Gato
escondido com o rabo de fora. Um discurso viciado, naturalmente, este feito de
dados informativos de um governo coxo,
que martela e atamanca, longe da realidade, bem mais tenebrosa, do que a que aquele pretende
garantir, com as exportações em regressão, como essa do calçado e dos tecidos,
que o meu parco saber fixou, mais as dos ameaços frequentes. Salles da Fonseca explica, na forma desempoeirada que
lhe permitem os seus Estudos de Economia...
HENRIQUE SALLES
DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 14.12.19
«Si j’avais un marteau» - assim cantava
Claude François nos idos de já não sei quando do século passado. Mas o Dr. Centeno tem-no e martela
que se farta nestes prolegómenos do Orçamento do Estado para 2020 que se
prepara para convencer o Parlamento a dar à luz.
Foi logo aos primeiros alvores da
«temporada orçamental» que gostei de saber que o Governo – pela boca do
Ministro das Finanças - anunciava o objectivo de um saldo positivo de 0,12%
mas, passada a primeira impressão, logo me perguntei até que ponto estava a ir
com a minha candura. Estava a ser wishful thinking, a sonhar acordado.
Esquecia-me de que a esquerda – génese
do Governo e de quem o apoia – pensa mais na distribuição da riqueza do que na
sua produção, donde resulta que o equilíbrio das contas públicas se deve fazer
sobretudo à custa da receita e nunca pela via da redução da despesa.
Estava-me a esquecer de que a suborçamentação da despesa é uma manobra
incompatível com a verdade do azeite e, na conjuntura política, incompatível
com o apoio parlamentar de que o Governo carece para ver o «seu» Orçamento
passar.
Estava-me a esquecer de que os membros do
Governo usam a boca para apregoarem políticas de esquerda mas que, confrontados
com as realidades, lhes fogem as cabeças para a direita, ou seja, para a
austeridade que dizem ser maligna mas que sabem ser imprescindível.
Estava-me a esquecer de que o Governo não
tem base política para introduzir as correcções estruturais – que nega mas que
sabe necessárias - no SNS nem acabar com a persistente sovietização da
educação.
Por tudo isto e por mais alguns pontos em
cujo esquecimento eu esteja a persistir, não vejo que o tal superávite de
0,12% se consiga alcançar do modo que eu gostaria, pela redução da despesa e
pela redução da carga fiscal. A menos que os Partidos da não esquerda se
decidissem por um posicionamento que, negociando a reversão das políticas que
estão na calha, fosse efectiva alternativa ao cenário que se perspectiva.
Mas não. Estou mesmo a ser wishful
thinking porque
ao Ministro das Finanças não resta alternativa, terá que continuar à martelada
no naipe da percussão desta orquestra desafinada entre políticas de esquerda e
práticas de direita a que eufemisticamente o Dr. Costa chama «travões» e nós,
os outros, chamamos cativações ou marteladas.
Dezembro de 2019
Gato
escondido com o rabo de fora. Um discurso viciado, naturalmente, este feito de
dados informativos de um governo coxo,
que martela e atamanca, longe da realidade, bem mais tenebrosa, do que a que aquele pretende
garantir, com as exportações em regressão, como essa do calçado e dos tecidos,
que o meu parco saber fixou, mais as dos ameaços frequentes. Salles da Fonseca explica, na forma desempoeirada que
lhe permitem os seus Estudos de Economia...
HENRIQUE SALLES
DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 14.12.19
«Si j’avais un marteau» - assim cantava
Claude François nos idos de já não sei quando do século passado. Mas o Dr. Centeno tem-no e martela
que se farta nestes prolegómenos do Orçamento do Estado para 2020 que se
prepara para convencer o Parlamento a dar à luz.
Foi logo aos primeiros alvores da
«temporada orçamental» que gostei de saber que o Governo – pela boca do
Ministro das Finanças - anunciava o objectivo de um saldo positivo de 0,12%
mas, passada a primeira impressão, logo me perguntei até que ponto estava a ir
com a minha candura. Estava a ser wishful thinking, a sonhar acordado.
Esquecia-me de que a esquerda – génese
do Governo e de quem o apoia – pensa mais na distribuição da riqueza do que na
sua produção, donde resulta que o equilíbrio das contas públicas se deve fazer
sobretudo à custa da receita e nunca pela via da redução da despesa.
Estava-me a esquecer de que a suborçamentação da despesa é uma manobra
incompatível com a verdade do azeite e, na conjuntura política, incompatível
com o apoio parlamentar de que o Governo carece para ver o «seu» Orçamento
passar.
Estava-me a esquecer de que os membros do
Governo usam a boca para apregoarem políticas de esquerda mas que, confrontados
com as realidades, lhes fogem as cabeças para a direita, ou seja, para a
austeridade que dizem ser maligna mas que sabem ser imprescindível.
Estava-me a esquecer de que o Governo não
tem base política para introduzir as correcções estruturais – que nega mas que
sabe necessárias - no SNS nem acabar com a persistente sovietização da
educação.
Por tudo isto e por mais alguns pontos em
cujo esquecimento eu esteja a persistir, não vejo que o tal superávite de
0,12% se consiga alcançar do modo que eu gostaria, pela redução da despesa e
pela redução da carga fiscal. A menos que os Partidos da não esquerda se
decidissem por um posicionamento que, negociando a reversão das políticas que
estão na calha, fosse efectiva alternativa ao cenário que se perspectiva.
Mas não. Estou mesmo a ser wishful
thinking porque
ao Ministro das Finanças não resta alternativa, terá que continuar à martelada
no naipe da percussão desta orquestra desafinada entre políticas de esquerda e
práticas de direita a que eufemisticamente o Dr. Costa chama «travões» e nós,
os outros, chamamos cativações ou marteladas.
Dezembro de 2019
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