Para além da consciência da muita
escassez mental, que a memória atraiçoa progressivamente, a de que música e
leituras ou escritas são simultaneamente incompatíveis, cada galo no seu galho
solitário.
Na questão da música: ontem ouvi e
pasmei, uma vez mais, com o Festival da Canção, de uma criatividade artística
em todos os domínios – mensagens espirituais, potências de vozes,
contorcionismos corporais, beleza de imagens, de nos deixar, por vezes,
estarrecidos com o tecnicismo artístico humano a todos os níveis, num
espectáculo televisivo de maravilhamento. No intervalo, liguei a Sic onde
deparei com um bailado popular e música de concertinas em Braga, que me
apaziguou a alma - embasbacada por tanta criatividade gritante e poderosa
anterior, de repente repousada na eterna beleza simples da nossa música
popular.
Mas se leio ou escrevo só posso fazê-lo
no silêncio, no encarreiramento exclusivo das células cinzentas, ou antes dos
neurónios, para um único esforço mental que não se distrai com os demais sons.
Sem orgulho nem preconceito, na questão da cultura, acho que a concentração do
espírito é fundamental na criatividade mental, sem divagações. Na criatividade
física não existe tal incompatibilidade, pelo contrário.
Quanto à definição a interpretação histórica é a
génese da Cultura que o Dr. Salles foi buscar
aos seus neurónios, acho-a uma excelente máxima, mas não se me dava ter muito
saber, sem a traição cada vez mais frequente da memória. Não por orgulho ou
preconceito, mas para dizer, como Cesário
Verde, coisas de sensibilidade e visualização que fizeram dele um escritor
bem-amado e a nós nos encantam, para sempre.
II - DAS MINHAS MÁXIMAS
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 12.05.23
As pessoas que
sabem muitas «coisas» são como as enciclopédias mas a pessoa culta é a que
procura o significado das «coisas»; o historiador conta a História mas o culto
interpreta-a para lhe encontrar o significado; a interpretação histórica é a
génese da Cultura.
Henrique Salles da Fonseca
12.05.2023: Doutor Henrique o conhecimento (knowledge) e a
cultura ( culture ) sempre andaram de lado ao lado e são complementares um do
outro Não há cultura sem conhecimentos. Amândio Coelho Pereira (Bombaim?)
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 11.05.23
A música serve para
esvaziar cabeças cheias e para encher cabeças vazias – pobres, os que não
apreciam música pois ficam sem o descanso necessário às cabeças cheias e sem a
conveniente motivação para as cabeças vazias.
2 COMENTÁRIOS
Francisco G. de Amorim 11.05.2023 12:07: Gostei
Adriano Miranda Lima 11.05.2023 20:36: Concordo
com a máxima. Faz-me lembrar o que recentemente li sobre uma afirmação de Ernst
Bloch: "a música é a mais utópica
das artes. Leva-nos para onde nunca estivemos e aonde queremos sempre voltar de
novo". Ela pertence a
uma dimensão superior da natureza e pergunta-se se no mundo animal só o Homo
sapiens tem a percepção da sua existência, até porque, que eu saiba, é o único que a cria e a interpreta. No entanto, alguns cientistas que
acompanharam e observaram o comportamento de um grupo de chimpanzés numa
floresta de Uganda, verificaram que, inchando o peito, com um grito gutural e
batendo em raízes grossas de árvores, produzem sons semelhantes a um de rufar
de tambor. Propõem-se continuar o estudo.
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