A banha da cobra em definição blandiciosa, não para inglês ver, mas para prováveis alianças futuras do PS com os herdeiros desse comunismo antigo, para fortalecimento numérico eleitoral em caso de necessidade, sem preocupações de repúdio ideológico desmistificador. MARGARIDA BENTES PENEDO ousadamente refere os tais discursos angariadores da justa expressão numérica eleitoral, sem tibiezas preconceituosas inibidoras. Ou a democracia seria uma batata, caso não houvesse os ajustamentos definidores e tranquilizadores do savoir vivre ou do savoir faire habituais.
Não há simetria
PCP, Bloco e Livre reconhecem-se como herdeiros do comunismo. Não
existe à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de
intelectuais, forças ou regimes anti-democráticos.
MARGARIDA BENTES PENEDO Arquitecta
e deputada municipal
OBSERVADOR, 06 mar. 2025, 00:1946
De novo a democracia. O Voto de Saudação ao Dia Mundial da Rádio apresentado
pelo PS, e debatido a semana passada na Assembleia Municipal de Lisboa, deu uma
discussão feia. Comemorada
a 13 de Fevereiro (uma celebração recente, desde apenas 2012), a rádio teve e
tem um papel importante nas sociedades e foi fundamental em vários momentos do
passado, até para defender a democracia. O documento do PS era
extenso, bastante completo, descrevia a história da rádio e o papel dela ao
longo do tempo e dos regimes. Acabava mal. A chegar ao fim, glorificava o
Partido Comunista.
Dizia assim o tal parágrafo: “A
Rádio Portugal Livre (RPL) foi outra emissora de rádio em português, criada em
1962. Emitia em onda curta a partir de Bucareste, durante o Estado Novo, funcionando como antena do Partido Comunista Português
e de outros democratas”.
Magnífico. O PC “e outros democratas”. Um
deputado reparou nisto e criticou. O PS respondeu explicando que quando escreve
um documento, para o submeter a votação na Assembleia, tenta formular a prosa
de modo a conseguir aprová-lo por unanimidade. Mas que, ainda assim, dispensa o voto favorável de partidos
anti-democráticos, que considera “uma medalha”.
O PS felicitou como combatentes do Estado Novo alguém que pretendia
instalar em Portugal outro regime igualmente repressivo, com as mesmas
intenções autoritárias e totalitárias. Era com esta glorificação do PCP que o
PS pretendia conseguir a unanimidade na aprovação do documento.
Chega
a ser fascinante. O PS está convencido de que todos os
partidos concordam com o engrandecimento do PCP. Significa
que o PS está imperturbavelmente alheado do verdadeiro papel do PCP ao longo da
história. Uma falsificação grave. Porque
os eleitos e dirigentes do PS aliam-se com o PCP na Assembleia da República
para constituir governos; e aliam-se com o PCP na Câmara para governar Lisboa
(durante anos a fio); e continuam a considerar que as alianças com o PCP são
favoráveis ao país. Mais. Os ilustres filósofos do PS pensam que as pessoas
todas (excepto as anti-democráticas, mas essas não são propriamente “pessoas”)
aprovam alianças com o PCP; e que o PCP é
um partido mais democrático do que qualquer partido da direita. O PS está nisto
e é pena, porque tem obrigações.
A certa altura, para se defender, o
deputado do PS dizia que o comunismo tinha “cometido
erros”. Os “erros” foram genocídios, como o Holodomor e outros; foram o Grande
Terror de 1936-38 e os julgamentos de Moscovo; foi o massacre na floresta de
Katyn, com a execução de polícias, oficiais polacos, intelectuais, e cidadãos
comuns acusados de espionagem e subversão; foi a campanha anti-semita que
prendeu, torturou, e matou médicos judeus, acusados de “cabala sionista” contra
os dirigentes soviéticos. Foi o homicídio de Trotsky, com uma picareta
enterrada no cérebro por Ramón Marcader, enviado pelo governo de Stalin;
Trotsky, responsável pelo massacre dos marinheiros de Kronstadt, tornou-se
depois “cúmplice do fascismo”, desde que Stalin passou a viver na sua
rivalidade pelo poder russo. Não foram
erros, foram assassinatos, foram milhões e milhões de mortes que o comunismo
tem às costas e continua a ter, em vários países do mundo. Se o PS lhes
quiser continuar a chamar “erros” está no seu direito, mas os eufemismos são
para as crianças.
No fim destas medições manhosas sobre
as credenciais democráticas dos partidos, é preciso dizer em voz alta uma
verdade simples que o regime em peso finge não compreender. O
PCP, o Bloco, e o Livre, pelo menos, reconhecem-se como herdeiros do comunismo,
e herdeiros orgulhosos dos grandes intelectuais que inspiraram o comunismo
(Lenin, Trotsky, Marx, Mao, e outros “democratas”). Em compensação, não existe
à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de
intelectuais, forças, governantes, movimentos, ou regimes anti-democráticos.
Convém dar atenção ao que é importante. Tornou-se um mau hábito fazer uma
simetria entre esquerda e direita que na realidade não existe.
COMUNISMO POLÍTICA EXTREMA
ESQUERDA PS DEMOCRACIA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 46)
Ana Luís da Silva: Excelente artigo de Margarida Bentes Penedo! É salutar avivar a memória sobre o real significado
histórico e político do PCP, assim como lembrar que o BE, o Livre e o próprio
PCP são herdeiros das ideias responsáveis pelo genocídio de milhões de pessoas
nos países onde a ideologia comunista chegou a ser implementada de facto. Erros catastróficos que a Humanidade fará bem em não
querer repetir.
Maria Paula Silva: Muito
bom, MBP. Só há 2
hipóteses: ou são muito ignorantes ou muito desonestos. mesmo que não saibam História e o que se passou pelo
mundo, era bom que soubessem ao menos o que se passou
em Portugal desde abril 1974 até Novembro 1975: foram quase 2 anos de terror, que nada tiveram de democrático, em que se cometeram mais
atrocidades do que em 40 anos de Salazarismo. Gente ignorante não devia ocupar cargos públicos. João Floriano: Muito bom! Se no CDS houvesse mais gente como
Margarida Bentes Penedo, o partido não estaria na situação de irrelevância em
que se encontra. Jose Pires: Sem dúvida!
Esta cultura de "receio" de dizer a verdade sobre a
esquerda e sobre o real papel do PCP, que queria nada menos que impor o regime
da URSS em Portugal, tem de ser finalmente denunciada até que as pessoas
percebam o que está em causa com aquele partido e como o BE e Livre! Nada menos,
que partidos fascistas/comunistas que glorificam ditaduras. João Bilé Serra: Muito bem e muito bem escrito. Eufemismos são para as crianças. Sim, mas não só, nem
na maioria dos casos. Para os mentirosos disfarçados também. E evito perder
tempo ao elencar todos os psico de esquerda que o são. Nota:
o PSD(ois) é de esquerda, "social-democracia" é uma das flores do
comunismo.
GateKeeper: Top 10. Gostei, pois conheço mal esse "mundo
radió - fónico das " notícias" a granel. Para mim rádio era, é e será
sempre música. Quanto às "comunidades" Esquerdalhó-wokes &
liberalecas "de fio e cordel", a História tem sempre e só um sentido
: o passado até à exaustão presente. Desde finais do século XIX que Portugal
foi "entregue" a várias cliques, claques e clubes, das quais se
aproveitaram nem meia dúzia em NOSSO proveito. Excelente crónica, como "de
costume".
Isabel Amorim: É destes
exercícios de memória que MBR expôs muitíssimo bem que são precisos e urgentes,
visto que a esquerda toda incluindo e sobretudo o PS encobre. Deveria ser obrigatório
na escola saberem, mas sobretudo o PS insiste em remeter como se nada se
tivesse passado, só se focando nos horrores do Nacional-Socialismo. Muitos dos
actuais ditos socialistas transitarem dos partidos radicais de esquerda para o
PS e não foi inocente a "suavização" como por exemplo o sinistro do
Santos Silva. Sabem muito bem a história feia do que se fez mas catapultaram-se
para cenários supostamente mais brandos para inglês ver. Na essência o que há
de pior a sangue frio está lá. Sonham um dia poderem controlar o povinho todo à
força bruta como viram os seus heróis fazerem no passado. Corja! Manuel Teixeira: Excelente. Carlos Gonçalves: Muito bom. José Martins de
Carvalho: Muito bem! O
comunismo não "cometeu erros", praticou a violência que entende
conveniente para atingir os seus objectivos, com absoluto desprezo pela vida e
pelos direitos humanos. E, sempre que possam, os comunistas continuarão a fuzilar
até à vitória final. Mesmo que se
chamem "democratas" e até "livres". Miguel
Sanches: Clarinho como
água. Muito bem. D. Garcia: Excelente artigo MBR ! Muito Obrigado pelas suas palavras que, isso sim,
deviam figurar obrigatoriamente e de forma clara no ensino de História, mas
possivelmente está enevoada. Ou até no de Cidadania para que as crianças e
jovens possam ter a oportunidade de reconhecer sinais do que lhes pode trazer o
futuro se não se precaverem daquele horrendo passado! Conhecer que afinal de contas Nazismo e Comunismo são
duas faces da mesma moeda. Coxinho:
Muito bom, como habitual.
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