O que se espanta - ou não - é também a coexistências
dos muitos sem-abrigo, nesta nossa irreparável triste postura social, de miserabilismo
e servilismo.
Lisboa não é para pobres, como Portugal
A desigualdade começa a ser um sério
problema em Portugal agravado pela atracção que Lisboa está a ter para
multimilionários.
HELENA GARRIDO Colunista
OBSERVADOR, 17
mai. 2023, 00:2213
Lisboa
foi a segunda cidade europeia com maior crescimento de multimilionários (7%),
no ano terminado em Junho de 2022, de acordo com o relatório da consultora imobiliária, Henley &
Partners. A liderança cabe a Lugano, Suíça, com
um aumento de 8%. Portugal faz
assim parte do exclusivo grupo de três países europeus – com a Suíça e a França
– com um elevado ritmo de atracção de milionários, definidos aqui como pessoas
com activos para investir de montante superior a um milhão de dólares.
Ao mesmo tempo ficamos a saber que a taxa de risco de pobreza subiu de 16,2%
para 18,4% em 2020, de acordo com o Balanço Social de 2022
realizado por Susana Peralta, Bruno Carvalho e Miguel Fonseca. Portugal é o oitavo país da União
Europeia com maior taxa de risco de pobreza ou exclusão social. E a taxa de
pobreza seria de 43,5% sem transferências sociais.
Conta-se
que após o 25 de Abril de 1974, Olofe Palme, então primeiro-ministro sueco,
terá dito a quem afirmou que queria acabar com os ricos em Portugal que eles,
na Suécia, queriam era acabar com os pobres, ou a pobreza. Esta frase
é em geral usada para se criticar quem alerta para este problema do agravamento
das desigualdades, com o acentuado crescimento de multimilionários num país
pobre como Portugal.
Um passeio pela Av. Da Liberdade em
Lisboa ilustra bem como a cidade mudou e tem
agora um poder de compra que não tinha no passado. Nada disso seria um
problema se o país se tivesse aproximado do rendimento médio dos países mais
ricos da União Europeia, se as desigualdades se tivessem esbatido, se a
diferença entre quem ganha menos e mais tivesse diminuído. Não passámos a ser a
Suíça, ou mesmo a França. Estamos mais próximos dos países menos desenvolvidos
que aparecem muito bem colocados nestes “top’s” de milionários.
Aumentar o número de ricos e o número de pobres não é acabar com a
pobreza, é acabar com a classe média e agravar as desigualdades. Ver Portugal aparecer num top de
multimilionários quando, ao mesmo tempo, somos confrontados com mais pessoas em
risco de pobreza, quando vemos que o crescimento do país se faz à custa do
sector do turismo, um dos que piores salários paga, e há imigrantes em
quantidade crescente, a viverem em condições lamentáveis, revela um país que
nos devia preocupar a todos.
Não é um problema que se resolva
facilmente, este agravamento das desigualdades, mas pode
fazer-se alguma coisa para que não se agrave. E
uma das medidas passa seguramente por acabar com o paraíso fiscal em que
Portugal se transformou, para pensionistas ricos, supostos nómadas digitais ou
para quem quer comprar o passaporte europeu. Certamente que contribuía para
sairmos do ‘ranking’ visível de multimilionários.
E não, isso não é acabar com os ricos. Reduzir a
atracção do país para os super-ricos, que basicamente fogem de pagar impostos
nos seus países, é libertar recursos para as outras classes de rendimento.
No caso da habitação é frequente
desvalorizar-se o efeito dos vistos ‘gold’ e do estatuto de não residente
(leia-se pagar menos impostos em Portugal do que os portugueses e do que no seu
país de origem) na subida dos preços e respectiva escassez de oferta para a
classe média. Mas basta pensar que, num país em que se reduziu a
oferta de construção na sequência da crise de 2011, as construtoras do mercado
têm um fortíssimo incentivo para deslocarem os seus recursos para a construção
de imóveis de gama alta, onde há uma elevada procura e margens mais altas do
que nas casas para a classe média.
Não precisamos de multimilionários a
investir em imobiliário, precisamos de uma nova Autoeuropa, precisamos de
aproveitar as oportunidades que estão a ser abertas pelo reajustamento da
globalização e pela estratégia europeia de se tornar menos dependente em alguns
sectores essenciais e que fazem regressar alguma indústria para a Europa. O
investimento imobiliário cria rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a
prazo. O investimento em empresas, e
especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e liberta
regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de Setúbal.
Lisboa
já não é para pobres e o país caminha no mesmo sentido. Ninguém quer acabar com
os ricos, mas também ninguém quer, certamente, que os ricos nos transformem a
todos em pobres.
DESIGUALDADE SOCIEDADE LISBOA PAÍS
RIQUEZA
ECONOMIA VISTOS GOLD
COMENTÁRIOS:
Tristão: “O investimento imobiliário cria
rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a prazo. O investimento em
empresas, e especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e
liberta regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de
Setúbal.” Uma coisa não impede a outra, ou seja, o investimento do imobiliário
cria riqueza e não impede o investimento em empresas na indústria que também
criam trabalho, o problema está em não se saber promover a produção de bens
transaccionáveis, desde logo um IRC mais amigo das empresas – temos mundos mais
altos da Europa - e actuar sobre a burocracia e a lentidão da justiça… Miguel Ramos: O imobiliário tem as costas
muito largas em Portugal. Esta crónica é de um nível ridículo inesperado, algo
que não esperava da cronista. A origem da pobreza em Portugal é sobejamente
conhecida e o imobiliário qto muito atrasou esse destino inevitável. Velha do Restelo
> Miguel Ramos: Custa ouvir a realidade. A
realidade vista, sentida e concreta. Não é só Lisboa. Veja também o exemplo
de Cascais... basta andar na rua para ver o que o imobiliário para ricos está a
fazer. Os que chegam com estatuto de residente não habitual ou com visto gold
ou com outra benesse fiscal de qualquer tipo vêm sempre distorcer as condições.
Benefícios fiscais, porquê? Para quê? Fernando Cascais: Não se consegue construir
barato em Portugal com a carga de impostos, taxas e mão-de- obra cada vez mais
escassa e cara. A opção de construir ainda mais caro para captar a atenção de
estrangeiros é a alternativa que resta a muitos promotores. Tentar construir
barato em Portugal resulta no seguinte: a) continua demasiado caro para o bolso
dos portugueses b) a qualidade deixa de ser aliciante para quem pode comprar. Construir
habitação acessível com projecto de autor, sustentabilidade e enquadramento
paisagístico só se consegue com subsídios estatais. Se tivermos construção
subsidiada passa a ser construção social, e a construção social não se pode dar
a luxos de qualidade, sustentabilidade e projetos de autor, tem
obrigatoriamente de ser a barracara e prosaica em todos os sentidos. É
assim que a classe média tem os dias contados em Portugal, ou se é pobre ou
rico. Falta a coragem de subsidiar a construção habitacional para a classe
média; construção cara porque tem qualidade mas acessível através da
participação do estado. Construção para vender não por um milhão mas sim por
300 mil euros, e também para alugar, mas não por 15 euros por mês a quem nunca
descontou uma única quinhentas em impostos durante toda a vida, mas sim, a quem
trabalha e paga impostos através do cálculo de taxa de esforço e com contratos
renováveis. Manuel
Cardozo: A economia do
Turismo mostrou o que vale aquando da pandemia. Mas já todos esqueceram isso,
até à próxima. Aceitam-se apostas! ...mas que agora dá jeito ao governo lá isso
dá. E é mais uma desculpa para não fazer as tais reformas estruturais que
ninguém sabe quais são! Alexandre
Nicolau: Dinheiro atrai dinheiro. Todos esses imigrantes com maior capacidade económica
criarão novas oportunidades, até pelos seus padrões de consumo. Criam-se, por
exemplo. ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria, que não eram
possíveis antes por não haver procura que as sustentasse . Alguns farão cá os seus próximos investimentos, o que
poderá alavancar criação de novas empresas e empregos na area do digital, na
economia do conhecimento, etc. O desafio será promover, finalmente,
redistribuição e descentralização. O português médio vai fartar-se dos grandes
centros, mas terá cada vez melhores condições de se estabelecer noutras regiões
e usufruir de muito mais qualidade de vida Velha do Restelo
> Alexandre Nicolau: "...ofertas mais diferenciadas na restauração e
hotelaria..." Pois, os espaços gourmet, a mudança repentina do almoço por
12 euros para almoços de 40 ou 50 euros.... para quem pode... É tudo trendy...
O pior é quem não tem dinheiro para experimentar essas delícias e
"vivenciar" essas experiências hoteleiras... Tudo uma bolha do
consumismo estúpido e desenfreado... para ricos... Cisca Impllit:
É p que há!! Joao Felix:
O socialismo sempre culpando aos outros
pelos seus próprios erros. F.
Mendes: A meu ver, este artigo passa quase
completamente ao lado do que interessa, salvo a observação relativa à imigração
selvagem, com a qual estou de acordo. Citar nómadas digitais e vistos Gold,
para invocar o quase desaparecimento de nova construção e habitação para a
classe média, é um perfeito disparate. Não é daqui que vem a subida de preços. O
que se passa, isso sim, é o estrangulamento crescente do mercado de
arrendamento, sucessivamente agravado por este desgoverno, que empurra quase
toda a classe média para a compra, por falta de alternativa. Casas para
arrendar quase não há, e são caríssimas. Arrendar, tornou-se, para os
senhorios, um negócio de alto risco. Logo, surge a pressão sobre a compra, que
também escasseia a preços acessíveis, por causa de burocracias no
licenciamento, uma carga fiscal absurda, a subida de preços de materiais, e
juros bancários baixos, até recentemente. Houvesse bom senso, e teríamos um
mercado de arrendamento a funcionar com alguma expressão. Assim, é o que se vê.
Todos pagamos estas malfeitorias socialistas! observador
censurado > F. Mendes Para
que serve o Estado? Isto é, é o Estado que deve estar ao serviço dos cidadãos
ou os cidadãos que devem estar ao serviço do Estado? O Estado suga o dinheiro
dos cidadãos em todas as etapas do processo sem dar nada em troca: impostos no
preço dos terrenos, nas licenças de construção, na construção, em IRC das
empresas de construção. E depois desta enxurrada de impostos, queríamos que o preço de um apartamento fosse
para a classe média? F.
Mendes´> observador censurado: Tristão
“O investimento imobiliário cria
rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a prazo. O investimento em empresas,
e especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e liberta
regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de Setúbal.” Uma
coisa não impede a outra, ou seja, o investimento do imobiliário cria riqueza e
não impede o investimento em empresas na indústria que também criam trabalho, o
problema está em não se saber promover a produção de bens transacionáveis,
desde logo um IRC mais amigo das empresas – temos mundos mais altos da Europa -
e actuar sobre a burocracia e a lentidão da justiça… Miguel Ramos: O imobiliário tem as costas
muito largas em Portugal. Esta crónica é de um nível ridículo inesperado, algo
que não esperava da cronista. A origem da pobreza em Portugal é sobejamente
conhecida e o imobiliário qto muito tem atrasou esse destino inevitável. Velha do Restelo
> Miguel Ramos: Custa ouvir a realidade. A
realidade vista, sentida e concreta. Não é só Lisboa. Veja também o exemplo de
Cascais... basta andar na rua para ver o que o imobiliário para ricos está a
fazer. Os que chegam com estatuto de residente não habitual ou com visto gold
ou com outra benesse fiscal de qualquer tipo vêm sempre distorcer as condições.
Benefícios fiscais, porquê? Para quê? Fernando Cascais: Não se consegue construir
barato em Portugal com a carga de impostos, taxas e mão-de-obra cada vez mais
escassa e cara. A opção de construir ainda mais caro para captar a atenção
de estrangeiros é a alternativa que resta a muitos promotores. Tentar
construir barato em Portugal resulta no seguinte: a) continua demasiado caro
para o bolso dos portugueses b) a qualidade deixa de ser aliciante para quem
pode comprar Construir habitação acessível com projeto de autor,
sustentabilidade e enquadramento paisagístico só se consegue com subsídios
estatais. Se tivermos construção subsidiada passa a ser construção social, e a
construção social não se pode dar a luxos de qualidade, sustentabilidade e
projetos de autor, tem obrigatoriamente de ser abarracara e prosaica em todos
os sentidos. É assim que a classe média tem os dias contados em Portugal, ou se
é pobre ou rico. Falta a coragem de subsidiar a construção habitacional
para a classe média; construção cara porque tem qualidade mas acessível através
da participação do estado. Construção para vender não por um milhão mas sim por
300 mil euros, e também para alugar, mas não por 15 euros por mês a quem nunca
descontou uma única quinhentas em impostos durante toda a vida, mas sim, a quem
trabalha e paga impostos através do cálculo de taxa de esforço e com contratos
renováveis. Manuel
Cardozo: A economia do
Turismo mostrou o que vale aquando da pandemia. Mas já todos esqueceram isso,
até à próxima. Aceitam-se apostas! ...mas que agora dá jeito ao governo lá isso
dá. E é mais uma desculpa para não fazer as tais reformas estruturais que
ninguém sabe quais são! Alexandre
Nicolau: Dinheiro atrai
dinheiro. Todos esses imigrantes com maior capacidade económica criarão novas
oportunidades, até pelos seus padrões de consumo. Criam-se, por exemplo.
ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria, que não eram possíveis
antes por não haver procura que as sustentasse . Alguns farão cá os seus
próximos investimentos, o que poderá alavancar criação de novas empresas e
empregos na area do digital, na economia do conhecimento, etc. O desafio será
promover, finalmente, redistribuição e descentralização. O português médio vai
fartar-se dos grandes centros, mas terá cada vez melhores condições de se
estabelecer noutras regiões e usufruir de muito mais qualidade de vida Velha do
Restelo > Alexandre Nicolau: "... ofertas mais
diferenciadas na restauração e hotelaria..." Pois, os espaços gourmet, a
mudança repentina do almoço por 12 euros para almoços de 40 ou 50 euros....
para quem pode... É tudo trendy... O pior é quem não tem dinheiro para
experimentar essas delícias e "vivenciar" essas experiências
hoteleiras... Tudo uma bolha do consumismo estúpido e desenfreado... para ricos... Cisca Impllit: É o que há!! Joao Felix: O socialismo sempre culpando os
outros pelos seus próprios erros. F. Mendes: A meu ver, este artigo passa
quase completamente ao lado do que interessa, salvo a observação relativa à
imigração selvagem, com a qual estou de acordo. Citar nómadas digitais e vistos
Gold, para invocar o quase desaparecimento de nova construção e habitação para
a classe média, é um perfeito disparate. Não é daqui que vem a subida de
preços. O que se passa, isso sim, é o estrangulamento crescente do mercado
de arrendamento, sucessivamente agravado por este desgoverno, que empurra quase
toda a classe média para a compra, por falta de alternativa. Casas para
arrendar quase não há, e são caríssimas. Arrendar, tornou-se, para os senhorios,
um negócio de alto risco. Logo, surge a pressão sobre a compra, que também
escasseia a preços acessíveis, por causa de burocracias no licenciamento, uma
carga fiscal absurda, a subida de preços de materiais, e juros bancários
baixos, até recentemente. Houvesse bom-senso, e teríamos um mercado de
arrendamento a funcionar com alguma expressão. Assim, é o que se vê. Todos
pagamos estas malfeitorias socialistas! observador censurado
> F. Mendes: Para que serve o Estado? Isto
é, é o Estado que deve estar ao serviço dos cidadãos ou os cidadãos que devem
estar ao serviço do Estado? O Estado suga o dinheiro dos cidadãos em todas
as etapas do processo sem dar nada em troca: impostos no preço dos terrenos,
nas licenças de construção, na construção, em IRC das empresas de construção. E
depois desta enxurrada de impostos, queríamos que o preço
de um apartamento fosse para a classe média? F. Mendes > sobservador censurado: Estou de acordo consigo. Ainda
por cima, o Estado é péssimo senhorio, além de criar imensa incerteza no que
sobra do mercado de arrendamento, com constantes alterações legislativas;
produzidas por gente que não sabe o que está a fazer.
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