“Tão pequeno” que Camões já lamentava, mais uma vez ficará ciente da sua tragédia da “morte apercebida”, aqui tratada com a crueza e o rigor orientadores, por quem já viveu sob a dinâmica bélica, e o quer fazer acordar do torpor da bem-aventurança cega em que, a esse respeito, tem – temos - vivido desde há meio século.
Mas é bem uma guerra diferente, essa da
distância e da precisão inteligente, essa para que o DR. SALLES nos quer
preparar – aquela, afinal, com que se debatem, por enquanto, os da actual
tragédia ucraniana, e não só. Por muito que a destruição do terreno e das vidas
aponte igualmente para a razia “in loco”, como se tem visto e sentido.
Uma lição a seguir, corroborada e reforçada
pela também magnífica do Sr. Coronel ADRIANO MIRANDA LIMA, proposta, pois, por
quem sabe e continua bem vivo e atento. Julgo que é para seguir, mau grado o
terror que provocam tais informações do saber e do rigor.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 24.03.25
PORTUGAL
A guerra para que temos que nos preparar é muito diferente de todas as que
tivemos que travar ao longo da nossa História e se alguma semelhança vier a
haver, será na guerrilha rural e urbana caso alguém nos invada. E de guerrilha
temos memória vivida.
As «botas no terreno» exterminam civis e
isso é o contrário do que pretendemos. O que nos interessa é a
capacidade de destruirmos o poder de decisão do inimigo e não necessariamente a
sua «carne para canhão». Temos que
poder ter capacidade de agir à distância e com «inteligência», não
corpo-a-corpo.
• Em vez de Batalhões de «obrigados»
com escassa preparação e precária militância, dediquemo-nos à formação e treino de pequenos grupos de «snipers» (mais
Comandos, Fuzileiros, Paraquedistas e GOE´S) voluntários de cuja
actuação isolada ou conjugada resulte a decapitação das chefias do inimigo –
e que as armas de precisão sejam de
fabrico nacional;
• A reactivação do Regimento de
Artilharia de Costa com Batarias fixas (e tecnologia da II Guerra Mundial) cria
um conjunto de alvos para a Artilharia Naval inimiga exercitar a pontaria. Na
guerra que nos bate à porta, a defesa da nossa costa carece de Batarias móveis
municiadas com mísseis (de concepção
e fabrico nacionais) e equipadas
com geradores de «giga-raios» laser que cortem ao meio um navio inimigo e o
ponha a pique em poucos minutos;
• Antes
que Xi Jin Pin invada Taiwan e deixe o Ocidente à míngua de «chips»
(nomeadamente de uso militar), urge convidar o grande produtor
taiwanês desse equipamento a instalar uma fábrica entre nós;
• Já
terá por certo acabado a guerra que agora nos bate à porta quando chegarem os
36 equipamentos franceses de defesa anti-aérea. E resta a pergunta sobre
o porquê de tanta mândria nos impede de sermos incapazes de suprir essa nossa
necessidade. Que vergonha! Sobram os argumentos que justificam a
imperiosidade de criação do Centro de Estudos e Projectos de Equipamentos
de Defesa (CEPED). E ao argumento de que não haja nas nossas Forças
Armadas activos disponíveis para tais funções, respondo com a necessidade de procurar essas
competências nas Universidades e politécnicos graduando-as, caso necessário em
Oficiais Superiores ou mesmo Generais. O que não podemos é continuar
no doce remanso da mândria.
• Mas nem tudo tem que ser inovador pois
há infraestruturas adormecidas que podem e devem ser reactivadas (Estaleiros Navais da Margueira) e outras
com enorme potencialidade (Laboratório
Militar, Escolas técnicas dos três ramos das Forças Armadas e das de Segurança) que
merecem grande atenção das hierarquias militares e governamentais.* * *
… e quando o Apocalipse ribombar nos
nossos céus, os sobreviventes, já cativos, hão de lastimar o tempo que gastámos
a flanar nas praias e em futebóis em vez de estudarmos
a lição de como projectarmos e instalarmos o sistema electrónico de defesa
anti-aérea transformando em «boomerangs» os mísseis e drones inimigos. Resta a
esperança de que se acelerarmos o passo ainda consigamos fazer alguma coisa de
jeito antes que caia o Carmo e a Trindade.
Março de 2025 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
COMENTÁRIOS
ADRIANO MIRANDA LIMA 24.03.2025 16:44: É verdade,
Sr. Doutor, é a chamada “Guerra Híbrida”, um conceito actual e que concebe a guerra como uma combinação de
vários e diferentes vectores tendentes à destruição do inimigo ou da sua
vontade de combater. Como bem observa, inclui meios e tácticas convencionais,
“guerrilha urbana e rural”, guerra electrónica, terrorismo,
sabotagem, propaganda e até a promoção da criminalidade no território
adversário. A Rússia de Putin tem-no exemplificado em toda a linha
com a guerra que impôs à Ucrânia. E os
países ameaçados devem responder na mesma moeda. Veja-se que a interferência que ele teve na eleição
de Trump, através da manipulação de meios digitais, se inscreve na estratégia
da Guerra Híbrida. Por outro lado, e como fala de “botas no terreno”, o uso de drones e mísseis tende a
minimizar a presença maciça de militares no terreno, na medida em que os drones podem substituir
o meio humano numa variedade de missões, desde a observação do campo de batalha
ao bombardeamento (substituindo a artilharia convencional como a conhecemos) e
ataque a blindados e instalações. Como bem refere também, a artilharia
de costa (estática e instalada em bunkers) é coisa do passado. Nisto, louve-se a visão do ex-CEMA Almirante
Gouveia e Melo, que já avançou com propostas interessantes e valiosas,
concitando, inclusivamente, o intercâmbio com o estrangeiro. Como
país arquipelágico, Portugal tem de investir privilegiadamente no ramo naval e
aéreo. E o Almirante bem o sabe
melhor do que ninguém. Quanto a “Centro de Estudos e Projectos de
Equipamentos de Defesa (CEPED)”, creio que não precisamos recorrer a académicos
para os graduar em altas patentes militares, porque hoje em dia temos
oficiais bastantes com competências multifacetadas nas áreas da geopolítica e
das relações internacionais e com estreita ligação às universidades. No
entanto, será sempre útil utilizar
criteriosamente os recursos humanos provenientes da academia. Reafirmo
que neste momento há duas prioridades que têm de ser atacadas e com
urgência: a criação de uma mentalidade
de defesa na nossa sociedade civil; a obtenção de recursos humanos para as
Forças Armadas, sendo que considero imprescindível a reactivação do serviço
militar obrigatório.
A P MACHADO 24.03.2025 17:24: Pois é!
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