É o que somos – mesmo o Ulisses, para
Polifemo, por astúcia, é certo, daquele, que assim escapou ao ataque dos outros
Ciclopes, dado o significado negativo do indefinido, que os outros Ciclopes provaram
conhecer, gramaticalmente esclarecidos, gramática que Polifemo mostrou
desconhecer, considerando-o um nome próprio. Ou o próprio “Ninguém”, humilde e
pobre e virtuoso, em contraste com o poderoso “Todo o Mundo”, de um dos autos
vicentinos, seguidores da moral tradicional. Temos também, no nosso país mais
recuado, o “Ninguém” com que, vingadoramente se denomina o “Romeiro, Romeiro
quem és tu?”, da pergunta de um estarrecido “Frei Jorge” - um “Ninguém” que se
revelará, pelo contrário, o cínico “Alguém”, destruidor fatídico da harmonia.
Daí que o pronome indefinido “Ninguém”
com que nos podemos sinalizar, quer por modéstia, por astúcia, por depressão ou
por quaisquer outras motivações sinceras ou hipócritas, se pode aplicar aos
humanos, nos momentos da sua reflexão, fruto de sabedoria, de estado de alma ou
de artifício retórico.
A crónica bem urdida de HELENA MATOS,
revela-nos o retrato de um homem só, que ao invés de se deixar amachucar em
auto análises amargas de modéstia virtuosa, luta para ultrapassar as suas
solidões, através de um exibicionismo buscador aparente de afectos, e, realmente,
revelador de um alguém contente de si, ele próprio um equilibrista a tentar atingir
o lado de lá, em corda mais tensa ou mais frouxa. Com arreganho. Tal como o seu
parceiro da empreitada, este mais de Olhão, todavia. Ambos sempre em frente. Sem
medos.
Marcelo, o homem político mais só de Portugal
Não havia semana em que, qual criança
traquinas diante dum castelo de cartas, Marcelo não viesse lembrar que tinha o
poder de deitar tudo abaixo. Ora ninguém deve ameaçar com algo que tem medo de
usar
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 07
mai. 2023, 01:5991
Ninguém espera este homem em
casa? – perguntava-me, ao ver a patética errância de Marcelo Rebelo de Sousa
entre o palácio de Belém, o restaurante e a geladaria.
Marcelo
não tem fiéis, não tem partido, não tem uma corte, não tem uma tribo. Nem
sequer uma casa com uma família a que voltar à noite e também por isso se
entretém nos momentos difíceis a dar voltas, qual adolescente, para se fazer
encontrado.
A imensa solidão daquele que
é o político mais popular de Portugal tornou-se palpável nestes dias de crise. De repente todos aqueles cenários que
Marcelo, por artes quase mágicas, fazia e refazia diante dos jornalistas foram
desfeitos por António Costa.
Em primeiro lugar António Costa
passou a controlar a agenda: ao contrário do que Marcelo sugeria, as dúvidas
sobre a continuidade de João Galamba no Governo não se iam arrastar por vários
dias. Em segundo, e muito mais importante, o primeiro-ministro acabou com um
dos dogmas sobre o poder em Portugal: a chamada magistratura de influência do
presidente da República não existe, ou melhor dizendo, existe apenas quando o
Governo a aceitar. Para António Costa, os poderes do presidente são os que
estão escritos e não subentendidos.
Sim, é verdade que Marcelo não tem
poder para impor mudanças no executivo mas Soares, Sampaio e Cavaco Silva, que
tinham os mesmos poderes, impuseram-nas. O que aconteceu então? Depois de, em
2015, ter mostrado que um partido que não ganhara as eleições podia formar
governo, António Costa, em Maio de 2023, colocou na gaveta o que pomposamente
designávamos como magistratura de influência do Presidente.
Como foi isto possível? Foi possível porque Marcelo o tornou
possível, quase inevitável, ao ter banalizado a palavra presidencial, ao ser
incapaz de usar o silêncio e a discrição e ao resumir o exercício dos seus
poderes à explanação pública sobre a possibilidade de dissolver o parlamento. Não
havia semana em que, qual criança traquinas diante dum castelo de cartas,
Marcelo não viesse lembrar que tinha o poder de deitar tudo abaixo. Ora ninguém
deve ameaçar com algo que tem medo de usar mas foi isso que Marcelo fez
repetida e crescentemente.
É público e notório que
Marcelo receia convocar eleições agora, seja pelo provável crescimento do
Chega, seja porque o eleitorado pode dar nova vitória ao PS. Ou talvez
por ambas as coisas, numa espécie de sequela das eleições antecipadas de 2022 (as
mesmas que Marcelo precipitou ao anunciar que caso o Orçamento fosse chumbado
dissolveria o parlamento).
António Costa obviamente usou este receio do presidente para o
neutralizar. Num ápice fez do improvável João Galamba um ministro
imprescindível e colocou o presidente diante dum dilema-armadilha: ou aceita ser desautorizado pelo
primeiro-ministro ou dissolve o
parlamento.
Já sabemos que Marcelo optou pela
primeira hipótese, deixando avisos sobre uma maior vigilância
sobre o Governo, coisa que em si mesma é uma confissão patética sobre o que não
tem feito.
E agora? Creio que o passo seguinte de António Costa será continuar a táctica de
ultrapassar Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso, e também como contraponto ao desgaste
da comissão parlamentar de inquérito à TAP, pode optar por fazer uma
remodelação governamental em que, para descanso do PS, se desembaraçará de João
Galamba.
Quanto a Marcelo, pode cavalgar algumas revelações que venham a ser
feitas na comissão parlamentar de inquérito à TAP, ou mais algum caso dos
muitos em que o Governo tem sido pródigo. Ou esperar pelas eleições europeias.
Ou pelas sondagens.… Para então dissolver o parlamento. Ou fazer mais uma
tonitruante declaração que promete outra ainda mais forte.
Mas deixemo-nos de cenários de Marcelo a
fazer de Soares ou de Eanes. Não só
ninguém consegue ser quem não é, muito menos um Presidente da República, como,
facto a ter conta nessas actuações, Marcelo tem popularidade mas não tem
capital político. Não existem marcelistas. Existem soaristas,
salazaristas, cavaquistas, passistas e, quem sabe, até existe ainda algum
sidonista vivo, mas não existe um marcelista. Marcelo é o homem mais só de
Portugal.
MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 91):
Seknevasse; Não concordo lá muito com o tom/conclusões gerais da crónica. Acho que MRS esteve bem nesta
crise e afrontou AC correctamente, eleições queria Costa, que já começa a
parecer um activo tóxico para o PS, por muita prosápia que tenha... Se a última
sondagem dá empate nos 21% e aumento de indecisos, é tempo de jogar a
popularidade do PR para cima de Costa e do Montenegro vestir o fato de homem de
Estado, de propor as soluções concretas para problemas do quotidiano dos
portugueses a fim de que estes se revejam nele, talvez ser mais explicativo
como era Passos... Marcelo não está só, tem a presença/força dos eleitores (e
nem fui um deles) que nele votaram, muitos mais do que teve o PS de Costa! JOHN MARTINS; NEM OITO,NEM OITENTA!Marcelo
ainda é o Presidente. Foi o grande colaborador de Costa? Foi.Porque
os portugueses
assim o determinaram. Ao fim de sete anos de cooperação, Marcelo, vendo que
Costa já não atendia as suas pretensões, pôs fim a esse arranjo mútuo e
anunciou à Nação, de viva voz e por escrito, que o governo de Costa: está sem
CAPACIDADE, sem fiabilidade,SEM CREDIBILIDADE, sem respeitabilidade e SEM
AUTORIDADE. Isto é de PRESIDENTE!.. Não, de um celito qualquer... servus inutilis: crónica assassina. Marcelo merece-a.
Passa por inteligentíssimo e é apenas brilhante. Passa por culto e apenas tem
mundo. Passa por académico e é apenas um professor de banalidades. Passa por
católico, por social-democrata, por grande comunicador e não é nada disso. JOSE DE CASTRO: Será "o homem mais só de
Portugal", mas de facto assumiu e reforçou aquilo que já tinha dito e que
foi: AC seja sério e tome juízo. Finalmente deixou de ser "menino bonito" e
perdeu a paciência. O seu populismo leviano deu lugar a uma dureza raramente vista!
Esperemos que,
como desejamos, seus novos objectivos não abrandem! Albino Ferreira
> JOSE DE CASTRO: Vão abrandar... fonseca
07 > JOSE DE CASTRO: Homem muito volúvel.
Só acredito com
factos. Haja acção. Maria
Odete Coutinho: Marcelo não tem importância nenhuma, já que a pouca importância do cargo de
PR português foi por ele reduzida a pó logo nos seus primeiros tempos de
desempenho do mesmo. É para mim uma perplexidade o tempo e espaço que o país
"comentador" lhe dedica. A bonomia e à-vontade com que o PM o trata e
afaga de modo prazenteiro e descuidado reduzem-no à sua real dimensão.
Recordações cada vez mais esbatidas de outros que o precederam em Belém serão
talvez o seu único amparo, mas quási a esgotar-se... O Serrano > Maria Odete Coutinho: Acha que o PM tem alguma
importância ? Vem-lhe de onde ? De obra feita em prol dos portugueses ? Qual
foi a obra? A reversão dos rendimentos? As ditas causas fracturantes ? De ter
feito a geringonça ? Para que serviu a gerigonça, qual a sua obra, que reformas
estruturais empreendeu para o desenvolvimento real, efectivo, palpável, do
país? Ou a obra não passa de conversa e mais conversa, promessas e mais
promessas, Será que a sua primeira e exclusiva preocupação não é manter-se no
poder para não voltar a ser deputado e comentador político. Nunca viveu senão
da política, não tem outro meio de vida. O Serrano: Helena Matos coloca Marcelo
como perdedor em relação a Costa nesta questão do Galamba. È uma opinião. Eu,
apesar de ter votado Marcelo na 1ª eleição já não o fiz na reeleição, porque
não gostei mesmo nada da sua atuação durante a geringonça, para mim foi uma
traição a quem nele votou, além da geringonça não merecer apoio nenhum, embora
não devesse ser uma força de bloqueio como foi Soares a Cavaco também não
deveria ter sido uma força de apoio tão despudorada. Mas, voltando à última
situação, a Helena Matos acha que Costa foi o ganhador? Porquê? Porventura
conseguiu a dissolução do Parlamento que ambicionava para, de caminho, voltar a
ganhar as eleições que da dissolução adviriam e fazer, depois, outra geringonça,
mas agora muito mais de esquerda, quando toda a gente sabe que o pior que pôde
acontecer a Portugal foi ter tido a esquerda no governo quase sempre desde o 25
de Abril, sendo a esquerda incompetente ao extremo, vivendo politicamente
apenas de slogans, causas a que chamam fracturantes e que, afinal, nem causas
chegam a ser. A esquerda é só conversa, obras nada, de concreto nada, só treta,
só hipocrisia e cinismo.
José Ramos: Um belíssimo
artigo e uma conclusão perfeita. Ainda por cima, um homem só que não sabe e não
suporta estar só; Marcelo precisa de estar rodeado de gente que gosta - ou
finge gostar - dele e que o adula. Para isso, desde os toques às campainhas de
outrora, aos mergulhos no Tejo e ao "taxismo", até às idas ao
Multibanco ou à gelataria. Gostei, no entanto, do seu curto discurso. Mas
assim, tardio, desgarrado e num momento mais ou menos errático, arrisca-se a
ser um fogo-fátuo. Aliás, foi um fogo-fátuo. Provavelmente tão irrelevante como
debicar numa bifana, mas com muito menos sabor. João Alves: A presidência de Sousa de Belém tem sido toda ela um
grande embuste: o embuste dos afectos, o em busto das selfies, e embuste da
magistratura de influência, o embuste da bomba atómica, que ele nunca quis
usar, e que se reduziu, depois da humilhação pública a que Costa de S. Bento o
sujeitou. a um gelado do Santini, delambido na companha da Ajudante de Campo.
José Miranda: O Marcelo
sempre foi um jogador, carente de admiração. No entanto, espero, que com a evidência de ser
desrespeitado, ainda tenha um resto de verdadeiro amor próprio para causar grandes
dissabores ao governo e ao PS. Joaquim Rodrigues: Desta vez não concordo com Helena Matos. Marcelo não só
não é um homem só como tem uma agenda política. Não é por acaso que vimos recentemente o Senhor Pinto
Balsemão a incitar o PSD a apoiar o Marcelo, quando o Marcelo, desde sempre,
pautou a sua acção pela menorização e achincalhamento do PSD e da sua
liderança, fosse ela a do Rui Rio ou a do Luís Montenegro.
Marcelo,
tal como o Expresso, também foi um crítico feroz de Passos Coelho. Deixo aqui o desafio a Helena Matos: qual é a agenda
do Marcelo? Albino
Ferreira > Joaquim Rodrigues: Não há agenda nenhuma e a
bravata passa rápido. Maria Paula Silva:
Adorei e concordo. Para além
disso, são dois políticos incompetentes (AC e MRS), fora todos os outros do
actual PS, que se entretêm nestas tricas de vaudeville
barato enquanto o país se afunda porque nada foi feito de concreto e a
Bem e para o Bem da nação. O povo português anda a ser gozado há mais de 7 anos, essa sim, é a
grande verdade. Somos roubados,
Portugal é o país da UE com menores salários e maior carga fiscal. E nenhum dos
políticos actuais se preocupa com isso, o que até se percebe, pois se em vez de
AC andar a devolver umas migalhas do que já pagámos, se baixarem os impostos
por exemplo (isso sim, seria uma grande ajuda), a festa
acaba-se. Portanto, b u l l s h i t para
eles todos e para as tricas de vaudeville! p.s. - nem sequer consigo perceber porque é que tanta gente gostou tanto deste
discurso do MRS. Demagogia q.b.. Antonio
Marques Mendes: Análise interessante. Marcelo revelou-se como um rapaz que grita
"lobos" e depois revelou cobardia e nunca mais será ouvido ou
respeitado. A direita deve desligar-se dele e aguardar pacientemente que o PS
se enterre ainda mais até ao fim da legislatura. O seu projecto sempre foi
pessoal e deve continuar até ao fim. Pedra Nussapato:
Não percebo, e muito menos
compreendo a necessidade, de HM fazer ligações entre o desempenho político de
Marcelo e elementos da sua vida pessoal (se vive ou não sozinho, etc). Adolfo
Castro: "Descartar
Galamba": infelizmente descartar um socialista significa (no mínimo)
mandá-lo para deputado europeu... Até lá, este sujeito vai
continuar a mandar em nós, a empobrecer Portugal, e de forma sempre cobarde e
cínica (a comunicação social diz que é "habilidade") vai continuar a
esconder-se atrás de um incompetente qualquer que lhe dê jeito no momento. Amigo do Camolas: É verdade que Marcelo não tem
uma claque por trás dele, mas também é verdade que foi uma escolha dele: ser um
verdadeiro cata-vento que não desejava poder, não desejava ser rei, mas queria
ser adorado por todos - em nome da estabilidade. Em vez disso, ele deu-nos uma
verdadeira bandalheira de graça, pouca dignidade nas palavras e decência.
Qualidades que poucos parecem valorizar mais. Mas quando mais de metade do País e dos média se indigna mais com o que
Marcelo DIZ sobre a bandalheira deste governo com a mentira do que o que um
Primeiro-Ministro FAZ com a mentira no exercício de suas funções, significa que
o País só tem o que merece e que a máquina socialista está apenas a aquecer e
não vai parar. Deixando-nos só uma certeza:
Isto não é mais simplesmente sobre esquerda e direita. Marcelo e Costa. Não é
mais sobre se o jornalismo é bom ou ruim. É sobre se em democracia com este PS
de Costa vale tudo para conseguir o que querem... por todos os meios
necessários. E ainda saírem como vitimas. João Ramos: O grande problema de Marcelo, é
ser Marcelo e não consegue deixar de sê-lo, poderá ser muito inteligente mas
como se tem provado não lhe tem servido de muito, ou por outra só tem servido
ao PS, pois como presidente da República tem sido um desastre que ao que parece
só ao fim de sete anos é que o conseguiu perceber. O homem parece não ter juízo
naquela cabeça… Luis
Figueiredo > João Ramos: Marcelo pode ser muito inteligente, mas não é esperto.
E, perante um governo carregado deste tipo de gente, até com caracteristicas de
xico-espertismo. ele será sempre derrotado Pedro de Freitas Leal: Ótima crónica, como sempre! A
Helena é uma mulher certeira e directa. Escreve num português impoluto. Sempre
bom lê-la. Maria Eduarda Vaz
Serra: O quadro para
Portugal é negro: Marcelo andou o tempo todo com o governo ao colo. E agora em
vez de se criar uma aliança anti socialismo cai-se na esparrela de afastar um
partido com quase 16% de votantes radicalizando-o ainda mais, e pretendendo uma
aliança apenas com o PSD e IL, este último um partido que anda dividido… Não
vamos lá! A direita é naïve e pouco inteligente para um velho lobo do mar como
Costa. É triste.
João Angolano: No fim temos apenas dois personagens egocêntricos que se divertem. O país
serve -apenas - de palco jorge botelho Moniz: A actuação do actual Presidente
da República desde o inícío do seu mandato reduziu-o apenas a presidente (com
"p" minúsculo) da República ao prometer, mas não desenvolver, o
escrutínio à actuação do governo (com "g" minúsculo") nomeadamente
desde que aceitou promulgar a redução das horas de trabalho no SNS de 40 para 35
horas caso não houvesse subida da despesa nessa matéria. E não escrutinou essa
medida. Para além de outras que foi deixando passar e que evidenciam claramente
incompetência governamental. Vamos ver o que se passará, nomeadamente na
utilização do SIS pelo governo, facto extremamente grave. Albino Ferreira > jorge botelho moniz: Exacto. Promulgou a redução das
40h para 35h, com a promessa que mandaria para o TC caso houvesse acréscimo de
despesa Até um merceeiro á antiga , percebia que ia haver acréscimo de despesas. E
o que fez perante a realidade dos números ? Nada. Portanto agora tb não vai fazer
nada. Só falou grosso, mais nada.
………………………………………………
Nenhum comentário:
Postar um comentário