As palavras taxativas do comentador VASCO MACHADO:
1 Obrigado Jaime Nogueira Pinto por, desde há 51 anos,
nos trazer a verdade sobre um golpe de Estado a que chamaram revolução. Por
esclarecer acerca das forças políticas de esquerda que se apelidam de
"forças democráticas" quando são, e sempre foram, profundamente
anti-democráticas. Por trazer à memória o trabalho e o sacrifício de antigos
colonos que a Pátria despreza desde o 25 de Abril. Por colocar a nu a
inconsistência e incoerência de muitos actores do golpe, políticos e militares.
Por trazer a público a verdade do lado conservador político e religioso que
existia e existe em Portugal. Enfim, obrigado por tudo isto e mais mas,
principalmente, por nos recordar que este país não nasceu em nenhuma
"madrugada inteira e limpa". Nasceu há quase 900 anos!
11 de Março: a golpada
A economia nacional nunca mais recuperou do golpe sofrido. Nem
Portugal, a bem dizer. Basta acompanhar o folhetim deste último 11 de Março.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 15 mar. 2025, 00:1857
No dia 11 de Março de 1975 estava
em Joanesburgo, na África do Sul, e foi daí que segui, com outros exilados e
emigrados portugueses, a jornada festiva do PREC, cujas amargas consequências
ainda hoje pagamos.
À
época estava em marcha na oficialidade das Forças Armadas, ou no que restava
dela, um movimento de recuperação conservadora, que se confirmara na eleição
para os conselhos das Armas de elementos “spinolistas”,
ou do que ficara da direita militar.
O 25 de Abril viera da incapacidade
de Marcelo Caetano (e do regime) de encontrar uma solução para a guerra de
África, num país onde o europeísmo e o anticolonialismo tinham,
respectivamente, tomado conta das cabeças da tecnoburocracia e da maioria dos
intelectuais e universitários. Salazar
deixara um regime político que só funcionava com ele e Marcelo Caetano não
conseguira liberalizar e manter o esforço da guerra. Pairava entre essas
opções, acabando por comprometer as duas.
As forças de oposição que
tinham chegado ao poder no pós-25 de Abril eram os herdeiros da oposição
democrática, do “Reviralho”, já convertidos por Mário Soares à descolonização;
havia ainda os “liberais” do marcelismo, com Sá Carneiro; o Partido Comunista,
de Cunhal; e um grande número de grupúsculos esquerdistas – trotskistas,
anarquistas, maoístas, “albaneses” –
todos na obsessão de se ultrapassarem uns aos outros pela esquerda, pedindo a nacionalização das
mercearias ou requerendo o
fuzilamento dos padres. Um folclore absurdo, mas, ao tempo, levado a sério
pelos muitos que por ali flutuavam e que depois iriam, quase todos, aterrar no
Centrão.
Cada um desses grupos aliciava os
seus militares ou capitães de serviço, dando-lhes um pensamento mais ou menos
adequado à justificação nobilitante do seu descontentamento. Todos estavam
unidos contra o fascismo e contra a reacção que espreitavam os democratas e a
democracia, qual lobo a espreitar o capuchinho. E para que a história não
seguisse os trâmites tradicionais tinham de estar vigilantes. E estavam.
Dessa
vigilância democrática, dessa acção preventiva ou por antecipação, nasceram as
sucessivas etapas do PREC: no
28 de Setembro de 1974, tinha sido a
inventona da “maioria
silenciosa” para neutralizar os mais perigosos – partidos
como o Partido do Progresso, que
estavam a defender, em democracia e por regras democráticas, os valores da Direita e que estavam a juntar
muita gente. Ao mesmo
tempo, tratara-se de neutralizar tudo o que na universidade era denunciado
pelos associativos como “fascista”. Pelo sim, pelo não.
Eram então os reaccionários e os
fascistas o perigo a cancelar, a diabolizar, a caluniar, a neutralizar, a
prender, a proibir. No
28 de Setembro de 74, o COPCON encarregou-se de o fazer. Entre os que foram presos e os que
tiveram de sair do país para o não serem, terão sido umas três centenas. Porque, como diria um grande símbolo e chefe do Centrão, só
“com os fascistas presos” se podia “construir a democracia”.
E para construir a democracia havia,
antes do mais, que descolonizar – afinal a África não era uma obsessão de
Salazar? E depois, que importava,
perante o grande gesto libertador, a sorte dos milhares que “regressavam” a um rectângulo de onde
nunca tinham partido e a sorte das populações?
Entretanto, nos meios emigrados e
refugiados de Madrid, aparecia insistentemente um boato sobre uma tal “matança
da Páscoa”, uma
chacina de militares e civis conservadores, uma chacina que, talvez pela falta
de mão-de-obra local teria o concurso de especialistas internacionais …
Nem mais nem menos que os Tupamaros,
os famosos guerrilheiros esquerdistas uruguaios. De Madrid, o boato veio para Lisboa e aterrou entre os spinolistas,
os que estavam a vencer as eleições para os conselhos das armas. Teriam
os elementos da esquerda militar radical, alarmados com a progressiva perda do
poder recorrido a um processo clássico de provocação, que o almirante Rosa
Coutinho resumia numa cativante fórmula popular – “picar o bicho, para o tirar da toca?”
Era um tempo de grande intrigalhada,
clássica entre refugiados, emigrados, homiziados, ansiosos por uma reviravolta,
com o habitual enxamear dos familiarizados, reais ou imaginários, com as
“secretas”; e era supostamente
através das secretas, espanholas ou francesas, que chegava a notícia da tal
“matança”.
A imprensa ajudava à festa e lá ia
trazendo histórias da CIA e do Spínola. Até o Témoignage Chrétien (por alguns chamado de Témoignage Crétin) trazia a história do golpe
contra-revolucionário.
No dia 11 de Março, lá veio, ao fim
da manhã (uma hora inédita para um golpe), o bombardeamento do RAL1, emblemática unidade esquerdista da
capital, onde já tinha havido fuzilamentos simulados de “fascistas”.
Seguiu-se uma largada de
paraquedistas “contra-revolucionários” capitaneados pelo capitão Sebastião
Martins, que encetou com o comandante
do RALIS, o famoso Dinis de Almeida, um
diálogo digno da “guerra do Solnado”.
Algumas das missões cumpriram-se como a ocupação do Rádio Clube Português.
Vários dos civis voluntários para estas operações foram presos, outros
escaparam. Spínola, entretanto, estava
em Tancos, para onde fora na véspera à noite. Quando tudo correu mal, embarcou
num helicóptero para Espanha.
A
vaga de terror e de prisões desencadeada pelos comunistas e várias famílias
esquerdistas, levou a mais umas centenas de prisões e à estatização de grande
parte do sector privado português – 250 empresas foram nacionalizadas. Foi de
facto, numa revolução que prosseguia por episódios e saltos bruscos, muito
pressionados também pelo exterior, uma importante guinada à esquerda.
A golpada e o processo revolucionário
que lhe deu curso provocaram, naturalmente, uma reacção – a reacção popular de Norte para Sul, que
levaria aos ataques às sedes do Partido Comunista e ao emergir de “dois países”
em conflito que iria desembocar no 25 de Novembro, duas semanas depois da
independência de Angola.
A guerra civil não chegaria a
vir. Os comunistas não a queriam porque sabiam que a perderiam e porque Ialta estava em
vigor. Manteriam, como era do
interesse de Moscovo, uma pressão sobre o poder até à independência de Angola.
Depois retirariam para os quarteis de Inverno.
A economia nacional nunca mais
recuperou do golpe sofrido. Nem Portugal, a bem dizer. Basta acompanhar o
folhetim deste último 11 de Março.
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA ULTURA REVOLUÇÃO
COMENTÁRIOS (de 57)
VASCO MACHADO: 1 Obrigado Jaime Nogueira Pinto
por, desde há 51 anos, nos trazer a verdade sobre um golpe de Estado a que
chamaram revolução. Por esclarecer acerca das forças políticas de esquerda que
se apelidam de "forças democráticas" quando são, e sempre foram,
profundamente anti-democráticas. Por trazer à memória o trabalho e o sacrifício
de antigos colonos que a Pátria despreza desde o 25 de Abril. Por colocar a nu
a inconsistência e incoerência de muitos actores do golpe, políticos e
militares. Por trazer a público a verdade do lado conservador político e
religioso que existia e existe em Portugal. Enfim, obrigado por tudo isto e
mais mas, principalmente, por nos recordar que este país não nasceu em nenhuma
"madrugada inteira e limpa". Nasceu há quase 900 anos! Filipe Paes de Vasconcellos: E, o que me dói mais é que a esquerda e a extrema dela
ainda hoje pensa assim, i.é., fariam tudo de novo e sempre a bem do escravizado
povo, mesmo que este não quisesse. E, o que mais me dói é que esta mentalidade
tacanha, invejosa, e que não vê mais do que um palmo à frente do nariz,
continua com a extrema-esquerda PS, PCP e BE e Livre na mesma senda de
destruição de tudo o que mexe na economia e indústria em Portugal. Continuam a desprezar e
perseguir tudo o que dá Lucro, demonizando os Capitalistas, Industriais, e
todos aqueles que gostam de criar a ignóbil Riqueza e que se querem apoderar
dos “meios de produção “. O grande problema, talvez o principal!, foi não termos tido uma contrarrevolução
para que se pudesse recuperar de toda aquela destruição da economia,
indústria ,voltando a criar riqueza para que se pudesse capitalizar a nossa
economia. Assim, continuamos a tentar fazer a tal contrarrevolução aos
bochechos, vem a direita melhorar a economia, logo se apressa a esquerda e a
extrema dela apoderar-se da riqueza criada para logo a destruir. Esta gente que não nos larga…
E, fico-me por
aqui! E.T.: Obrigado pelo seu artigo. Sérgio Cruz: Estava em África e vivi esse
período negro da nossa história. A Descolonização Exemplar provocou a fuga do
meu País. Sim! Fugi do meu País! Obrigado, JNP, por mais esta aula de história. Ana
Bosque: O problema de Portugal é que eles ainda andam aí. Enquanto houver quem
queira impor soluções de esquerda não sairemos do buraco. Assim que a direita pega
no governo e nos faz levantar a cabeça para olhar em frente eles voltam á
carga. Só reinam na miséria, no obscurantismo, mas precisam do dinheiro que a
direita,p de quando em vez, nos ajuda a ganhar. Nuno Borges: O golpe militar matou Portugal. João Floriano: Hoje, 50 anos passados, entrei no supermercado onde
costumo abastecer-me. à porta três comunistas velhos ofereciam o jornal da CDU
de uma das freguesias do Seixal. Reparei que vários clientes antes de mim se
afastavam. Como não consegui também passar ao lado, acabei mesmo por aceitar a
folha de um dos idosos ( um homem e duas mulheres). Não tive coragem de os
ignorar. Disse-lhes apenas que não votava na CDU, mas que iria ler. Cinquenta
anos durante os quais nos fizeram tanto mal, prejudicaram tanta gente, destruíram
tanto emprego. Começaram em «grandeza revolucionária» terminam com 3 idosos dos quais se procura afastamento
à porta de um supermercado. Há quem diga que o PCP não vai resistir ao próximo
acto eleitoral. Helena Matos pensa dessa maneira. Mas mesmo assim 50 anos são
demasiados anos. Maria
Tavares: Bem haja JNP
Portugal não aprendeu com os erros, 50anos depois. Os de sempre continuam a
poder ter empresas a sugar o estado, AL à custa de despejarem inquilinos
antigos, jogadas para terem apartamentos a 1/4 preço, obras ilegais em zonas
protegidas mas.... esses podem porque estão do "lado certo" Cs também
não aprendeu, salvo honrosas excepções, mas que infelizmente são cada vez mais
silenciadas. JM
Azevedo: Belo romance,
o Novembro. Aconselho. Óptima síntese do que se passou naquele malfadado
período. Maria
Paula Silva: os 2 anos a
seguir ao 25 abril foram de verdadeiro terror. e pelos vistos nada mudou em quase 51 anos, os
esquerdas actuais não são muito diferentes dos de então, apenas mais travados pelo sistema vigente. Deram cabo de quase tudo e se pudessem, acabariam com
o que resta. Prenderam e
mataram mais gente que em 40 anos de salazarismo! cada vez mais se usa e abusa dos termos preferidos da
esquerda, "fascismo" e "outros", a torto e a direito, nem
sabem o que dizem, nem sabem que retiram valor aos termos por uso excessivo.
A única coisa que fica mais que provada
nestes 50 anos é que esta gente não gosta mesmo é de trabalhar. Por acaso até acho que Marcello Caetano estava a fazer
um bom trabalho, e a tentar negociar a independência de Angola de forma a todos
poderem lá continuar a viver, harmoniosamente como sempre se viveu, mas que foi
traído (e um dos nomes é de certeza absoluta Costa Gomes).
Carlos
Medeiros: Durante anos e anos a fio, os generais não viram a infiltração comunista
nas FAs, no Ultramar os traidores fardados aliciavam os camaradas de armas
tranquilamente, ninguém via, as dragonas assobiavam para o lado. Quando os
tropas gadelhudos se exibiram no 11 de Março, já era tarde. O general,
idiotamente, fugiu depois do bluff do marinheiro careca. Uma vergonha! Hoje,
ninguém vê que os comunistas não têm expressão para manter o poder que têm nos
sindicatos. Ninguém vê, ninguém percebe que é urgente arrancar-lhes os
sindicatos das unhas. Continuam todos a assobiar para o lado. Está tudo cego,
até um dia... Domingas
Coutinho: Foi um período de terror e perseguição para quem
trabalhou em empresas que foram nacionalizadas. Quem não era de esquerda era
traidor. O 25 de Novembro deveria ser celebrado como deve ser pois livrou-nos
duma ditadura. Manuel
Ferreira21: Excelente
artigo. Retrata a situação, a real que eu vivi ao vivo. Bem-Haja. Nunca
esquecer as centenas de presos políticos e exilados decorrentes dos 28
set 74 e 11 Março de 1975. Nem o "fascismo "conseguiu tal
desiderato em 48 anos de Salazar e Caetano. Manuel Magalhães: Meia dúzia de alucinados destruíram Portugal numa
madrugada, mas umas dezenas de “ iluminados” do “ centrão” tomaram conta da
situação e tendo oportunidade de repor os estragos dessa madrugada, preferiram
guardar para si os frutos do esbulho, não tendo feito o mínimo gesto para repor
o aparelho produtivo como era antes dessa alucinada madrugada. Enquanto os
alucinados revolucionários continuam a não esconder ao que andam, os cinzentos
“centrões “ continuam com falinhas mansas a tentarem enganar-nos todos os dias
beneficiando em proveito próprio do “ regime” que eles próprios criaram e
governo. Muito centrões”
corruptos que debaixo da capa de democratas actuam impunemente há cinquenta anos.
mais culpados que os alucinados revolucionários que actuaram numa madrugada
são estes “Foram e são estes “ centrões “ que destruíram Portugal e a
Economia Portuguesa. Coxinho: A lucidez com a seriedade intelectual habitual no JNP.
Talvez o golpe militar não tenha matado Portugal, como opina um dos
comentadores. Mas é inegável que deixou o país estropiado sabe-se lá até
quando. E é facto que "eles ainda andam aí", como opina, cheia de
razão uma comentadora... Maria Melo: Descolonizar… pois, de qualquer maneira… E agora, a
população nos países descolonizados continua pobre, os governantes
aproveitam-se de alguns recursos e fazem os seus esquemas e, pasme-se! Muitos
habitantes desses países continuam a vir para o país colonizador, Portugal.
Actualmente, há uma onda enorme de angolanos e também de S. Tomé , para além de
Cabo Verde. Depois é o que vemos, bairros ilegais a avolumarem-se, como em
Almada. O PREC foi um terror! A revistarem carros, a invadirem e confiscarem
casas e terrenos… e a economia numa desgraça. Qual fascismo? Isso era o
Mussolini.
Manuel Magalhaes: Pois bem me lembro de todas estas
peripécias que bem desgraçaram este pobre país, esperemos que o actual 11 de
Março não seja tão fatídico, embora ao se manterem as tais linhas vermelhas
uma coisa podemos ter garantido, a mediocridade irá continuar… Futari
Gake > Filipe Paes de Vasconcellos:
(...)Um folclore absurdo, mas, ao
tempo, levado a sério pelos muitos que por ali flutuavam e que depois iriam,
quase todos, aterrar no Centrão. Pois, o Centrão está cheio deles uns já foram
outros herdaram o seu oportunismo e olhe que não são só os que enumera...
Rui Lima: Um
excelente resumo de JMN feito em poucas linhas, mas há um documento histórico
um podcast de Rui Ramos uma entrevista a José Roquette ver na primeira pessoa a
loucura desses tempos ( para mim ainda mais confirma informação que tinha …) https://podcasts.apple.com/pt/podcast/conversas-%C3%A0-quinta/id968825982?i=1000698591543
Tim do A: Sempre muito bom JNP. Agora também o ouço no Think
Tank de a Cor do dinheiro de Camilo Lourenço com Jorge Marrão. Pena que não
juntem ao programa J.J. Brandão Ferreira. Manuel
Gomes: Um excelente retrato. Concordo em
absoluto, as sequelas ainda persistem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário