Nós não entrámos na 2ª Guerra Mundial. Os
franceses, sim, que foram invadidos e ocupados… E os restantes, idem,
conhecedores da semelhança entre os Hitleres e os Putines e provavelmente também
os Xis, tudo castas do poder e do matar, ou do mandar matar, que é menos arriscado
do ponto de vista pessoal - presidencial, digo. Mais vale prevenir, portanto,
mesmo que seja através da imprensa escrita e oral. Por isso, a Ucrânia devia acordar
com a Rússia, isto é, chegar ao tal acordo da proposta russa, de cedência do
seu terreno à Rússia, que quer mais terra para si. Sempre era um travão para
nós, ou seja um travão da Rússia sobre nós, se ela, a Ucrânia, cedesse o seu
espaço à Rússia, que se contentaria com isso e deixaria o terreno de cá para a
nossa paz democrática e o Macron poderia governar sem esses alarmismos..
Perigo de morte
Perante as negras perspectivas
eleitorais, Macron vê-se forçado a dramatizar o discurso sobre a Europa,
escalando a linguagem alarmista e falando em “ameaça mortal”.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR,11 mai. 2024, 00:1739
A sensação de perigo iminente, de “clear and present danger”, vai-se espalhando pela Europa. Agora não são só os ventos de guerra, a Leste e a
Sueste do Continente, na Ucrânia e no Médio Oriente, é também todo um alarmismo
belicista, accionado para criar inquietação e medo entre os europeus,
tornando-os mais dóceis à vontade do poder instituído através da manipulação e
do controlo da opinião.
Bem clara nesta linha foi a
entrevista de Emmanuel Macron ao semanário inglês The Economist, que
fez a capa da edição de 4-10 de Maio 2024 com o título “Europe in Mortal Danger”. Nela, o Presidente francês vai desenterrar Marc Bloch, o medievalista da
Escola dos Annales que, antes da guerra de 39-45, alertou os seus compatriotas
para o perigo da Alemanha de Hitler. Bloch foi
membro da Resistência e fuzilado pelos ocupantes em 1944. Macron
quer, com isso, equiparar Putin a Hitler e chamar a atenção dos europeus para o
perigo russo: uma vez vencida a guerra da Ucrânia, Macron já antevê Putin a
lançar as tropas à conquista do resto da Europa, qual émulo dos hunos de Átila,
das divisões napoleónicas, ou das Panzer alemãs.
Outro perigo a que Macron alude – e este bem mais realista – é o
do recuo económico da Europa perante os Estados Unidos e a China, que
claramente ultrapassaram ou estão a ultrapassar a Europa em inovação e produção
industrial.
Finalmente, o terceiro grande perigo, o perigo
claro e imediato a que o Presidente francês quer chegar em véspera de eleições,
é o ressurgimento do nacionalismo, do populismo, da extrema-direita. É a perfeita mensagem de propaganda
eleitoral encriptada à boca das urnas, citando Bloch, uma figura histórica de
prestígio que nada tem que ver com o actual presidente francês, avançando outra
vez para o paralelo Hitler-Putin para, por fim, insinuar que os seus
adversários políticos da União Nacional são traidores. Quando as
sondagens para as Europeias de 9 de Junho dão o Rassemblement de Marine Le Pen largamente à frente, quer da Renaissance de Macron, quer das
esquerdas socialistas e radicais, é este último perigo, o mais
“claro e presente” e o mais próximo, que o inquilino do Eliseu até 2027
verdadeiramente teme, juntamente com os seus centristas, com os socialistas e
com a União das Esquerdas de Jean-Luc Mélanchon.
E para o combater, para combater a perigosa extrema-direita que
ameaça o planeta, o mundo, a França, enfim, Macron, as medidas têm mesmo de ser
extremas. Porque não seguir o exemplo
americano e usar em França os tribunais como arma moderadora da vontade popular?
O Conselho Constitucional, presidido por Laurent Fabius, já deu o
primeiro passo, pondo causa uma proposta de Le Pen para um referendo sobre a
imigração.
O caso não é para menos: se as
sondagens para as europeias dão o Rassemblement com 33%, muito à frente da
Renaissance e do La France Insoumise, a diferença aumenta substancialmente
entre os eleitores mais jovens, os que têm entre 18 e 24 anos. Assim, no
Barómetro Eurotrack da Opinionway, Valére Hayer, cabeça de lista da macronia,
só contaria com 7% dos eleitores dos
18 aos 24 anos. Em comparação,
o cabeça de lista do Rassemblement, Jordan Bardella, que sucedeu a Marine Le Pen
na presidência do partido, tem 41% das intenções de voto dos mais jovens.
Se pensarmos que foi para atrair os eleitores mais jovens e
contrariar Bardella que Macron foi buscar para primeiro-ministro Gabriel Attal,
resta-nos concluir que Attal é um jovem que não consegue impressionar os jovens.
França, espelho da Europa?
Perante
as negras perspectivas, Macron vê-se forçado a dramatizar o discurso sobre a
Europa, escalando a linguagem alarmista e falando em “ameaça mortal”.
Entretanto o seu antigo primeiro-ministro, Édouard Philippe (que é, por agora,
o único candidato a conseguir um empate frente a Marine Le Pen numa hipotética
segunda volta em 2027), chamado em reforço, explica com as redes sociais o
“embrutecimento do povo”, impedido de ver a luz da razão e da moderação
representada pelo poder
instituído: “A razão europeia está ameaçada de morte […] quando
as opiniões públicas estão embrutecidas pelas redes sociais”.
A campanha destas decisivas eleições europeias está também a
radicalizar-se à esquerda: nas celebrações do 1º de Maio, Raphaël Glucksmann, o
cabeça de lista do Partido Socialista Francês, foi insultado, agredido e
impedido de participar no desfile da Esquerda por uma meia centena de
manifestantes, militantes do La France Insoumise. A
agressão foi precedida por uma campanha nas redes sociais acusando-o de ser “o
cavalo de Troia dos americanos” e “um agitador da CIA na Europa”.
O ódio dos “insubmissos” a Glucksmann, acusando-o de dividir a
Esquerda, deve-se sobretudo à vantagem que leva nas sondagens, podendo mesmo
vir a ficar à frente dos macronianos.
Aqui a França parece
funcionar, mais uma vez, como espelho da Europa, com uma direita nacionalista,
dividida em dois grupos, em franco crescimento no Parlamento Europeu.
Daí a campanha orquestrada pela União, em que à “inteligência
artificial” dos algoritmos politicamente correctores se junta a “estupidez
natural” dos eleitores politicamente corrigidos.
Num último parêntesis, lembro apenas
que, nas vésperas do 25 de Abril, o grande perigo para o governo de Marcelo
Caetano era um “golpe de extrema-direita”, uma das razões que levou os órgãos e
instrumentos do poder a fomentar a divisão no corpo de generais.
A SEXTA
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COMENTÁRIOS
(de 39)
Madalena Magalhães Colaço: O "embrutecimento do
povo" é promovido pela comunicação social que segue à risca a instrução de
que é preciso instigar o medo na Europa e que esta está em"Mortal Danger". Para Macron a Nato
também esteve em risco de morte e pelos vistos está bem viva porque foi
necessário ressuscitá-la. O
medo de que a Europa vai ser invadida por Putin está em marcha e a funcionar. Todos os candidatos às
europeias, da extrema-direita à extrema-esquerda, defendem a ajuda militar à
Ucrânia, pois têm medo de a seguir serem invadidos por Putin, ou seja, defendem
que a agonia do povo ucraniano continue até ao último homem. Os americanos
já perceberam e disseram que a guerra na Ucrânia está perdida, mas as eleições
estão à porta e depois do que se passou no Afeganistão a América não pode
mostrar outra derrota. Então continua-se a ajudar a Ucrânia, a sacrificar os
seus homens numa guerra que sabem perdida. É confrangedor a cegueira da Europa
em relação à Ucrânia, no sentido em que a guerra é entre americanos e russos. A
América nunca quis que a Europa mantivesse boas relações com a Rússia e tudo
fizeram, desde a queda da URSS, para que isso não acontecesse. Inundar a Europa
de gás a um baixo preço é impensável por isso sabotaram o Nordstream II. Agora
os europeus compram o gás liquefeito aos americanos cinco vezes mais caro. É
condenável a invasão militar russa como é condenável a ingerência política dos
americanos na Ucrânia em 2014. Apear o presidente pró-russo para lá por um
presidente que satisfizesse todas as vontades dos americanos, foi o que fizeram
e até mesmo o New York Times já veio referir que a CIA estava já na Ucrânia na
revolta Maidan em 2014. A ingerência do poder americano foi tal que os
ministros foram escolhidos por eles e até Biden, então secretário-geral de
Obama, anunciou ao presidente da Ucrânia que tinha que mudar de Procurador, a
Marques Vidal lá do sítio, que andava a investigar o filho Hunter e os
oligarcas que também eram os patrões de Zelensky, e o procurador foi
substituído por um que estivesse às ordens. Porque é que ninguém fala do acordo
de paz proposto por Erdogan, uma semana depois da invasão, e que estava prestes
a ser assinado por Zelensky e Putin? Putin exigia que a Ucrânia fosse uma
zona tampão entre Rússia e a Nato, a não discriminação dos russos no Donbass e
exigia que Zelensky reconhecesse a Crimeia como russa. Boris Johnson acorreu a
mando de Washington, para evitar este acordo de paz, garantindo a Zelensky todo
o apoio do Ocidente. Porque não abre a Europa os olhos para perceber a estratégia
dos americanos? Porque nunca ninguém tenta a negociação de paz? Macron está a
brincar com o fogo ao ameaçar os russos que vai pôr tropas francesas no
terreno. É lamentável o que um político é capaz de fazer só a pensar no seu
próprio benefício. Rui
Lima: O perigo de morte para a França tem sido a sua governação após a eleição de
Francois Mitterrand, hoje a violência é diária as sociedades multiculturais são
e serão sempre de violência extrema para o evitar só com regime ditatorial ,
uma guerra civil de baixa intensidade já existe e a sua intensidade subirá com
o tempo. (Isto vai chegar a Portugal com algum atraso, mas chegará) “Dois policiais num comissário
no 13o bairro de Paris na quinta-feira, 9 de maio são atingidos a tiro, o
prefeito (espécie de governador civil) de Paris, Laurent Nuñez, explicou ao
microfone da France Info que o risco de vida de um dos dois policiais ainda
estava comprometido esta manhã.” Os partidos ditos populistas já valem mais de 40%
todos da imprensa ao poder económico têm assustado os franceses da tragédia do
seu voto, mas nada fazem para o evitar . Joao Cadete: Não sou um fã do Macron mas
acho que nestes pontos específicos tem razão. O que é que o cronista acha que
Putin vai fazer a seguir, caso anexe a Ucrânia? José B Dias: ... alarmismo belicista,
accionado para criar inquietação e medo entre os europeus, tornando-os mais
dóceis à vontade do poder instituído através da manipulação e do controlo da
opinião. O que a mera leitura destas caixas de comentários permite aquilatar de quão
bem tem funcionado ... a "pandemia" deu a conhecer o quanto fácil era
transformar homens em ratos e trazer o pior ao de cima! Miguel Sanches: A união política, na Europa,
não existe. Ponto. Veja-se, a título de exemplo a política de imigração seguida pela Polónia,
e o que o acontece há largos anos na Suécia. E em matéria de defesa, desde a fundação da NATO que
não se pensa nisso. Os resultados estão à vista. Ludovicus > Rui Lima: Sim, não tenho dúvidas. Tenho
percorrido o País de norte a sul e constata-se o fenómeno da "imigração
descontrolada". Sim, vamos ter aí um problema. A parte final do artigo fez
lembrar a Guiné. Em Dez72 25 comandantes do PAIGC vão a Sebastopol na Crimeia
receber instrução sobre os STRELA. Nenhum dos serviços de segurança obtém esta
notícia. Em maio 73 caem 5 aeronaves. Os pilotos (com excepção do Lemos
Ferreira) deixam de voar e as tropas terrestes deixam de ter apoio. O que se
passou neste mês em Guileje e em Guidaje é a gota de água no pensamento dos
jovens oficiais que ali prestam serviço. O Spínola recusa ser um 2ª Vassalo e
Silva e vem embora. Bettencourt Rodrigues é o único general que se oferece para
o substituir. Resultado, os camaradas prendem-no. É o resultado de ser
voluntarioso. Alexandre
Barreira: Pois. Caro Jaime. Tem toda a razão. A Ucrânia é um grande
"negócio". Para alguns. E perigo de morte....para outros....!!! MCMCA A
> José B Dias: Exactamente e tudo porque do
alto da sua arrogância os líderes europeus se recusam a emendar o percurso. E
não acredito que sejam estúpidos, têm sim uma agenda própria
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