segunda-feira, 17 de março de 2025

Faço minhas

 

As palavras taxativas do comentador VASCO MACHADO:

1 Obrigado Jaime Nogueira Pinto por, desde há 51 anos, nos trazer a verdade sobre um golpe de Estado a que chamaram revolução. Por esclarecer acerca das forças políticas de esquerda que se apelidam de "forças democráticas" quando são, e sempre foram, profundamente anti-democráticas. Por trazer à memória o trabalho e o sacrifício de antigos colonos que a Pátria despreza desde o 25 de Abril. Por colocar a nu a inconsistência e incoerência de muitos actores do golpe, políticos e militares. Por trazer a público a verdade do lado conservador político e religioso que existia e existe em Portugal. Enfim, obrigado por tudo isto e mais mas, principalmente, por nos recordar que este país não nasceu em nenhuma "madrugada inteira e limpa". Nasceu há quase 900 anos!              

11 de Março: a golpada

A economia nacional nunca mais recuperou do golpe sofrido. Nem Portugal, a bem dizer. Basta acompanhar o folhetim deste último 11 de Março.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 15 mar. 2025, 00:1857

No dia 11 de Março de 1975 estava em Joanesburgo, na África do Sul, e foi daí que segui, com outros exilados e emigrados portugueses, a jornada festiva do PREC, cujas amargas consequências ainda hoje pagamos.

À época estava em marcha na oficialidade das Forças Armadas, ou no que restava dela, um movimento de recuperação conservadora, que se confirmara na eleição para os conselhos das Armas de elementos “spinolistas”, ou do que ficara da direita militar.

O 25 de Abril viera da incapacidade de Marcelo Caetano (e do regime) de encontrar uma solução para a guerra de África, num país onde o europeísmo e o anticolonialismo tinham, respectivamente, tomado conta das cabeças da tecnoburocracia e da maioria dos intelectuais e universitários. Salazar deixara um regime político que só funcionava com ele e Marcelo Caetano não conseguira liberalizar e manter o esforço da guerra. Pairava entre essas opções, acabando por comprometer as duas.

As forças de oposição que tinham chegado ao poder no pós-25 de Abril eram os herdeiros da oposição democrática, do “Reviralho”, já convertidos por Mário Soares à descolonização; havia ainda os “liberais” do marcelismo, com Sá Carneiro; o Partido Comunista, de Cunhal; e um grande número de grupúsculos esquerdistas – trotskistas, anarquistas, maoístas, “albaneses” – todos na obsessão de se ultrapassarem uns aos outros pela esquerda, pedindo a nacionalização das mercearias ou requerendo o fuzilamento dos padres. Um folclore absurdo, mas, ao tempo, levado a sério pelos muitos que por ali flutuavam e que depois iriam, quase todos, aterrar no Centrão.

Cada um desses grupos aliciava os seus militares ou capitães de serviço, dando-lhes um pensamento mais ou menos adequado à justificação nobilitante do seu descontentamento. Todos estavam unidos contra o fascismo e contra a reacção que espreitavam os democratas e a democracia, qual lobo a espreitar o capuchinho. E para que a história não seguisse os trâmites tradicionais tinham de estar vigilantes. E estavam.

Dessa vigilância democrática, dessa acção preventiva ou por antecipação, nasceram as sucessivas etapas do PREC: no 28 de Setembro de 1974, tinha sido a inventona da “maioria silenciosa” para neutralizar os mais perigosos partidos como o Partido do Progresso, que estavam a defender, em democracia e por regras democráticas, os valores da Direita e que estavam a juntar muita gente. Ao mesmo tempo, tratara-se de neutralizar tudo o que na universidade era denunciado pelos associativos como “fascista”. Pelo sim, pelo não.

Eram então os reaccionários e os fascistas o perigo a cancelar, a diabolizar, a caluniar, a neutralizar, a prender, a proibir. No 28 de Setembro de 74, o COPCON encarregou-se de o fazer. Entre os que foram presos e os que tiveram de sair do país para o não serem, terão sido umas três centenas. Porque, como diria um grande símbolo e chefe do Centrão, só “com os fascistas presos” se podia “construir a democracia”.

E para construir a democracia havia, antes do mais, que descolonizar – afinal a África não era uma obsessão de Salazar? E depois, que importava, perante o grande gesto libertador, a sorte dos milhares que “regressavam” a um rectângulo de onde nunca tinham partido e a sorte das populações?

Entretanto, nos meios emigrados e refugiados de Madrid, aparecia insistentemente um boato sobre uma tal “matança da Páscoa”, uma chacina de militares e civis conservadores, uma chacina que, talvez pela falta de mão-de-obra local teria o concurso de especialistas internacionais … Nem mais nem menos que os Tupamaros, os famosos guerrilheiros esquerdistas uruguaios. De Madrid, o boato veio para Lisboa e aterrou entre os spinolistas, os que estavam a vencer as eleições para os conselhos das armas. Teriam os elementos da esquerda militar radical, alarmados com a progressiva perda do poder recorrido a um processo clássico de provocação, que o almirante Rosa Coutinho resumia numa cativante fórmula popular – “picar o bicho, para o tirar da toca?”

Era um tempo de grande intrigalhada, clássica entre refugiados, emigrados, homiziados, ansiosos por uma reviravolta, com o habitual enxamear dos familiarizados, reais ou imaginários, com as “secretas”; e era supostamente através das secretas, espanholas ou francesas, que chegava a notícia da tal “matança”.

A imprensa ajudava à festa e lá ia trazendo histórias da CIA e do Spínola. Até o Témoignage Chrétien (por alguns chamado de Témoignage Crétin) trazia a história do golpe contra-revolucionário.

No dia 11 de Março, lá veio, ao fim da manhã (uma hora inédita para um golpe), o bombardeamento do RAL1, emblemática unidade esquerdista da capital, onde já tinha havido fuzilamentos simulados de “fascistas”. Seguiu-se uma largada de paraquedistas “contra-revolucionários” capitaneados pelo capitão Sebastião Martins, que encetou com o comandante do RALIS, o famoso Dinis de Almeida, um diálogo digno da “guerra do Solnado”.

Algumas das missões cumpriram-se como a ocupação do Rádio Clube Português. Vários dos civis voluntários para estas operações foram presos, outros escaparam. Spínola, entretanto, estava em Tancos, para onde fora na véspera à noite. Quando tudo correu mal, embarcou num helicóptero para Espanha.

A vaga de terror e de prisões desencadeada pelos comunistas e várias famílias esquerdistas, levou a mais umas centenas de prisões e à estatização de grande parte do sector privado português – 250 empresas foram nacionalizadas. Foi de facto, numa revolução que prosseguia por episódios e saltos bruscos, muito pressionados também pelo exterior, uma importante guinada à esquerda.

A golpada e o processo revolucionário que lhe deu curso provocaram, naturalmente, uma reacção – a reacção popular de Norte para Sul, que levaria aos ataques às sedes do Partido Comunista e ao emergir de “dois países” em conflito que iria desembocar no 25 de Novembro, duas semanas depois da independência de Angola.

A guerra civil não chegaria a vir. Os comunistas não a queriam porque sabiam que a perderiam e porque Ialta estava em vigor. Manteriam, como era do interesse de Moscovo, uma pressão sobre o poder até à independência de Angola. Depois retirariam para os quarteis de Inverno.

A economia nacional nunca mais recuperou do golpe sofrido. Nem Portugal, a bem dizer. Basta acompanhar o folhetim deste último 11 de Março.

A SEXTA COLUNA      HISTÓRIA      ULTURA      REVOLUÇÃO

COMENTÁRIOS (de 57)

VASCO MACHADO: 1 Obrigado Jaime Nogueira Pinto por, desde há 51 anos, nos trazer a verdade sobre um golpe de Estado a que chamaram revolução. Por esclarecer acerca das forças políticas de esquerda que se apelidam de "forças democráticas" quando são, e sempre foram, profundamente anti-democráticas. Por trazer à memória o trabalho e o sacrifício de antigos colonos que a Pátria despreza desde o 25 de Abril. Por colocar a nu a inconsistência e incoerência de muitos actores do golpe, políticos e militares. Por trazer a público a verdade do lado conservador político e religioso que existia e existe em Portugal. Enfim, obrigado por tudo isto e mais mas, principalmente, por nos recordar que este país não nasceu em nenhuma "madrugada inteira e limpa". Nasceu há quase 900 anos!               Filipe Paes de Vasconcellos: E, o que me dói mais é que a esquerda e a extrema dela ainda hoje pensa assim, i.é., fariam tudo de novo e sempre a bem do escravizado povo, mesmo que este não quisesse. E, o que mais me dói é que esta mentalidade tacanha, invejosa, e que não vê mais do que um palmo à frente do nariz, continua com a extrema-esquerda PS, PCP e BE e Livre na mesma senda de destruição de tudo o que mexe na economia e indústria em Portugal. Continuam a desprezar e perseguir tudo o que dá Lucro, demonizando os Capitalistas, Industriais, e todos aqueles que gostam de criar a ignóbil Riqueza e que se querem apoderar dos “meios de produção “. O grande problema, talvez o principal!, foi não termos tido uma contrarrevolução para que se pudesse recuperar de toda aquela destruição da economia, indústria ,voltando a criar riqueza para que se pudesse capitalizar a nossa economia. Assim, continuamos a tentar fazer a tal contrarrevolução aos bochechos, vem a direita melhorar a economia, logo se apressa a esquerda e a extrema dela apoderar-se da riqueza criada para logo a destruir. Esta gente que não nos larga… E, fico-me por aqui! E.T.: Obrigado pelo seu artigo.                   Sérgio Cruz: Estava em África e vivi esse período negro da nossa história. A Descolonização Exemplar provocou a fuga do meu País. Sim! Fugi do meu País! Obrigado, JNP, por mais esta aula de história.              Ana Bosque: O problema de Portugal é que eles ainda andam aí. Enquanto houver quem queira impor soluções de esquerda não sairemos do buraco. Assim que a direita pega no governo e nos faz levantar a cabeça para olhar em frente eles voltam á carga. Só reinam na miséria, no obscurantismo, mas precisam do dinheiro que a direita,p de quando em vez, nos ajuda a ganhar.                Nuno Borges: O golpe militar matou Portugal.            João Floriano: Hoje, 50 anos passados, entrei no supermercado onde costumo abastecer-me. à porta três comunistas velhos ofereciam o jornal da CDU de uma das freguesias do Seixal. Reparei que vários clientes antes de mim se afastavam. Como não consegui também passar ao lado, acabei mesmo por aceitar a folha de um dos idosos ( um homem e duas mulheres). Não tive coragem de os ignorar. Disse-lhes apenas que não votava na CDU, mas que iria ler. Cinquenta anos durante os quais nos fizeram tanto mal, prejudicaram tanta gente, destruíram tanto emprego. Começaram em «grandeza revolucionária» terminam  com 3 idosos dos quais se procura afastamento à porta de um supermercado. Há quem diga que o PCP não vai resistir ao próximo acto eleitoral. Helena Matos pensa dessa maneira. Mas mesmo assim 50 anos são demasiados anos.            Maria Tavares: Bem haja JNP Portugal não aprendeu com os erros, 50anos depois. Os de sempre continuam a poder ter empresas a sugar o estado, AL à custa de despejarem inquilinos antigos, jogadas para terem apartamentos a 1/4 preço, obras ilegais em zonas protegidas mas.... esses podem porque estão do "lado certo" Cs também não aprendeu, salvo honrosas excepções, mas que infelizmente são cada vez mais silenciadas.                JM Azevedo: Belo romance, o Novembro. Aconselho. Óptima síntese do que se passou naquele malfadado período.                   Maria Paula Silva: os 2 anos a seguir ao 25 abril foram de verdadeiro terror. e pelos vistos nada mudou em quase 51 anos, os esquerdas actuais não são muito diferentes dos de então, apenas mais travados pelo sistema vigente. Deram cabo de quase tudo e se pudessem, acabariam com o que resta. Prenderam e mataram mais gente que em 40 anos de salazarismo! cada vez mais se usa e abusa dos termos preferidos da esquerda, "fascismo" e "outros", a torto e a direito, nem sabem o que dizem, nem sabem que retiram valor aos termos por uso excessivo. A única coisa que fica mais que provada nestes 50 anos é que esta gente não gosta mesmo é de trabalhar. Por acaso até acho que Marcello Caetano estava a fazer um bom trabalho, e a tentar negociar a independência de Angola de forma a todos poderem lá continuar a viver, harmoniosamente como sempre se viveu, mas que foi traído (e um dos nomes é de certeza absoluta Costa Gomes).                   Carlos Medeiros: Durante anos e anos a fio, os generais não viram a infiltração comunista nas FAs, no Ultramar os traidores fardados aliciavam os camaradas de armas tranquilamente, ninguém via, as dragonas assobiavam para o lado. Quando os tropas gadelhudos se exibiram no 11 de Março, já era tarde. O general, idiotamente, fugiu depois do bluff do marinheiro careca. Uma vergonha! Hoje, ninguém vê que os comunistas não têm expressão para manter o poder que têm nos sindicatos. Ninguém vê, ninguém percebe que é urgente arrancar-lhes os sindicatos das unhas. Continuam todos a assobiar para o lado. Está tudo cego, até um dia...            Domingas Coutinho: Foi um período de terror e perseguição para quem trabalhou em empresas que foram nacionalizadas. Quem não era de esquerda era traidor. O 25 de Novembro deveria ser celebrado como deve ser pois livrou-nos duma ditadura.             Manuel Ferreira21: Excelente artigo. Retrata a situação, a real que eu vivi ao vivo. Bem-Haja. Nunca esquecer as centenas de presos políticos  e exilados decorrentes dos 28 set 74 e 11 Março de 1975. Nem o "fascismo "conseguiu tal desiderato em 48 anos de Salazar e Caetano.                 Manuel Magalhães: Meia dúzia de alucinados destruíram Portugal numa madrugada, mas umas dezenas de “ iluminados” do “ centrão” tomaram conta da situação e tendo oportunidade de repor os estragos dessa madrugada, preferiram guardar para si os frutos do esbulho, não tendo feito o mínimo gesto para repor o aparelho produtivo como era antes dessa alucinada madrugada. Enquanto os alucinados revolucionários continuam a não esconder ao que andam, os cinzentos “centrões “ continuam com falinhas mansas a tentarem enganar-nos todos os dias beneficiando em proveito próprio do “ regime” que eles próprios criaram e governo. Muito centrões” corruptos que debaixo da capa de democratas actuam impunemente há cinquenta anos. mais culpados que os alucinados revolucionários que actuaram numa madrugada são estes “Foram e são estes “ centrões “ que destruíram Portugal e a Economia Portuguesa.                Coxinho: A lucidez com a seriedade intelectual habitual no JNP. Talvez o golpe militar não tenha matado Portugal, como opina um dos comentadores. Mas é inegável que deixou o país estropiado sabe-se lá até quando. E é facto que "eles ainda andam aí", como opina, cheia de razão uma comentadora...                   Maria Melo: Descolonizar… pois, de qualquer maneira… E agora, a população nos países descolonizados continua pobre, os governantes aproveitam-se de alguns recursos e fazem os seus esquemas e, pasme-se! Muitos habitantes desses países continuam a vir para o país colonizador, Portugal. Actualmente, há uma onda enorme de angolanos e também de S. Tomé , para além de Cabo Verde. Depois é o que vemos, bairros ilegais a avolumarem-se, como em Almada. O PREC foi um terror! A revistarem carros, a invadirem e confiscarem casas e terrenos… e a economia numa desgraça. Qual fascismo? Isso era o Mussolini.                 Manuel Magalhaes: Pois bem me lembro de todas estas peripécias que bem desgraçaram este pobre país, esperemos que o actual 11 de Março não seja tão fatídico, embora ao se manterem as tais linhas vermelhas uma coisa podemos ter garantido, a mediocridade irá continuar                Futari Gake > Filipe Paes de Vasconcellos: (...)Um folclore absurdo, mas, ao tempo, levado a sério pelos muitos que por ali flutuavam e que depois iriam, quase todos, aterrar no Centrão. Pois, o Centrão está cheio deles uns já foram outros herdaram o seu oportunismo e olhe que não são só os que enumera...                Rui Lima: Um excelente resumo de JMN feito em poucas linhas, mas há um documento histórico um podcast de Rui Ramos uma entrevista a José Roquette ver na primeira pessoa a loucura desses tempos ( para mim ainda mais confirma informação que tinha …) https://podcasts.apple.com/pt/podcast/conversas-%C3%A0-quinta/id968825982?i=1000698591543                  Tim do A: Sempre muito bom JNP. Agora também o ouço no Think Tank de a Cor do dinheiro de Camilo Lourenço com Jorge Marrão. Pena que não juntem ao programa J.J. Brandão Ferreira.        Manuel Gomes: Um excelente retrato. Concordo em absoluto, as sequelas ainda persistem.

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