sexta-feira, 14 de março de 2025

Conceitos e consensos

 

Preâmbulo:

Faço antepor, a este, um texto de via email, do Dr. LUÍS SOARES DE OLIVEIRA, que está doente, segundo leio, e a quem desejo, do coração, as melhoras, com um forte abraço:

Luis Soares de Oliveira partilhou uma memória.

2 d  · 

No FINISTERRA agora estreado, Guilherme aborda o problema da guerra e da paz que é de ontem e de hoje. Salazar (em reprodução directa) pensava que os alemães não repetiriam em 1940 o erro que haviam cometido em 1914, ou seja, recorrer à guerra externa para salvar o regime interno, mas eles repetiram. A quem cabe a culpa?

 

Repito, pois, o título:

Conceitos e consensos

Ou a ambiguidade de ambos. Parece-me ambíguo o título da crónica de Frei Bento Domingos O.P., publicada no “PÚBLICO” de 23 de Fevereiro: “A imoralidade da guerra”, já que engloba ideais opostos: o dos que promovem a guerra por gosto pessoal - desde que não entrem eles na refrega, sentados que ficam na cadeira televisiva da sua notoriedade poderosa, caso do Putin ordenando a guerra à Ucrânia, - sem sequer pensar na sua própria gente russa que se propôs mandar às malvas, (juntamente com outros povos não direi de empréstimo, mas de compra), embora restassem alguns medalhados dos mais destacados entre os chefes, pois que os tropas propriamente ditos não levam disso, já que são de preferência, carne para canhão, dado o seu número, exigente de um superavit incomportável de medalhas. Quanto aos que se defendem dos agressores, esses terão que entrar forçosamente na resposta, guerreando, em defesa da sua pátria como tantos mais fizeram ao longo dos tempos, não vejo em que sejam imorais e sim patriotas que naturalmente admiramos, mesmo que não levem medalhas, e que ainda hoje o fazem em defesa própria, caso dos Zelenskys tão admirados na sua dimensão pátria, de valor universal.

Mas, cá por casa, foi por pensarmos da mesma forma que Frei Bento Domingues O.P., que nós nos desfizemos das nossas guerras em tempos ordenados pelos putins e trumps da época de Salazar e Caetano, e aos quais obedecemos com muitas flores vermelhas, em marchas de conivência com as doutrinas pregadas também pelos freis Bentos e outros freis dessa época sobre a reversão desses ideais de respeito pelo passado heróico da “gente ousada” a quem o próprio “Velho do Restelo” também incrimina na sua “glória de mandar”, segundo a opinião sectária de José Pacheco Pereira, que escutei ontem num programa, e que leu a fala inicial de “Velho do Restelo” a confirmar a sua tese crítica contra o alarde da busca da fama, esquecido, Pacheco Pereira, da fala final do mesmo Velho do Restelo que, apesar da crítica – marcada, contudo, também pela admiração, termina o seu doesto por natural discurso de espanto, face ao heroísmo das proezas que irão seguir-se. Eis parte da estrofe final da diatribe do Velho do Restelo, contra o Gama e seus sequazes, na partida das naus, no Restelo:

«Nenhum cometimento alto e nefando,

Por fogo, ferro, água, calma e frio

Deixa intentado a humana geração.

Mísera sorte! Estranha condição!» (Lus., IV, 104)

Mas, sim, Frei Bento Domingos O.P., bem ao contrário de Camões no passado e de Zelensky, no presente, defensor do seu país - o que não é o nosso caso, bondosos que somos, com mestres capazes - condena o passado salazarista, em abono do título do seu texto: “A IMORALIDADE DA GUERRA”:

«3. Em Portugal, não se pode abordar a questão da imoralidade da guerra sem referir as três frentes da Guerra Colonial com os seus mortos e incontáveis vítimas (1961-1974): em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. O próprio Paulo VI teve a corajosa iniciativa de receber, no Vaticano (!/7/70), os líderes políticos das lutas de libertação das colónias sob o domínio de Portugal em África: Marcelino dos Santos, (Frelimo), Agostinho Neto (MPLA) e Amílcar Cabral (PAIGC). A Igreja contribuiu, assim, decisivamente, para o desmoronar do Império colonial português. …»

O que nos vale hoje, na questão da história pátria, é o rebaixamento dos heroísmos passados, para confirmação das nossas teses de bondade e generosidade presentes, por cá, sobretudo nas assembleias da república, onde nos digladiamos, acima de tudo em arreganho palavroso, sintomático da nossa valentia bucal. Serve, sobretudo, isso, como preparação da nossa juventude para estímulo do respeito pelos feitos da história passada, a esquecer, reduzidas, as histórias nacionais, hoje, aos feitos individuais expostos em alarde gostoso, nos meios sociais da comunicação actual. Qual História!

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