quinta-feira, 20 de março de 2025

Do que gostamos mesmo

 

É da tourada, exigente de requebros. Requebros, que nos tornam bem visíveis. Visibilidade é do que precisamos. Tourada, o desporto do nosso desportivismo de cabeceira para a tal visibilidade. Fundamental para a nossa imodéstia também de cabeceira.

E assim estamos...

...e estamos mal: de um lado, uma bolha animada pela suspeição activa onde se misturam verdades com efabulações; do outro, um falso criminoso de delito comum, autor porém de uma trapalhada política

MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista, colunista do Observador

OBSERVADOR, 19 mar. 2025, 00:2280

1 É preciso fazer caso disto: há um consenso geral de que Montenegro não cometeu um delito. É algo que tem de ser tido em conta num caso que porém não fica por aqui: numa interpretação benévola dir-se-á que a sua actuação foi de uma espantosa e muito intrigante imprudência política; numa análise severa evoca-se que a ética – valor obrigatório na terceira figura do Estado – o deveria ter impedido de ser tão estranhamente incauto.

Ou seja, dito depressa: o entendimento de Montenegro sobre o cargo que iria ocupar obrigá-lo-ia a que se desfizesse de uma empresa de onde recebia dinheiro através da mulher e os filhos.

2Não aconteceu assim. Uma vez estreada a história em papel de jornal, a quase totalidade da media mobilizou-se sem custo e as oposições galoparam sobre o maná. Aos zigue-zagues e num percurso sempre também sinuoso, foram-se seguindo incontáveis “esclarecimentos”, nomes, datas, detalhes, “explicações”. Como porém nunca “satisfizeram” nem nunca foram “suficientes”, a palavra de ordem mantém-se imutável: é preciso mais. Enquanto dura a valsa do já-esclarecido-mas-que-falta-ainda esclarecer, o Primeiro Ministro continua, desde o primeiro dia e até à hora a que escrevo, a ser tratado mediática e politicamente como um criminoso de delito comum.

3Pertencendo eu ao grupo das pessoas que “sim, considero que deveria ter havido um despojamento da empresa em data prévia a entrada de Luís Montenegro em S. Bento”, confesso que estou em condições de, usando da mesma seriedade intelectual, pertencer também a um outro grupo, porventura mais diminuto: aquele que se espanta.

Com: 1) a desenvoltura da acusação ao Primeiro Ministro, muitas vezes atabalhoada e outras vezes infundada, praticada pela comunicação social, como se padecesse de um tique nervoso incontrolável; 2) o uso obsessivo da suspeita como regra de conduta.

O combate é feroz, desabrido, desproporcionado. Irracional e a política detesta a irracionalidade.

4Mas é assim que estamos e estamos mal: de um lado, uma bolha animada pela suspeição activa e a acusação onde se misturam verdades, meias verdades, actos que tiveram lugar com factos que nunca aconteceram; do outro, um falso criminoso de delito comum, autor porém de uma trapalhada políticapassível de falha éticae que na última semana deu o seu consentimento a uma deplorável encenação partidária onde todos os erros políticos foram cometidos. Dá que pensar.

5E nisto, podemos vir a correr o risco de assistir a uma campanha eleitoral que pressuponha – ou possa vir a pressupor – um julgamento “ético e moral” sobre a confiabilidade da figura do Chefe do Governo”. Ou pelo menos que se caia nessa tentação, um claro equívoco e um grosseiro erro. A questão é política. Ocorre-me isto por ter ouvido o Presidente da República. Um pouco ambíguo, uma no cravo, outra na ferradura mas… Mas pode ter escorregado a dúvida sobre que papel ele se atribui a ele mesmo nesta embrulhada em que detestou ter-se visto embrulhado. E daí, quem sabe, a tentação – ao de leve, de mansinho – de abrir um entre parêntesis, fazendo deslocar a instituição presidencial da sua primordial função política para uma vigilante da ética e da boa moral.

Seja como for estamos sob vários aspectos e domínios perante a negação da política, mesmo que muitos rejubilem com o turvo ar deste tempo. Turvo como o perigo de por exemplo se saltar de uma campanha legislativa cuja natureza e propósito são políticos, para um patamar moral ou ético.

(Já ouvi publicamente muitas “avaliações” sobre se moralmente Luís Montenegro merece ganhar as eleições. Por exemplo.)

Dias perigosos, sim: para a política, a democracia, o país, os portugueses.

CRISE POLÍTICA     POLÍTICA     LUÍS MONTENEGRO

COMENTÁRIOS (de 80)

JOHN MARTINS: O facto é que houve três moções de censura ao governo, duas não tiveram efeito e à terceira foi de vez. O chega e o Partido Socialista coligados mais uma vez acabaram por derrubar o governo de Montenegro que estranhamente se mantinha intacto desde que tomou posse...E sim Maria João, para sairmos deste imbróglio parece que na Madeira Albuquerque vai ganhar por maioria. Aqui na República o povo que resolva com maioria confortável para MONTENEGRO...           Carlos Chaves: Caríssima Maria João, permita-me que acrescente a esta sua crónica, o conselho do Jorge Marrão no Think Tank de ontem do Camilo Lourenço, para revisitarmos o livro de Francisco Sá Carneiro – O impasse, onde basicamente ele demonstra que o nosso sistema político está “montado” para ou ser o PS a governar, ou o PSD mas com autorização do PS! Está mais que na hora de desmontarmos esta armadilha, pela saúde da nossa democracia, e parafraseando-a, pelo país e pelos portugueses.                           Joaquim Rodrigues: Eu sou do grupo que acha que Luís Montenegro não tinha nada que se desfazer da empresa que tinha criado e era da sua propriedade. Tinha, isso sim, de deixar de exercer qualquer cargo na Empresa, cumprindo a obrigação de "exclusividade" que a Constituição impõe. Eu sou até do grupo que acha que, em vez de tantos Advogados, Professores e Funcionários, como Primeiros-Ministros e Ministros, devíamos era ter Empresários, Gestores ou Trabalhadores  Técnicos ligados à economia real, dos vários sectores de actividade. O actual Chanceler alemão foi administrador de uma Consultora e, nessa qualidade, deve ter trabalhado para a maioria das Grandes Empresas alemãs. É proprietário de dois aviões. Que eu saiba ninguém na Alemanha contesta a sua "idoneidade" para o exercício do cargo. Está feita a minha "declaração de interesses". Estranho é o antigo Primeiro Ministro, o António Costa, que com o PNS foi o grande obreiro da Geringonça, por muito menos, por causa de um parágrafo, “segundo ele diz”, demitiu-se, causando graves prejuízos ao País, por achar que o clima de suspeição gerado pelo famigerado parágrafo não lhe permitia governar. E "tinha maioria absoluta", não é verdade, cara Comunicação Social (CS)?Nem uma palavra vossa ouvimos a condenar a demissão de Costa. Bem ao contrário, o que condenavam era o "parágrafo", o qual, ainda por cima, se limitava a expressar um “facto real”. ”Será que Pedro Nuno Santos (PNS) não podia ter esperado dois meses, o tempo que vamos perder com eleições, para esclarecer toda a verdade, através das entidades competentes para o fazer: a Comissão para a Transparência, a Comissão Parlamentar de Inquérito (?), e a PGR? Não é o Sr. PNS e a Sr.ª Alexandra Leitão que têm a "competência técnica” e os meios legais, para selecção e recolha da “informação relevante”, nem a "competência técnica e poder" para decidir sobre se os "esclarecimentos" de LM são bons e suficientes. É óbvio que, depois das suspeitas e insinuações que fizeram, Luís Montenegro, para continuar a Governar, o mínimo que podia exigir, "o mínimo dos mínimos", era a aprovação de uma "Moção de Confiança". Isto é difícil de perceber? Temos dois pesos e duas medidas, cara CS? O que não é aceitável é que se deite abaixo um Governo, apenas com base em insinuações, suspeitas e conjecturas, não é verdade senhores da CS? Isso sim, isso é que é completamente irresponsável. E é por isso que, a opção de PNS e de AV de não viabilização da Moção de Confiança (bastava terem-se abstido, por forma a dar tempo às entidades competentes, para recolha de informação e esclarecimento do caso), tem que ser claramente penalizada pelos eleitores, sob pena de abrirmos um precedente que tornaria o País ingovernável. Em vez de “Levantamentos Militares” semanais/mensais como na 1ª República, ou “Novas Conquistas Revolucionárias” da aliança Povo/MFA, como no PREC, passaríamos a ter “Golpes e Golpadas” constantes, com base em “Inventonas”, das várias facções partidárias, alimentadas pela “Bolha Mediática”. Voltaríamos aos tempos da 1ª República, agora já não pela mão dos militares, mas pela mão dos “partidos” e respectiva Comunicação Social. Em vez de se contarem espingardas passariam a contar-se as “Empresas de CS” e o número de “cartilheiros e avençados” que cada “grupo” tinha por conta.                   José Carvalho: E assim estamos: Para alguns os casos de delito comum cometidos por deputados do CHEGA são gravíssimos e fundamentam a ideia de estabelecer as linhas vermelhas contra este partido. Mas para os mesmos que acham os casos do CHEGA repugnantes, ter um primeiro-ministro como avençado de uma empresa privada não passa de uma atitude menor que deveria ter sido corrigida e a vida seguiria como se nada fosse. Assim se vê a coerência destes articulistas avençados Como é possível publicar isto. É preciso desfaçatez                 Henrique Mota: Até agora, se outros factos não surgirem, não consigo entender onde está a falha de Montenegro. Entrou para líder do PSD e depois para PM. Saiu da gerência da empresa ( a venda é irrelevante. Para dar um exemplo , também Balsemão fez o mesmo) . Logo que a notícia saiu pode ter pecado apenas por dar explicações a mais. Não sendo gerente, não tem, nem deve dar explicações de empresas de que tem participação. Então todos tínhamos que dar explicações sobre empresas em que temos partipações sociais. Os media se quisessem saber algo iriam aos locais e entidades competentes. O MONTENEGRO até pode comprometer os negócios da empresa ao dar as informações que deu. Entrementes, com a morte de Miguel Macedo, foi ver o que os media e os seus inimigos políticos disseram dele no passado e agora na sua morte vieram, hipocritamente, derramar lágrimas de “ crocodilo”                Tristão: Concordo com tudo, excepto na opinião da análise severa que fazem deste caso. Há gente a ir muito mais longe nas insinuações. Já vi, já ouvi, a chamarem um caso destes de corrupção, o que é espantoso dado o que se sabe até agora. Resumindo, neste momento não há nada de nada de ilegal, houve de facto uma imprevidência, não mais do que isso. Imagino agora o que seria o caso Tecnoforma de Passos Coelho, era frito em lume brando num contexto de troika                Fernando ce: Muito bem , no essencial. Não considero que tivesse que desfazer-se a empresa. Faz-me lembrar das pretensas dividas do Sá Carneiro, de que A Maria João certamente se recorda, e ainda do labéu lançado sobre o mesmo Sá Carneiro , sobre a sua situação conjugal , a que nem faltou uma insinuação do pai da democracia - que cometeu muitas falhas e não foram poucas - Mário Soares.                António Lamas: Marcelo é o principal responsável por a crise chegar onde chegou. Querer ele ser o vigilante da ética e da moral, é de rir às lágrimas. Seria como nomear o Sócrates para o Conselho Superior da Magistratura              F. Mendes > José Carvalho: É simplesmente FALSO que o PM tenha sido avençado de uma empresa privada. E mais: a dita empresa já foi alvo de uma acção desfavorável do actual governo (recurso judicial que levou à anulação de uma indemnização de18 milhões de € à Solverde), na qual LM não participou. Nesta matéria, há uma espantosa convergência de opiniões entre o CH e a extrema-esquerda. Revelador.                      Filipe Paes de Vasconcellos: Vivemos num mundo de patetas! Quando os outros o não são até porque têm mais que fazer, (caso do PM Luis Montenegro ), aqui-d’el rei que eles não são dos nossos. Com este “naipe” de políticos, sendo o mais “distinto” Pedro Nuno Santos com todos os outros distintinhos a perseguirem-lhe os passos e o segundo André Ventura que é um tipo, tipo UDP ao contrário, não haveríamos de estar assim?                   J.A.  Pena é que as tv cabo, e restantes órgãos de comunicação social alinhem descaradamente com esta cambada de artolas. Atenção que o Observador faz muita falta ao país, portanto ficaria muito contente que não resvalasse para o lodo onde nos querem meter a todos.              Manuel Filipe Correia de Araújo: 15 h O Actual Senhor Presidente da República aconselhou o Senhor Primeiro Ministro a Não apresentar uma Moção de Confiança, pois o Governo já tinha o Orçamento Aprovado e Duas Recentes Moções de Censura Rejeitadas. Segundo consta, vários Ministros do Governo da AD deram o mesmo Avisado Conselho ao Senhor Primeiro-Ministro, uma vez que desde o Inicio deste Governo o Partido Socialista tinha Repetidamente Avisado que Votaria Sempre Contra Moções de Confiança ao Governo e entretanto o PS já tinha Rejeitado Duas Moções de Censura e contribuído decisivamente para a passagem do Orçamento de Estado para 2025 ! Na minha opinião, expressa antes das Eleições de 10 de Março de 2024, o "Não é Não" teve dois efeitos por parte dos Eleitores na ida às urnas nessa ocasião: 1).Diminuiu a votação no PSD que apenas conseguiu um Empate com o PS, tendo os dois Partidos 78 Deputados cada um; 2) Aumentou de forma substancial a ida às urnas, o que é positivo, mas o "Não é Não" fez com que o Partido Chega tivesse uma Votação Explosiva conquistando 50 Deputados, o que quase ninguém esperava! Faço votos para que o mesmo Terrível Erro não seja cometido na Campanha para as Eleições de 18 de Maio de 2025 e bem pelo contrário o PSD e os seus Candidatos afirmem de Forma Solene que respeitarão Integralmente a Vontade do Eleitores, que são quem Mais Ordena, pois em Democracia o Verdadeiro Soberano são os Cidadãos Eleitores !               Joaquim Rodrigues > Manuel Filipe Correia de Araújo: Para enganar “Portugueses e Troicanos”, o Sr. Relvas, em vez da Regionalização do País que a Troica exigia, inventou uma putativa Reforma Administrativa que não passou de um aborto irracional que só serviu para perder tempo, dinheiro e qualidade de vida e que acabou por “fazer figura” à custa, principalmente, da extinção de muitas das Freguesias “rurais” do País, com populações envelhecidas, onde a presença de um representante/interlocutor com a Administração é importantíssima. Tudo o que seja investir dinheiros públicos, fora de Lisboa, em particular por todo o território nacional do interior, para estes "urbanos da treta" é esbanjo. Não foi por acaso que foram tão lestos a acabar com os Guardas Florestais, Guarda Rios, Postos da GNR e outros serviços públicos básicos, por exemplo. São os caminhos (ínvios) da política à portuguesa. Não é por acaso e em vão que continuamos, alegremente, cantando e rindo, a caminho de País mais pobre da União Europeia apesar das recentes adesões de Países do Leste. O caso da reconstituição de algumas Freguesias, se fosse feito sem racionalidade de critérios, seria grave. Mas não é o caso. Grave é a destruição do País em nome de uma "megalópole vibrante", com um novo Aeroporto, a 60 Kms de distância, do outro lado do rio, de onde vêm e para onde vão os seus clientes, (quando a segunda pista da Portela podia ser construída em Alverca, a custo zero para os contribuintes) mais três Expos e uma TTT que, no mínimo nunca custarão menos de 2 a 3 mil milhões de euros/ano aos contribuintes de todo o País, até aos do interior. O que são 120 milhões à beira de 2 a 3 mil milhões? Compare os custos/benefícios por cada euro gasto, num caso e no outro. A crítica que se pode fazer ao Sr. Luís Montenegro, é ele estar a ceder à pressão que lhe é imposta pelos “representantes do “Partido Estado”, dentro do Governo (Sr. Pinto Luz) e dentro do PSD.             Manuel Filipe Correia de Araújo: "E assim estamos....." "A Solverde detentora dos Casinos queria resolver o litígio em tribunal arbitral, que decorreu no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa entre junho de 2022 — altura em que se realizou a audiência preparatória — e julho de 2024, quando foi conhecido o acórdão." "Inicialmente, a Solverde reclamava quase 63 milhões de euros ao Estado (62.995.916 euros para ser exacto), a título de reposição do equilíbrio do Contrato de Concessão fixado em 2001. Contudo, o Tribunal Arbitral viria a reduzir o valor a pagar pelo Estado para 15,5 milhões de euros." Agora já começo a perceber que de de início estavam em causa mais de 60 Milhões de Euros e que em 2022 ainda se andava nessa quantia, pelo que a contratação de uma Empresa pertencente à Família Montenegro era um bom trunfo para a Solverde, mas agora em 2025 com as derrotas em Tribunal os Casinos da Solverde pelos vistos deram um grande pontapé na Spinumviva que teve de ir pregar para outras Freguesias.....!!!!!!                 joão josé cunha rego: Desde o princípio do mês 5 amigos do meu filho, jovens na casa do 30 e poucos, saíram de Portugal. O último que se despediu de mim disse-me: infelizmente tenho que sair de Portugal, tenho que deixar os meus pais sozinhos, mas aqui não consigo sobreviver, nem consigo formar uma família e ter filhos. Os governos que têm andado a brincar com os portugueses nada fazem para nos proporcionar uma vida estável no nosso Pais. Maria João Avillez, estamos mal e muito mal. A incompetência, a irresponsabilidade, a corrupção, a falta de valores, são uns dos principais factores para vermos a nossa mocidade sair de Portugal, ficando ou quem não consegue ir-se embora, ou os que não fazem a ponta dum chavelho e vivem à conta dos partidos e do estado social, vulgo subsídios e mais subsídios. Nas próximas eleições iremos ter mais do que o mesmo. A incompetência, o compadrio, a irresponsabilidade, a corrupção. Governantes que a única coisa que lhes interessa é salvaguardar a sua carteira e os amigos. Uns entram para a política com uma mão á frente e outra atrás e saem bem vestidos e de fato e gravata. Não vejo a luz ao fundo do túnel, infelizmente!           Carlos Chaves > Joaquim Rodrigues: Caro Joaquim Rodrigues, este seu texto devia ser obrigatório ser lido em todos os canais de notícias que proliferam no nosso “cabo”, várias vezes por hora e durante vários dias. Afinal se fazem isto com não notícias e com mentiras deliberadas, melhor fariam com estas verdades nuas e cruas!                                FC > José Carvalho: "avençado de uma empresa privada". Para já não é verdade: a empresa criada por ele —mas que já não é dele— é que tem clientes que pagam mensalmente à empresa os serviços prestados por ela. E depois? alguma vez houve conflitos de interesse? Alguma vez ele violou a exclusividade das suas funções? alguma vez cometeu alguma ilegalidade? E, nessa óptica de acusar o PM por crimes não cometidos para melhor deitar abaixo o governo, de passar por cima da PGR ou da dita Comissão Ética que deveria regular as coisas e não regula, então, nessa óptica, não haveria ninguém que se safasse, a começar pelo PNS cujo pai tem uma empresa que recebeu subsídios do Estado quando o filho era ministro? Ou o próprio Mário Soares que era sócio do Colégio Moderno? Ou o presidente Sampaio que era sócio da sua empresa de advocacia? Ou, já agora, o Ventura que contrata bandidos de delito comum para serem deputados? Desfaçatez é mentir em público e usar essas mentiras para deitar abaixo um governo que, mal ou bem, ia no caminho certo.                 Carlos Real: O que mais me espanta da sua crónica e ficar incrédula com a actuação de Montenegro. Passados tantos anos, sobretudo após maiorias absolutas de Sócrates e Costa, que totalizaram 15 anos em 19 possíveis passámos a ter um padrão. Julgar que Montenegro seria diferente depois de ter feito um andar com elevador sem pagar IMI, demonstrando um ar socrático parisiense, e acreditar que a nova geração de políticos tem a fibra ética de um Eanes, e ainda raciocinar com a visão dos velhos tempos. Cada vez mais me convenço que os políticos actuais são o espelho do carácter do povo que temos. No domingo, os madeirenses até poderão dar uma maioria absoluta a Albuquerque. Sabemos que o ADN da cunha e dos favores para obter um emprego estão na tradição lusa como o bacalhau na culinária. Nas últimas décadas acrescentámos a vigarice e o roubar na primeira oportunidade. Já ninguém pode confiar no outro, nem mesmo no círculo familiar, quanto mais nas castas partidárias. Os portugueses não se importam mesmo de viver na lama. Os casos e casinhos passaram a ser o pão nosso de cada dia. Portugal está cada vez mais próximo dos ventos africanistas. Montenegro já não engana ninguém. Até ele próprio sabe o que fez. O problema é que até nem precisa de instaurar uma ditadura. Os portugueses compreendem o seu drama, e possivelmente gostariam de lhe seguir o exemplo. Apenas alguns chatos como eu é que não achamos muita piada. Questões de coluna vertebral.

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