Os comentários ao Editorial de Manuel Carvalho são suficientemente explícitos, num país geralmente
marcado pela impostura, a arrogância, a apatia e a
vigarice.
EDITORIAL
O país continua à venda
Quem julgava que o fim das restrições da troika, o crescimento económico
dos últimos anos, o regresso da confiança ou o alívio da dívida das empresas
iriam permitir uma nova vaga de ambição ao capitalismo português desengane-se:
o país continua à venda.
PÚBLICO, 28 de Dezembro de
2019
A venda ao exterior de activos valiosos da economia portuguesa continua
animada. Só este mês a Altice desfez-se de metade da sua rede de fibra
óptica, vendida à Morgan Stanley Infraestructures Partners, o grupo Vasco de
Mello e o seu parceiro Arcus vão alienar 80% dos direitos de voto na Brisa, a
EDP fechou negócio com um consórcio de empresas francesas liderado pela Engie
que lhes permitirá controlar seis barragens e, outra vez a Altice, transferiu
para um grupo do Bahrein 85% da gestora dos fundos de pensões da TLP, Marconi e
TDP. Quem julgava que o
fim das restrições da troika, o crescimento económico dos últimos anos, o
regresso da confiança ou o alívio da dívida das empresas iriam permitir uma
nova vaga de ambição ao capitalismo português desengane-se: o país continua à
venda.
Haverá quem, munindo-se da cartilha dos mercados abertos e da livre
circulação de capitais, considere esta situação normal. Poder-se-á dizer que, entre o controlo francês ou americano da fibra óptica,
ou entre o controlo chinês ou francês das barragens não há diferença de maior. Não é descaso afirmar-se também que as teorias dos
centros de decisão que, em tempos, faziam parte do léxico corrente do
empresariado serviam apenas para proteger a gula predatória ou a ineficiência
de uma certa estirpe de negociantes da corte. Mas depois da terrível
destruição de riqueza nacional na era da troika e dos exemplos de incúria e dos
abusos que destruíram a PT, que expurgaram
a EDP de capital nacional ou entregaram a banca nacional ao capital espanhol ou
angolano seria de esperar uma leve pausa para se respirar. Não é isso que acontece.
Por muito que todos os Estados europeus façam a apologia da liberdade
de negócios, na penumbra todos se esforçam por proteger os seus activos mais
estratégicos e valiosos. O Estado português deve estar atento a essa sangria de
recursos e olhar para a Espanha ou para a França como exemplo. Não se trata de
impor barreiras proteccionistas em favor de tecido económico já de si demasiado
submisso ao patrocínio do Estado. Nem de criar novas clientelas de protegidos
que um dia darão origem a novos donos disto tudo.
Trata-se, sim, de exigir contrapartidas duras. Que a exploração de recursos
nacionais pague impostos nacionais. Que os quadros e demais trabalhadores que
gerem os negócios se instalem em Portugal. Que haja abertura para que
empresários portugueses tenham acesso a esses negócios. Medidas que afinal têm
uma única finalidade: evitar que Portugal se torne ainda mais uma banal plataforma
de negócios gerida e mantida a partir do exterior.
TÓPICOS
COMENTÁRIOS
Jose Vic: Compreendo a angústia deste artigo de
opinião. Mas estas análises estão a descoberto há imensos anos. O rei vai nu há
tanto tempo. O país desde que iniciou a privatização dos chamados “comandos da
economia”, sabia que este era o destino/resultado. Os tais centros de decisão
afinal não passaram de uma vontade teórica. O que mais aflige no nosso país,
é a falta de visão de longo prazo para o bem comum dos portugueses. O centrão
alimentou-se da falta de exigência e conhecimento dos portugueses.
Nelson Sousa: "O que mais aflige no nosso país, é
a falta de visão de longo prazo para o bem comum dos portugueses"
Completamente de acordo. Andamos à deriva. Navegação à vista.
Eleitor: O que o país precisava era de vender
alguns jornalistas, tal e qual... Então este senhor defende o capitalismo, ou
não?. Pura contradição existencial, pois ele que justifique o artigo que é
aliás, sem qualidade. O que quer este senhor, afinal: Capitalismo ou comunismo,
ou nada?
VJS: O artigo é pura conversa da treta. Teria alguma veracidade
se quem vende fosse o capitalismo português, mas não é o caso. Quem vende já é
o capitalismo estrangeiro.
agany: Mas o capitalismo estrangeiro adquiriu, a preços de
banana, ao capitalismo português. Cobrava-se 40-50% por cada transação e
acabava-se já com esta pouca vergonha!
GMA: Em boa verdade, este pedaço rectangular (em má hora)
desanexado de Espanha apenas formalmente é País independente. De resto, sempre
disponíveis para "negociar" a venda a qualquer preço. No caso das
barragens, o Sr. Mexia, vulgar funcionário do CC do PC Chinês e afogado em
endividamento, tem que garantir as rendas aos camaradas. E isso sobrepõe-se a
qualquer a qualquer outro tipo de racionalidade. Imagina-se que o grande gestor
de negócios sem risco, rentista portanto, já ande a pesquisar os melhores
artistas de alteração facial, em particular de "pôr os olhos em bico"
para não destoar dos camaradas quando for designado pelo Camarada Supremo, o
sereníssimo Sr. Ji, para o Politburo. O que, felizmente não tardará; mais o Dr.
Catroga, que até já tem estátua lá para os lados de Abrantes.
joane hou: Camaradas vermelhinhos, vindos do
Cavaquismo; antes estes neoliberais eram como paladinos hoje são vassalos do
comunismo chinês? O caro comentador merece salvés pela sua coerência, os
comunistas são sempre maus, mesmo que vos atirem milhares de milhões de dólares
para a gamela certo? Convém não falar da Morgan Stanley, Goldman Sachs (onde
estão os amigos pessoais do Mexia), Lone Star Funds de Dallas ou a Black
Rock...
GMA: Qual a "gamela" a que a camarada hou, por cognome a
Coerente", se refere? Aquela onde pingam os milhões €€€ das rendas da EDP,
da REN, da Fidelidade,...? Os "comunistas bonzinhos" atiraram 2,7MM
pelo domínio da EDP; apenas seis barragens rendem 2,2MM. O Dr. Coelho e seus
ajudantes foram mesmo bons amigos. Uns camaradas fixes!...
rafael.guerra:
Rendas da EDP que
beneficiam acionistas majoritariamente estrangeiros e um punhado de directores,
mas que salgam as facturas dos consumidores portugueses... A EDP renovou-se e a
sua energia é o Excesso de Défice de Patriotismo.
Jose Bernardes:
O artigo é lúcido, e coloca "o dedo na
ferida". Infelizmente a única coisa que tem sido garantida na alienação de
empresas é a manutenção/institucionalização da "cunha", do compadrio
e do nepotismo como canal principal de recrutamento para todos os níveis das
empresas, desde a base até à administração de topo. Desde as empresas da área
da energia até às telecomunicações será interessante fazer essa análise (por
vezes basta ler os apelidos...) e constatar que as "elites" se vão
regenerando, protegendo, reforçando e contratando.
rafael.guerra: Os portugueses vendem o país a americanos
e a chineses e a culpa é da UE? Uhm... é preciso um PhD para nos explicar isso
desde o outro lado do Atlântico, sempre sem fazer nada de concreto pela sua
Terrinha.
Pedro Carvalho: Não tarda já não resta
mais nada para vender, senão o nome Portugal. Como é possível deixar chegar um
País ao ponto de não ter dinheiro nem para mandar cantar um cego, País esse que
foi um dos maiores colonizadores mundiais. Noutros Países, se tivessem tido o
gang pós 25 Abril que Portugal teve, que num espaço de 40 anos, conseguiram
rebentar com o País todo e não aproveitaram a oportunidade de apanhar as
carruagens da Europa Central, seriam julgados e condenados por toda a
criminalidade que cometeram. Sim, eles foram uns autênticos criminosos ao se
apropriarem dos impostos do contribuinte para orientarem suas vidinhas e a de
suas familias e amigos.
Conde do Cruzeiro, apenas assinante.:
Depois de venderem as empresas públicas em
saldo, apoiados pelos defensores do mercado global privado, agora os mesmos
desequilibrados contestam a legitimidade daqueles que defendiam de fazer
negócios entre si. Orientem-se, se quiserem ser levados a sério.
JonasAlmeida: bem observado Conde! Estas elites
políticas em que a mão esquerda diz não saber o que faz a direita são de uma
hipocrisia estratosférica - todos sabemos que alimentam o mesmo bolso.
Um editorial para ler e reler e manter na biblioteca. A
poucos dias do final do ano temos um editorial à altura do que foi a essência
da década que encerra. O saque do contrato social pela conversão de obrigações
contributivas em lucros em paraísos fiscais é hoje desabridamente a essência do
modelo europeu - o da cleptocracia colonial.
Sandra: Jonas, a talhe de foice, deixo-lhe uma
sugestão. Ainda não li. Estou a ver se arranjo tempo. No DN de hoje, uma
entrevista com Yuval Noah Harari: "Como será Portugal daqui a 20 anos? Um
país independente ou uma colónia de dados?". Comprei-o em papel, pelo que
nem sei se dá para ler neste formato.
rafael.guerra: Está a falar do modelo Anglo-saxão cuja
financeirização, bancos e moeda reinam no planeta. E do qual todos os demais,
sem independência militar, são meros lacaios de diferentes categorias. O modelo
social europeu é o que melhor resiste.
PRO: Sandra esse artigo apenas se refere ao
impacto da tecnologia com a o facto de os governos poderem ter acesso a todos
os dados dos cidadãos como já acontece com a China! Não fala de nenhuma relação
com a UE ou a nível político.
joane hou: O problema é vermos abutres por aí como a
Altice que não tem músculo financeiro para aguentar o barco parece, as vendas
servem para cobrir e lucrar com o que acabaram de comprar, demasiado para
manter... De resto caro Manuel Carvalho, quem anda no meio dos negócios bem vê,
tudo funciona mais ou menos bem com clientes e investidores estrangeiros, já
com os tugas enfim, os capitalistas tugas são filhos dedicados de um passado
patriarcal, socialmente retrógado e economicamente familiar nos piores sentidos
(pois existem empresas familiares em Portugal que operam muito bem), ou seja,
acham que têm feudos e vassalos e nem reparam que muitas vezes estão a lidar
com serviços e não com empregados, uma diferença de relevo não? LOL...
Sandra: Exacto, Joane. O Pacheco
Pereira, na sua crónica de hoje, dá verdadeiros exemplos do funcionamento
democrático, nesta nossa "Nação Valente".
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