Uma opinião simpática, defendendo
Joacine. Quando eu soube do motivo de a zanga do Livre com Joacine ser
proveniente de razões ideológicas pró-israelitas da deputada, também senti por
ela a mesma simpatia e compreensão que o Sr. Embaixador revela na sua Carta
Aberta. Alguns comentadores dos que apoiam o Sr. Embaixador, explicam porquê,
como, aliás, este fez na sua carta, defensora de um Estado que fora criado pela
“generosidade” dos ingleses, os quais tinham a posse daquelas zonas por lá, eram
colónias suas, a Palestina, Gaza e outras que tais e entenderam que o povo
israelita era suficientemente competente para ter o seu próprio espaço e deixar
o desígnio de povo errante – e bem sofredor, afinal. E deram-lhes a tal
colónia, que formou o Estado de Israel, desde sempre dirigido, ao que sei, de
forma inteligente, como é seu apanágio, a ministra Golda Meir sendo uma das
cabeças valentes que ajudaram a erguê-lo. Eles, os Israelitas, sabem como
enriquecer, criando e trabalhando, inteligentes que são, como o revelaram
sempre, até por cá, o que concitou as invejas de uma Inquisição que os condenou
ao desterro e à fogueira, para lhes ficar com os bens, águas passadas,
desinteressados dos grandes cérebros que lhes fugiram, empobrecendo o nosso
país ainda mais, dos verdadeiros valores de sabedoria. Mas também o Hitler não
gostou deles por motivos ainda mais salientes, de uma animosidade fundada em
invejas, abafadas sob designações mais civilizadas de anti-sionismo e outros
ismos poderosos que para aqui não são chamados e tanto sofrimento lhes
causaram. Todo este arrazoado é conhecido, e a própria Joacine, contrariando os
do seu partido, demonstrou simpatia por esses israelitas, ganhando, com isso a
zanga do partido, que não vai em capitalismos, nem talvez em trabalho sério. Eu
sou pelo Sr. Embaixador, e, nesta questão, aprovo Joacine, contra o parecer do
Livre, que não aceita os capitalismos, quando estes são de orientação à
direita, pelo menos. Os comentadores que condenam o Embaixador e a Joacine são
desses, naturalmente.
OPINIÃO: Carta aberta a Joacine Katar Moreira
Estou em posição de lhe dar um conselho
valioso, ainda que não solicitado: de cada vez que houver uma condenação a
Israel, não hesite. Always choose to be on the safe side, ou seja, condene
– sempre – Israel.
RAPHAEL GAMZOU
PÚBLICO, 29 de Novembro de 2019
Cara Joacine,
Ciente
de que a última coisa de que precisa neste momento é de demonstrações públicas
de empatia por parte do Embaixador de Israel, hesitei em escrever-lhe mas, no
final, não pude evitá-lo. Aqui está, sozinha, perante o coro de críticas dos
seus correligionários e de outras personalidades de uma esquerda solidária,
igualitária e anti-colonial – baluartes insuspeitos de valores como a tolerância
e a liberdade de expressão. Já devia saber, Joacine, que estes valores não são
aplicáveis quando se trata de Israel. E foi, destarte, que decidi escrever-lhe.
Por esta altura já estou em posição de lhe dar um conselho valioso, ainda que
não solicitado: de cada vez que houver uma condenação a Israel, não hesite. Não
repita o tremendo erro que levou os seus colegas de partido a atacá-la tanto à
porta fechada como no espaço público. Always choose to be on the safe
side, ou seja, condene –
sempre – Israel.
Apressei-me
a dar-lhe este conselho, cara Joacine, porque prevejo que o ritual automático de condenação a Israel se vá
repetir, todas as sextas-feiras, na Assembleia da República. E porque não lhe convém aborrecer os seus colegas
do Livre. É-lhe infinitamente mais conveniente pertencer à maioria. No
geral, é mais confortável deter certezas insofismáveis, não contextualizar, não
pensar, não hesitar, do que ir, de quando em vez, contra-corrente. Sentiu-o na
pele, Joacine.
Quando
se trata de Israel, essa maioria está garantida e é facilmente conquistada
pelos partidos da esquerda radical, infelizmente coadjuvados pelo partido no
poder (excepção feita a alguns deputados intelectualmente independentes), que
usa Israel como moeda de troca para alimentar uma maioria confortável nos
acordos que dela precisam.
A
Joacine é nova nos corredores da Assembleia da República e
por isso devo informá-la de que, em 2018, os votos de condenação a Israel
somaram 15, muitos mais do que os três dedicados a Maduro, o grande
progressista que levou o seu povo à fome e à miséria (nomeadamente largos
milhares com raízes em Portugal). Acredite que, no que respeita ao trabalho
parlamentar, é sempre mais fácil apontar o dedo a Israel.
No comunicado
de imprensa que emitiu no dia 23, depois do ‘incidente’, escreveu
– e bem – que “os votos de condenação são importantes pela sua carga simbólica.
No entanto, traduzem-se em posicionamentos retóricos em detrimento de impacto
real na vida dos palestinianos”. Isto é tão verdade. Mas quem disse que
quem teve a iniciativa do voto de condenação dá importância à qualidade de vida
dos palestinianos? Nem os media se mostram particularmente
interessados no ritual condenatório a Israel no Parlamento, a menos que, como é
bom de ver, daí surja um “escândalo”. E eu confesso, aqui só entre nós, que de
tão useiros e vezeiros, já nem os transmito a Jerusalém. Neste
mesmo comunicado de imprensa também escreveu que “(...) o texto do PCP era
omisso em relação à questão da negociação para a paz (...)” quando o seu
partido sublinha a necessidade de diálogo entre as partes envolvidas, elemento
esse que encontrou em falta, o que conduziu (não só mas também) a decidir
abster-se.
Só
que tudo isto evoca factos, certamente incómodos, a que temos de voltar: quando
Barack Obama impôs a Netanyahu o congelamento de toda e qualquer construção nos
colonatos, e durante um ano nem uma varanda se pôs numa casa, mesmo então
Mahmoud Abbas recusou negociar com Israel. E até antes disso, quando não havia
sequer colonatos na Judeia e na Samaria – Cisjordânia –, os palestinianos
reconheceram o direito do povo judeu à autodeterminação? A mesma que querem ver
reconhecida? E hoje? E agora? Reconhecem-nos esse direito? O direito à
autodeterminação é um valor aos olhos da esquerda solidária, igualitária e
anti-colonial, não é? Ou depende de quem por ele clama? (A propósito, nunca vi a
mesma obsessão dessa esquerda em relação ao direito à autodeterminação do povo
curdo).
Então
porquê, Joacine, levantar questões e baralhar com factos as posições dogmáticas
dos seus correligionários? Já agora, menciona no seu já referido comunicado os
“bloqueios económicos” sofridos pelo povo palestiniano na Faixa de
Gaza. Se não fosse sensível à sua presente situação no
Livre, convidá-la-ia a ir a Israel, ao terminal de Kerem Shalom, para assistir
à passagem diária de 500 a 600 camiões israelitas carregados de alimentos,
medicamentos e outro bens destinados à população de Gaza. Levá-la-ia também ao
terminal de Erez, igualmente na fronteira com Gaza, para que pudesse
testemunhar as centenas de palestinianos que o atravessam diariamente para
receberem tratamento nos hospitais israelitas.
E já ouviu falar de Yahya Sinwar? É o
actual chefe militar da organização terrorista Hamas e sofria de um tumor
cerebral. Foi curado num hospital em Israel enquanto esteve preso. Irónico, não
é?
Mas também, quem disse que os factos
são sempre o mais importante nas histórias? Ainda para mais quando falamos de
Israel, o país que consegue, pasme-se, ser simultaneamente a única democracia na
região e, na opinião de certa esquerda, a origem do mal no mundo.
Há
dias, depois de uma chuva de 560 mísseis em 48 horas com a
marca da Jihad Islâmica (e o alto patrocínio do Irão) contra os
nossos cidadãos, precisamente proveniente de Gaza, até o Ministério dos
Negócios Estrangeiros de Portugal tweetou que: “Indiscriminate firing
of rockets against civilian population is totally unacceptable and must stop
immediately.”
É por tudo isto, cara Joacine, que nada
seria mais natural e lógico do que, no Parlamento português, ver aprovado um
voto de condenação pela agressão israelita na Faixa de Gaza. Não deixe,
reitero, que os factos (v)os confundam. Take care!
PS:
Aproveito a oportunidade para louvar a sua iniciativa relativa a Aristides de Sousa Mendes.
Nada mais Justo.
COMENTÁRIOS
Conde do Cruzeiro, 01.12.2019: Carta aberta de um sionista, eu não
respeito nem perco tempo com esta gente.
Boris Vian, 01.12.2019: Respeitar as opções e opiniões dos outros,
qualquer que seja o aspecto, é uma das maiores virtudes que se pode ter...
David Costa, 30.11.2019: Quem diz algo deste tipo Aqui está,
sozinha, perante o coro de críticas dos seus correligionários e de outras
personalidades de uma esquerda solidária, igualitária e anti-colonial –
baluartes insuspeitos de valores como a tolerância e a liberdade de expressão.
Só pode ter desertado do país das maravilhas anexar palavras como liberdade
tolerância a esquerda é demagogo e não tem qualquer fundamento histórico.
Ceratioidei, 29.11.2019:
O Senhor Embaixador não poderia ter outro discurso, faz honra ao cargo que
desempenha. E quanto a J. Moreira, conseguiu apoio internacional de peso. O
caminho faz-se caminhando. Há quem diga que quem anda sem saber para onde quer
ir, arrisca-se a chegar a onde nunca quis ir. Mas o poeta é um fingidor, por
isso Lou Reed cantava „She said, hey babe, take a walk on the wild side“, em
português, „ela disse oh bebé, vai dar uma volta pelo lado selvagem“, mal
traduzido mas não estou de serviço. E há um ditado português que diz “diz-me
com quem andas, dir-te-ei quem és“. E assim se descobrem carecas.
Raquel Azulay, 29.11.2019: Mais um salto triplo de semiótica: "E
quanto a J Moreira conseguiu apoio internacional de peso....E assim se
descobrem carecas..." Você leu o texto do Embaixador Raphael Gamzou?
Compreendeu o texto? Acha que é uma afirmação de apoio??? O homem claramente
julgava que, finalmente, uma política europeia tinha tido coragem de desafiar o
consenso hipócrita em torno desta questão. Mas não. A Sra, amedrontada pela
tirania da maioria, deu o dito por não dito....
Ceratioidei, 30.11.2019: Li, Raquel, li. Nem discuto sobre isso
porque já escrevi sem críticas ou ironias despropositadas, que ele faz honra ao
cargo que desempenha. Na minha opinião é, sim, clara e inequivocamente uma
afirmação de apoio. Precisamente pela última frase que a Raquel escreve.
Repito: assim se descobrem carecas e não retiro nem uma vírgula ao meu
comentário. A minha crítica é a Moreira e não ao Embaixador, certo? Não
acredito em astrologia. Já ciências de comunicação são muito mais do que um
mero hobby.
Raquel Azulay, 30.11.2019: lamento mas
terei de pedir a um pro das ciências da comunicação e a uma psicanalista que me
ajudem a interpretar o vortex semiótico desta carta. é "um enigma envolto
num mistério."
baeticus, 29.11.2019: Que tremenda bofetada numa esquerda - supostamente
bem pensante - que despreza a liberdade e pactua com assassinos e tiranos de
toda a espécie! Bem haja, sr. Raphael Gamzou. Por mim - e há outros portugueses
assim, quase de certeza a maioria -, escolherei sempre, não "the safe
side", mas "the side of the righteous ": estarei sempre do lado
do Povo e do Estado de Israel.
João Coelho, 29.11.2019: É hipócrita todo o comportamento da
comunidade internacional! Os palestinianos não têm um estado, à semelhança de
Israel, simplesmente porque a comunidade internacional não quer!
Sancho Silva, 29.11.2019: "Nós nunca confundimos o "colonialismo
português" com o "povo português". A nossa luta é contra o
colonialismo português." Amílcar Cabral
Boavida Boavida, 29.11.2019: Quem é este Sr para afirmar tal coisa? A única
lógica é numa base de "Faz o que os outros querem, senão, não te dás
bem" ou "na terra do bom viver faz como vês fazer"? Nunca
estivemos em tal situação pois as cabeças a cortar foram cortadas na conquista
de Portugal. Hipocrisia porquê? Roubaram tudo aquele povo e só querem o que é
deles de volta. São ricos e poderosos e é mesmo por isso que surge este tipo de
discussão.
finas, 29.11.2019: Sim,
conquistaram um pedaço de deserto que não era deles, como nós conquistámos do
douro até ao Algarve que também não era nosso. E agora? Os Israelitas vão
suicidar-se todos para que os palestinianos possam voltar a ter o que foi
deles?! Mas isto lá é solução? Os Israelitas estão lá como nós estamos aqui e
os palestinianos têm mais é que aceitar isso. E quanto mais tempo demorarem
mais território os Israelitas vão tomar, sob pretexto de que é para se
protegerem. Os palestinianos não aceitam Israel também por conveniência. Acabar
com o problema significa acabar com os subsídios que o mundo lhes entrega todos
os anos e para um povo que se habituou a viver à custa de doações e que
essencialmente não produz nada, ficar sem eles é complicado. Os Israelitas não
o fazem também por conveniência. Enquanto esta situação se mantiver continuam a
ter pretexto para se abotoarem de mais algum território. Os palestinianos
podiam acabar com isto já, aceitando a existência de Israel e a sua conquista
de território e acabava-se o problema. Aprendiam a trabalhar e a deixar de
viver subsidiados. Eventualmente até podiam vir a pedir compensação pelo
território, tipo em camelos ou mulheres ou lá a moeda que eles usam. Isto da
Jocy e do livre traz mais uma ironia engraçada: Dizem-se feministas, pró
democracia e seculares no entanto apoiam a “causa” de um povo que maltrata e
humilha mulheres, abomina democracia e defende uma religião que proclama a morte
a quem for secular. Nice!
mário borges, 29.11.2019: Eu não sei o que é mais ofensivo. Se o
facto de Israel ter um feudo permanente aqui no Público como se isto fosse um
pasquim semita propagando a narrativa belicista israelita e intrometendo-se na
política interna do parlamento português ou o tom jocoso e provocatório com que
ele vitimiza o Estado sionista, opressor e ocupante como se o holocausto
silencioso do povo palestino fosse uma questão de amendoins.
finas,
29.11.2019: Se há coisa que eu ainda não percebi é porque é que os Israelitas
não constroem um muro à volta dos territórios que conquistaram e simplesmente
ignoram os que estão para lá do muro. Porque é que insistem em misturar-se com
os palestinianos. Israel fica com um pedaço de terra e segura essas fronteiras
e esquece o que está à volta, presumivelmente os palestinianos. Estes fazem o
mesmo, ficam com o resto e fazem a vidinha deles sem quererem ir para Israel.
antoniofialho1, 29.11.2019: Porque precisam uns dos outros, porque o
governo de israel e da palestina, e organizações terroristas apoiadas de fora,
não são o povo, onde as cumplicidades são muitas.
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