E do imposto e do empréstimo, já na designação queirosiana. Dos truques
malabarísticos também, não da seriedade. Essa, teve-a Salazar e foi corrido.
Por isso aceitamos a esmolinha. Com recolhimento e gratidão. Não estamos
habituados ao cálculo racional em previsão futurista, de um governo previdente,
mas apenas ao cálculo a curto prazo,
para efeito pessoal, na gamela governamental. Por isso aceitamos a esmolinha.
Não deixa de ser um modo de vida. Rui Ramos explica, como sempre, com seriedade e agudeza. E os
seus comentadores complementam.
O excedente de esquerda /premium
O “excedente pago pelos contribuintes” é bem o que poderíamos esperar
desta esquerda instalada no Estado, e decidida a sacrificar a sociedade para
alimentar as suas clientelas.
RUI RAMOS
OBSERVADOR, 20 dez 2019
Uma das mais tolas
ideias em curso é a de que António Costa e Mário Centeno estariam a enxertar na
esquerda uma velha noção da direita: as contas certas. António Costa tem aproveitado a tolice, para dizer
que, com efeito, a sua prioridade é provar que o PS, com o apoio da
extrema-esquerda, pode governar sem défices nem aumento de dívida. Não duvido que Costa esteja a tentar
fazer isso. Por esta razão muito simples: não tem alternativa. Na terça-feira, a Comissão Europeia manteve
Portugal na lista de países cuja estabilidade macroeconómica é duvidosa (baixa
produtividade, grande endividamento, etc.). Quem emprestaria a Costa para fazer
défices como Sócrates em 2009 ou em 2010? Costa, Centeno, Jerónimo de
Sousa e Catarina Martins não têm escolha. Mas não estão, com
isso, a enaltecer a causa das contas certas.
Pelo contrário: podem
até estar a desacreditá-la. É
que para Costa, Centeno e os seus companheiros de estrada, contas certas, mesmo
quando a conjuntura económica é favorável, consistem apenas em aumento de
impostos e em cativações (nesta proposta de Orçamento, são 590 milhões — a diferença
entre um excedente de 0,2% e um défice de 0,1%). Os números
variaram nestes últimos dias, revelando a ginástica de Excel por detrás dos
documentos, mas as linhas são claras: a carga fiscal e as contribuições sociais
sobem (até 35,1% do PIB), a despesa agrava-se (0,1% do PIB), e a dívida pública
expande-se em termos absolutos (para 261 mil milhões de euros). De
resto, há regras que mudam mais uma vez (por exemplo, no Alojamento Local),
e excepções para isto e para aquilo, sem garantia de estabilidade. A
dependência da conjuntura externa, sobretudo das políticas do BCE, é total.
As contas certas de Costa e
de Centeno são feitas da incerteza de um país à mercê de um Estado sem
escrúpulos. Repare-se na
actualização dos escalões do IRS. Funciona, de facto, como uma armadilha para
melhorias de remuneração superiores a 0,3%. Segundo contas da Deloitte,
quem, ganhando 1000 euros, tiver um aumento de 10 euros (1%), acabará a pagar
mais 30 euros de IRS. Eis o país das esquerdas portuguesas: um
país onde um aumento de ordenado pode significar uma perda de rendimento. O
melhor, portanto, é ficar a ganhar o mesmo: ser pequenino, ser pobrezinho, ser
dependente, não fazer ondas, e conformar-se com o que tem. É esta mediocridade
que Costa, Centeno, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins estão a gerar há
quatro anos. Já houve tempos em que os portugueses tiveram outras aspirações.
Contas certas são, para
Costa e Centeno, manter a despesa do Estado em 43,3% do PIB, e forçar a
receita, dê por onde der, a subir para 43,5%, a fim de chegar ao excedente de
0,2%. O Orçamento de Estado “não traz nenhuma surpresa para os portugueses”,
disse o ministro na conferência de imprensa. Pois não. O previsto “excedente pago
pelos contribuintes” é bem o que poderíamos esperar desta esquerda que temos,
entrincheirada no Estado, e decidida a sacrificar a sociedade para alimentar os
grupos de interesse que tenta clientelizar (daí o descongelamento das
carreiras na função pública, que levará na prática ao aumento de 3% de
remunerações exigido pelo sindicalismo comunista). É suposto aplaudirmos?
Eis uma boa ocasião para as direitas esclarecerem que as suas “contas
certas” não são as de Costa e de Centeno, mas que correspondem a outra ideia de
Estado e de sociedade, e que portanto serão obtidas de outra maneira e com
vista a outro fim: a autonomia crescente dos indivíduos, das famílias e das
empresas, num horizonte de estabilidade e com um Estado sóbrio e eficiente. Se as
direitas portuguesas não forem capaz de explicar isto, então de facto servem
para pouca coisa, a não ser para revezar o PS quando a conjuntura muda, o
dinheiro acaba e é preciso limpar os estábulos.
COMENTÁRIOS:
Justino Cigarrilhas: O Assalto continua, ainda há
muito que tributar até à miséria comum
Alfaiate Tuga: Os tugas que mantém esta gente
no governo estão habituados a viver com expectativas de curto prazo, grande
parte deles sabe que o barco não vai no rumo certo, mas como este rumo lhes
permite viver a sua vidinha sem grandes sobressaltos vão permitindo a festa.
Sabem também que outro rumo implicaria para uns trabalhar mais ou perder o
emprego e para outros receber menos , FP e pensionistas, então para estes o
melhor rumo é o atual. Os milhares de pequenos negócios como cafés e
restaurantes a quem baixaram o IVA e para os outros todos a quem arranjámos mil
e uma maneira de não pagar impostos como por exemplo a aquisição de brinquedos
da Tesla para sacar o dinheiro da empresa e não pagar IRC também gostam do
rumo.
Quem não gosta do rumo , o trabalhador do
privado com rendimentos médios superiores a 25.000 Euros anuais, gente
qualificada portanto, que é esbulhada em sede de IRS para ajudar a festança.
O problema é que estes últimos estão a abrir os
olhos e a fugir do país ou a arranjar esquemas para também não pagar imposto s,
para manter o rumo vai ser preciso cada vez mais dinheiro, que por agora se vai
pedindo lá fora e esbulhando cá dentro, mas as fontes estão a dar sinais de
alguma seca. Enquanto não aparecer um partido que diga claramente que vai
cortar despesa pública e baixar impostos não sairemos disto, amenos que apareça
uma crise que precipite a banca rota.
victor guerra: O roubo de "esquerda"
Pedro Ferreira: Artigo isento e muito
assertivo. Empobrecimento e emigração são as saídas: escolha uma!
Maria Nunes: Sempre a mesma apagada e vil
tristeza. Não saímos disto.
Pérolas a porcos: O que poderíamos
"esperar"...?!? Meu caro, é assim
desde que Mário Soares ganhou as eleições em 1976.
Mais valia termos continuado com o PREC nessa altura, pois mais tarde ou
mais cedo ou teria havido ou outra Revolução, ou uma intervenção americana (não
foi por acaso que eles mandaram para cá como embaixador o Carlucci, que era da
CIA - de que a seguir foi Director-Adjunto).
Pérolas a porcos > Pérolas a porcos
Mais valia termos tido isso nessa altura, do que
o Regime de CLEPTOCRACIA instituído por Soares e os seus "boys" que
nos governam há 45 anos!!! Com intervalos de governação dos católicos e
sociais-democratas. EM VEZ DISSO TEMOS UM NOVO PREC (de Carnaval). Mas a
CLEPTOCRACIA CONTINUA.
No fundo, tal como no séc. XIX e na 1ª República
(a bem dizer desde o processo do Marquês de Pombal), Portugal tem sido
governado em perpétua luta e alternância pela Maçonaria ou pelos Jesuítas e
pela Opus Dei com breves intervalos de gente decente como o Salazar!!!
Breves, porque ele só governou 36 anos e isso é
breve se considerarmos todos os sécs. XIX e XX, e decente, pois ele ao menos
DISSE AO QUE VINHA, FEZ EXACTAMENTE O QUE DISSE, E ACABOU POBRE COMO TINHA
COMEÇADO.
Ursa Urso: Pois é...
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