sexta-feira, 7 de março de 2025

Amai-vos uns aos outros

 

A banha da cobra em definição blandiciosa, não para inglês ver, mas para prováveis alianças futuras do PS com os herdeiros desse comunismo antigo, para fortalecimento numérico eleitoral em caso de necessidade, sem preocupações de repúdio ideológico desmistificador. MARGARIDA BENTES PENEDO ousadamente refere os tais discursos angariadores da justa expressão numérica eleitoral, sem tibiezas preconceituosas inibidoras. Ou a democracia seria uma batata, caso não houvesse os ajustamentos definidores e tranquilizadores do savoir vivre ou do savoir faire habituais.

Não há simetria

PCP, Bloco e Livre reconhecem-se como herdeiros do comunismo. Não existe à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de intelectuais, forças ou regimes anti-democráticos.

MARGARIDA BENTES PENEDO Arquitecta e deputada municipal

OBSERVADOR, 06 mar. 2025, 00:1946

De novo a democracia. O Voto de Saudação ao Dia Mundial da Rádio apresentado pelo PS, e debatido a semana passada na Assembleia Municipal de Lisboa, deu uma discussão feia. Comemorada a 13 de Fevereiro (uma celebração recente, desde apenas 2012), a rádio teve e tem um papel importante nas sociedades e foi fundamental em vários momentos do passado, até para defender a democracia. O documento do PS era extenso, bastante completo, descrevia a história da rádio e o papel dela ao longo do tempo e dos regimes. Acabava mal. A chegar ao fim, glorificava o Partido Comunista.

Dizia assim o tal parágrafo:A Rádio Portugal Livre (RPL) foi outra emissora de rádio em português, criada em 1962. Emitia em onda curta a partir de Bucareste, durante o Estado Novo, funcionando como antena do Partido Comunista Português e de outros democratas”.

Magnífico. O PC “e outros democratas”. Um deputado reparou nisto e criticou. O PS respondeu explicando que quando escreve um documento, para o submeter a votação na Assembleia, tenta formular a prosa de modo a conseguir aprová-lo por unanimidade. Mas que, ainda assim, dispensa o voto favorável de partidos anti-democráticos, que considera “uma medalha”.

O PS felicitou como combatentes do Estado Novo alguém que pretendia instalar em Portugal outro regime igualmente repressivo, com as mesmas intenções autoritárias e totalitárias. Era com esta glorificação do PCP que o PS pretendia conseguir a unanimidade na aprovação do documento.

Chega a ser fascinante. O PS está convencido de que todos os partidos concordam com o engrandecimento do PCP. Significa que o PS está imperturbavelmente alheado do verdadeiro papel do PCP ao longo da história. Uma falsificação grave. Porque os eleitos e dirigentes do PS aliam-se com o PCP na Assembleia da República para constituir governos; e aliam-se com o PCP na Câmara para governar Lisboa (durante anos a fio); e continuam a considerar que as alianças com o PCP são favoráveis ao país. Mais. Os ilustres filósofos do PS pensam que as pessoas todas (excepto as anti-democráticas, mas essas não são propriamente “pessoas”) aprovam alianças com o PCP; e que o PCP é um partido mais democrático do que qualquer partido da direita. O PS está nisto e é pena, porque tem obrigações.

A certa altura, para se defender, o deputado do PS dizia que o comunismo tinha “cometido erros”. Os “erros” foram genocídios, como o Holodomor e outros; foram o Grande Terror de 1936-38 e os julgamentos de Moscovo; foi o massacre na floresta de Katyn, com a execução de polícias, oficiais polacos, intelectuais, e cidadãos comuns acusados de espionagem e subversão; foi a campanha anti-semita que prendeu, torturou, e matou médicos judeus, acusados de “cabala sionista” contra os dirigentes soviéticos. Foi o homicídio de Trotsky, com uma picareta enterrada no cérebro por Ramón Marcader, enviado pelo governo de Stalin; Trotsky, responsável pelo massacre dos marinheiros de Kronstadt, tornou-se depois “cúmplice do fascismo”, desde que Stalin passou a viver na sua rivalidade pelo poder russo. Não foram erros, foram assassinatos, foram milhões e milhões de mortes que o comunismo tem às costas e continua a ter, em vários países do mundo. Se o PS lhes quiser continuar a chamar “erros” está no seu direito, mas os eufemismos são para as crianças.

No fim destas medições manhosas sobre as credenciais democráticas dos partidos, é preciso dizer em voz alta uma verdade simples que o regime em peso finge não compreender. O PCP, o Bloco, e o Livre, pelo menos, reconhecem-se como herdeiros do comunismo, e herdeiros orgulhosos dos grandes intelectuais que inspiraram o comunismo (Lenin, Trotsky, Marx, Mao, e outros “democratas”). Em compensação, não existe à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de intelectuais, forças, governantes, movimentos, ou regimes anti-democráticos. Convém dar atenção ao que é importante. Tornou-se um mau hábito fazer uma simetria entre esquerda e direita que na realidade não existe.

COMUNISMO     POLÍTICA     EXTREMA ESQUERDA     PS     DEMOCRACIA     SOCIEDADE

COMENTÁRIOS (de 46)

Ana Luís da Silva: Excelente artigo de Margarida Bentes Penedo! É salutar avivar a memória sobre o real significado histórico e político do PCP, assim como lembrar que o BE, o Livre e o próprio PCP são herdeiros das ideias responsáveis pelo genocídio de milhões de pessoas nos países onde a ideologia comunista chegou a ser implementada de facto. Erros catastróficos que a Humanidade fará bem em não querer repetir.                     Maria Paula Silva: Muito bom, MBP. Só há 2 hipóteses: ou são muito ignorantes ou muito desonestos. mesmo que não saibam História e o que se passou pelo mundo, era bom que soubessem ao menos o que se passou em Portugal desde abril 1974 até Novembro 1975: foram quase 2 anos de terror, que nada tiveram de democrático, em que se cometeram mais atrocidades do que em 40 anos de Salazarismo. Gente ignorante não devia ocupar cargos públicos.                    João Floriano: Muito bom! Se no CDS houvesse mais gente como Margarida Bentes Penedo, o partido não estaria na situação de irrelevância em que se encontra.    Jose Pires: Sem dúvida! Esta cultura de "receio" de dizer a verdade sobre a esquerda e sobre o real papel do PCP, que queria nada menos que impor o regime da URSS em Portugal, tem de ser finalmente denunciada até que as pessoas percebam o que está em causa com aquele partido e como o BE e Livre! Nada menos, que partidos fascistas/comunistas que glorificam ditaduras.             João Bilé Serra: Muito bem e muito bem escrito. Eufemismos são para as crianças. Sim, mas não só, nem na maioria dos casos. Para os mentirosos disfarçados também. E evito perder tempo ao elencar todos os psico de esquerda que o são. Nota: o PSD(ois) é de esquerda, "social-democracia" é uma das flores do comunismo.                 GateKeeper: Top 10. Gostei, pois conheço mal esse "mundo radió - fónico das " notícias" a granel. Para mim rádio era, é e será sempre música. Quanto às "comunidades" Esquerdalhó-wokes & liberalecas "de fio e cordel", a História tem sempre e só um sentido : o passado até à exaustão presente. Desde finais do século XIX que Portugal foi "entregue" a várias cliques, claques e clubes, das quais se aproveitaram nem meia dúzia em NOSSO proveito. Excelente crónica, como "de costume".                  Isabel Amorim: É destes exercícios de memória que MBR expôs muitíssimo bem que são precisos e urgentes, visto que a esquerda toda incluindo e sobretudo o PS encobre. Deveria ser obrigatório na escola saberem, mas sobretudo o PS insiste em remeter como se nada se tivesse passado, só se focando nos horrores do Nacional-Socialismo. Muitos dos actuais ditos socialistas transitarem dos partidos radicais de esquerda para o PS e não foi inocente a "suavização" como por exemplo o sinistro do Santos Silva. Sabem muito bem a história feia do que se fez mas catapultaram-se para cenários supostamente mais brandos para inglês ver. Na essência o que há de pior a sangue frio está lá. Sonham um dia poderem controlar o povinho todo à força bruta como viram os seus heróis fazerem no passado. Corja!                    Manuel Teixeira: Excelente.      Carlos Gonçalves: Muito bom.                     José Martins de Carvalho: Muito bem! O comunismo não "cometeu erros", praticou a violência que entende conveniente para atingir os seus objectivos, com absoluto desprezo pela vida e pelos direitos humanos. E, sempre que possam, os comunistas continuarão a fuzilar até à vitória final. Mesmo que se chamem "democratas" e até "livres".    Miguel Sanches: Clarinho como água. Muito bem.                 D. Garcia: Excelente artigo MBR ! Muito Obrigado pelas suas palavras que, isso sim, deviam figurar obrigatoriamente e de forma clara no ensino de História, mas possivelmente está enevoada. Ou até no de Cidadania para que as crianças e jovens possam ter a oportunidade de reconhecer sinais do que lhes pode trazer o futuro se não se precaverem daquele horrendo passado! Conhecer que afinal de contas Nazismo e Comunismo são duas faces da mesma moeda.           Coxinho: Muito bom, como habitual.

 

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