Di-lo um dos comentadores de Maria João Avillez, Carlos Quartel, numa imagem elegante e delicada, que me
agradou, mas, movida pelo mesmo sentimento de indignação de MJA, relativamente à regionalização,
parafraseando o “na minha cama com ela”,
eu diria, mais toscamente, ou mesmo mais grosseiramente, “na manjedoira com eles”, os compadres do “sete cães a um osso” da nossa idiossincrasia habitual, de povo
vivaço, que se diz mesmo de “Olhão”, suponho que só metaforicamente, (sem
desprimor para os habitantes da terra), à falta de um rigor e empenhamento
reais em função das regiões, e, sobretudo, à falta de uma visão de conjunto que
olvidaria depressa o sentido de “pátria”, em rivalidades mesquinhas de povo mal
preparado, intelectualmente dizendo. O que eu vejo na regionalização é, sim,
tirando as excepções, que as há sempre, uma gestão de verbas em função de mais
arranjinhos, uma multiplicação de “casos” de corrupção, que em todos os
sectores da vida nacional vão surgindo, quer nos laboratórios farmacêuticos quer
nos “laboratórios” futebolísticos e os mais que sabemos… E a Europa cairia
nessa?
Cenas da vida
quotidiana /premium
Outra vez? Os partidos rachados ao meio,
a sociedade dividida, tensões dispensáveis num projecto que em tudo o
prejudicaria? Portugal não merece nem necessita de um assalto chamado
regionalização.
MARIA JOÃO AVILLEZ OBSERVADOR,
04 dez 2019
1. O Natal antes do seu tempo. Tenho a noção de o ter
visto logo na passagem de Setembro para Outubro, ainda o ar ia quente e
andava-se de sandálias. Faltam vinte e um dias e a (má) amostra já cansa. Por
este andar um dia saltaremos da praia para o presépio ou melhor, para o centro
comercial, o presépio caiu em desuso. As instituições públicas, quer no seu
interior quer no exterior dos seus edifícios, vetam-no (cada um sabe de si) mas
espanta, noutros lugares e espaços — e não falo obviamente das igrejas – a muda
ausência, nesta época, de um dos maiores símbolos da civilização ocidental. O
Natal impresso hoje nas cidades portuguesas é excitadamente festivo e
inteiramente material, anúncios, promoções, brindes e descontos projectados
como bólides sobre os nossos écrans e telemóveis: pratique-se a ganância,
lucro precisa-se, o negócio tem de rolar (mesmo que disfarçado de
“solidariedade”). É o Natal que se “vê”. Sem que aparentemente haja
um mínimo de recuo do frenesim que estes dias institucionalizaram, uma pausa no
rodopio, a necessidade de um “presépio interior” que empreste algum sentido
à festa. Na aceleração vigente “em que lares aconchegados é que um
sentimento conserva os sentimentos passados”? (como gostava de dizer o
poeta e eu também gosto) Para não falar desta espécie de indiferença geral face
à mensagem da herança judaica-cristã ou — mas seria certamente pedir muito — do
esquecimento ou recusa a uma pertença civilizacional com obrigações. Mas pode
ser que eu esteja a ver mal.
2. Mais perto ou mais longe, escondidos, vistos ou entrevistos,
nessas margens onde não chegam brindes, nem fios, nem luzes, há os outros
Natais. Ou melhor, os não Natais. Solitários, desprovidos, indefesos.
Entregues a sua má sorte.
Conheço alguém que apesar de agnóstico considera que
“a religião é o mais importante cimento espiritual que congrega uma comunidade
humana”. Não preciso de invocar motivos religiosos nem é neles que penso ao
escrever estas linhas. Basta apenas pensar — para quem acredite que o Natal é
maior que os seus enfeites — que o pior que pode acontecer é enganarmo-nos de
“próximo”.
3. O que não estarei certamente a ver mal são os nefastos efeitos que acarretaria a regionalização. Todos dramáticos – e sim,
sejamos dramáticos com as palavras, esta ressuscitada ameaça reclama-o. Por
alguma razão de muito peso, o desastre regionalista foi recusado há vinte e um
anos, pela mais transparente, eficaz e democrática das maneiras: pelo voto.
Lembro-me de tudo, estive “lá”. Participando quanto pude no remar contra
essa inflamada maré, com muita gente e ao serviço de um Movimento
Anti-Regionalização criado por Ernâni Lopes. Tive a felicidade de o fazer
ao lado de pessoas tão lúcidas quanto o saudosíssimo Vítor Cunha Rego que nunca brincava em
serviço, para só citar um nome, nesta hora que se prevê de novo tão
irresponsável quanto por isso mesmo perigosa: outra vez? Os partidos rachados ao meio, a
sociedade portuguesa dividida, tensões e crispações dispensáveis num projecto
que nada no país justifica mas em tudo o prejudicaria?
4. Também me lembro da importância daquela guerra. Foi
uma guerra. Voltará a sê-lo se for preciso, há uma cidadania convicta e
comprometida e grandes generais políticos não faltarão (soldados também não).
Nunca se sabe, apesar da marcha atrás do Governo — ou de algo de muito parecido
com um recuo. É que o Executivo não ignora um: que Belém, sendo contra esse
fatal figurino, não favorecerá um referendo, que o mesmo é dizer que
dificilmente o convocará; dois: que havendo pouco dinheiro, divisões politicas
e pouca bênção do alto, mais vale não brincar com o fogo, os pesados problemas
que aí estão e os já anunciados chegam para fazer transbordar qualquer agenda
política. Isto dito falta o resto que é muito e pode ser ardiloso. Está aí,
“oficializado”: uns chamam-lhe desconcentração, outros, descentralização, e até
— já ouvi — desburocratização. Ou seja, trata-se de uma “operação”
política de outro porte e natureza mas seja qual for o seu nome sobram más
dúvidas: sobra tal a valsa das transferências de uns locais para outros, o
nevoeiro das competências, a ascensão à decisão de não eleitos, a pressa em ir
dotando cada passo da chancela da “irreversibilidade”. Mais e pior: à míngua de
reformas — quais foram, em quatro anos? — não custa perceber como o PS gostaria
de embrulhar a regionalização com laços, pompa e circunstância, oferecendo-a
aos seus, disfarçada de “grande reforma” .
Tudo isto que faz um bocadinho de medo, recomenda
atenção e munições: pelo sim pelo não, há que começar a travar a guerra, há
muita coisa já a larvar, meia combinada, meia decidida, meio adiantada. Está-se
a lidar com matéria perigosa. Além de que nem os tempos são os mesmos de há
vinte anos, nem as lideranças, nem os partidos, nem os processos, nem o ar do
tempo.
Tudo é mais frágil, a sociedade está mais indefesa, os
partidos envelhecidos, a entrada em cena das redes sociais institucionalizou a
mentira e “legitimou” a manipulação. E o envenenamento do espaço público pelo
ressentimento, a fulanização e o insulto não ajudam a este clima insalubre.
Não, não exagero, penso
simplesmente no país. Portugal não merece, não necessita e nunca melhoraria com
um assalto chamado regionalização.
5. Sempre o digo — e não há motivos para parar de dizer:
é preciso que as extremas-esquerdas se sintam “donas” da vida política e
“mestras” em tratá-la como coisa sua, para que a mais extraordinária cena que
os meus recentes quotidianos já testemunharam, possa ter ocorrido: uma deputada
da Nação chamou a polícia para a defender dessa chatice que são os jornalistas.
Posta em perigo de vida a sua “produção” intelectual pela natural curiosidade
da media e a sua obrigação de dar noticia, fora com os importunos, venha a GNR.
Para grandes males, grandes remédios. O dia seguinte conseguiu a formidável
proeza de ser ainda pior, tão politicamente inaceitáveis foram as “explicações”
e tão desgraçadas as justificações.
E no entanto, se muitos foram os que, atónitos ou
chocados, reagiram, poucos foram os indignados.
(imagine-se Cecília Meireles, André Ventura ou Cotrim,
a fazerem o mesmo). Sim, a coisa passou. Quase mansa, um fait-divers, um
mero capricho, uma fraqueza emocional. Com invejável segurança a vida seguiu. E
seguirá, enquanto se tolerar a existência de filhos e enteados no tratamento
político. No fundo, tem-se o que se merece.
6. Dia
histórico, este. O meu quotidiano deu de si com a surpresa: à hora a que escrevo, hoje,
terça-feira, dia 3 de Dezembro, foi a primeira vez em quatro anos que o
Presidente da República NÃO foi a um sítio. A ubiquidade teve uma trégua, o
país também.
COMENTÁRIOS
Gabriel Moreira: Abaixo a regionalização para criar mais "chefes" de Governo. Sim, à descentralização administrativa. Mesmo que o PCP não goste seria a forma de
acabar com a falta de pessoal das escolas que tem mais baixas médicas do que o
normal.
Antonio Lobo: Como de costume; muito bom.
Isabel Arruda: Não está nada a ver mal Maria João! São os factos claros e indesmentíveis. Quanto ao Natal, enfrentamos aquilo que se
poderia designar não só por roubo, mas por autêntica traição cultural. É a
destruição planeada e dolosa do homem ocidental, para dar lugar ao novo homem dos
revolucionários. O sucesso da revolução tem como pressuposto essencial a
destruição e afastamento de todas as nossas marcas identitárias, pessoais e
como colectivo Nacional. Veja o caso insano dos EUA. Não fora a eleição de DJ
Trump e os marxistas, que tinham já conseguido efectivamente proibir, como
"ofensivo", o uso do próprio vocábulo "Natal" no espaço
público, teriam já hoje proíbido e mesmo criminalizado a sua celebração
privada. Simultaneamente promovendo e instituindo o ramadão muçulmano e outras
coisas exóticas, indianas e africanas. É bom que, de uma vez por todas, se
abandone a ingenuidade. É claro para mim que Trump ou Bolsonaro estão muito
longe de ser as respostas necessárias, por parte da Civilização, ao ataque impiedoso
da barbárie marxista-totalitária. São, porém, as respostas possíveis, num
contexto de absoluta emergência, que permitem, pelo menos, à Civilização ganhar
algum tempo e preparar-se para uma batalha existencial, numa guerra letal a que
chegou atrasada mais de trinta anos. Olhe-se só por um instante para ameaça que
representa o bando de enfermos mentais e comunistas radicais que o PD congregou
como potenciais candidatos presidenciais e logo se entende os milhões e milhões
de orações diárias, feitas pelo mundo inteiro, em favor da reeleição do actual
presidente. Felizmente, cada vez mais uma certeza!
Quanto à regionalização, esse é simplesmente um caso, muito
convencional, de traição à pátria e ofensa à nossa Nação, em favor da
corrupção, do nepotismo e do assalto financeiro ao erário público e ideológico
ás estruturas do Estado, meticulosamente conduzido pelos bandidos e bandalhos
de sempre. A batalha está aí, para ser travada e vencida de novo. Eu e os meus
estamos prontos e certos de que para nada se pode ou deve contar com o homem
despido de quaisquer qualidades de estadista, que por estes dias tem conduzido
a dignidade e autoridade democrática do Estado à mais imunda sarjeta. Desejo à Maria João e a todos os seus um Santo
Natal. Cá por casa, as palhas da manjedoura aguardam já a chegada do Nosso
Salvador, num imparável crescendo de devoção e gratidão.
José Martins: DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS. Cada vez mais temos um País com dois pesos e duas medidas. Uns são filhos, outros enteados. Uma coisa é a
Oligarquia Centralista Lisboeta, que vive ali no eixo Lumiar-Lapa Cascais, como
esta senhora, outra coisa é aquilo a que chamam as “berças”, os “bimbos”, o
povão e os saloios de Lisboa. Uma coisa é a oligarquia
centralista, de quem, de quando em vez, conhecemos alguns peões como os
Sócrates, os Salgados, os Pinhos, os Berardos e outra coisa é o país real. É nos Governos. É nos Jornais. É nas televisões. É nas polícias. É no Estado. É nas Instituições do
Futebol. É na subsidiação dos
transportes públicos.
Devíamos pôr os olhos nos Açores e na Madeira que
depois de conquistarem algum poder para GERIR e ADMINISTRAR os seus
territórios, libertas da canga centralista de Lisboa, deixaram de ser as
Regiões mais pobres do País para se tornarem a terceira e quarta REGIÕES mais
ricas do País, à frente do Norte, Centro e Alentejo.
O “escrito” desta senhora sobre a regionalização
poderia ter sido escrito no dia 23 de Abril de 1974 sobre o fim da União
Nacional e a criação de Partidos Políticos em Portugal. ONDE ESTÁ A ÉTICA
REPUBLICANA DA EQUIDADE E DA IGUALDADE DE OPORTUNIDADES? Depois queixem-se! Como
dizia Bertolt Brecht : "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas
ninguém chama violentas às margens que o oprimem."
chints CHINTS: Tendo o governo left dado montanhas de provas de incompetência grave, fugir
da sua influência será uma beleza. Com a descentralização teremos os políticos
a uma proximidade tal que os poderemos controlar.
Manuel Magalhães: Muito bem Maria João, isto está tudo uma grande “embrulhada” e este tipo de
artigos além de didácticos são um alerta muito necessário!!!
Rita Salgado: Não posso estar mais de acordo com os 6 pontos que detalha
Carlos Quartel: O espírito nacional é servir-se, não é servir. O nosso destino é este, quem
se aproxima do poder pensa em si e nos seus e só faz o indispensável para se
manter no poleiro. A regionalização é
uma oportunidade para mais uns milhares de militantes se chegarem à lareira. A
cidadania, entretida com o circo futeboleiro e com a cenoura do ordenado
mínimo, tudo permite e tudo aceita.
Adelina Maria Ribeiro Ribeiro: Plenamente de acordo...
Maria Nunes: Excelente MJA.
José Martins: A OLIGARQUIA CENTRALISTA SOLTOU OS PAPAGAIOS DO SISTEMA PARA A DEFESA DO
CENTRALISMO. O mais bacoco de todos os
provincianismos é o CENTRALISMO da capital do reino que vive do insulto, do
achincalhamento, do menosprezo e da humilhação do País de que era pressuposto,
enquanto capital, defender, enaltecer, desenvolver e servir. O mais triste é
que não é essa a mentalidade do povo de Lisboa que também é vítima desta
situação. Essa é apenas a mentalidade da “oligarquia centralista” que sufoca o
desenvolvimento do País para manter os seus privilégios. O maior problema do
DESENVOLVIMENTO do País reside na falta de uma estrutura com CAPACIDADE TÉCNICA
e PODER para Pensar, Ordenar, Planear, Gerir, Administrar e Desenvolver o
TERRITÓRIO, como prevê a CONSTITUIÇÃO portuguesa que venham a ser as REGIÕES. Devíamos
pôr os olhos nos Açores e na Madeira que depois de conquistarem algum poder
para GERIR e ADMINISTRAR os seus territórios, libertas da canga centralista de
Lisboa, deixaram de ser as Regiões mais pobres do País para se tornarem a
terceira e quarta REGIÕES mais ricas do País, à frente do Norte, Centro e
Alentejo. Deveriam ser as REGIÕES, com base em PLANOS de ORDENAMENTO,
VALORIZAÇÃO e DESENVOLVIMENTO REGIONAL, as Gestoras dos Fundos
Comunitários. Aliás, esses fundos só existem porque as REGIÕES Norte, Centro e
Alentejo têm um PIB/capita que é inferior a 75% do da média comunitária e são
destinados pela UE a essas REGIÕES. Mas, o que se passa é que esses fundos são
gastos pelo centralismo, ou na capital do império ou para fazer o jeito às suas
clientelas e aos seus Comissários Políticos locais sem uma "Visão de
Futuro" para o desenvolvimento dos territórios das REGIÕES. Eles estão-se
borrifando para o território Nacional e para o País. O grande desígnio dos
CENTRALISTAS é manterem-se à mesa do Orçamento de Estado com o Orçamento TODO
na sua mesa. SEM REGIONALIZAÇÃO NÃO HÁ
SOLUÇÃO.
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