terça-feira, 18 de março de 2025

E tudo redunda em política


E políticos, com as suas politiquices ou manobras – de redução ou acrescentamento, de denguice – se não de pretensiosismo intelectual como essa da página em branco que todo o nascituro representa – apesar da imediata reacção – sem percepção, é certo, ainda - com os gritos da sua tragédia de nascituro em mudança de “clima”, na sua “saída” para um exterior menos confortável. Mas o que distingue os sexos nos diferentes géneros do mundo animal – é bem visível, fora toda uma psicologia de diferentes e opostas capacidades geradoras de diferentes estruturas sociais e comportamentais, de que opressão e vitimização podem ser consequência, mas lá estão as leis forjadas pelas mentes masculina e feminina a pôr ordem na casa… quando tal é possível. Putins e Hitlers provam, por contraste com a maioria dos homens passivos, a variedade do mundo nos espécimes masculinos reais, pois que os femininos são mais do foro da criatividade literária, a começar nas bruxas más das histórias infantis. Mas realmente não percebi bem a vantagem de um texto destes, sobre a absolutização do género, feliz que me sinto, olhando em meu redor, as excepções confirmando as regras, por vezes bem superiormente.

 

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A absolutização do género

No cerne das teorias do género parte-se sempre da mesma premissa ideológica: o “natural” não existe senão como uma ferramenta intelectual daqueles que querem manter as estruturas sociais de opressão.

PATRÍCIA FERNANDES Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho

OBSERVADOR, 17 mar. 2025, 00:1821

1A página em branco

Nas últimas décadas do século XX, o pensamento académico anglo-americano foi dominado por uma ideia legada por John Locke: a de que o homem nasce como uma página em branco (blank slate). Todo o conhecimento adviria da experiência (Locke é um dos principais representantes do empirismo), o que significaria que todas as nossas crenças, comportamentos e valores seriam socialmente adquiridos. Essas são as décadas do sucesso da antropologia cultural, das teorias sociológicas e do relativismo. São também as décadas do triunfo do género, conceito que permitiu inicialmente distinguir entre factor natural” e “factor social” – o que resulta da natureza e o que resulta de convenção social – mas que acabou por se absolutizar, considerando que tudo é social.

(A confusão em torno deste conceito, por tendermos a aplicá-lo a partir da língua inglesa, é rapidamente identificada quando no relatório de aprendizagem das crianças do pré-escolar se assinala como competência: “Conhecer o género (feminino ou masculino)”. Como é óbvio, as crianças pequenas reconhecem o sexo, e não o género.)

É esta absolutização que está no cerne das teorias do género, que se manifestam em diversos domínios partindo da mesma premissa: o “natural” não existe senão como uma ferramenta intelectual daqueles que querem manter as estruturas sociais de opressão. Para aqueles que defendem a absolutização do género, não existem limites (naturais) ao tipo de sociedade que podemos criar e seria possível gerar uma sociedade absolutamente igualitária, o mesmo é dizer, progressista.

Não é por isso surpreendente que um dos alvos preferenciais de ataque das teorias do género sejam as áreas de estudo que procuram compreender o homem na sua dimensão animal como resultado de um processo adaptativo, quer em termos biológicos (biologia evolutiva), quer em termos psicológicos (psicologia evolutiva). A lógica aplicada a esta recusa pode ser expressa do seguinte modo: se os estudos evolutivos podem ser usados para justificar as estruturas sociais entendidas como opressoras, então esses estudos estão errados. Trata-se, naturalmente, de uma falácia mas que é comum quando pretendemos que a realidade se adeque à nossa teoria, ao invés de adaptar a teoria à realidade.

Steven Pinker designa como exibicionistas morais os académicos que avaliam as ideias não pela sua verdade, mas pela sua coerência em relação aos ideais progressistas. Mas o problema maior resulta da influência desta forma de pensar no processo de formulação de políticas públicas: pois se estas são formuladas a partir da premissa do género, é certo que não só não obterão os resultados pretendidos, como os efeitos poderão ser particularmente perversos.

2Páginas rascunhadas

Os efeitos podem ser perversos na medida em que aquela premissa incentiva a perseverança no erro: ao adoptarmos uma perspetiva reducionista como a de afirmar que tudo é socialização, quando os resultados não se coadunam com as expectativas a resposta impulsiva é a de considerar que o problema está no facto de a medida política (de socialização ou re-educação) não ter ido suficientemente longe – pelo que é necessário “socializar mais” ou “socializar melhor”.

Este aspecto é particularmente evidente nos planos para a “igualdade de género” que marcam as políticas na Europa: quando, depois de décadas de aplicação desse tipo de medidas, os resultados não são os pretendidos, conclui-se que é necessário arranjar mais e novas estratégias de educação, criar mais disciplinas, forçar mais temas de cidadania, colocar as crianças mais cedo na escola, etc. etc.

É particularmente difícil para os humanos abdicar das suas crenças iniciais e aceitar que provavelmente estão errados. Na verdade, somos condicionados por várias dissonâncias cognitivas e uma delas é descrita por Paul Watzlawick, no maravilhoso A realidade é real?, da seguinte forma:

“[Quando pensamos ter encontrado] uma solução – e quando, enquanto a tentamos encontrar, pagamos um preço relativamente alto em ansiedade e expectativa – o nosso investimento nessa solução torna-se tão grande que podemos preferir distorcer a realidade de forma a acomodarmos a realidade à nossa solução do que sacrificar esta última.”

Este é um traço universal – da nossa natureza humana – e, nessa medida, não é exclusivo dos progressistas radicais. Todos nós, em algum momento da nossa vida, nos deparamos com a frustração de ter de abdicar da solução que considerávamos adequada para a resolução de um problema pelo facto de a realidade não responder aos nossos desejos. Não é fácil fazê-lo, mas é necessário.

No caso daqueles que acreditam na absolutização do género, é-lhes difícil admitir que o facto de o mundo resistir aos seus objetivos significa que eles é que estão errados – e não o mundo. E, em particular, que deviam rever as suas convicções para aceitar que nem tudo é socialização: a biologia existe, a natureza existe, o corpo existe e o sexo existe. Mais uma vez, isso não significa adoptar o outro extremo: de que tudo é natureza e nada pode ser alterado. Mas significa que todos aqueles factores devem ser tidos em consideração: somos, afinal, páginas rascunhadas.

3Reintroduzir o sexo

Nas últimas duas décadas, o silêncio lançado sobre os estudos evolutivos tem diminuído e multiplicaram-se os contributos destas áreas para a compreensão da natureza humana. O meu autor preferido continua a ser o psicólogo Jonathan Haidt, que, com o seu trabalho a partir da metáfora da mente como um elefante e o seu cornaca, nos estimula a compreender melhor porque agimos como agimos e o que podemos melhorar atendendo a essas circunstâncias.

Mas o trabalho de Haidt tem sido particularmente reconhecido pelo seu último livro sobre os impactos das novas tecnologias nas gerações mais novas. E também aí o reconhecimento da questão biológica é essencial. A ideia muitas vezes repetida de que os telemóveis são objectos que podem ser usados para o bem ou para o mal (e, portanto, seria tudo uma questão de educação) é simplesmente ingénua: na verdade, os telemóveis foram feitos propositadamente para activar botões específicos nas nossas cabeças e estimulam os mesmos neurotransmissores que as drogas. Eles não são meras ferramentas, são desenhados para gerar dependência. Assim, se recusarmos a perspectiva de que “tudo é socialização” e reconhecermos o corpo e a natureza, então as políticas públicas devem ser pensadas para a protecção dos menores que são os mais afectados por esta “ferramenta”.

Em particular, as meninas. Sim, porque até na questão dos telemóveis os impactos são diferentes: não já por razões biológicas, mas por razões psicológicas que se prendem com o modo como as mulheres socializam e que têm impactos particularmente graves no domínio digital.

Uma outra questão em que importa reintroduzir o sexo é na questão da violência sexual. Em The case against the sexual revolution, Louise Perry começa o seu livro precisamente com este argumento: a violência sexual não é apenas uma questão de poder (caso em que a re-educação resolveria de forma definitiva o problema); ela é, acima de tudo, uma questão de sexo, podendo ser explicada com recurso a uma compreensão adaptativa de homens e mulheres. Em termos de políticas públicas, isto significa que campanhas de sensibilização ou re-educação para diminuir a violência sexual são muito menos eficazes do que estabelecer penas muito longas para os culpados e promover a adopção de comportamentos mais seguros por parte das mulheres. Tendo trabalhado muitos anos com mulheres vítimas de violência sexual, Perry diz que isto pode parecer “culpar a vítima”, mas a sua preocupação é com a eficácia e não com “exibicionismo moral”.

Um último exemplo em que vale a pena “reintroduzir o sexo” é para compreender a frustração de certas políticas públicas que procuram aumentar a participação feminina na política, como vimos a propósito das muitas, repetitivas e cansativas mensagens no Dia da Mulher. Estas medidas procuram forçar a participação das mulheres nas instituições políticas existentes, mas muitos estudos apoiam a ideia de que as mulheres tendem a não ter interesse neste tipo de participação política. Por um lado, elas tendem a ser mais agreeable do que os homens e, nessa medida, um sistema baseado numa lógica de permanente disputa verbal afasta o interesse de muitas mulheres. Não é por acaso que, no domínio da democracia deliberativa, um dos argumentos apresentados a favor das assembleias de cidadãos (que procuram consensos a partir de diálogos construtivos) é o de serem mais favoráveis à participação feminina. Este factor também permitiria compreender por que razão as mulheres que triunfam na política são vistas como particularmente duras: muito provavelmente estão na margem da distribuição “de simpatia” e, por isso, sentem mais predisposição do que a maioria das mulheres para a participação política tradicional.

Por outro lado, existem outras formas de participação política – como o activismo político, a participação em organizações civis ou não governamentais ou o voluntariado –, e nesses domínios a presença das mulheres é quase sempre maioritária. Podemos continuar a insistir em leis de paridade, quotas e outras medidas para forçar a realidade, mas se reintroduzirmos o sexo na nossa reflexão, provavelmente compreenderemos melhor a origem dos nossos erros.

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COMENTÁRIOS (DE 21)

Maria Augusta Martins: Géneros são: Batatas cebolas, chouriços e tomates!               Luis Silva: "seria possível gerar uma sociedade absolutamente igualitária, o mesmo é dizer, progressista." Sim, o comunismo pode ser atingido pela lavagem cerebral. É isso que tentam mas vão perder. Se Trump nada mais conseguir do que extirpar esse cancro dos géneros para além dos sexos já valeu a pena ter chegado ao poder.                  Coxinho: Teorias de género = marxismo cultural na sua versão mais perversa, prejudicial, destruidora.                  Jose Miguel Pereira: Muito bom. Há muito negacionismo da componente biológica da natureza humana por parte dos cientistas sociais de Esquerda. A Camille Paglia também escreveu coisas interessantes e acertadas sobre sexo e género.      profª Patrícia Fernandes mais um artigo soberbo e pedagógico.            Nuno José: Uma análise perfeita da necessidade de ter em conta o sexo na sociedade. Se se tiver em conta o mesmo, muitos dos falhanços sociais esbatem-se, e as desigualdades por fim atenuam-se, dado o potencial acrescido nas funções adequadas a cada um dos sexos. Pode parecer conservador, mas aceitar definitivamente esta evidência é libertador e garante o progresso social, com a aceitação definitiva das diferenças. Quanto ao género, deve ficar no âmbito privado de cada um de nós... Afinal, a quem é que interessa?       João Floriano: A ONU reconhece 112 géneros. Se para um adulto isto já se afigura confuso, imagine-se o que será para uma criança ou um adolescente. Leva a uma crise brutal de identidade, a problemas acrescidos. Afinal o que é que eu sou, e do que é que eu gosto?                   Américo Silva: Macron e Starmer representam a grande burguesia internacional que adubou essas teorias esdrúxulas, como a Netflix, Nike, Disney e mais, segundo o algoritmo divide-and-conquer, para se apropriar do mundo na sua extensão física, as nações, e social, as pessoas e os grupos de pessoas.

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