Contada por Jaime Nogueira Pinto que, na sua gravidade de investigador histórico é
insuspeito de falsificação da verdade, apesar do sorriso breve que acompanha as
suas referências. Espero que Sissoco Embaló não se tenha inspirado em casos
lusos aqui sucedidos em tempos também de esgares, que deram que falar, na
conquista do tacho, embora os exemplos tragam, por vezes fruto, sobretudo os maus.
Eleições presidenciais na Guiné-Bissau: Os
riscos da instabilidade
Os apelos religiosos
e tribais a que vem recorrendo Umaro Sissoco trazem a divisão entre muçulmanos
e não muçulmanos e o
confronto entre etnias; conflitos aos quais, até hoje, o país foi poupado.
No próximo Domingo, 29, a Guiné Bissau vai a votos para a eleição do
Presidente da República. Os candidatos em presença são Domingos Simões Pereira
e Umaro El Mokhtar Sissoco Embaló.
Simões Pereira é o actual líder do PAIGC, foi Ministro e
Primeiro-ministro da Guiné-Bissau e Secretário-executivo da CPLP. É
conhecido no país e no exterior como um político com experiência e moderação e respeitado
nos meios político-diplomáticos europeus e africanos.
Sissoco, que se descreve como “cientista, político e militar”, apresenta um CV
impressionante: uma
licenciatura em Relações Internacionais (da qual não há registo) pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas da Universidade Técnica de Lisboa (onde esteve de facto matriculado), um doutoramento pela prestigiada Universidade
Complutense de Madrid (onde
nada consta) e uma (também altamente duvidosa) promoção ao generalato.
Este apanhado de graus académicos e castrenses
imaginados e imaginários não parece grande recomendação para a chefia de Estado
– os casos semelhantes que tivemos em Portugal, ainda que menos exuberantes,
também não deram grande resultado.
Outra prestidigitação de Sissoco é trazer no bolso um Príncipe saudita,
um dos homens mais ricos do mundo. Segundo Umaro Sissoco o dito magnate ter-se-á comprometido a
investir a módica quantia de um bilião de Dólares na Guiné, caso ele, Sissoco,
ganhe a eleição. Será
verdade? E se for, estarão os sauditas dispostos a comprar abertamente uma
eleição num país africano? E estarão os guineenses dispostos a vender-se assim
por um punhado (ainda que substancial) de Dólares? É difícil de acreditar.
Umaro Sissoco tem também procurado apresentar-se como o escolhido pelos
poderes regionais, exibindo apoios senegaleses, marfinianos nigerianos e de
líderes muçulmanos da região e da CEDAO. Há mesmo a convicção declarada de
alguns ministros do Senegal de que, se Sissoco for eleito, as relações entre os
dois países irão ter uma franca melhoria, já que este “amigo do Senegal” estará
pronto a facilitar, em nome da boa vizinhança, um acordo simpático para a
partilha do petróleo nas fronteiras marítimas dos dois Estados.
Mas independentemente dos aspectos caricatos da eleição e da máquina de
propaganda de Sissoco, o facto é que os outros candidatos, vencidos na primeira
volta, se juntaram a ele para derrotar Simões Pereira, numa espécie de aliança
que tem muito mais que ver com invejas e ressentimentos pessoais que com
aspectos ideológicos ou doutrinários.
É claro que se os candidatos derrotados fossem
senhores dos votos, Domingos Simões Pereira perderia: teve 40% na primeira
volta, contra os 27% de Sissoco; e bastaria que os candidatos vencidos que se
pronunciaram a favor de Umaro Sissoco – Nuno Nabian, José Mário Vaz e Carlos
Gomes Júnior – somassem os seus votos aos dele para lhe darem a maioria.
Só que esta maioria conducente à eleição de Sissoco levantaria
problemas: em primeiro lugar, semelhante coligação negativa, de tão diversa e
frágil, iria entrar em crise interna forte no dia a seguir às eleições,
agravando a instabilidade; mais, sendo o governo actual e a maioria parlamentar
do PAIGC, o conflito com a Presidência iria manter o país na incerteza do
poder em que tem vivido nos últimos quatro anos. E mais ainda, os apelos religiosos e tribais a que vem recorrendo
Umaro Sissoco trazem a divisão entre muçulmanos e não muçulmanos e o confronto
entre etnias; conflitos aos quais, até hoje, o país foi poupado.
De qualquer forma, embora a indicação de voto tenha a
sua influência tendencial, a verdade é que entre os partidários dos candidatos
afastados há divisões: na Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da
Guiné-Bissau (APU-PDGB), de Nuno Nabian, parte da direcção dissociou-se da
indicação de voto do líder em Umaro Sissoco e proclamou o seu apoio a Domingos Simões Pereira; e o mesmo aconteceu entre os partidários de Carlos
Gomes Júnior (eleitores urbanos de Bissau) e de José Mário Vaz. Que “a
transferência de votos a favor do candidato da oposição Umaro Sissoco Embaló
está longe de estar garantida” é também o que se conclui no número especial
sobre África da revista Jeune
Afrique
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