terça-feira, 25 de março de 2025

E o “bicho da terra”

 “Tão pequeno” que Camões já lamentava, mais uma vez ficará ciente da sua tragédia da “morte apercebida”, aqui tratada com a crueza e o rigor orientadores, por quem já viveu sob a dinâmica bélica, e o quer fazer acordar do torpor da bem-aventurança cega em que, a esse respeito, tem – temos - vivido desde há meio século.

Mas é bem uma guerra diferente, essa da distância e da precisão inteligente, essa para que o DR. SALLES nos quer preparar – aquela, afinal, com que se debatem, por enquanto, os da actual tragédia ucraniana, e não só. Por muito que a destruição do terreno e das vidas aponte igualmente para a razia “in loco”, como se tem visto e sentido.

Uma lição a seguir, corroborada e reforçada pela também magnífica do Sr. Coronel ADRIANO MIRANDA LIMA, proposta, pois, por quem sabe e continua bem vivo e atento. Julgo que é para seguir, mau grado o terror que provocam tais informações do saber e do rigor.

EXSURGE FENIX – 4

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 24.03.25

PORTUGAL
A guerra para que temos que nos preparar é muito diferente de todas as que tivemos que travar ao longo da nossa História e se alguma semelhança vier a haver, será na guerrilha rural e urbana caso alguém nos invada. E de guerrilha temos memória vivida.
As «botas no terreno» exterminam civis e isso é o contrário do que pretendemos
. O que nos interessa é a capacidade de destruirmos o poder de decisão do inimigo e não necessariamente a sua «carne para canhão». Temos que poder ter capacidade de agir à distância e com «inteligência», não corpo-a-corpo.

Em vez de Batalhões de «obrigados» com escassa preparação e precária militância, dediquemo-nos à formação e treino de pequenos grupos de «snipers» (mais Comandos, Fuzileiros, Paraquedistas e GOE´S) voluntários de cuja actuação isolada ou conjugada resulte a decapitação das chefias do inimigoe que as armas de precisão sejam de fabrico nacional;

• A reactivação do Regimento de Artilharia de Costa com Batarias fixas (e tecnologia da II Guerra Mundial) cria um conjunto de alvos para a Artilharia Naval inimiga exercitar a pontaria. Na guerra que nos bate à porta, a defesa da nossa costa carece de Batarias móveis municiadas com mísseis (de concepção e fabrico nacionais) e equipadas com geradores de «giga-raios» laser que cortem ao meio um navio inimigo e o ponha a pique em poucos minutos;

Antes que Xi Jin Pin invada Taiwan e deixe o Ocidente à míngua de «chips» (nomeadamente de uso militar), urge convidar o grande produtor taiwanês desse equipamento a instalar uma fábrica entre nós;

Já terá por certo acabado a guerra que agora nos bate à porta quando chegarem os 36 equipamentos franceses de defesa anti-aérea. E resta a pergunta sobre o porquê de tanta mândria nos impede de sermos incapazes de suprir essa nossa necessidade. Que vergonha! Sobram os argumentos que justificam a imperiosidade de criação do Centro de Estudos e Projectos de Equipamentos de Defesa (CEPED). E ao argumento de que não haja nas nossas Forças Armadas activos disponíveis para tais funções, respondo com a necessidade de procurar essas competências nas Universidades e politécnicos graduando-as, caso necessário em Oficiais Superiores ou mesmo Generais. O que não podemos é continuar no doce remanso da mândria.

• Mas nem tudo tem que ser inovador pois há infraestruturas adormecidas que podem e devem ser reactivadas (Estaleiros Navais da Margueira) e outras com enorme potencialidade (Laboratório Militar, Escolas técnicas dos três ramos das Forças Armadas e das de Segurança) que merecem grande atenção das hierarquias militares e governamentais.* * *

… e quando o Apocalipse ribombar nos nossos céus, os sobreviventes, já cativos, hão de lastimar o tempo que gastámos a flanar nas praias e em futebóis em vez de estudarmos a lição de como projectarmos e instalarmos o sistema electrónico de defesa anti-aérea transformando em «boomerangs» os mísseis e drones inimigos. Resta a esperança de que se acelerarmos o passo ainda consigamos fazer alguma coisa de jeito antes que caia o Carmo e a Trindade.

Março de 2025            HENRIQUE SALLES DA FONSECA

COMENTÁRIOS

ADRIANO MIRANDA LIMA 24.03.2025  16:44: É verdade, Sr. Doutor, é a chamada “Guerra Híbrida”, um conceito actual e que concebe a guerra como uma combinação de vários e diferentes vectores tendentes à destruição do inimigo ou da sua vontade de combater. Como bem observa, inclui meios e tácticas convencionais, “guerrilha urbana e rural”, guerra electrónica, terrorismo, sabotagem, propaganda e até a promoção da criminalidade no território adversário. A Rússia de Putin tem-no exemplificado em toda a linha com a guerra que impôs à Ucrânia. E os países ameaçados devem responder na mesma moeda. Veja-se que a interferência que ele teve na eleição de Trump, através da manipulação de meios digitais, se inscreve na estratégia da Guerra Híbrida. Por outro lado, e como fala de “botas no terreno”, o uso de drones e mísseis tende a minimizar a presença maciça de militares no terreno, na medida em que os drones podem substituir o meio humano numa variedade de missões, desde a observação do campo de batalha ao bombardeamento (substituindo a artilharia convencional como a conhecemos) e ataque a blindados e instalações. Como bem refere também, a artilharia de costa (estática e instalada em bunkers) é coisa do passado. Nisto, louve-se a visão do ex-CEMA Almirante Gouveia e Melo, que já avançou com propostas interessantes e valiosas, concitando, inclusivamente, o intercâmbio com o estrangeiro. Como país arquipelágico, Portugal tem de investir privilegiadamente no ramo naval e aéreo. E o Almirante bem o sabe melhor do que ninguém. Quanto a “Centro de Estudos e Projectos de Equipamentos de Defesa (CEPED)”, creio que não precisamos recorrer a académicos para os graduar em altas patentes militares, porque hoje em dia temos oficiais bastantes com competências multifacetadas nas áreas da geopolítica e das relações internacionais e com estreita ligação às universidades. No entanto, será sempre útil utilizar criteriosamente os recursos humanos provenientes da academia. Reafirmo que neste momento há duas prioridades que têm de ser atacadas e com urgência: a criação de uma mentalidade de defesa na nossa sociedade civil; a obtenção de recursos humanos para as Forças Armadas, sendo que considero imprescindível a reactivação do serviço militar obrigatório.

A P MACHADO 24.03.2025 17:24: Pois é!

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