sábado, 28 de dezembro de 2019

Não, não é de estranhar


Os comentários ao Editorial de Manuel Carvalho são suficientemente explícitos, num país geralmente marcado pela impostura, a arrogância, a apatia  e a vigarice.
EDITORIAL
O país continua à venda
Quem julgava que o fim das restrições da troika, o crescimento económico dos últimos anos, o regresso da confiança ou o alívio da dívida das empresas iriam permitir uma nova vaga de ambição ao capitalismo português desengane-se: o país continua à venda.
PÚBLICO, 28 de Dezembro de 2019
A venda ao exterior de activos valiosos da economia portuguesa continua animada. Só este mês a Altice desfez-se de metade da sua rede de fibra óptica, vendida à Morgan Stanley Infraestructures Partners, o grupo Vasco de Mello e o seu parceiro Arcus vão alienar 80% dos direitos de voto na Brisa, a EDP fechou negócio com um consórcio de empresas francesas liderado pela Engie que lhes permitirá controlar seis barragens e, outra vez a Altice, transferiu para um grupo do Bahrein 85% da gestora dos fundos de pensões da TLP, Marconi e TDP. Quem julgava que o fim das restrições da troika, o crescimento económico dos últimos anos, o regresso da confiança ou o alívio da dívida das empresas iriam permitir uma nova vaga de ambição ao capitalismo português desengane-se: o país continua à venda.
Haverá quem, munindo-se da cartilha dos mercados abertos e da livre circulação de capitais, considere esta situação normal. Poder-se-á dizer que, entre o controlo francês ou americano da fibra óptica, ou entre o controlo chinês ou francês das barragens não há diferença de maior. Não é descaso afirmar-se também que as teorias dos centros de decisão que, em tempos, faziam parte do léxico corrente do empresariado serviam apenas para proteger a gula predatória ou a ineficiência de uma certa estirpe de negociantes da corte. Mas depois da terrível destruição de riqueza nacional na era da troika e dos exemplos de incúria e dos abusos que destruíram a PT, que expurgaram a EDP de capital nacional ou entregaram a banca nacional ao capital espanhol ou angolano seria de esperar uma leve pausa para se respirar. Não é isso que acontece.
Por muito que todos os Estados europeus façam a apologia da liberdade de negócios, na penumbra todos se esforçam por proteger os seus activos mais estratégicos e valiosos. O Estado português deve estar atento a essa sangria de recursos e olhar para a Espanha ou para a França como exemplo. Não se trata de impor barreiras proteccionistas em favor de tecido económico já de si demasiado submisso ao patrocínio do Estado. Nem de criar novas clientelas de protegidos que um dia darão origem a novos donos disto tudo. Trata-se, sim, de exigir contrapartidas duras. Que a exploração de recursos nacionais pague impostos nacionais. Que os quadros e demais trabalhadores que gerem os negócios se instalem em Portugal. Que haja abertura para que empresários portugueses tenham acesso a esses negócios. Medidas que afinal têm uma única finalidade: evitar que Portugal se torne ainda mais uma banal plataforma de negócios gerida e mantida a partir do exterior.
TÓPICOS
COMENTÁRIOS
Jose Vic: Compreendo a angústia deste artigo de opinião. Mas estas análises estão a descoberto há imensos anos. O rei vai nu há tanto tempo. O país desde que iniciou a privatização dos chamados “comandos da economia”, sabia que este era o destino/resultado. Os tais centros de decisão afinal não passaram de uma vontade teórica. O que mais aflige no nosso país, é a falta de visão de longo prazo para o bem comum dos portugueses. O centrão alimentou-se da falta de exigência e conhecimento dos portugueses.
Nelson Sousa: "O que mais aflige no nosso país, é a falta de visão de longo prazo para o bem comum dos portugueses" Completamente de acordo. Andamos à deriva. Navegação à vista.
Eleitor: O que o país precisava era de vender alguns jornalistas, tal e qual... Então este senhor defende o capitalismo, ou não?. Pura contradição existencial, pois ele que justifique o artigo que é aliás, sem qualidade. O que quer este senhor, afinal: Capitalismo ou comunismo, ou nada?
VJS: O artigo é pura conversa da treta. Teria alguma veracidade se quem vende fosse o capitalismo português, mas não é o caso. Quem vende já é o capitalismo estrangeiro.
agany: Mas o capitalismo estrangeiro adquiriu, a preços de banana, ao capitalismo português. Cobrava-se 40-50% por cada transação e acabava-se já com esta pouca vergonha!
GMA: Em boa verdade, este pedaço rectangular (em má hora) desanexado de Espanha apenas formalmente é País independente. De resto, sempre disponíveis para "negociar" a venda a qualquer preço. No caso das barragens, o Sr. Mexia, vulgar funcionário do CC do PC Chinês e afogado em endividamento, tem que garantir as rendas aos camaradas. E isso sobrepõe-se a qualquer a qualquer outro tipo de racionalidade. Imagina-se que o grande gestor de negócios sem risco, rentista portanto, já ande a pesquisar os melhores artistas de alteração facial, em particular de "pôr os olhos em bico" para não destoar dos camaradas quando for designado pelo Camarada Supremo, o sereníssimo Sr. Ji, para o Politburo. O que, felizmente não tardará; mais o Dr. Catroga, que até já tem estátua lá para os lados de Abrantes.
joane hou: Camaradas vermelhinhos, vindos do Cavaquismo; antes estes neoliberais eram como paladinos hoje são vassalos do comunismo chinês? O caro comentador merece salvés pela sua coerência, os comunistas são sempre maus, mesmo que vos atirem milhares de milhões de dólares para a gamela certo? Convém não falar da Morgan Stanley, Goldman Sachs (onde estão os amigos pessoais do Mexia), Lone Star Funds de Dallas ou a Black Rock...
GMA: Qual a "gamela" a que a camarada hou, por cognome a Coerente", se refere? Aquela onde pingam os milhões €€€ das rendas da EDP, da REN, da Fidelidade,...? Os "comunistas bonzinhos" atiraram 2,7MM pelo domínio da EDP; apenas seis barragens rendem 2,2MM. O Dr. Coelho e seus ajudantes foram mesmo bons amigos. Uns camaradas fixes!...
rafael.guerra: Rendas da EDP que beneficiam acionistas majoritariamente estrangeiros e um punhado de directores, mas que salgam as facturas dos consumidores portugueses... A EDP renovou-se e a sua energia é o Excesso de Défice de Patriotismo.
Jose Bernardes: O artigo é lúcido, e coloca "o dedo na ferida". Infelizmente a única coisa que tem sido garantida na alienação de empresas é a manutenção/institucionalização da "cunha", do compadrio e do nepotismo como canal principal de recrutamento para todos os níveis das empresas, desde a base até à administração de topo. Desde as empresas da área da energia até às telecomunicações será interessante fazer essa análise (por vezes basta ler os apelidos...) e constatar que as "elites" se vão regenerando, protegendo, reforçando e contratando.
rafael.guerra: Os portugueses vendem o país a americanos e a chineses e a culpa é da UE? Uhm... é preciso um PhD para nos explicar isso desde o outro lado do Atlântico, sempre sem fazer nada de concreto pela sua Terrinha.
PRO: O Manuel Carvalho não diz que a culpa é da UE! Quem o diz é o Americano ali em baixo!
rafael.guerra: É esse o PhD a quem me referia (Professor hiperbólico Demente)
Pedro Carvalho: Não tarda já não resta mais nada para vender, senão o nome Portugal. Como é possível deixar chegar um País ao ponto de não ter dinheiro nem para mandar cantar um cego, País esse que foi um dos maiores colonizadores mundiais. Noutros Países, se tivessem tido o gang pós 25 Abril que Portugal teve, que num espaço de 40 anos, conseguiram rebentar com o País todo e não aproveitaram a oportunidade de apanhar as carruagens da Europa Central, seriam julgados e condenados por toda a criminalidade que cometeram. Sim, eles foram uns autênticos criminosos ao se apropriarem dos impostos do contribuinte para orientarem suas vidinhas e a de suas familias e amigos.
Conde do Cruzeiro, apenas assinante.: Depois de venderem as empresas públicas em saldo, apoiados pelos defensores do mercado global privado, agora os mesmos desequilibrados contestam a legitimidade daqueles que defendiam de fazer negócios entre si. Orientem-se, se quiserem ser levados a sério.
JonasAlmeida: bem observado Conde! Estas elites políticas em que a mão esquerda diz não saber o que faz a direita são de uma hipocrisia estratosférica - todos sabemos que alimentam o mesmo bolso.
Um editorial para ler e reler e manter na biblioteca. A poucos dias do final do ano temos um editorial à altura do que foi a essência da década que encerra. O saque do contrato social pela conversão de obrigações contributivas em lucros em paraísos fiscais é hoje desabridamente a essência do modelo europeu - o da cleptocracia colonial.
Sandra: Jonas, a talhe de foice, deixo-lhe uma sugestão. Ainda não li. Estou a ver se arranjo tempo. No DN de hoje, uma entrevista com Yuval Noah Harari: "Como será Portugal daqui a 20 anos? Um país independente ou uma colónia de dados?". Comprei-o em papel, pelo que nem sei se dá para ler neste formato.
rafael.guerra: Está a falar do modelo Anglo-saxão cuja financeirização, bancos e moeda reinam no planeta. E do qual todos os demais, sem independência militar, são meros lacaios de diferentes categorias. O modelo social europeu é o que melhor resiste.
PRO: Sandra esse artigo apenas se refere ao impacto da tecnologia com a o facto de os governos poderem ter acesso a todos os dados dos cidadãos como já acontece com a China! Não fala de nenhuma relação com a UE ou a nível político.
joane hou: O problema é vermos abutres por aí como a Altice que não tem músculo financeiro para aguentar o barco parece, as vendas servem para cobrir e lucrar com o que acabaram de comprar, demasiado para manter... De resto caro Manuel Carvalho, quem anda no meio dos negócios bem vê, tudo funciona mais ou menos bem com clientes e investidores estrangeiros, já com os tugas enfim, os capitalistas tugas são filhos dedicados de um passado patriarcal, socialmente retrógado e economicamente familiar nos piores sentidos (pois existem empresas familiares em Portugal que operam muito bem), ou seja, acham que têm feudos e vassalos e nem reparam que muitas vezes estão a lidar com serviços e não com empregados, uma diferença de relevo não? LOL...
Sandra: Exacto, Joane. O Pacheco Pereira, na sua crónica de hoje, dá verdadeiros exemplos do funcionamento democrático, nesta nossa "Nação Valente".


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