segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Pela primeira vez



Uma opinião simpática, defendendo Joacine. Quando eu soube do motivo de a zanga do Livre com Joacine ser proveniente de razões ideológicas pró-israelitas da deputada, também senti por ela a mesma simpatia e compreensão que o Sr. Embaixador revela na sua Carta Aberta. Alguns comentadores dos que apoiam o Sr. Embaixador, explicam porquê, como, aliás, este fez na sua carta, defensora de um Estado que fora criado pela “generosidade” dos ingleses, os quais tinham a posse daquelas zonas por lá, eram colónias suas, a Palestina, Gaza e outras que tais e entenderam que o povo israelita era suficientemente competente para ter o seu próprio espaço e deixar o desígnio de povo errante – e bem sofredor, afinal. E deram-lhes a tal colónia, que formou o Estado de Israel, desde sempre dirigido, ao que sei, de forma inteligente, como é seu apanágio, a ministra Golda Meir sendo uma das cabeças valentes que ajudaram a erguê-lo. Eles, os Israelitas, sabem como enriquecer, criando e trabalhando, inteligentes que são, como o revelaram sempre, até por cá, o que concitou as invejas de uma Inquisição que os condenou ao desterro e à fogueira, para lhes ficar com os bens, águas passadas, desinteressados dos grandes cérebros que lhes fugiram, empobrecendo o nosso país ainda mais, dos verdadeiros valores de sabedoria. Mas também o Hitler não gostou deles por motivos ainda mais salientes, de uma animosidade fundada em invejas, abafadas sob designações mais civilizadas de anti-sionismo e outros ismos poderosos que para aqui não são chamados e tanto sofrimento lhes causaram. Todo este arrazoado é conhecido, e a própria Joacine, contrariando os do seu partido, demonstrou simpatia por esses israelitas, ganhando, com isso a zanga do partido, que não vai em capitalismos, nem talvez em trabalho sério. Eu sou pelo Sr. Embaixador, e, nesta questão, aprovo Joacine, contra o parecer do Livre, que não aceita os capitalismos, quando estes são de orientação à direita, pelo menos. Os comentadores que condenam o Embaixador e a Joacine são desses, naturalmente.
OPINIÃO: Carta aberta a Joacine Katar Moreira
Estou em posição de lhe dar um conselho valioso, ainda que não solicitado: de cada vez que houver uma condenação a Israel, não hesite. Always choose to be on the safe side, ou seja, condene – sempre – Israel.
RAPHAEL GAMZOU
PÚBLICO, 29 de Novembro de 2019
Cara Joacine,
Ciente de que a última coisa de que precisa neste momento é de demonstrações públicas de empatia por parte do Embaixador de Israel, hesitei em escrever-lhe mas, no final, não pude evitá-lo. Aqui está, sozinha, perante o coro de críticas dos seus correligionários e de outras personalidades de uma esquerda solidária, igualitária e anti-colonial – baluartes insuspeitos de valores como a tolerância e a liberdade de expressão. Já devia saber, Joacine, que estes valores não são aplicáveis quando se trata de Israel. E foi, destarte, que decidi escrever-lhe. Por esta altura já estou em posição de lhe dar um conselho valioso, ainda que não solicitado: de cada vez que houver uma condenação a Israel, não hesite. Não repita o tremendo erro que levou os seus colegas de partido a atacá-la tanto à porta fechada como no espaço público. Always choose to be on the safe side, ou seja, condene – sempre – Israel.
Apressei-me a dar-lhe este conselho, cara Joacine, porque prevejo que o ritual automático de condenação a Israel se vá repetir, todas as sextas-feiras, na Assembleia da República. E porque não lhe convém aborrecer os seus colegas do Livre. É-lhe infinitamente mais conveniente pertencer à maioria. No geral, é mais confortável deter certezas insofismáveis, não contextualizar, não pensar, não hesitar, do que ir, de quando em vez, contra-corrente. Sentiu-o na pele, Joacine.
Quando se trata de Israel, essa maioria está garantida e é facilmente conquistada pelos partidos da esquerda radical, infelizmente coadjuvados pelo partido no poder (excepção feita a alguns deputados intelectualmente independentes), que usa Israel como moeda de troca para alimentar uma maioria confortável nos acordos que dela precisam.
A Joacine é nova nos corredores da Assembleia da República e por isso devo informá-la de que, em 2018, os votos de condenação a Israel somaram 15, muitos mais do que os três dedicados a Maduro, o grande progressista que levou o seu povo à fome e à miséria (nomeadamente largos milhares com raízes em Portugal). Acredite que, no que respeita ao trabalho parlamentar, é sempre mais fácil apontar o dedo a Israel.
No comunicado de imprensa que emitiu no dia 23, depois do ‘incidente’, escreveu – e bem – que “os votos de condenação são importantes pela sua carga simbólica. No entanto, traduzem-se em posicionamentos retóricos em detrimento de impacto real na vida dos palestinianos”. Isto é tão verdade. Mas quem disse que quem teve a iniciativa do voto de condenação dá importância à qualidade de vida dos palestinianos? Nem os media se mostram particularmente interessados no ritual condenatório a Israel no Parlamento, a menos que, como é bom de ver, daí surja um “escândalo”. E eu confesso, aqui só entre nós, que de tão useiros e vezeiros, já nem os transmito a Jerusalém. Neste mesmo comunicado de imprensa também escreveu que “(...) o texto do PCP era omisso em relação à questão da negociação para a paz (...)” quando o seu partido sublinha a necessidade de diálogo entre as partes envolvidas, elemento esse que encontrou em falta, o que conduziu (não só mas também) a decidir abster-se.
Só que tudo isto evoca factos, certamente incómodos, a que temos de voltar: quando Barack Obama impôs a Netanyahu o congelamento de toda e qualquer construção nos colonatos, e durante um ano nem uma varanda se pôs numa casa, mesmo então Mahmoud Abbas recusou negociar com Israel. E até antes disso, quando não havia sequer colonatos na Judeia e na Samaria – Cisjordânia –, os palestinianos reconheceram o direito do povo judeu à autodeterminação? A mesma que querem ver reconhecida? E hoje? E agora? Reconhecem-nos esse direito? O direito à autodeterminação é um valor aos olhos da esquerda solidária, igualitária e anti-colonial, não é? Ou depende de quem por ele clama? (A propósito, nunca vi a mesma obsessão dessa esquerda em relação ao direito à autodeterminação do povo curdo).
Então porquê, Joacine, levantar questões e baralhar com factos as posições dogmáticas dos seus correligionários? Já agora, menciona no seu já referido comunicado os “bloqueios económicossofridos pelo povo palestiniano na Faixa de Gaza. Se não fosse sensível à sua presente situação no Livre, convidá-la-ia a ir a Israel, ao terminal de Kerem Shalom, para assistir à passagem diária de 500 a 600 camiões israelitas carregados de alimentos, medicamentos e outro bens destinados à população de Gaza. Levá-la-ia também ao terminal de Erez, igualmente na fronteira com Gaza, para que pudesse testemunhar as centenas de palestinianos que o atravessam diariamente para receberem tratamento nos hospitais israelitas.
E já ouviu falar de Yahya Sinwar? É o actual chefe militar da organização terrorista Hamas e sofria de um tumor cerebral. Foi curado num hospital em Israel enquanto esteve preso. Irónico, não é?
Mas também, quem disse que os factos são sempre o mais importante nas histórias? Ainda para mais quando falamos de Israel, o país que consegue, pasme-se, ser simultaneamente a única democracia na região e, na opinião de certa esquerda, a origem do mal no mundo.
dias, depois de uma chuva de 560 mísseis em 48 horas com a marca da Jihad Islâmica (e o alto patrocínio do Irão) contra os nossos cidadãos, precisamente proveniente de Gaza, até o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal tweetou que: “Indiscriminate firing of rockets against civilian population is totally unacceptable and must stop immediately.”
É por tudo isto, cara Joacine, que nada seria mais natural e lógico do que, no Parlamento português, ver aprovado um voto de condenação pela agressão israelita na Faixa de Gaza. Não deixe, reitero, que os factos (v)os confundam. Take care!
PS: Aproveito a oportunidade para louvar a sua iniciativa relativa a Aristides de Sousa Mendes. Nada mais Justo.
COMENTÁRIOS
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Conde do Cruzeiro, 01.12.2019: Carta aberta de um sionista, eu não respeito nem perco tempo com esta gente.
Boris Vian, 01.12.2019: Respeitar as opções e opiniões dos outros, qualquer que seja o aspecto, é uma das maiores virtudes que se pode ter...
David Costa, 30.11.2019: Quem diz algo deste tipo Aqui está, sozinha, perante o coro de críticas dos seus correligionários e de outras personalidades de uma esquerda solidária, igualitária e anti-colonial – baluartes insuspeitos de valores como a tolerância e a liberdade de expressão. Só pode ter desertado do país das maravilhas anexar palavras como liberdade tolerância a esquerda é demagogo e não tem qualquer fundamento histórico.
Ceratioidei, 29.11.2019: O Senhor Embaixador não poderia ter outro discurso, faz honra ao cargo que desempenha. E quanto a J. Moreira, conseguiu apoio internacional de peso. O caminho faz-se caminhando. Há quem diga que quem anda sem saber para onde quer ir, arrisca-se a chegar a onde nunca quis ir. Mas o poeta é um fingidor, por isso Lou Reed cantava „She said, hey babe, take a walk on the wild side“, em português, „ela disse oh bebé, vai dar uma volta pelo lado selvagem“, mal traduzido mas não estou de serviço. E há um ditado português que diz “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és“. E assim se descobrem carecas.
Raquel Azulay, 29.11.2019: Mais um salto triplo de semiótica: "E quanto a J Moreira conseguiu apoio internacional de peso....E assim se descobrem carecas..." Você leu o texto do Embaixador Raphael Gamzou? Compreendeu o texto? Acha que é uma afirmação de apoio??? O homem claramente julgava que, finalmente, uma política europeia tinha tido coragem de desafiar o consenso hipócrita em torno desta questão. Mas não. A Sra, amedrontada pela tirania da maioria, deu o dito por não dito....
Ceratioidei, 30.11.2019: Li, Raquel, li. Nem discuto sobre isso porque já escrevi sem críticas ou ironias despropositadas, que ele faz honra ao cargo que desempenha. Na minha opinião é, sim, clara e inequivocamente uma afirmação de apoio. Precisamente pela última frase que a Raquel escreve. Repito: assim se descobrem carecas e não retiro nem uma vírgula ao meu comentário. A minha crítica é a Moreira e não ao Embaixador, certo? Não acredito em astrologia. Já ciências de comunicação são muito mais do que um mero hobby.
Raquel Azulay, 30.11.2019: lamento mas terei de pedir a um pro das ciências da comunicação e a uma psicanalista que me ajudem a interpretar o vortex semiótico desta carta. é "um enigma envolto num mistério."
baeticus, 29.11.2019: Que tremenda bofetada numa esquerda - supostamente bem pensante - que despreza a liberdade e pactua com assassinos e tiranos de toda a espécie! Bem haja, sr. Raphael Gamzou. Por mim - e há outros portugueses assim, quase de certeza a maioria -, escolherei sempre, não "the safe side", mas "the side of the righteous ": estarei sempre do lado do Povo e do Estado de Israel.
João Coelho, 29.11.2019: É hipócrita todo o comportamento da comunidade internacional! Os palestinianos não têm um estado, à semelhança de Israel, simplesmente porque a comunidade internacional não quer!
Raquel Azulay, 30.11.2019: falso.
Sancho Silva,  29.11.2019: "Nós nunca confundimos o "colonialismo português" com o "povo português". A nossa luta é contra o colonialismo português." Amílcar Cabral
Boavida Boavida,  29.11.2019: Quem é este Sr para afirmar tal coisa? A única lógica é numa base de "Faz o que os outros querem, senão, não te dás bem" ou "na terra do bom viver faz como vês fazer"? Nunca estivemos em tal situação pois as cabeças a cortar foram cortadas na conquista de Portugal. Hipocrisia porquê? Roubaram tudo aquele povo e só querem o que é deles de volta. São ricos e poderosos e é mesmo por isso que surge este tipo de discussão.
finas, 29.11.2019: Sim, conquistaram um pedaço de deserto que não era deles, como nós conquistámos do douro até ao Algarve que também não era nosso. E agora? Os Israelitas vão suicidar-se todos para que os palestinianos possam voltar a ter o que foi deles?! Mas isto lá é solução? Os Israelitas estão lá como nós estamos aqui e os palestinianos têm mais é que aceitar isso. E quanto mais tempo demorarem mais território os Israelitas vão tomar, sob pretexto de que é para se protegerem. Os palestinianos não aceitam Israel também por conveniência. Acabar com o problema significa acabar com os subsídios que o mundo lhes entrega todos os anos e para um povo que se habituou a viver à custa de doações e que essencialmente não produz nada, ficar sem eles é complicado. Os Israelitas não o fazem também por conveniência. Enquanto esta situação se mantiver continuam a ter pretexto para se abotoarem de mais algum território. Os palestinianos podiam acabar com isto já, aceitando a existência de Israel e a sua conquista de território e acabava-se o problema. Aprendiam a trabalhar e a deixar de viver subsidiados. Eventualmente até podiam vir a pedir compensação pelo território, tipo em camelos ou mulheres ou lá a moeda que eles usam. Isto da Jocy e do livre traz mais uma ironia engraçada: Dizem-se feministas, pró democracia e seculares no entanto apoiam a “causa” de um povo que maltrata e humilha mulheres, abomina democracia e defende uma religião que proclama a morte a quem for secular. Nice!
mário borges, 29.11.2019: Eu não sei o que é mais ofensivo. Se o facto de Israel ter um feudo permanente aqui no Público como se isto fosse um pasquim semita propagando a narrativa belicista israelita e intrometendo-se na política interna do parlamento português ou o tom jocoso e provocatório com que ele vitimiza o Estado sionista, opressor e ocupante como se o holocausto silencioso do povo palestino fosse uma questão de amendoins.
finas, 29.11.2019: Se há coisa que eu ainda não percebi é porque é que os Israelitas não constroem um muro à volta dos territórios que conquistaram e simplesmente ignoram os que estão para lá do muro. Porque é que insistem em misturar-se com os palestinianos. Israel fica com um pedaço de terra e segura essas fronteiras e esquece o que está à volta, presumivelmente os palestinianos. Estes fazem o mesmo, ficam com o resto e fazem a vidinha deles sem quererem ir para Israel. 
antoniofialho1, 29.11.2019: Porque precisam uns dos outros, porque o governo de israel e da palestina, e organizações terroristas apoiadas de fora, não são o povo, onde as cumplicidades são muitas.
Armando Mendonça.203695, 29.11.2019: muito bom!


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