terça-feira, 11 de março de 2025

Um título demasiado pomposo

 

Para equiparações connosco, portugueses palradores, pintores, acusadores, pecadores sem problemas relevantes de consciência nem dúvidas existenciais. É certo que empurramos a pedra, mas para a atirar ao parceiro e o fazer recuar nas suas ambições de ganho, para o podermos substituir, eventualmente. Problemas existenciais temo-los sim, mas mais centrados nas existências alheias e nos seus cargos, que poderiam ser antes nossos, e tudo faremos para os obter- Qual Sisifo!

As eleições de Sisifo

Desde 2019 que o país está em período pré-eleitoral, ou eleitoral ou pós-eleitoral. Vamos para as 4ªs eleições legislativas em 6 anos. Não é a excitante crise política, é a aborrecida modorra política.

JOSÉ DIOGO QUINTELA Colunista do Observador

OBSERVADOR, 11 mar. 2025, 00:1727

Não percebo esta insistência dos comentadores em referirem-se ao período que atravessamos como “crise política”. Como assim, “crise”? o conceito de “crise” sugere um momento de súbita alteração do estado normal para um estado atípico e grave, que é exactamente o oposto do que se passa agora em Portugal. Esta situação em que estamos à beira de novas eleições legislativas não só não é incomum como é até bastante vulgar. Desde 2019 que o país ou está em período pré-eleitoral, ou em período eleitoral ou em período pós-eleitoral. Vamos para as 4as eleições legislativas em 6 anos. Isto não é excitante crise política, é aborrecida modorra política. Bizarro vai ser a próxima vez que uma legislatura ameaçar resistir até ao fim do mandato. Digo “ameaçar” porque de certeza que, quando o Governo chegar ali ao terceiro ano sem cair, o povo sairá à rua para exigir um regresso à normalidade, à rotina de sucessivas eleições. 4 anos sem comícios, arruadas, cartazes e debates é muito tempo. As pessoas começarão a estranhar. Os portugueses apreciam a previsibilidade da instabilidade e temem a súbita falta de mudança. Assustam-se, como naqueles filmes em que, às tantas, o personagem se apercebe que os pássaros deixaram de cantar e os cães de ladrar. É sinal que vem aí cataclismo. Passa-se o mesmo quando alguém liga a televisão e não ouve um tempo de antena. “Mau! Não ouço proclamações eleitoralistas! O que é que se está a passar?”

Peço desculpa por recorrer agora ao estratagema “à hora a que escrevo este texto”, mas desta vez não é por preguiça de esperar por factos novos, é mesmo porque independentemente do que tenha sido dito ontem à noite, ainda pode haver reviravoltas. Não é certo que a palavra seja para manter. Portanto, como dizia, à hora a que escrevo este texto ainda não temos certeza se vamos já para eleições ou se o PS, através de uma manobra táctica, alarga o prazo de validade do Primeiro-Ministro. Por exemplo, salvando o Governo ao deixar passar a moção de confiança, mas chamando-lhe “com fiança”: Montenegro fica como PM, mas em liberdade condicional. É indiferente. O que quer que tenha sido decidido, é óbvio que, em Maio ou mais tarde, em breve haverá eleições. Os partidos portugueses já não sabem governar durante 4 anos, só sabem desenrascar-se por algum tempo, 18 meses no máximo. Levar uma legislatura até ao fim exige um plano e a capacidade de o pôr em prática. Quem sabe fazer isso? Já em ciclos pequenos, os políticos não precisam de administrar, basta reagirem ao que for acontecendo. Nisso, os nossos governantes são estupendos.

Portanto, os portugueses preparam-se para voltar às urnas – urnas que, pela quantidade de vezes que têm sido utilizadas, vão precisar de passar Halibut nas ranhuras, tão assadas estão pelo excesso de uso. As sondagens indicam que vai ser uma escolha entre o PS e o PSD – os partidos que gostam de nos tomar como crianças – e o Chega – o partido dos que gostam de tomar crianças. É que soube-se entretanto que mais um membro do Chega, ex-candidato autárquico, foi acusado de abuso sexual de uma aluna menor. Ainda não se percebeu bem se as eleições vão beneficiar mais o PS ou o PSD, mas podemos ter a certeza de que vão prejudicar o Chega. Vendo as últimas sondagens, a percentagem de votos no Chega aproxima-se da idade das crianças que os pedófilos do partido mais apreciam. Se é tão religioso quanto apregoa, André Ventura deve estar a interpretar esta coincidência como um sinal divino.

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COMENTÁRIOS (de 27)

Maria Paula Silva: começou mais ou menos bem, acabou mal. outra vez o Chega? isso já é obsessão. tem que fazer psicoterapia para se aliviar e poder respirar e viver liberto, enfim, de tanta pressão. isso faz-lhe mal à pressão arterial. quanto aos politecos de serviço que passam a vida em "modo campanha" em permanência (pre-campanha, campanha e pós-campanha) a culpa é dos portuguesinhos não pensantes que continuam a votar nos mesmos que há 50 anos não trabalham e nos custam muito caro, pagar os ordenados a toda esta gente é obra. Pior ainda quando um PM decide comprar casas na rua do possolo num negócio mal explicado, não as usa, e afinal vive na suite presidencial do hotel sana epic marquês que custa a módica quantia de 3000€ por dia! porque não vive na casa de são bento, onde moraram outros PM? segundo ouvi dizer é bastante boa e com boas mordomias. mas os parolos gostam desta coisa de viver em hotéis caros em suites presidenciais. gostos não se discutem. sísifos somos todos nós, os Contribuintes, que pagamos estas marmeladas de ver quem sobe sem esforço algum. mas o povo é sábio e diz que quanto mais se sobe, maior é a queda.                 Vítor Araújo: Puro engano meu caro. Os eleitores conservadores, depois da vergonhosa passagem da lei da multiplicação das freguesias, continuam a ter uma única solução de voto. Criancinhas comiam outros e de forma massiva e festiva, no tempo da casa pia, mas a memória é curta, quando nos interessa.           Luis Silva: Não vale a pena ler o artigo 🤮 A farsa democrática continua, a Europa é mesmo uma ditadura (Georgescu, Roménia).                José Paulo Castro: A piada do Chega está bem metida mas não afecta o líder, apenas os cromos que acharam que podiam ter vida dupla. É uma piada que, como muitas, não adere à realidade. Neste caso, a de um líder partidário que anda a limpar os seus casos internos - assim que os descobre, correndo com eles - enquanto outros líderes não enfrentam os seus e mandam o país para eleições para não terem de admitir que cometeram a imprudência de manter avenças no orçamento familiar ou que têm oposição interna. A piada é sobre a desgraça, como todas, mas inverte o foco da desgraça. Nuns, são as bases e os básicos. Noutros, é o topo. Se o objetivo for fazer a IL parecer a única alternativa, então sim, a piada resulta. Até ao dia que percebermos que eles defendem a legalização da prostituição futura adulta de alguns dos menores que agora são 'vítimas' (esta faz-se sozinha...)      Alexandre Barreira: Pois. Caro Quintela, Estou a er que as saudades da "padaria". Está aser...."doentia"....!!!        João Floriano: E acaba por não justificar o título da crónica. Sísifo, em poucas linhas, foi uma figura mitológica que empurrava um pedra ladeira acima e ao chegar lá devia sentir-se vazio, sem objectivos e  a pedra rolava novamente mas desta vez ladeira abaixo . E tudo se repetia. Agora que finalmente julgavamos ter-nos visto livres do sufocante socialismo à portuguesa, eis que a pedra está a rolar de novo. E não estou  a ver se ainda haverá algum Sisifo que  a consiga  carregar ladeira acima. Mas como até o mito tem de ser ajustado à realidade portuguesa e nós somos muito pequeninos, vou transformar Sisifo num prosaico escaravelho arrastando  a sua preciosa «maçã». É a isto que se resume a política portuguesa. Na segunda parte da crónica, Quintela volta novamente a revisitar a lama que existe no CHEGA, como se nos restantes partidos não houvesse lama ainda mais tóxica e venenosa para os portugueses. Parece-me que Quntela também já está no seu modo Sísifo e ainda não se apercebeu disso.             Joaquim Zacarias: O CH, é uma espinha cravada na garganta dos amigos do bloco central de interesses.                   GateKeeper: Lixo.          John Martins: É reconfortante saber que os nossos políticos são mestres em "desenrascar" em vez de governar. Afinal quem precisa de planos de longo prazo quando podemos viver no emocionante ciclo de pré-eleições, eleições e pós eleições? È quase como um realty show, mas com menos glamour... E não há dúvida que nesta campanha não vão faltar " malas" de roupa suja ao dispor do comentariado e todos os agentes políticos até se dizer chega...             Tomazz Man > Maria Paula Silva: Sorria, que a tirada sobre o Chega foi bem metida.

 

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