domingo, 14 de maio de 2023

Apenas uma máxima para mim


Para além da consciência da muita escassez mental, que a memória atraiçoa progressivamente, a de que música e leituras ou escritas são simultaneamente incompatíveis, cada galo no seu galho solitário.

Na questão da música: ontem ouvi e pasmei, uma vez mais, com o Festival da Canção, de uma criatividade artística em todos os domínios – mensagens espirituais, potências de vozes, contorcionismos corporais, beleza de imagens, de nos deixar, por vezes, estarrecidos com o tecnicismo artístico humano a todos os níveis, num espectáculo televisivo de maravilhamento. No intervalo, liguei a Sic onde deparei com um bailado popular e música de concertinas em Braga, que me apaziguou a alma - embasbacada por tanta criatividade gritante e poderosa anterior, de repente repousada na eterna beleza simples da nossa música popular.

Mas se leio ou escrevo só posso fazê-lo no silêncio, no encarreiramento exclusivo das células cinzentas, ou antes dos neurónios, para um único esforço mental que não se distrai com os demais sons. Sem orgulho nem preconceito, na questão da cultura, acho que a concentração do espírito é fundamental na criatividade mental, sem divagações. Na criatividade física não existe tal incompatibilidade, pelo contrário.

Quanto à definição a interpretação histórica é a génese da Cultura que o Dr. Salles foi buscar aos seus neurónios, acho-a uma excelente máxima, mas não se me dava ter muito saber, sem a traição cada vez mais frequente da memória. Não por orgulho ou preconceito, mas para dizer, como Cesário Verde, coisas de sensibilidade e visualização que fizeram dele um escritor bem-amado e a nós nos encantam, para sempre.

II - DAS MINHAS MÁXIMAS

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 12.05.23

As pessoas que sabem muitas «coisas» são como as enciclopédias mas a pessoa culta é a que procura o significado das «coisas»; o historiador conta a História mas o culto interpreta-a para lhe encontrar o significado; a interpretação histórica é a génese da Cultura.

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COMENTÁRIOS (1)

Henrique Salles da Fonseca 12.05.2023: Doutor Henrique o conhecimento (knowledge) e a cultura ( culture ) sempre andaram de lado ao lado e são complementares um do outro Não há cultura sem conhecimentos. Amândio Coelho Pereira (Bombaim?)

I - DAS MINHAS MÁXIMAS

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 11.05.23

A música serve para esvaziar cabeças cheias e para encher cabeças vazias – pobres, os que não apreciam música pois ficam sem o descanso necessário às cabeças cheias e sem a conveniente motivação para as cabeças vazias.

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2 COMENTÁRIOS

Francisco G. de Amorim 11.05.2023 12:07: Gostei

Adriano Miranda Lima 11.05.2023 20:36: Concordo com a máxima. Faz-me lembrar o que recentemente li sobre uma afirmação de Ernst Bloch: "a música é a mais utópica das artes. Leva-nos para onde nunca estivemos e aonde queremos sempre voltar de novo". Ela pertence a uma dimensão superior da natureza e pergunta-se se no mundo animal só o Homo sapiens tem a percepção da sua existência, até porque, que eu saiba, é o único que a cria e a interpreta. No entanto, alguns cientistas que acompanharam e observaram o comportamento de um grupo de chimpanzés numa floresta de Uganda, verificaram que, inchando o peito, com um grito gutural e batendo em raízes grossas de árvores, produzem sons semelhantes a um de rufar de tambor. Propõem-se continuar o estudo.

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