sábado, 11 de maio de 2024

O quadro completo


Provisoriamente, talvez, festas é do que se precisa, outras virão, para o bem-fazer da multidão acerada. Acirrada sempre, também, como exemplifica, com o sabor habitual, mais esta excelente crónica de AG.

Uma tradição mais antiga que o “Eurofestival”

Nas últimas décadas a Eurovisão mudou. Em matéria de virtudes, faltavam unicamente a glorificação do terrorismo e a condenação do “sionismo”. Já não faltam.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 11 mai. 2024, 00:19

Segundo a Wikipedia, Malmo tem batido recordes no que toca a receber, cito, “imigrantes em fuga de conflitos”. Engraçado. Segundo a mesma página da Wikipedia, Malmo também parece bater recordes na recepção de imigrantes em busca de conflitos. Pelo menos foi lá que aconteceram os Motins da Mesquita, em 2008 (que protestavam o fecho de um “centro cultural” muçulmano), os Motins Anti-Israel de 2009 (que protestavam a presença de tenistas israelitas por aquelas bandas), parte dos Motins de 2016 (em que muçulmanos protestavam não se conseguiu apurar bem o quê). Isto sem contar com a subida firme da taxa de criminalidade local nos últimos anos, à semelhança do que sucede no resto da Suécia urbana e em boa parte graças aos tais imigrantes em fuga de conflitos.

Por falar em protestos e crimes, por estes dias Malmo acolhe os Motins Anti-Eurovisão de 2024, simpático certame realizado a pretexto de Malmo acolher em simultâneo o festival da Eurovisão de 2024, e de o festival incluir uma participante israelita. Milhares de pessoas reúnem-se em diversas áreas da cidade para entoar em uníssono belos refrões populares, a pedir a extinção de Israel (“Do rio até ao mar, a Palestina será livre!”), a demonstrar solidariedade com o líder militar do Hamas (“Sinwar, não te deixaremos morrer!”, e sim, é esse o nome do sr. Yahya Sinwar), a exigir que os judeus sejam deportados de volta para a Polónia (“Deportem os judeus de volta para a Polónia”, idealmente para determinados lager, perdão, lugares históricos da Polónia). Nos intervalos, os pândegos entretêm-se com o já usual lançamento de pedras a carros da polícia.

As manifestações de ódio à cantora israelita, Eden Golan, e aos judeus em geral não envolvem apenas imigrantes em fuga de conflitos. Não, senhor. Malmo enche-se de turistas de diversas regiões da Suécia e até do estrangeiro que se juntaram aos festejos. Não sei de grandes celebridades presentes, mas uma celebridade menor fez-se notar: a Pequena Greta, infatigável na defesa dos palestinianos e do ecossistema. Este carácter ecuménico e multicultural confere ainda maior vibração aos festejos, pelo que Eden Golan precisa de avantajada segurança, estilo “beatlemania” com os fãs histéricos substituídos por anti-semitas histéricos.

Por sorte, nenhuma segurança evita as vaias da plateia durante as suas actuações e o farrapinho “keffiyeh” ao pescoço de alguns dos seus concorrentes. Diz a imprensa especializada que a cançonetista portuguesa, de que desconheço nome, imagem e talento, pintou as unhas com o padrão do farrapinho. “Tenho pensado muito na questão do boicote”, afirmou ao “Expresso”. É um alívio perceber que a senhora pensa: desde o passado 7 de Outubro que é público o apreço do Hamas por festivais de música, pelo que a retribuição do carinho é um acto de elementar justiça.

A verdade é que nunca pensei escrever a propósito da Eurovisão, produto que não consumo para aí desde os 11 anos e que, não fora a vitória caseira aqui há tempos e o regabofe “patriótico” alusivo, julgaria ter acabado por volta de 1985. A expensas desta crónica, tive de mexer no tema e descobrir o que tenho andado a perder. Pelos vistos, nas últimas décadas a Eurovisão mudou. Onde antes havia senhoras e cavalheiros convencionais a entoar cantigas convencionais, a tendência actual, se bem entendi, é para haver mutantes a celebrar a “inclusividade”, a “diversidade”, o “satanismo”, a “palhaçada” ou algo de semelhante e virtuoso. Em matéria de virtudes, faltavam unicamente a glorificação do terrorismo e a condenação do “sionismo”. Já não faltam. E assim é que é bonito.

O único problema é que, apesar dos encantadores guinchos pró-Palestina nas ruas de Malmo, consta que existem inúmeros desmancha-prazeres que, no silêncio dos lares e embora não liguem à Eurovisão, ligam à Eurovisão a fim de votar na canção israelita. Ou seja, por causa desses cobardes anónimos há o risco de Israel ganhar aquilo, o que seria inconsequente se não significasse que uma excessiva quantidade de europeus, para cúmulo europeus habitualmente alheios à sofisticação musical do evento, pode subverter o respectivo resultado e, talvez pior, comprometer os esforços de tantos em prol de Gaza e legitimar pelo símbolo a continuação do famoso genocídio.

Recomendo optimismo. Em vários momentos da História, de que os anos 30 e 40 do século passado constituem só um exemplo recente, a Europa tem sabido lidar com os judeus do modo que eles merecem. É pois apressado entrar em desespero. Com jeito, no que depender de nós Israel sairá derrotado nas cantorias e, igualmente importante, no mundo real. Possuímos o “know-how” e os “skills” necessários. Somos detentores de larga experiência em organizar pogroms e perseguições, calúnias e conspirações, êxodos e extermínios. Com a ajuda dos imigrantes em fuga de conflitos, conciliamos a modernidade com a tradição. E se há tradição antiga, por acaso um bocadinho mais antiga que o próprio “Eurofestival”, é essa.

TERRORISMO      MUNDO     FESTIVAL EUROVISÃO DA CANÇÃO     MÚSICA     CULTURA


Rui Lima: A quinta- coluna que actua na Europa sabe que ao forçar  os judeus a abandonar o mundo acidental, em vários países como a França o seu número será menor dos que restaram do nazismo, irá fortemente fragilizar a nossa sociedade será o princípio do nosso fim, a nossa tradição judaico-cristã é a base da nossa sociedade que permitiu o sucesso do mundo Ocidental. Começam a aparecer alguns trabalhos que demostram que o avanço do Ocidente tem a ver com as nossas inovações e os judeus foram fundamentais, mas a inovação mais importante veio de Itália, do monge Salvino D'Armate, sim os óculos, vai permitir a leitura e a mão de obra especializada por muito mais anos na vida do Homem . Já agora Portugal e Espanha impérios coloniais países pobres, países nórdicos ou Suíça sem impérios ricos , estou farto que me digam que somos ricos devido às colónias .   Alexandre Barreira: Pois. Caro AG. Vamos lá. Não desanime. Cante lá só um bocadinho: The writers of history stand by me. Look into my eyes and will see. People go but never say goobye. Até estou a ver a lágrima no canto do olho....!                Joao Cadete: Boa crónica. Estive na Suécia "rural" esta semana a trabalho e constatei que os suecos por aqueles lados não se revêm nisto e estão fartos. Não vejo mas vou votar em solidariedade 😀.                Antonio Moreira: O princípio, simultaneamente inspirador de atitude e de acção, é muito simples: Anti-civilização ocidental; onde houver dúvidas, anti EUA ou qualquer dos seus aliados, de preferência que sejam democracias políticas para permitirem a livre expressão da crítica no seu seio e, muitas vezes para quem critica ou ameaça, serem considerados por isso "países fracos". Munidos destes "princípios" há sempre assunto para criticar, para atacar, para desfazer, para eliminar. Sempre em nome de qualquer coisa, desde que anti civilização ocidental, desde que a atitude ou ação beneficie algum inimigo do ocidente ou, pelo menos, ataque este ou a sua civilização, de modo algum perfeita, mas melhor do que as alternativas que por aí são oferecidas. O ideal é mesmo tudo o que tenha ou possa ter amplificação de milhares ou de milhões. No festival da Eurovisão - relativamente ao qual partilho da ausência de simpatia ou de apreço do autor - há milhões de espectadores, Logo, interessa... Temos de concordar? Não. Mas num ou noutro caso até achamos que houve exagero numa legítima defesa ou, pura e simplesmente, não gostamos dos criticados, ficamos calados ou até deixamos uma nota de simpatia com a crítica. Na verdade, somos inocentes úteis quando assim nos comportamos. Alberto Gonçalves reage. É o que devemos fazer. Senão, qualquer dia, já não podemos educar os nossos filhos como achamos melhor para eles, desenvolver a nossa vida em liberdade e em democracia, defendermo-nos de quem nos ataca ou ameaça. Sermos herdeiros assumidos de uma civilização imperfeita mas que tem progredido e evoluído ao longo dos séculos e que oferece soluções na segurança, no desenvolvimento, na liberdade e no respeito pelos direitos humanos, superiores às disponíveis... Obrigado Alberto Gonçalves pela sua atitude, renovada em inúmeras ocasiões. Tenho o gosto e o benefício de o seguir no Observador,                   Manuel Martins: Caro cronista, há muito que o festival eurovisão deixou de ser sobre música. De vez em quando, até é, mas é muito mais sobre causas sociais e política...               Paulo Silva: O anti-sionismo com a negação do Estado Judaico ao povo judeu, é a mais refinada forma de anti-semitismo. Quando é que as carpideiras da Palestina dedicam uns minutos da sua preciosa existência a denunciar o genocídio silencioso do pacífico povo tibetano?... As criaturas não passam de títeres do anti-ocidentalismo primário implantado à escala global nas grandes instituições.

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