sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Sempre fomos o país da esmolinha



E do imposto e do empréstimo, já na designação queirosiana. Dos truques malabarísticos também, não da seriedade. Essa, teve-a Salazar e foi corrido. Por isso aceitamos a esmolinha. Com recolhimento e gratidão. Não estamos habituados ao cálculo racional em previsão futurista, de um governo previdente, mas apenas  ao cálculo a curto prazo, para efeito pessoal, na gamela governamental. Por isso aceitamos a esmolinha. Não deixa de ser um modo de vida. Rui Ramos explica, como sempre, com seriedade e agudeza. E os seus comentadores complementam.

O excedente de esquerda /premium
O “excedente pago pelos contribuintes” é bem o que poderíamos esperar desta esquerda instalada no Estado, e decidida a sacrificar a sociedade para alimentar as suas clientelas.
RUI RAMOS
OBSERVADOR, 20 dez 2019
Uma das mais tolas ideias em curso é a de que António Costa e Mário Centeno estariam a enxertar na esquerda uma velha noção da direita: as contas certas. António Costa tem aproveitado a tolice, para dizer que, com efeito, a sua prioridade é provar que o PS, com o apoio da extrema-esquerda, pode governar sem défices nem aumento de dívida. Não duvido que Costa esteja a tentar fazer isso. Por esta razão muito simples: não tem alternativa. Na terça-feira, a Comissão Europeia manteve Portugal na lista de países cuja estabilidade macroeconómica é duvidosa (baixa produtividade, grande endividamento, etc.). Quem emprestaria a Costa para fazer défices como Sócrates em 2009 ou em 2010? Costa, Centeno, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins não têm escolha. Mas não estão, com isso, a enaltecer a causa das contas certas.
Pelo contrário: podem até estar a desacreditá-la. É que para Costa, Centeno e os seus companheiros de estrada, contas certas, mesmo quando a conjuntura económica é favorável, consistem apenas em aumento de impostos e em cativações (nesta proposta de Orçamento, são 590 milhões — a diferença entre um excedente de 0,2% e um défice de 0,1%). Os números variaram nestes últimos dias, revelando a ginástica de Excel por detrás dos documentos, mas as linhas são claras: a carga fiscal e as contribuições sociais sobem (até 35,1% do PIB), a despesa agrava-se (0,1% do PIB), e a dívida pública expande-se em termos absolutos (para 261 mil milhões de euros). De resto, há regras que mudam mais uma vez (por exemplo, no Alojamento Local), e excepções para isto e para aquilo, sem garantia de estabilidade. A dependência da conjuntura externa, sobretudo das políticas do BCE, é total.
As contas certas de Costa e de Centeno são feitas da incerteza de um país à mercê de um Estado sem escrúpulos. Repare-se na actualização dos escalões do IRS. Funciona, de facto, como uma armadilha para melhorias de remuneração superiores a 0,3%. Segundo contas da Deloitte, quem, ganhando 1000 euros, tiver um aumento de 10 euros (1%), acabará a pagar mais 30 euros de IRS. Eis o país das esquerdas portuguesas: um país onde um aumento de ordenado pode significar uma perda de rendimento. O melhor, portanto, é ficar a ganhar o mesmo: ser pequenino, ser pobrezinho, ser dependente, não fazer ondas, e conformar-se com o que tem. É esta mediocridade que Costa, Centeno, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins estão a gerar há quatro anos. Já houve tempos em que os portugueses tiveram outras aspirações.
Contas certas são, para Costa e Centeno, manter a despesa do Estado em 43,3% do PIB, e forçar a receita, dê por onde der, a subir para 43,5%, a fim de chegar ao excedente de 0,2%. O Orçamento de Estado “não traz nenhuma surpresa para os portugueses”, disse o ministro na conferência de imprensa. Pois não. O previsto “excedente pago pelos contribuintes” é bem o que poderíamos esperar desta esquerda que temos, entrincheirada no Estado, e decidida a sacrificar a sociedade para alimentar os grupos de interesse que tenta clientelizar (daí o descongelamento das carreiras na função pública, que levará na prática ao aumento de 3% de remunerações exigido pelo sindicalismo comunista). É suposto aplaudirmos?
Eis uma boa ocasião para as direitas esclarecerem que as suas “contas certas” não são as de Costa e de Centeno, mas que correspondem a outra ideia de Estado e de sociedade, e que portanto serão obtidas de outra maneira e com vista a outro fim: a autonomia crescente dos indivíduos, das famílias e das empresas, num horizonte de estabilidade e com um Estado sóbrio e eficiente. Se as direitas portuguesas não forem capaz de explicar isto, então de facto servem para pouca coisa, a não ser para revezar o PS quando a conjuntura muda, o dinheiro acaba e é preciso limpar os estábulos.

COMENTÁRIOS:
Justino Cigarrilhas: O Assalto continua, ainda há muito que tributar até à miséria comum
Alfaiate Tuga: Os tugas que mantém esta gente no governo estão habituados a viver com expectativas de curto prazo, grande parte deles sabe que o barco não vai no rumo certo, mas como este rumo lhes permite viver a sua vidinha sem grandes sobressaltos vão permitindo a festa. Sabem também que outro rumo implicaria para uns trabalhar mais ou perder o emprego e para outros receber menos , FP e pensionistas, então para estes o melhor rumo é o atual. Os milhares de pequenos negócios como cafés e restaurantes a quem baixaram o IVA e para os outros todos a quem arranjámos mil e uma maneira de não pagar impostos como por exemplo a aquisição de brinquedos da Tesla para sacar o dinheiro da empresa e não pagar IRC também gostam do rumo.
Quem não gosta do rumo , o trabalhador do privado com rendimentos médios superiores a 25.000 Euros anuais, gente qualificada portanto, que é esbulhada em sede de IRS para ajudar a festança.
O problema é que estes últimos estão a abrir os olhos e a fugir do país ou a arranjar esquemas para também não pagar imposto s, para manter o rumo vai ser preciso cada vez mais dinheiro, que por agora se vai pedindo lá fora e esbulhando cá dentro, mas as fontes estão a dar sinais de alguma seca. Enquanto não aparecer um partido que diga claramente que vai cortar despesa pública e baixar impostos não sairemos disto, amenos que apareça uma crise que precipite a banca rota.
Pedro Ferreir > aAlfaiate Tuga: Certo!
victor guerra: O roubo de "esquerda"
Pedro Ferreira: Artigo isento e muito assertivo. Empobrecimento e emigração são as saídas: escolha uma!
Maria Nunes: Sempre a mesma apagada e vil tristeza. Não saímos disto. 
Pérolas a porcos: O que poderíamos "esperar"...?!? Meu caro, é assim desde que Mário Soares ganhou as eleições em 1976. Mais valia termos continuado com o PREC nessa altura, pois mais tarde ou mais cedo ou teria havido ou outra Revolução, ou uma intervenção americana (não foi por acaso que eles mandaram para cá como embaixador o Carlucci, que era da CIA - de que a seguir foi Director-Adjunto).
Pérolas a porcos > Pérolas a porcos
Mais valia termos tido isso nessa altura, do que o Regime de CLEPTOCRACIA instituído por Soares e os seus "boys" que nos governam há 45 anos!!! Com intervalos de governação dos católicos e sociais-democratas. EM VEZ DISSO TEMOS UM NOVO PREC (de Carnaval). Mas a CLEPTOCRACIA CONTINUA.
No fundo, tal como no séc. XIX e na 1ª República (a bem dizer desde o processo do Marquês de Pombal), Portugal tem sido governado em perpétua luta e alternância pela Maçonaria ou pelos Jesuítas e pela Opus Dei com breves intervalos de gente decente como o Salazar!!!
Breves, porque ele só governou 36 anos e isso é breve se considerarmos todos os sécs. XIX e XX, e decente, pois ele ao menos DISSE AO QUE VINHA, FEZ EXACTAMENTE O QUE DISSE, E ACABOU POBRE COMO TINHA COMEÇADO.
Pedro Ferreira > Pérolas a porcos: Boa análise.
Ursa Urso: Pois é...



Nenhum comentário: