Afinal, é assim que vivemos, sob o patrocínio
deste governo usurpador que não se importou de prevaricar para obter a
possibilidade de uma amplitude esbanjadora, a sua, sem pensar no futuro da sua
nação, a qual vai cozendo lentamente, contente com o quentinho, tal como o sapo
da história, a resvalar para o tal buraco
negro, na apatia vilipendiosa de quem se contenta com as côdeas – aparentes –
que lhes são apresentadas com dados
falsos. O excelente texto de José Manuel Fernandes esclarece-o com dados e com sapos e bem assim alguns
comentários lúcidos. Mas acomodemo-nos,
que o lutar é perigoso, marchemos indolentemente para o buraco.
A morrer lentamente como o sapo dentro
da panela /premium
Dizem que é um Orçamento histórico, eu só vejo nele sinais de
decadência. Vamos definhar pouco a pouco pagando cada vez mais para um Estado
que empata muito e nem sequer presta bons serviços públicos.
OBSERVADOR19 dez 2019
Todos conhecem a história. Se atirarmos um sapo para dentro de uma panela com água a ferver, ele
dá um salto e safa-se. Se o colocarmos numa panela com água que vamos aquecendo
lentamente, ele deixa-se estar até ficar inerte e acabar por morrer.
Portugal está a chegar ao ponto do sapo que se deixa
ficar dentro da panela e nada o ilustra melhor do que o Orçamento do Estado
para 2020. Sei que há mais quem pense que
estamos a adormecer dentro da panela, mas ao contrário desses nem acho que o
maior risco seja chegar uma crise e de repente saltarmos para o lume – o maior
risco é mesmo ficarmos a morrer lentamente e felizes da vida.
As duas discussões dos últimos dias são um bom exemplo disso.
Refiro-me à teimosia do
ministro da Finanças em reconhecer que a carga fiscal tem vindo a subir e
vai continuar a subir e à incapacidade de toda a esquerda enfrentar a realidade
retratada no relatório do Tribunal
de Contas sobre o hospital PPP de Vila Franca de Xira.
Comecemos pela carga fiscal, que não é um detalhe, mesmo podendo argumentar-se que
variações de uma ou duas décimas de ponto percentual não são muito
significativas. Na realidade são se configurarem uma tendência, e essa
tendência está lá, é inelutável:
antes de o INE ter procedido à revisão em alta do PIB, a carga fiscal tinha
passado de 34,4% em 2016 para 34,7% em 2017 e 35,4% em 2018 – isto quando esta
de 29,9% há apenas dez anos. Com a revisão do PIB estes números alteram-se,
mas não muda a tendência ascendente: 2018 continuaria a ser um máximo
histórico, com 34,9%, sendo que no relatório que entregou juntamente com a
proposta de Orçamento de Estado o Governo prevê que em 2019 (ano de eleições) a
carga fiscal se tenha mantido nesses 34,9% e que em 2020 suba para 35,1%.
Eu sei que a carga fiscal não surge entre as
principais preocupações dos portugueses, que até admitem pagar mais impostos
para ter melhores pensões e saúde. É um indicador que não surpreende se pensarmos
que quase metade das famílias não paga sequer IRS tão baixos
são os seus rendimentos, mas é também uma reacção típica do sapo que vai
adormecendo dentro da panela: é a prova de que não percebem os sinais de alarme
de um sistema que não funciona.
De facto, como pode funcionar um sistema onde só
metade das famílias sente realmente o sufoco fiscal? Como pode haver sinais de
alerta numa sociedade onde se acha que se pode pedir sempre mais do Estado
porque não se tem noção de que o dinheiro do Estado sai dos nossos bolsos?
Depois é preciso perceber como se chegou aqui – isto
é, como chegámos a este ponto em que todos os anos a carga fiscal cresce mesmo
quando a economia cresce e mesmo quando os juros da dívida estão a descer.
Basta pensar que em 2020 vamos pagar de serviço da dívida menos dois mil
milhões de euros do que aquilo que pagámos em 2016. É imenso dinheiro. Para
onde é que ele foi se os serviços públicos estão no estado em que estão e se o
investimento público ainda nem sequer recuperou para o nível registado no último
ano do governo de Passos Coelho? Onde é que está o sumidouro de tanto
milhão?
A resposta é fácil de dar mas dura de ouvir: a política de
devoluções e reversões dos últimos quatro anos, que não foi acompanhada de
nenhuma reforma da Administração Pública, teve um triplo efeito perverso: primeiro, acordou o “monstro” – como se verifica pelo Orçamento para 2020, só
para progressões e carreiras irá quase tanto dinheiro como para o famoso
“reforço” do SNS, sendo que para o ano haverá mais progressões e mais promoções,
e para o ano a seguir idem, e por aí adiante; depois, como a Administração
Pública esteve como que “congelada” 10 anos, em muitos sectores (a educação é
um deles) está 10 anos mais velha, 10 anos mais cansada e 10 anos mais
desmotivada; finalmente, o discurso sempre optimista, nunca prudente, da
geringonça criou expectativas que não há forma de cumprir, sendo a mais
gritante de todas a de que haveria este ano aumentos salariais que se vissem, e
não os 0,3% que Mário Centeno quer dar ao fim de 10 anos sem nenhuma
actualização das tabelas salariais.
Em síntese: temos uma administração cara, envelhecida e desmotivada, e
como se isso não chegasse, revoltada.
Podia ser diferente?
Claro que podia. Podia ter sido
diferente com as 35
horas como podia ter sido
diferente com a reposição dos velhos sistemas de carreiras e
progressões. Teria sido uma
boa altura para renegociar tudo, uma vez que ao repor se tinha alguma coisa
para dar. Mas não foi por aí que se foi. Ninguém quis ouvir de reformar fosse o
que fosse – só se quis regressar ao passado, ao estilo da contra-reforma de
outros tempos.
Julgam que exagero? De novo só peco por contenção. Basta
pensarmos que numa altura em que por todo o lado além-fronteiras se procurou reformar o Estado, repensar
as suas funções, recentrá-lo no essencial, em Portugal a nossa contra-reforma
preferiu antes escolher inimigos – e viu-os em tudo o que era privado – e
contra eles lançar uma geração de novos inquisidores. Ou inquisidoras, já que
esse papel coube em especial a duas mulheres: Alexandra Leitão, que no Ministério da Educação se empenhou em
perseguir todos os colégios privados que prestavam serviço público ao Estado, e
Marta Temido, que como
ministra da Saúde só descansou quando garantiu que não só não haveria mais
hospitais PPP, como aqueles que já havia seriam descontinuados.
Tem isto alguma racionalidade? Não, como mais uma vez
acaba de demonstrar um relatório do Tribunal de Contas sobre o hospital
PPP de Vila Franca de Xira, unidade que depois de ter poupado 30
milhões de euros ao Estado e melhorado acesso à saúde, vai acabar enquanto PPP. Não é já, é em 2021. Para já só terminou a PPP do
Hospital de Braga, que custava ao Estado 150 milhões de euros por ano. Para quem acha muito é bom que
fique a saber que, em 2020, como hospital EPE, Braga vai receber… 200 milhões de euros, pelo menos de acordo com o que diz o
presidente do seu conselho de administração (público, claro está). Ou seja, o mesmo
hospital custará em 2020 mais 50 milhões de euros aos contribuintes do que
custava quando era PPP.
Numa altura destas, com dados destes, talvez o nosso sapo devesse dar sinais de incómodo lá
no fundo da panela onde a água vai aquecendo lentamente. Mas não. Ao sapo
acabaram de dizer que haverá mais 800 milhões de euros para o SNS. Aos sapinhos
da CIP esperam calar com umas migalhas de benefícios fiscais avulso. Aos
sapos-rãs, mais verdinhos, acenaram com uns pacotes contra o aquecimento global
(ah, deve ser daí que vem este calor, pensaram os sapos-rãs). E por aí adiante.
Oprincípio do Orçamento foi o de procurar anestesiar uns e outros sem
verdadeiramente fazer nada de estruturante. Nada que mude o estado do Estado, muito menos nada que mude o país. O cozinheiro sabe
que o risco de o sapo saltar é pequeno ou mesmo nulo, e por isso vai fazendo o
que sabe fazer melhor: continuar a empurrar os problemas com a barriga.
De resto todos lhe batem palmas pela sua habilidade, porquê inquietar-se?
Sim, porquê inquietar-se se quando olha para além fronteiras até se
assusta? Fazer como Macron, que tentou reformar o sistema de pensões francês
e tem a França inteira em greve e na rua? Nope. Repetir o que fez no seu
tempo Gerhard Schröder, o chanceler alemão social-democrata que reformou a
Alemanha, abriu o caminho a uma era de prosperidade, mas depois assistiu à
decadência irreversível do seu SPD? Nem pensar nisso: antes o imobilismo de
Angela Merkel, que já lá está há 16 anos, que quando sair vai deixar um monte
de sarilhos por resolver, mas isso será tarefa de outros.
Os ventos, de resto, não
favorecem quem queira mexer-se. Ao
contrário dos que temem a chegada de uma crise, tudo indica que o Banco Central
Europeu vai continuar a fazer o que antes dele fez o banco central do Japão:
injectar liquidez nos mercados, manter os juros baixos, assim criando um
ambiente em que ninguém tem vontade de arriscar o que quer que seja para fazer
reformas. As dívidas são gigantescas, mas com juros mantêm-se tão baixos que
não pesam assim tanto nos orçamentos. Vai-se aguentando.
Aguentando e definhando. Também como aguentou o Japão,
só que mais pobres e mais atrasados que o Japão.
É o sapo dentro da panela, por enquanto apenas
morninho, mas se pensarmos bem já sem energia, ou vontade, ou reais estímulos
para dar o salto.
Por isso vamos ficar por
aqui, com orçamentos destes, sem qualquer ambição, com crescimentos destes, que
nos vão fazendo ficar cada vez mais na cauda da Europa, com preconceitos
destes, velhos como a pátria e os Lusíadas – a inveja que nos faz desconfiar do
sucesso e do privado –, e com esta versão moderna de pobretes mas
alegretes a que quem pode foge, como sempre fugiu.
COMENTÁRIOS:
Miguel Lima: .ele era diabos… agora é sapos...este JMF ha-de ter
razão um dia...até um relógio parado tem razão duas vezes ao dia. È sempre o
mesmo estilo. fraco fraco fraco.
António Sennfelt: O sapo há-de inchar, inchar e inchar até que
arrebente!
A. Carnide: Excelente descrição do que temos em frente dos olhos
mas não conseguimos ver. Clarividência preciosa!!
Fernando Costa: Parabéns excelente retrato!
Jaime Almeida: Esta situação resume-se no velho mantra da esquerda
"os ricos que paguem a crise". Desta forma contentam-se os 50% que
não pagam impostos e que são suficientes para alimentar as ilusões e a
propaganda da esquerda. A grande questão é que 4 quintos destes
"ricos" são remediados que vivem do seu salário e que fazem a maior
"ginástica" para conseguir chegar até ao próximo vencimento. Mas
também são estes que sob o peso da desilusão e inevitabilidade da vida que têm
não vão votar, permitindo que a situação nunca se altere.
Edmilson Alves: Bom artigo, mas a questão que se coloca é: porque não
têm os nossos governantes a mesma lucidez? Qual o objectivo de definhar não só
o povo, mas é igualmente matar uma cultura. Porquê?
Liberal Impenitente >
Edmilson Alves: Querem votos, e conseguem-nos comprando-os com
dinheiro emprestado. Infelizmente funciona, porque faz parte da cultura.
Pedro SantosEdmilson Alves: Que pergunta de anjinho... nossa Senhora! Mas alguma
vez o oportunismo político se confunde com visão de estado? Esta gente tem
apenas um foco: a sua sobrevivência política porque, sendo os inúteis e
limitados que sempre foram em toda a sua vida e munidos dum sentido de posse
que fez deles donos deste curral de ovinos, só se podem é preocupar em se
ajeitarem cada vez melhor na vida, à custa do dinheiro dos outros e de umas
buchas que lá vão atirando aos pobres... É a democracia que nós temos,
amigo!... Quando bem intencionada, lá se vai educando e informando um povo
sobre as dificuldades, as realidades e quais as perspectivas, oferecendo-lhes
opções de escolha. Quando desta forma, mantém-se um povo na santa ignorância
fantasiando, iludindo e distraindo-o até ao dia em que os ovinos partam os
chifres outra vez contra a parede...!
Lúcia Henriques : Muito bem retratada a situação. Só me apetece dizer:
Alô Venezuela!Aqui vamos nós.
Maria Emília Ranhada Santos:
Hastear a bandeira e cantar o hino nacional, são coisas que não se devem fazer
porque não são internacionalistas e ofendem os imigrantes! Ou seja; internacionalismo para os esquerdistas significa perda
da nossa identidade portuguesa como nação! Os católicos tem de ser afastados do
poder, porque eles são retrógrados e obscurantistas, e criam-nos obstáculos ao
nosso tão amado progresso, (O PAN já escolheu e elegeu o Opus Dei, só para
começar! Creio que por inveja dos seus muitos conhecimentos), As crianças não
podem ser catequisadas nas paróquias, por esses incompetentes! Este serviço é
feito nas escolas e com professores treinados à conta do OE, dizemos-lhe que é
educação sexual e doutrinámo-las com ideologia de género LGBT, para formamos
gerações marxistas, ateias, sem Deus, sem Pátria, sem família, sem sexo, sem
identidade, libertinas, prostitutas e prostitutos, loucos, terroristas
assassinos e sem sentido para viver! E quem se opuser a este “progresso”, é
apelidado de homofóbico, racista e intolerante! Este jogo de palavras já faz
parte dos “novos direitos humanos”, para afastar qualquer dúvida! O poder dos
lobbys é diretamente proporcional à sua maldade! Tudo o que não lhes interessa
deve ser calado e silenciado! Essas Marchas Pró-Vida, devem ser totalmente
ignoradas pela imprensa, TVs, jornais, revistas, filmes, propaganda, etc, etc,
etc. Só para terminar: O que mais dói, é ver a ignorância de alguns
portugueses, até com uma certa instrução, mas felizes porque finalmente este
governo se interessa por introduzir “educação sexual” nas escolas! Joga-se com
as palavras que eles caem que nem tordos! Apetece-me ir pelo país fora, com um
microfone, gritar aos pais: “NÃO É EDUCAÇÃO SEXUAL O QUE ESTÃO A ENSINAR AOS
SEUS FILHOS, é EROTIZAÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS, PARA QUE SE TORNEM GAYS E
LÉSBICAS. É SEXISMO! Eles não vos querem bem! Acordem! O maldito jogo de
palavras, foi o veneno que colocou os portugueses em total apatia em relação à
política.
A Oposição já está quase morta, não consegue fugir da
retórica e mostrar como se poderia fazer diferente. Não sabem fazer contas? Não
têm economistas nos partidos? E o orçamento é realmente histórico, desde que
vivemos em democracia os governos socialistas repetem a estratégia de dar com
uma mão, tirar com outra, até acredito que defendam este modelo como certo, uma
economia com mais estado, o que está mal é a oposição não conseguir provar que
o país se pode desenvolver de uma forma mais ambiciosa com um modelo de mercado
que acredita na iniciativa privada.
Para isso não só a carga fiscal como a sua
instabilidade é negativa.
Liberal Impenitente >Maria Lacerda: A instabilidade é sempre a mesma desde o guterres
original, aumento da carga fiscal.
Joaquim Moreira: Pior do que, estar "a morrer lentamente como o
sapo na panela", é
haver uma maioria que faz questão de não dar por ela. Na
verdade, o que se passa, desde que assaltaram o poder, é que os OE foram feitos
para o manter. Todos os orçamentos aprovados, nunca foram os executados. E se
estão bem lembrados, foi-nos dito que - quando do assalto ao poder - as
eleições eram para deputados. Mas como todos vimos, até estes foram enganados.
Estou curioso para ver como é que agora vão aceitar terem sido dispensados.
Neste cenário, confesso que tenho muita dificuldade em perceber o comportamento
da chamada direita que se julga tão inteligente, que combate o único político
que, no momento, a toda esta farsa pode fazer frente. Esta é, a principal
razão, para termos que suportar esta deplorável situação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário