E políticos, com as suas politiquices ou manobras – de redução ou
acrescentamento, de denguice – se não de pretensiosismo intelectual como essa
da página em branco que todo o
nascituro representa – apesar da imediata reacção – sem percepção, é certo,
ainda - com os gritos da sua tragédia de
nascituro em mudança de “clima”, na sua “saída” para um exterior menos
confortável. Mas o que distingue os sexos nos diferentes géneros do mundo
animal – é bem visível, fora toda uma psicologia de diferentes e opostas capacidades
geradoras de diferentes estruturas sociais e comportamentais, de que opressão e
vitimização podem ser consequência, mas lá estão as leis forjadas pelas mentes
masculina e feminina a pôr ordem na casa… quando tal é possível. Putins e
Hitlers provam, por contraste com a maioria dos homens passivos, a variedade do
mundo nos espécimes masculinos reais, pois que os femininos são mais do foro da
criatividade literária, a começar nas bruxas más das histórias infantis. Mas realmente
não percebi bem a vantagem de um texto destes, sobre a absolutização do género,
feliz que me sinto, olhando em meu redor, as excepções confirmando as regras,
por vezes bem superiormente.
A absolutização do género
No cerne das teorias do género parte-se
sempre da mesma premissa ideológica: o
“natural” não existe senão como uma ferramenta intelectual daqueles que querem
manter as estruturas sociais de opressão.
PATRÍCIA FERNANDES Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade
do Minho
OBSERVADOR, 17
mar. 2025, 00:1821
1A página em branco
Nas últimas décadas do século XX, o
pensamento académico anglo-americano foi dominado por uma ideia legada por John
Locke: a de
que o homem nasce como uma página em branco
(blank slate). Todo o conhecimento adviria da
experiência (Locke é um
dos principais representantes do empirismo), o que significaria que todas as nossas crenças, comportamentos e
valores seriam socialmente adquiridos. Essas são as décadas
do sucesso da antropologia
cultural, das teorias sociológicas e do relativismo. São também as décadas do triunfo do género, conceito que permitiu inicialmente distinguir entre “factor natural” e “factor social” – o que resulta da natureza e o que
resulta de convenção social – mas que acabou
por se absolutizar, considerando que tudo é social.
(A
confusão em torno deste conceito, por
tendermos a aplicá-lo a partir da língua inglesa, é rapidamente
identificada quando no relatório de aprendizagem das crianças do pré-escolar se
assinala como competência: “Conhecer o género (feminino ou masculino)”. Como é óbvio, as crianças pequenas
reconhecem o sexo, e não o género.)
É esta absolutização que está no cerne das teorias do género, que se
manifestam em diversos domínios partindo da mesma premissa: o “natural” não existe senão como uma
ferramenta intelectual daqueles que querem manter as estruturas sociais de
opressão. Para
aqueles que defendem a absolutização
do género, não
existem limites (naturais) ao tipo de sociedade que podemos criar e seria
possível gerar uma sociedade absolutamente igualitária, o mesmo é dizer, progressista.
Não é por isso surpreendente que um
dos alvos preferenciais de ataque das teorias do género sejam as áreas de estudo que procuram compreender
o homem na sua dimensão animal como resultado de um processo adaptativo, quer
em termos biológicos (biologia evolutiva), quer em termos psicológicos
(psicologia evolutiva). A lógica aplicada a esta recusa pode ser expressa
do seguinte modo: se os estudos evolutivos podem ser usados para justificar
as estruturas sociais entendidas como opressoras, então esses estudos estão
errados. Trata-se, naturalmente,
de uma falácia mas que é comum quando pretendemos que a realidade se adeque à
nossa teoria, ao invés de adaptar a teoria à realidade.
Steven
Pinker designa como exibicionistas morais os académicos que avaliam as ideias
não pela sua verdade, mas pela sua coerência em relação aos ideais progressistas.
Mas o problema maior resulta da influência desta forma de pensar no processo de
formulação de políticas públicas: pois se estas são formuladas a partir da premissa do
género, é certo que não só não obterão os resultados pretendidos, como os
efeitos poderão ser particularmente perversos.
2Páginas rascunhadas
Os efeitos podem ser perversos na
medida em que aquela premissa incentiva a perseverança no erro: ao adoptarmos
uma perspetiva reducionista como a de afirmar que tudo é socialização, quando
os resultados não se coadunam com as expectativas a resposta impulsiva é a de
considerar que o problema está no facto de a medida política (de socialização
ou re-educação) não ter ido suficientemente longe – pelo que é necessário
“socializar mais” ou “socializar melhor”.
Este
aspecto é particularmente evidente nos planos para a “igualdade de género” que
marcam as políticas na Europa: quando, depois de décadas de aplicação desse
tipo de medidas, os resultados não são os pretendidos, conclui-se que é
necessário arranjar mais e novas estratégias de educação, criar mais disciplinas,
forçar mais temas de cidadania, colocar as crianças mais cedo na escola, etc.
etc.
É particularmente difícil para os
humanos abdicar das suas crenças iniciais e aceitar que provavelmente estão
errados. Na verdade, somos condicionados por várias dissonâncias cognitivas e
uma delas é descrita por Paul Watzlawick, no maravilhoso A realidade é real?, da seguinte
forma:
“[Quando
pensamos ter encontrado] uma solução – e quando, enquanto a tentamos encontrar,
pagamos um preço relativamente alto em ansiedade e expectativa – o nosso
investimento nessa solução torna-se tão grande que podemos preferir distorcer a
realidade de forma a acomodarmos a realidade à nossa solução do que sacrificar
esta última.”
Este é um traço universal – da nossa
natureza humana – e, nessa medida, não é
exclusivo dos progressistas radicais. Todos nós, em algum momento da nossa
vida, nos deparamos com a frustração de ter de abdicar da solução que considerávamos
adequada para a resolução de um problema pelo facto de a realidade não
responder aos nossos desejos. Não é fácil fazê-lo, mas é necessário.
No caso daqueles que acreditam na absolutização do género, é-lhes difícil
admitir que o facto de o mundo resistir aos seus objetivos significa que eles é
que estão errados – e não o mundo. E, em particular, que deviam rever as suas convicções para aceitar que nem tudo é
socialização: a biologia existe, a natureza existe, o corpo existe e
o sexo existe. Mais uma vez, isso
não significa adoptar o outro extremo: de que tudo é natureza e nada pode ser
alterado. Mas significa que
todos aqueles factores devem ser tidos em consideração: somos, afinal, páginas
rascunhadas.
3Reintroduzir o sexo
Nas últimas duas décadas, o silêncio
lançado sobre os estudos evolutivos tem diminuído e multiplicaram-se os
contributos destas áreas para a compreensão da natureza humana. O meu autor
preferido continua a ser o psicólogo
Jonathan Haidt, que, com o seu trabalho a partir da metáfora da mente como um elefante e o seu cornaca, nos
estimula a compreender melhor porque agimos como agimos e o que podemos
melhorar atendendo a essas circunstâncias.
Mas o trabalho de Haidt tem sido
particularmente reconhecido pelo seu último livro sobre os impactos das novas tecnologias
nas gerações mais novas. E
também aí o reconhecimento da questão biológica é essencial. A ideia muitas vezes repetida de que os
telemóveis são objectos que podem ser usados para o bem ou para o mal (e,
portanto, seria tudo uma questão de educação) é simplesmente ingénua: na
verdade, os telemóveis foram feitos propositadamente para activar botões
específicos nas nossas cabeças e estimulam os mesmos neurotransmissores que as
drogas. Eles não são meras ferramentas, são
desenhados para gerar dependência. Assim, se recusarmos a perspectiva de que “tudo é socialização” e
reconhecermos o corpo e a natureza, então as políticas
públicas devem ser pensadas para a protecção dos menores que são os mais afectados
por esta “ferramenta”.
Em particular, as meninas. Sim, porque
até na questão dos telemóveis os impactos são diferentes: não já por razões
biológicas, mas por razões psicológicas que se prendem com o modo como as
mulheres socializam e que têm impactos particularmente graves no domínio
digital.
Uma outra questão em que importa
reintroduzir o sexo é na questão da violência sexual. Em The case against the sexual revolution, Louise Perry começa o
seu livro precisamente com este argumento: a violência sexual não é apenas uma
questão de poder (caso em que a re-educação resolveria de forma definitiva o
problema); ela é, acima de tudo, uma
questão de sexo, podendo ser explicada com recurso a uma compreensão adaptativa
de homens e mulheres. Em termos de
políticas públicas, isto significa que campanhas de sensibilização ou
re-educação para diminuir a violência sexual são muito menos eficazes do que
estabelecer penas muito longas para os culpados e promover a adopção de
comportamentos mais seguros por parte das mulheres. Tendo trabalhado muitos anos com mulheres
vítimas de violência sexual, Perry diz que isto pode parecer “culpar a vítima”,
mas a sua preocupação é com a eficácia e não com “exibicionismo moral”.
Um último exemplo em que vale a pena “reintroduzir
o sexo” é para compreender
a frustração de certas políticas públicas que procuram aumentar a participação
feminina na política, como vimos a propósito das muitas, repetitivas e
cansativas mensagens no Dia da Mulher. Estas medidas procuram forçar a
participação das mulheres nas instituições políticas existentes, mas muitos
estudos apoiam a ideia de que as
mulheres tendem a não ter interesse neste tipo de participação política.
Por um lado, elas tendem a ser mais agreeable do que os homens e, nessa medida,
um sistema baseado numa lógica de
permanente disputa verbal afasta o interesse de muitas mulheres. Não é por acaso que, no domínio da
democracia deliberativa, um dos argumentos apresentados a favor das assembleias
de cidadãos (que procuram consensos a partir de diálogos construtivos) é o de
serem mais favoráveis à participação feminina. Este factor também
permitiria compreender por que razão as mulheres que triunfam na política são
vistas como particularmente duras: muito
provavelmente estão na margem da distribuição “de simpatia” e, por isso, sentem
mais predisposição do que a maioria das mulheres para a participação política
tradicional.
Por outro lado, existem outras formas
de participação política – como o
activismo político, a participação em organizações civis ou não governamentais
ou o voluntariado –, e nesses domínios a presença das mulheres é quase sempre
maioritária. Podemos continuar a insistir em leis de paridade,
quotas e outras medidas para forçar a realidade, mas se
reintroduzirmos o sexo na nossa reflexão, provavelmente compreenderemos melhor
a origem dos nossos erros.
FILOSOFIA
POLÍTICA POLÍTICA IGUALDADE DE
GÉNERO SOCIEDADE SEXO AMOR E SEXO LIFESTYLE IGUALDADE
COMENTÁRIOS (DE 21)
Maria Augusta Martins: Géneros são: Batatas cebolas, chouriços e tomates! Luis Silva: "seria possível gerar uma sociedade absolutamente
igualitária, o mesmo é dizer, progressista." Sim, o comunismo pode ser atingido pela lavagem
cerebral. É isso que
tentam mas vão perder. Se Trump nada mais conseguir do que extirpar esse cancro
dos géneros para além dos sexos já valeu a pena ter chegado ao poder. Coxinho: Teorias de género = marxismo cultural na sua versão
mais perversa, prejudicial, destruidora. Jose
Miguel Pereira: Muito bom. Há
muito negacionismo da componente biológica da natureza humana por parte dos
cientistas sociais de Esquerda. A Camille Paglia também escreveu coisas
interessantes e acertadas sobre sexo e género. profª
Patrícia Fernandes mais um artigo soberbo e pedagógico. Nuno José: Uma análise perfeita da necessidade de ter em conta o
sexo na sociedade. Se se tiver em conta o mesmo, muitos dos falhanços sociais
esbatem-se, e as desigualdades por fim atenuam-se, dado o potencial acrescido
nas funções adequadas a cada um dos sexos. Pode parecer conservador, mas
aceitar definitivamente esta evidência é libertador e garante o progresso
social, com a aceitação definitiva das diferenças. Quanto ao género, deve ficar
no âmbito privado de cada um de nós... Afinal, a quem é que interessa? João Floriano: A ONU reconhece 112 géneros.
Se para um adulto isto já se afigura confuso, imagine-se o que será para uma
criança ou um adolescente. Leva a uma crise brutal de identidade, a problemas
acrescidos. Afinal o que é que eu sou, e do que é que eu gosto? Américo
Silva: Macron e Starmer representam a grande burguesia
internacional que adubou essas teorias esdrúxulas, como a Netflix, Nike, Disney
e mais, segundo o algoritmo divide-and-conquer,
para se apropriar do mundo na sua extensão física, as
nações, e social, as pessoas e
os grupos de pessoas.
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