas da extrema-direita”, os únicos emissores oficiais de “discurso de ódio”, foi a tentativa de assassinato do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico. Fico, que até há pouco tempo alinhou em posições de Esquerda, está hoje empenhado numa linha independente e nacionalista, próxima da do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. À semelhança do Papa Francisco, Fico apelou recentemente à procura urgente de uma solução negociada para a guerra na Europa, defendendo o não-envolvimento directo da NATO no conflito. Tal levou a uma violenta campanha mediática, acusando-o de ultra-direitista e de cúmplice de Putin, pelo que um septuagenário de nome Juraj Cintula, escritor, poeta e membro da Associação Eslovaca de Autores com indícios de instabilidade mental, resolveu disparar cinco tiros à queima-roupa contra o primeiro-ministro, que se encontra ainda em estado crítico. À boa moda da esquerda virtuosa, Cintula tentara em 2016 lançar um “movimento cívico contra a violência”… dos outros.

No encontro de Madrid promovido pelo Vox, numa sala com mais de 10 mil pessoas, quer Le Pen, quer Meloni, que falou por videoconferência, insistiram nos perigos da imigração descontrolada e na necessidade de os partidos da direita patriótica mobilizarem os seus eleitores para as eleições de 9 de Junho, a fim de reorientarem a política da União Europeia em relação à imigração e a outras matérias de interesse público. Tudo matérias sacrossantas, intocáveis, que não se podem evocar em vão, sob pena de apedrejamento. E depois queixam-se.

li, todos queriam, sobretudo os europeus, defender a sua independência e a sua identidade nacional; e ter liberdade de levar por diante as políticas adequadas a essa defesa, impedindo que as instituições europeias, não eleitas, lhes impusessem o seu Diktat.

Diziam-se também pela liberdade de expressão, que a Esquerda Radical e a Comissão Europeia se propõem limitar preventivamente, concomitantemente e posteriormente, por via de cancelamento ou por via legislativa.

No jornalismo e no comentário de referência, a denúncia de crimes como o “racismo” e de patologias como a “xenofobia” ou “fobias” de outro género – em que só “a extrema-direita” incorre por pensamentos, palavras, actos e omissões e cujos sintomas são o “discurso de ódio” e o “populismo” – é obrigatória e confere virtude. E pouco importa se a denúncia é feita com ódio, com demagogia e sacrificando a verdade ou até a racionalidade, desde que seja feita pelos virtuosos do costume e em meios de comunicação fidedignos.

O grande mistério é que haja uma opinião resistente a estas virtuosas e incessante denúncias, com significativo apoio popular. Só pode ser pela desinformação, uma vez que a “extrema-direita” e o povo ignaro desconhecem as buenas prácticas do jornalismo de referência.

A SEXTA COLUNA     HISTÓRIA     CULTURA

COMENTÁRIOS (de 41)

Ana Luís da Silva: Sempre excelente Jaime Nogueira Pinto, repondo a verdade dos factos e desmontando discursos cheios de ideologias baratas para enganar gente que desaproveita a inteligência, que só convencem o público (ainda) com mentalidade débil, seguidista por preguiça, e que recebem, também e sobretudo, o aplauso dos alinhados do pensamento correcto, manipulador do debate público. Pobre Portugal! Desde que vi a forma leviana e desprezível como inventaram a “criança nepalesa”, que fiquei conhecedora da abjecta podridão a que chegou a esquerda portuguesa (e europeia).              Tim do A: Mais um excelente artigo de JNP. Mas eu pergunto: quando é que a direita ocidental começa a comprar, ou criar, também ela, canais ou órgãos de comunicação social? Tem uma grande parte das populações do seu lado. Faltam os investimentos. Não se pode entregar, assim, a comunicação social toda aos que querem destruir o ocidente. Eu próprio tenho dificuldade em encontrar um canal de televisão portuguesa que não seja claramente de esquerda. São todos de esquerda! Urge mudar isto. Se surgir um canal de direita em Portugal, estou certo que terá muita audiência, pois os que existem são todos iguais esquerdistas. Até agora a CMTV  era o menos esquerdista. Mas com os novos accionistas socialistas que para lá entraram, recentemente, tornou-se mais um canal de esquerda. Não há alternativa, o que configura uma clara oportunidade de negócio para os investidores de direita. Força! Não esperem, a oportunidade está aí.                  Isabel Amorim Como sempre muito claro e muito bom. A incoerência dessa gente é tão óbvia que é constrangedora... Há uns anos, tendo eu uma estudante albergada em minha casa num regime de troca/voluntariado (a miúda vivia nos Estados Unidos e tinha origem da Eritreia) e querendo-lhe organizar uns dias de visita ao Porto, pedi a uma prima minha que vivia numa zona ideal para a miúda poder visitar a pé vários sítios de interesse à volta que ela cedesse o quarto extra que tinha por uns parcos dias. (essa minha prima ia mudando de causas e movimentos de esquerda, conforme acordava de manhã, sempre sobressaltada... assídua em manifestações, à procura desesperadamente de causas) -A miúda vivia nos Estados Unidos e tinha origem da Eritreia Perante a relutância da minha prima que não lhe apetecia ter lá ninguém em casa fui enumerando as suas qualidades, que não era desarrumada que era um amor, simpática, culta e eu sei lá. A minha prima continuava sem se convencer... Até que... me perguntou com ar maçado de onde ela era e lá lhe disse que vivia nos USA mas tinha origem na Eritreia, portanto preta (e muito bonita) a reacção foi explosiva. Preta?? Já podias ter dito!! Claro que sim!! Se é preta claro que pode vir e estar o tempo que quiser!! Fiquei estupefacta. Foi o cicerone perfeito, teve pelos vistos a oportunidade de mostrar aos amigos de luta o quão tolerante era com outras raças, deve ter subido na consideração dos camaradas. A miúda não se apercebeu de nada (eu acho e asdim espero) mas para mim foi a prova viva da incoerência e oportunismo. Nunca mais me esqueci e quando vejo esta maltosia a defender "causas" mal aparecem lembro-me imediatamente deste episódio...                   Henrique Nobre: Caro Jaime Nogueira Pinto. A Imprensa está, na generalidade, capturada pelos missionários do Politicamente Correcto, formados nas madrassas das escolas de comunicação social. Mais nuns, menos noutros, nenhum  mídia escapa á contaminação, nem aqui o Observador. Sendo óbvio, é importante relembrar sempre esse facto. Muito Obrigado! Cumprimentos.                Maria Nunes: Excelente. Bem sei que JNP é uma mais-valia para o Observador. No entanto, dado que os seus artigos são muito esclarecedores, esses mesmos artigos deveriam ser de leitura aberta para todos os leitores. Seria uma forma de combater a falta de rigor e de profissionalismo de muitos comentadores e jornalistas.                  Rui Lima: Domingo passado «Gens du voyage «em Portugal são conhecidos por ciganos ) cem caravanas se instalam à força num estacionamento no centre-ville ao norte de Nantes. O que espanta não é a ocupação selvagem é um comportamento dos jornalistas total compreensão , já destilam ódio quando há um pequeno acampamento de patriotas ou conservadores não importa o lugar . Outro aspecto deste Ocidente implacável com os conservadores mesmo brutal e insultuoso , é a impotência de todos os poderes , da polícia ao presidente da câmara passado pelo responsável do governo , há leis como o tamanho de caravanas em centro vila mas nenhuma pode se aplicada contra uma minoria , porque todos tem medo ser acusados de racistas , trememos  de medo .caminhamos para uma sociedade onde nos cortaram a raiz ao pensamento.                bento guerra: A campanha contra a direita "fascista" está por todo o lado, incluindo insinuações nesta folha, o que mostra que esta"esquerda" é verdadeiramente ignorante. Em Espanha a coisa atinge o paradoxo, porque se percebe a manipulação pelo Sanchez, um dos tipos com menos vergonha que o PSOE já teve               Jorge Lopes: Excelente artigo. Muito obrigado, Dr.Jaime Nogueira Pinto!                Coxinho: JNP, infelizmente tudo quanto você escreve é rigorosamente verdadeiro. Não o reconhecer -- só por má-fé, ou, em alternativa, por esquerdismo devoto. Sendo que, nos tempos que correm, má fé e esquerdismo devoto concorrem habitualmente para destroçar e eliminar quem se atreve a pensar pela própria cabeça.              José Miranda > Pedra Nussapato: Pareces a jornalista que motivou esta crónica.                    José B Dias: Subscrevo na íntegra!!  João Floriano > Liberales Semper Erexitque: 1.169.836, sejamos rigorosos e o gostinho saborosíssimo de ver ASS ir de patins.                Tim do A > Isabel Amorim: Ainda bem que ela conseguiu. Mas há muito racismo anti-branco. É o que há mais hoje em dia no ocidente.                 Miguel Vilaverde > Isabel Amorim: Interessante história a da sua prima e da estudante americana da eritreia....conheço várias dessas criaturas da esquerda boazinha e das "causas"...são tão óbvias...se pudessem teriam um "pretinho" de estimação privado para poder exibir aos camaradas da "luta" como uma espécie de diploma ou medalha da "diversidade" "benévola" e multicultural.                   Joaquim Silva: Qualquer jornalista ou comentador que se preze e queira estar de bem com todos principalmente com a esquerda radical que prolifera pela CS, tem de começar sempre pela seguinte frase " eu abomino o CHEGA e tudo aquilo que representa mas............... " depois dizem umas barbaridades quaisquer que nem eles acreditam na realidade pois sabem o degredo em que se encontra o país e lá continuam a fazer tempo, mas na realidade a percentagem que os ouve ou neles acredita já é tão insignificante e tão mínima que eles até já perderam a noção do que ali vão fazer aos programas de comentário.

 

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