Que nos faz conhecer opiniões por vezes de bastante interesse, embora
nem sempre contribua para a elevação social, pela possibilidade que dá também de
incluir no mesmo saco as opiniões de quem aproveita essa liberdade que a
democracia lhe concedeu para expor a sua sujidade mental por meio de uma
linguagem grotesca de gíria escabrosa a que os meios mediáticos deviam estar
mais atentos, numa censura formativa do ponto de vista dos costumes. Não
aconteceu isso a propósito deste texto de Vasco Pulido Valente, a ironia ou o saber revelando-se, mais do que a
escatologia em dialogação contextual inter pares. Por mim, direi que VPV, é sempre um senhor quando lança a sua acutilância
crítica, por muito que por vezes dele se discorde. O toque breve de um olhar arguto,
valorizado pelo saber histórico e a mundivivência vária, numa sensibilidade de
requinte, que o levam a superiorizar-se no meio de uma população amante de
bailarico, enchidos e guloseimas, que a televisão explora como meio publicitário,
é certo, para o desenvolvimento turístico, mas cujo público mereceria por vezes
outros programas formativos, que vamos vendo noutros canais, como por exemplo a TV5 Monde, interessados
em cultivar o gosto e o conhecimento dos seus nacionais – dos internacionais
igualmente, que agradecem com fervor - como foi o caso de um desses programas sobre os “Châteaux
de la Loire”, com vastidão de dados históricos, geográficos, arquitectónicos e
demonstrações de engenharia, em dialogação ou em ensinamento pedagógico que não
receia utilizar o “magister dixit” da
eficiência discursiva, contrapondo-se às teorias da saliência excessiva do
aluno, apelando à sua “criatividade” exibicionista e desprezadora da “ciência”
do mestre, pacóvios que somos no seguidismo das modas pedagógicas de acordo com
os tais tributos de “liberté, égalité, fraternité” de que trata VPV em outro
contexto, é certo. Deixei escorregar para aqui as recordações de estágio daqueles tempos
de desordem farfalhuda...
OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 21
de Dezembro de 2019
Entro suspeitoso nesta
terrível quadra do Natal. Dantes, o Natal era uma festa que se celebrava entre
portas, com a família. Hoje, é um espectáculo. Iluminações em que as autarquias
gastam o que têm e o que não têm, carrosséis, coretos, pavilhões e até pistas
de gelo. Será isto o que nós esperávamos da democracia?
15 de
Dezembro
Como falta o dinheiro, há sempre o mesmo problema: ou se aumenta o défice,
ou se aumenta a carga fiscal.
Não há saída. Por isso, os políticos acabam por nos parecer todos iguais.
Porque eles próprios não têm escolha e a vida pública tende para a imobilidade
e para a encenação. O PS está a governar Portugal da única
maneira como Portugal pode ser governado. E só pode ser substituído por um
partido que governe como ele.
No constitucionalismo monárquico os “rotativos” inspiravam um ódio
universal; não pelo seu radicalismo, mas pela sua parecença. Desta vez, o
“Bloco Central” não pegou, porque a elipse do PC produziu o “arco da
governação”. Mas hoje, que o CDS morreu, e ninguém se apresenta para o
ressuscitar, e que o PC reentrou firmemente nos costumes constitucionais,
só nos esperam governos do PS e da sua franja ou governos do PSD e da sua
franja. Ambos democráticos,
ambos defensores do Estado Social, e ambos promotores do mercado livre muito
bem controlado; liberté, egalité, fraternité. Apesar das dificuldades e alguns soluços pelo
caminho, os europeus parecem ter chegado ao fim da Grande Revolução.
18 de
Dezembro
Ainda bem que o encontro entre Mário Centeno e Miguel Albuquerque foi
desmarcado e que eles só se encontraram uns minutos em público, num “evento”
inócuo. Afinal nem toda a gente endoideceu no PS. As negociações com o PSD
foram grotescas. Se o PS tivesse arrebanhado aqueles três deputados, teria
ficado a governar a Madeira, sem maioria na Assembleia Regional mas com maioria
na representação nacional. Felizmente, Costa, que se julga um grande
estadista, deu com a coisa a tempo.
19 de Dezembro
Trump foi destituído pela Câmara dos Representantes:
todo o partido democrático votou a favor e todo o partido republicano votou
contra. De qualquer
maneira, a telenovela não acabou: os pais da Pátria não consideraram a
hipótese de haver um presidente destituído contra a vontade unânime do senado.
E, por isso, deixaram um vazio para Nancy Pelosi negociar o tipo de julgamento
a que os democratas querem que Trump seja submetido. Não sei quanto tempo isto
pode durar, mas pode durar séculos e adiar a resolução da peça até a
impopularidade de Trump ser arrasadora.
Durante a discussão no Congresso, os republicanos
compararam Trump a Jesus Cristo e os juízes dele a Pôncio Pilatos. Pior ainda,
houve um congressista que comparou os democratas aos japoneses de Pearl Harbour.
O ódio escorre. Basta ver a
maneira como os locutores da CNN vão contando o caso – com um prazer pela
queda presuntiva do homem e não só pela queda do político. Um desses senhores
rebentava de gozo ao lembrar que Trump ficaria para sempre na história como um
vilão. Se alguém julga que vai resolver alguma coisa com estes exercícios
judiciais está muito enganado. O partido democrático ainda não percebeu que
Trump existe por uma razão. Como Boris Johnson existe por uma razão. E como não
serviu de nada tentar parar o “Brexit” com uma armadilha parlamentar, não
servirá de nada tentar apanhar Trump numa armadilha constitucional. No fim
dessas conversas, ele irá prevalecer, porque os conflitos da sociedade são reais,
não são retórica.
Colunista
COMENTÁRIOS
Incognito: Aqui nunca se ouve falar na Fox News, Nem
de Roger Aisles. Afinal, foi uma televisão que elegeu Donald Trump. Nada como
inverter o argumento, e fazer da CNN o vilão. Propaganda por propaganda,
prefiro a de «Richard Jewell». A retórica está do lado dos republicanos e é a
da vitimização do agressor. Filme fascinante.
Ahfan Neca: Duas questões: 1. A Casa dos Representantes não tem poder para destituir um
Presidente. Por isso mesmo, Trump não está destituido. A Casa só tem poder para
votar favoravelmente a uma destituição. Nada mais. O poder para destituir está
no Senado e não na Casa. 2. A CNN não faz jornalismo nem dá
informação. Trata-se de um mero canal de propaganda de certos interesses que
apostam no esquerdismo.
José Manuel Martins: é, e bolsonaro, evo morales, putin,
jiping, castro, orban, e até passos coelho e costa e o rei ubu existem (de
cada vez) por 'uma razão'. A tranquilidade da tautologia é um soporífero
apropriado para o octogenário sábio, em pantufas sobre o mapa mundi a brincar
outra vez como oitenta anos antes. Mas é verdade, 'trump' é o nome, não
apenas dos seus apoiantes e da respectiva mundividência, mas também daqueles
que, odiando trump, são trumpistas até à medula sem o saberem (por exemplo,
os dois biliões anuais de carbono-turistas furiosamente gretomaníacos). Para
tudo há, pois, por baixo da tal 'razão', uma razão da razão ainda mais funda e
que, de tão escura, desaparece na sua própria sombra, deixando apenas a bola
luminosa do mundo, esse caleidoscópio da ilusão ideológica total.
Antonio Leitao: The rumblings of a mad man.
AndradeQB: Cara Margarida, Pode não
estar de acordo com a razão que VPV apresenta, mas não pode dizer que não a
apresentou "No fim dessas conversas, ele irá prevalecer, porque os
conflitos da sociedade são reais, não são retórica". Infelizmente, ele
tem razão. Essa tese dos eleitores serem todos idiotas ou fascistas, começa a
ter cada vez menos apoiantes.
Margarida F. Paredes: A justificação para ele
prevalecer é porque os conflitos sociais são reais? Isso é uma verdade de La
Palisse, o que define todas as sociedades é o conflito, não há sociedades sem
conflito.
agany: O que o VPV não sabe, talvez, é que
"pistas de gelo, carrosséis, coretos e pavilhões" rimam com
dobrões...
Sandra: "todo o partido
democrático votou a favor e todo o partido republicano votou contra".
Falso. Tulsi Gabbard não tomou posição, votando presente.
Leitor Registado: Se quisermos ser precisos acrescentamos 3
democratas que votaram contra o impeachment
Sandra: Obrigada, Leitor, por repôr a precisão dos
factos, que, é claro que é o que se quer. Confesso que tinha ficado com a ideia
de que a Tulsi tinha sido a única dos democratas, com uma posição diferente,
digamos assim. O que, verdade se diga, só abona em seu favor, pois, demonstra,
ou confirma, que é uma mulher que pensa pela própria cabeça. Obrigada mais uma
vez. Corrija sempre, por favor.
Alforreca
Passista 4: Tulsi
Gabbard serviu nas guerras do Médio Oriente, hoje Tulsi denuncia os crimes de
guerra praticados pelo regime do seu país! Tulsi é odiada por todos aqueles que
lucram com a guerra, ou seja, todo o Partido "Republicano" e
praticamente todo o partido "Democrata"! Tulsi é jovem, ela é o
futuro dos EUA! Os EUA vão mudar porque têm que mudar e é isto que o Valente
odeia! O Valente adorava que Kissinger se eternizasse no poder....
Ahfan Neca, Um dos Representantes democratas que
votou contra inclusivamente mudou de partido e pediu a admissão no Partido
Republicano.
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