Até ver. Está-se em expectativa. O medo permanece, a
somar a outros dados sentimentais…
Também não há guerras grátis
Os governos europeus julgaram que
tinham descoberto a guerra grátis: os ucranianos morriam, os americanos pagavam,
e os europeus falavam. Mas também não há guerras grátis.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 21 mar. 2025, 00:2016
Perante a Ucrânia, há duas atitudes possíveis. Uma é fechar os olhos,
tapar os ouvidos, encher o peito de indignação moral e geoestratégica, e gritar
muito alto que Trump é um “agente russo”. A outra é tentar perceber o imbróglio
que Trump, bem ou mal, está a procurar resolver. Experimentemos, por uns
minutos, esta segunda atitude.
Em 2012, Barack Obama riu-se
muito quando Mitt Romney lhe disse que a Rússia de Putin era um perigo. Em
2014, Putin pôde começar a invadir a Ucrânia, perante a esplêndida indiferença
de Obama e de Merkel. Em
2022, o tirano russo deduziu que teria licença ocidental para consumar a
ocupação. Talvez tivesse tido, não fosse a resistência de Zelensky, que
surpreendeu toda a gente. Biden e os europeus sentiram-se obrigados a manter a
Ucrânia à tona da água, mas apenas o suficiente para não se afogar. Forneceram-lhe
armas, mas não todas as de que precisava e sem deixarem que as usasse com todo
o impacto. Castigaram Putin com discursos, mas prosseguiram, directa ou
indirectamente, os negócios com a Rússia.
Vou
agora acusá-los de cobardia e falta de visão? Vou dizer, como a gente sábia diz
de Trump, que eram “agentes da Rússia”? Não. Vou admitir que Biden, Macron,
Scholz e os outros souberam sempre que derrotar Putin implicava, não apenas o
risco de uma guerra entre potências nucleares, mas uma transformação dos
Estados ocidentais para a qual as respectivas sociedades não estão preparadas. Desde meados do século XX, o Ocidente
construiu Estados em que a despesa é
sobretudo “social”. Uma guerra com a Rússia subverteria este
tipo de Estado. Os governos europeus já resistem a elevar os gastos militares
para 2% do PIB. Imaginem como seria se os tivessem de subir para 20% ou mais. Poderia recorrer-se à dívida, como agora se propõe
fazer a Alemanha. Mas a maior parte dos Estados já tem dívidas tão grandes como
as que, no passado, só as guerras causavam. Uma guerra seria uma revolução no
Ocidente.
Mas
era para essa guerra que a situação na Ucrânia se estava a encaminhar. A opção
ocidental de uma guerra limitada criou um triturador de carne à maneira da I
Guerra Mundial. Com isto, Biden, Macron e Scholz puseram a
Rússia, que tem mais carne para triturar, em vantagem. A necessidade de enviar tropas para
prevenir o colapso da Ucrânia já apareceu no horizonte. Macron atreveu-se a
mencioná-la. Só que ninguém tem soldados em número suficiente, nem está
disposto a suportar as baixas daquela guerra.
A Ucrânia de Zelensky provou muita
coisa. Quem dizia que não era uma nação, como o ditador Putin, foi desmentido
onde mais importa, no terreno. Infelizmente,
a Ucrânia não tem recursos nem aliados para uma guerra dispendiosa e sem fim.
No ano passado, os jornais de referência ocidentais começaram a admitir
concessões territoriais à Rússia e a descontar até uma garantia da NATO à Ucrânia.
Mas nenhum político se atrevia a reconhecer isso, porque o apoio incondicional
à Ucrânia estava a ser usado pelo establishment para embaraçar os
“populistas”. Todos ficaram assim à espera de Trump.
Não é difícil perceber Trump: não lhe convém uma segunda retirada
do Afeganistão, como a que consumiu a credibilidade de Biden em 2021, mas
também não lhe interessa uma guerra com a Rússia, para que ninguém está pronto.
A alternativa é um acordo. Para desempenhar o papel de árbitro,
Trump precisou de renunciar ao papel de protector de Zelensky. Na Europa,
fez-se um grande escândalo. Havia por aqui quem julgasse que tinha descoberto a
guerra grátis: os ucranianos morriam, os americanos pagavam, e os europeus
falavam. Mas não são só os almoços que nunca são grátis: as guerras também não.
Posto isto, Trump pode falhar. Mas julguemo-lo pelos resultados.
DONALD TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO UCRÂNIA
COMENTÁRIOS..:
Filipe Paes de Vasconcellos: O meu comentário foi para moderação e não sei porque
motivo -
Não, “não há guerras grátis “.Não, não há influência
estratégica e económica global grátis. Também não se perspectivava, apesar
de todos os riscos e eram muitos, que a maior potência do mundo livre pusesse à
frente dos seus destinos um ser criminoso, amoral, desumano, abjecto …
completamente incapaz de liderar o Mundo Livre. É certo que os países do
Ocidente nunca quiseram uma Paz “à borla” não investindo mais em defesa porque
tinham um quadro estratégico de defesa que se suportava numa organização de
defesa do Mundo Livre que se chama, chamava, NATO. E , repito, se os EUA,
investiram bem mais em Defesa do que na Europa, era porque precisavam, era do
seu interesse manter o seu domínio no mundo. O contrário é chamar-lhes
mentecatos.Em Tempo: A conclusão e até sugestão com que acaba o seu artigo é
profundamente lamentável.Em moderação Bimperl: Soubemos ontem que Portugal,
ao lado de Espanha e França, foi um dos estados que chumbou o aumento para
40.000 milhões de ajuda para a Ucrânia, tendo o pacote final ficado pelos 5.000
milhões. Talvez o Montenegro e a Spinunviva sejam “ agentes russos”. JOSÉ
MANUEL: desde que o referiu a admiração por kim e pudin, que "como ele amam o
seu povo", qualquer expetativa de algo de bom desapareceu. Pontos comuns
destas personagens são um egocentrismo estratosférico, megalomania, ânsia de
ficar na história e uma absoluta intolerância para com quem os critica, seja em
que aspecto for, inclusivamente técnico, não aceitando factos científicos
óbvios (na verdade como alguns fundamentalistas do clima, ainda assim com a
diferença de que os críticos destes têm mais segurança nas escadas). Pode este
ser alaranjado produzir algo de bom para a humanidade? Eventualmente, sim, ou
por mero acaso, ou se coincidir com os seus próprios interesses, ou se for
massajado no seu ego e endeusado, como Zelensky parece ter percebido... Pedro
Leitao: Mais uma excelente análise. A realidade terá que se impor e não há guerras
eternas. A Rússia é mais forte e a sua opinião pública não conta. É duro, mas a
negociação tenderá sempre a favorecer mais a Rússia. Contudo, Trump e o seu
vice ao destratarem malcriadamente
Zelenski na casa branca e ao fazerem "guerra psicológica" à NATO e
Europa, alteraram, e muito, a imagem dos EUA no mundo. Talvez de uma maneira
irreversível! Ruço
Cascais: Rui Ramos é o Elon Musk português na vertente de ter ficado doido pelo
Trump. Primeiro ficou em estado de êxtase com o discurso de Vance, agora vem salvar
Trump, o estratego. Vamo- nos colocar no lugar de Trump para acabar com a
guerra quando este estava a jogar à sueca com os amigos. Eu Trump: - Jorge pah,
és o melhor agente de viagens que eu conheço. Vou-te enviar para Moscovo para
dares a volta ao Putin para ver se ele acaba com a porcaria da guerra.
Aproveita e tenta por lá vender umas viagens e convida o Putin para a sueca. Se
vires por lá uma russas bonitas convida-as também discretamente. Há umas
espetaculares do Trump que devem ter passado ao lado do Rui Ramos e que mereciam
um artigo de opinião; carros elétricos Tesla, o novo amor de Trump e o Biden
que comeu os ovos todos. A Karoline também é um espectáculo, merecia uma
crónica. Pois é, caro Rui Ramos, como diz no artigo, o Zelensky é que agitou
isto tudo. Muita razão tem o Trump em destratá-lo ao contrário dos europeus que
andam com ele ao colo. Eduardo
Cunha: Excelente crónica. Parabéns.
GateKeeper: Top 5. Nem almoços, nem guerras, nem centrões Tudo isso se paga. E quem paga? A História da
Humanidade é toda uma constatação de que SOMOS NÓS. A "Europa"
acordou do coma que perdurou durante mais de 80 anos. E, numa escala de tempo
imaginado, é como aquele jovem Z que andou a noite & a madrugada a jogar e
teclar no social virtual e só acordou ao meio-dia, quando tinha um exame fatal
às 09:00 da manhã. O welfare fake de 75 anos de subsidiocaína e crédito
transformou a Europa num decadente e velho "salvado" da História. E a
mediocridade "literária" das e dos "poetas
político-sociais-económicos" actuais não passa de um comprovante da ilusão
que nos tentam vender diariamente. Mas, ainda pior do que isso, é a
"negação militante ", na qual mergulharam milhões de europeus,
acomodados à mentira, à omissão e à ilusão de que "está tudo bem" com
aquilo que NÃO têm. As "bolhas" virtuais acumulam-se. E a
"riqueza das Nações" não passa de uma opereta muito pimba e de mau
gosto. Caro Rui, keep them coming e quem não gosta que não coma. Top 5! . Carlos Chaves: Os resultados até agora, foi
após o famoso telefonema entre Trump e Putin para chegar a um acordo de paz
(imagine-se sem a Ucrânia,) em que Putin se comprometeria apenas, apenas, a
não atacar as centrais de energia, logo de seguida Putin ordenou e iniciou um
dos maiores ataques a alvos civis na Ucrânia! Excelente resultado! É
estranho o Rui Ramos não escrever uma palavra sobre as intenções de Trump, sobre
os EUA passarem a controlar unilateralmente as centrais nucleares Ucranianas e
explorar o Lítio, Urânio etc… e que os Ucranianos têm que sair dos território
ocupados pela Rússia! Parece que voltámos aos tempos do antigo colonialismo! José B Dias > Carlos Chaves: E é estranho o Carlos Chaves
não escrever uma palavra sobre as vagas de drones lançados pela Ucrânia sobre a
Rússia ou sobre os "tempos do antigo colonialismo" do Iraque, do
Afeganistão, do Kosovo, da Líbia, da Síria... ou se calhar é mesmo o expectável! Carlos Chaves > José B Dias: Eu não sou colunista de um
jornal, nem historiador como RR! Não compare as responsabilidades caro José B
Dias! Quanto aos drones Ucranianos na Rússia são a possível resposta ao
invasor de um país soberano e enganado, por nós Europeus e pelos Americanos.
José B
Dias > Carlos Chaves: Eu imaginei que seria qualquer
coisa assim ... José B Dias: ... os ucranianos morriam, os
americanos pagavam, e os europeus falavam. Mas não são só os almoços que nunca
são grátis: as guerras também não. Posto isto, Trump pode falhar. Mas
julguemo-lo pelos resultados. E disse tudo! madalena colaço: Recomendo vivamente ao Rui
Ramos que ouça a conferência que o economista Jeffrey Sachs deu no dia 12 no
Parlamento Europeu. https://www.youtube.com/live/SHFOcIYEL8Q?si=beLpZMRYconV-Hyv José B
Dias > madalena colaço: Também já por aqui a citei e
reproduzi breve excerto ... os maiores cegos sempre foram os que se recusaram a
ver! Gustavo
Lopes: Lucidez e frieza na análise!!! Não é fácil, mas é bem-vinda!!! Bem ao jeito
do RR… Obrigado.
Lourenço de Almeida: Aqui está um texto o de não há
uma unica mentira provada, no qual as hipoteses colocadas são viáveis e
prováveis e no qual os bois são chamados pelos nomes. A coversa de que o Trump
é isto e aquilo é boa para revistas cor de rosa - incluindo o Economist, Time e
afins - e para quem gosta de declarações pra inglês ver, desde que não gaste
com isso nem esreja disposto a ir dar o corpo ao manifesto. Ou seja, para
europeus. José Fernandes:
RR tem dúvidas
quanto aos resultados das acções de Donald! José B DiasJosé Fernandes: Em todos os processos
complexos existe sempre dúvida sobre o resultado final ... não ter dúvidas
apenas seria sinal de irracionalidade ou de pensamento mágico. Infelizmente
parece que por aqui e por ali não falta gente que nunca tem dúvidas sobre o
resultado final do caminho que preconizam como único ... João Guilherme Sousa: Se calhar devia ir ao contra
corrente , dado que o José e a Helena não estão a servir para esse fim.
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