terça-feira, 21 de maio de 2024

Viva o povo

Viva o povo

Que é «quem mais ordena», na nossa “cidade” de Grândola - que afinal não passa de uma “vila”, para mais morena, do mourejar nas campinas soalheiras - daí os debates sem a visão política aristotélica, que - e transcrevo da Internet, fonte habitual do meu saber esforçado – explica que

“Temos na comunidade governantes e governados, cujas qualidades são diferentes, o bom cidadão deve ter os conhecimentos e a capacidade indispensável tanto para ser governado quanto para governar, e o mérito do bom cidadão está em conhecer o governo de homens livres sob os dois aspectos; porém o discernimento é a única qualidade específica de um governante.”

E é por isso que o Dr. Salles se rege por conceitos que implicam os princípios de uma semântica mais trabalhada que pretende dar lições com axiomas provindos desses clássicos, e não como é uso hoje, nos nossos não-debates mas apenas discussões com atropelos constantes, como se usa nas tabernas, embora hoje também nas excitações futebolísticas, mesmo as televisivas, que vêm ao encontro da sua definição das discussões políticas, que reponho: O moderno discurso político é sobretudo dogmático, raramente lacónico e quase nunca axiomático; Aristóteles votado ao ostracismo”.

Somos todos, povo de vila, e daí os nossos debates populares de governantes que se prezam, como povo – embora vilão - ou a democracia não passa de uma batata.

TENTO NA LÍNGUA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO20.05.24

Ou

A SEMÂNTICA DOS CONCEITOS

- Os turcos são mandriões;

- Os espanhóis andam na rua de «traje de luces y montera»;

- Os portugueses vestem-se como campinos.

CHEGA DE DISPARATES, HAJA TENTO NA LÍNGUA!

* * *

O moderno discurso político é sobretudo dogmático, raramente lacónico e quase nunca axiomático; Aristóteles votado ao ostracismo, convicção formulada por decibéis. Não há debates, mas sim discussões em tons irados e dando a entender que os outros são mentecaptos, corruptos, indignos. Assim, nada de bom virá ao mundo.

* * * *

A discussão ora em curso no Parlamento Português sobre a liberdade de expressão devia ter sido antecedida por uma tentativa de harmonização semântica de conceitos para que, no espectáculo televisivo no Plenário, uns não falem nos alhos e os outros nos bugalhos induzindo a confusão nos eleitores incautos. A menos que o façam propositadamente, o que poderá denotar má fé. Mas como isto não é crível, mais vale o esforço da harmonia dos significados e dos conceitos.

Por exemplo quando um comunista se refere a democracia (o Dr. Cunhal referia-se amiúde a «um Estado verdadeiramente democrático»), significa o despojamento das pessoas relativamente à propriedade privada até que, aniquilada a individualidade, a mole humana fique pronta para servir o Estado. Não vou perder tempo a descrever o que nos separa: tudo.

Uma vez clarificada a Semântica, que se passe à análise do «politicamente correcto» cuja estreita ligação ao bem-comum, deve proporcionar a busca de uma plataforma tão ampla quanto possível de modo a que se criem áreas de entendimento. E uma dessas áreas que seja a da liberdade de expressão.

Se não houver um esforço neste sentido, preparemo-nos para a berraria dos megafones propalando dogmas e outros conceitos inexplicáveis.

Actualmente, o policamente correcto Europeu consiste na tolerância dos intolerantes que militam na destruição dos Valores europeus, nomeadamente os históricos e… mais não digo.

Maio de 2024

Henrique Salles da Fonseca

2 comentários

Antonio 21.05.202414:01: O Doutor Henrique Salles da Fonseca, no seu inimitável estilo, toca no nervo sobre o que aflige as discussões Parlamentares - um diálogo de surdos. Nota-se este comportamento em, praticamente, todos os Parlamentos democráticos, inclusive no Parlamento inglês (a badalada mãe das democracias modernas). No Parlamento Canadiano dá-se o mesmo. Pergunto - como se explica isso? A meu ver:

1.Transposição de valores, permitindo pôr o interesse do Partido à diante do interesse da Pátria

2. Abjecta submissão à disciplina partidária

3. Mediocridade/preguiça mental que prefere deferir a necessidade de um estudo aturado dos Projectos de Lei à opinião do grupos parlamentares partidários.

Tudo isto contribui para espetáculos indecorosos nos Parlamentos dos Países Democráticos. Muito Obrigado.

Adriano Miranda Lima 22.05.2024 12:42: Felicito o Dr. Salles da Fonseca pela pertinência, clareza e assertividade deste seu texto em que nos dá conta de como o debate político se degrada nas sociedades democráticas. Dir-se-á que a democracia se enrola no estranho paradoxo de permitir que seja a própria liberdade - sua filha dilecta - a urdir as suas fragilidades intrínsecas e a oferecê-las de bandeja aos seus adversários. A concepção abstracta da liberdade deve descer ao terreno da realidade humana para a todo o momento reavaliar o vínculo jurídico e filosófico entre a liberdade e a democracia? Julgo que sim, porque o contrário será como permitir a intrusão de Cavalos de Tróia no reduto da democracia. A degradação do nosso debate parlamentar tem sido de uma evidência tal nos últimos anos que leva a concluir que há uma estratégia assumida para liquidar a democracia no que ela tem de mais puro e genuíno. Os seus agentes estão bem identificados, uns agindo com mais ruído e espalhafato e outros mais disfarçadamente. A dificuldade é que a solução do problema está somente nas mãos do povo, mediante as suas escolhas eleitorais, e aí nada poderá fazer o legislador, de onde se conclui que cada povo tem a democracia que merece, podendo mesmo sentenciar a sua liquidação, conscientemente ou não, o que reedita o paradoxo apontado por Karl Popper no seu livro The Open Society and Its Enemies.


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