Que ajudou a fortalecer esses ideais conceptuais
– na escrita, na arte, na ciência, na filosofia, como legado de nobreza ética…
Mas a escrita, sim, foi determinante para o traçado moral e filosófico desta
Europa, hoje em convulsão multicultural, a soterrar esse legado. O que se pede,
intimamente, com a inquietação de quem ama e receia babélica confusão,
conducente, provavelmente, a um novel dilúvio universal de intenção purificadora,
é o abrandamento de tantos esforços para a destruição do preconceito
subjacente a esse amor de empenhamento europeu.…..
Uma lição de sabedoria crítica, esta
crónica DE ALBERTO GONÇALVES, sobre a convulsa Europa de tanta movimentação e
divisão, mais do que nunca, mau grado discordâncias dos habituais da ingratidão.
A civilização mora aqui
Tirando séculos de despotismo, guerras e, apenas no
séc. XX, resmas de ditaduras e uns genocídios, a Europa é o berço da liberdade,
um berço cujo embalo se reforça com a deriva americana.
ALBERTO GONÇALVES
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 15 mar. 2025, 00:20173
Pessoas esclarecidíssimas já comprovaram cientificamente que os EUA
resvalaram para o fascismo. O
presidente é Hitler. O vice-presidente é Hitler. O sr. Musk, antigo herói dos
carrinhos eléctricos e do Starlink na Ucrânia, é Hitler. Etc. Pelos meus
conservadores cálculos, o governo de Washington/Palm Beach tem uns 87 Hitlers,
fora assessores. Sobra, para conduzir o “mundo livre” ou coincidir com ele em
exclusividade, a Europa.
Milhões de europeus entraram
em êxtase com as recentes proclamações dos seus líderes, que prometem defender
a democracia até ao último ucraniano e armar-se até ao último cêntimo do
contribuinte, ou até ao último suspiro inflacionista. A
Europa, em sentido lato e ao que consta por aí, despertou e agora não há
maneira de a segurar, nem sequer na Fidelidade. Respira-se um ar limpo e juvenil, um orgulho ressuscitado, um estado
de comunhão continental que nos une a todos, de Alcabideche a Belgrado, de
Edimburgo a Istambul. Istambul? Sim, que para proteger um país invadido
pelos russos regressou a conversa de integrar na UE um país que há meio século
invadiu e ocupa ilegalmente um terço do território de um país da UE, além de
acarinhar arménios. Assim é que é bonito.
Certo é que a Europa não pode respeitar ditadores, principalmente se
o ditador se chama Putin e sobretudo se esquecermos o longo período em que o
“mundo livre” ignorou a invasão da
Geórgia, a anexação da Crimeia e a eliminação de adversários por envenenamento
e continuou a “apaziguar” – e a patrocinar – o regime russo. Hoje, e o
presente é que importa, a Europa já gasta quase tanto em ajudas à Ucrânia
quanto em negócios com o regime russo. Assim dá gosto.
Se
a América de Trump se junta a torcionários, a América não voltará a contar com
a Europa sempre que a Europa precisar que a salvem de maçadas. A Europa,
motivada e renascida, só tem olhos para quem respeita os direitos humanos. Por
isso a Europa, seja a UE ou países soltos, despeja dinheiro e vénias pelos
corajosos guerrilheiros que tomaram conta da Síria e que, por compaixão,
desataram a chacinar aldeões de crenças variadas. Por isso a Europa anunciou um justíssimo apoio de 4,7 biliões de
euros à África do Sul, de modo a facilitar a “transição energética”, a
“conectividade digital e física” e o assassínio de fazendeiros brancos.
Por isso a Europa mantém com determinação o financiamento de Gaza, que paga causas humanitárias como as
infra-estruturas do Hamas e a logística do sequestro, tortura e morte de reféns
“sionistas”. Assim vale a pena.
Tirando séculos de despotismo, guerras e, apenas no séc. XX, resmas
de ditaduras e uns genocídios, a Europa é o berço da liberdade, um berço cujo
embalo se reforça com a deriva americana e com os pergaminhos dourados dos
nossos actuais líderes. Na Europa
somos livres de aceitar sem amarras nem fronteiras milhões de imigrantes com
costumes exóticos e enriquecedores do “tecido social”. Na Europa – ou em partes da Europa, mas
em breve o direito alastra – somos livres de não ofender uma religião em
particular para não ter problemas com a polícia e os tribunais. Na Europa somos
livres de não dissuadir com escusada severidade violadores de menores (ou
maiores) e os já tradicionais esfaqueadores de transeuntes, contanto que haja a
atenuante do “choque cultural”. Na Europa
somos livres de agitar a bandeirinha da “Palestina” em manifestações
adequadamente anti-semitas. Na Europa somos livres de escolher pelos romenos
um presidente que eles não escolheram. Na Europa somos livres de
aplaudir os chefes alemães a desprezarem o parlamento eleito para sabotar o
limite constitucional à despesa em defesa. Na Europa somos livres de promover a
ciência que garante haver 72 “géneros”
(para a semana descobrem mais dois ou três). Na Europa somos livres de ter um trabalhão a separar a tampa da
garrafa para resgatar o planeta. Na Europa estamos a caminho de ser
livres de não poder espalhar “desinformação” que contraste com a informação
oficial e séria. Assim é falar, e assim é calar.
E Portugal? Portugal, nação valente,
tem-se mostrado à altura das responsabilidades e ao lado da Europa (o lado
esquerdo no cantinho cá de baixo, se consultarmos um mapa) nesta hora de
turbulência e afirmação. Se a ideia é isolar a Rússia, Portugal promete não
voltar a passar informação confidencial à embaixada deles e está disponível
para ser drástico nas sanções, logo que estas não afectem em demasia a venda de
“vistos gold”, a importação de gás natural para o terminal de Sines e a
exportação de fruta, vinho e sapatos para Moscovo e as províncias.
Se
a ideia é enxovalhar os EUA, o enxovalho está em curso: um artista de
variedades indígena prometeu vender o seu Tesla, o ministro Nuno Melo cancelou
uma decisão que nunca havia sido decidida acerca da compra de uns caças
americanos, e eu próprio, que visitarei aquele atoleiro de nazis em Abril,
tenciono usar o símbolo da UE na lapela e não adquirir umas Levi’s a título de
punição adicional.
Se a ideia é participarmos na colectiva
corrida às armas, pelo menos sabemos que o ex-almirante, e futuro monarca,
Gouveia e Melo deixou a Marinha preparada: a fim de não haver surpresas em
combate, este mês afundou-se um navio-escola e avariou-se um submarino (ainda
sobra outro).
Se a ideia é reagir em conformidade à
instabilidade internacional, Portugal fez cair o governo.
Portugal encontra-se perfeitamente
sincronizado com a Europa e a Europa encontra-se perfeitamente sincronizada com
a herança que nos deu Brunelleschi, Newton, Dickens e, há tempos, a dona
Ursula. A civilização mora aqui (de
momento não está ninguém em casa).
EUROPA MUNDO CASA BRANCA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
AMÉRICA COMENTÁRIOS (de 173)
Novo Assinante Foi o actual vice-presidente de Trump JDVance quem disse: "Trump é um idiota cínico como
Nixon, o que não seria tão mau (e até poderia revelar-se útil) ou se é o Hitler
da América”. O jornal Observador noticiou o
facto através de uma notícia de 17.04.2024 com o título "Quem
é realmente J.D. Vance, o vice que já foi muito crítico de Trump? E o
que representa a sua “escolha?". Pesquisem e encontrarão.Claro
que o senhor Alberto Gonçalves tem de continuar a encher chouriços para receber
a avença do Observador ao fim do mês e assim poder pagar a renda, a
alimentação, electricidade, combustíveis, etc, etc. ao fim de cada mês, se não
morre à fome! Ricardo
Pinheiro Alves: "o
ministro Nuno Melo cancelou uma decisão que nunca havia sido decidida acerca da
compra de uns caças americanos". Para esclarecimento da verdade, o
Ministro Nuno Nelo não cancelou nada. O jornal Público é que prefere o activismo
ideológico anti-Trump à verdade, e por isso inventa notícias que nunca
existiram. No dia seguinte corrigiu o título da notícia, mas não informou os
seus leitores de que os tinha enganado. Foi nisto que os jornais se tornaram.
Gustavo Lopes: Verdadeiro “Tika-taka” na arte de bem escrever!!!!
Objectividade, poder de síntese e aquela dose certa de humor!!! Obrigado por
mais esta pérola, AG! Joao
Fontes: Um excelente
artigo, carregado de ironia, que infelizmente não é acessível ao português
médio.
Felizmente, ainda vamos tendo jornalismo/comentário de qualidade. Pedro Pereira: Haja alguém com clarividência nesta bafienta, defunta
e putrefacta europa. Há-de chegar
o dia em que nós chamaremos à pedra todos estes senhores desta Europa que nos
governaram nos últimos 30 anos e nos colocaram nesta situação de dependência e
sem poder negocial. Quando alguém comete um atentado e está ilegal, a
responsabilidade não é só dele mesmo, é também do responsável pelo sistema que
o deixou entrar neste espaço. Pedro Correia: Como de costume: muito bom! José B Dias > joaquim Pocinho: Veja se consegue rebater com factos os pontos
referidos pelo cronista ... é este seu comentário mais um exemplo da sua
incapacidade em entender o que vai à sua volta, de tão cego pelas narrativas
enviesadas pelas desinformação e propaganda e que abraçou como dogmas! E, sem surpresa, não sendo os dogmas, pela própria
natureza, passíveis de qualquer discussão ... compraz-se em atacar o homem em
lugar do que este afirma! Maria
Emília Ranhada Santos: Os líderes
europeus querem que a Europa seja um continente livre? Então porque não deixam
que a CS seja a primeira a tornar-se livre? A
ditadura começa sempre com a CS cortada ou enviesada como a europeia e até
mundial! Tretas! Tudo
mentiras! Se nos quisessem bem, esses mesmos líderes, esses donos da CS e dos
média, falavam verdade e mantinham-nos informados do que estão há muito a
tramar para o mundo e principalmente para os europeus! Trump é um demónio para eles, esses líderes
globalistas, porque lhes desmantelou a toca da víbora! Fascista o governo dos EUA? Porquê? Porque desmantela
todos os ladrões e corruptos? Isso é ser fascista ou querer o bem dos povos
humildes e sérios? Então Pedro Nuno Santos também é fascista, porque
desmantelou os arranjinhos de Montenegro! Mas
os dele ninguém os desmantela! Agora
vêm as sondagens, tal como nos EUA, onde os donos da CS que é 100% esquerdista
e globalista, dizer que os portugueses querem outra vez o PSD a governar, mesmo
depois deste desastre? Quem tem pouca massa encefálica, talvez acredite nesta
patranha, mas quem é capaz de pensar um pouco, sabe bem que é mais uma jogada
da esquerda com medo que o CHEGA suba nas eleições e então vão avisando o povo
para ir atrás da maioria que é o PSD! Um truque que nos EUA não resultou porque
eles são um bocadinho mais evoluídos do que nós os portugueses! José B Dias > Ruço Cascais: Nada como atacar o mensageiro em lugar de discutir a
mensagem ... manuel
menezes: Caríssimo
Alberto Gonçalves, mais um magnífico artigo, mas permita-me um conselho, comece
os seus artigos com um aviso: " leitura proibida a indivíduos destituídos
de humor e ironia" Meio
Vazio: De novo em
excelente forma, o nosso AG ridendo castigat mores. Coxinho: Saibamos apreciar, valorizar
e... rir com a veia satírica do AG.
L Faria: Brilhante, mais uma vez! E depois chamamos fascista ao
Trump, Bolsonaro, Milei, e a todos que digam que o rei vai nu. Elon Musk abriu
a rede social ao comentário de todos sem censura. Os esquerdalhos que eram os
únicos a poderem insultar livremente e sem consequências, começaram a perceber
que agora existem outros que os desmascaravam como canalhas. Musk, de repente,
passou a ser fascista. É por estas e por outras que nunca votei à esquerda e
irei morrer sem votar. Não suporto filhos da fruta. Curiosamente são quase
todos de esquerda. GateKeeper:
Top 10. Maria Paula Silva: Excelente! a coisa da tampinha das
garrafas todos os dias me dá um ataque de nervos... o apoio à África do Sul,
porquê? não faz sentido nenhum. Adorei "o ex-almirante, e futuro monarca,": deliciosa! S Belo: Bravo, Alberto ! Antonio Rodrigues: Artigo notável, não só pelo
conteúdo mas também pela raridade. Haja alguém que vê e descreve o óbvio. klaus muller > Pedra Nussapato: Pedra, onde é que eu já ouvi
essa foleirada de "farol do mundo livre"? Ah! já sei! Era quando havia
quem dissesse que a URSS era o "sol da humanidade" ou coisa do
género. Caem mal essas pinderiquices, Pedra. Tim do A: Neste momento a Europa
tornou-se uma ditadura Woke dos liberais socialistas globalistas. Pode ser que
Trump consiga salvá-la desse destino trágico. Tiago Maymone: Costumo divertir-me muito com os artigos de AG, e o de
hoje não falha na argúcia e no estilo - óptimo. Mas desta vez não consegui rir.
Não por culpa do autor, mas pela desgraça que reina. Desgraça que tem todos os
ingredientes do perigo. Ainda estamos confortáveis em casa a ler estas coisas
nos nossos telefones e tablets. Temo que isso não dure, se não for na nossa
geração, será na dos nossos filhos. Tristão:
“Pessoas
esclarecidíssimas já comprovaram cientificamente que os EUA resvalaram para o fascismo.
O presidente é Hitler.” - Não, não
é Hitler mas no gosto pelas anexações parece haver semelhanças. Não é todos os
dias que vemos um presidente dos EUA a pretender anexar o seu vizinho de cima e
afirmá-lo com uma desfaçatez próprio dos ditadores. A semelhança da Alemanha de
Hitler ter anexado a Áustria é certamente só coincidência. Mas não se fica por
aqui, a Gronelândia também está nos seus planos expansionistas… Bem, se isto
não é próprio de um proto-ditador então é o quê? De um democrata? Tim do A:
A maior ameaça à Europa não vem dos EUA,
da China ou da Rússia, mas do seu interior. Vem da perda de valores
democráticos das elites dos países europeus, da censura à liberdade de
expressão e de opinião dos seus cidadãos e do desprezo pela vontade das suas
populações. As linhas vermelhas que as elites impõem ao povo nos países
europeus. Maria Alva: Excelente
artigo com a fina ironia a que nos habituou.👍 Afonso
Soares: A Europa com
todos os seus defeitos é o melhor sítio para viver. O resto AG é conversa fiada
ou se diz ":Conversa para boi dormir". Portanto dê-se por feliz nesta
Europa com tantos "defeitos". Miguel Macedo: Brilhante! Como sempre! Pedra Nussapato: A civilização tanto mora aqui que AG pode livremente
escrever os disparates que lhe apetece e apoiar a sua amada América,
especialmente aquela que suporta cegamente Trump, às custas de bater na Europa.
Pode dar as voltas que quiser dr AG, com todos os seus defeitos, a Europa
continua a ser o farol do mundo livre e do mínimo decência; os EUA de Trump
decidiram abandonar esse farol. Rui Lima: A Europa devia olhar para o
seu interior e ver que corre grande perigo o Hitler durou alguns anos o que se
prepara para alguns países na Europa será para a eternidade. Se no
Barcelona-Benfica o jogo foi interrompido por motivos religiosos quando o Sol
se pôs, não vi nenhuma reacção dos movimentos que combatem a religião só atacam
quando ela é cristã ou Judaica .
Amandio Teixeira-Pinto: "A civilização mora aqui (de momento não está
ninguém em casa)" – citação Que tremenda e brilhante afirmação. Esta é de ficar
nos livros, genial de forma completa. Tiro o chapéu ao Alberto Gonçalves, este
cinismo frio, calculista e brutal é ao melhor estilo de Fernando Pessoa. Susana V: Excelente, como é habitual!
Adorei a frase final. Lapidar!.............. Albino Mendes: Uma europa socialista de projectos
falhados. Recordo que inicialmente, deram o nome de CEE, falhámos. Mais tarde,
deram o nome de UE, falhámos. Está na hora mudarem novamente o nome. Bom trabalho,
caro Alberto Gonçalves………. Paulo
Valente: Concorde-se ou não com a sua opinião, ler um artigo seu é um prazer imenso
que só peca porque, eventualmente, chega ao fim. Será que escreveu algum
livro? Se sim, desculpe a minha ignorância. Se não, devia fazê-lo. Não, não é
sarcasmo. É sempre um gosto ler qualquer dos seus artigos! Obrigado Tim do A >João David: Já não estamos no tempo
censório politicamente correcto de Biden.
José Ramos: Se Alberto Gonçalves não compreende a diferença entre um artista de
variedades vender o seu Tesla, ele próprio decidir, ou não, comprar umas Levi's
e o ministro da defesa de um país da Europa ter decidido não comprar "uns
caças americanos" a um parceiro/aliado cuja nova administração e o novo
presidente deixaram de ser fiáveis, não há nada a fazer. Desconfio que Alberto
Gonçalves compreende, só que não resiste em exibir um "nonchalanismo"
de ente superior, pairando sobre "os demais" e, digamos, um bocadinho
bacoco. Enfim, suponho que todos temos direito ao nosso momento. Maria
Castello Branco. Talvez isso seja uma das famosas "conquistas de Abril". Dito
isto, vou passar à crónica de Jaime Nogueira Pinto. Aí, aprendo sempre alguma
coisa. klaus muller > João David: Fico extasiado com a
originalidade do seu comentário!............... Nuno José: Já agora que falou de Newton,
relembro a sua terceira lei, que é um facto universal,: tudo isto é uma reação
a uma força de sentido oposto! E vai acontecer sempre, mas sempre mesmo no
futuro... Progressismo versus conservadorismo! Estamos a defender o
conservadorismo, mas depois vem de novo o progressismo, e em cada ciclo novo a
força reaccionária aplicada vai ser cada vez maior para permitir a aceleração
no sentido desejado (2a lei de Newton). Quanto à 1a lei , a da
"inércia", peçam ao Dr. Costa para vos explicar ...........................
…………………………….
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