quarta-feira, 17 de maio de 2023

As subserviências da nossa condição


O que se espanta - ou não - é também a coexistências dos muitos sem-abrigo, nesta nossa irreparável triste postura social, de miserabilismo e servilismo.

Lisboa não é para pobres, como Portugal

A desigualdade começa a ser um sério problema em Portugal agravado pela atracção que Lisboa está a ter para multimilionários.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 17 mai. 2023, 00:2213

Lisboa foi a segunda cidade europeia com maior crescimento de multimilionários (7%), no ano terminado em Junho de 2022, de acordo com o relatório da consultora imobiliária, Henley & Partners. A liderança cabe a Lugano, Suíça, com um aumento de 8%. Portugal faz assim parte do exclusivo grupo de três países europeus – com a Suíça e a França – com um elevado ritmo de atracção de milionários, definidos aqui como pessoas com activos para investir de montante superior a um milhão de dólares.

Ao mesmo tempo ficamos a saber que a taxa de risco de pobreza subiu de 16,2% para 18,4% em 2020, de acordo com o Balanço Social de 2022 realizado por Susana Peralta, Bruno Carvalho e Miguel Fonseca. Portugal é o oitavo país da União Europeia com maior taxa de risco de pobreza ou exclusão social. E a taxa de pobreza seria de 43,5% sem transferências sociais.

Conta-se que após o 25 de Abril de 1974, Olofe Palme, então primeiro-ministro sueco, terá dito a quem afirmou que queria acabar com os ricos em Portugal que eles, na Suécia, queriam era acabar com os pobres, ou a pobreza. Esta frase é em geral usada para se criticar quem alerta para este problema do agravamento das desigualdades, com o acentuado crescimento de multimilionários num país pobre como Portugal.

Um passeio pela Av. Da Liberdade em Lisboa ilustra bem como a cidade mudou e tem agora um poder de compra que não tinha no passado. Nada disso seria um problema se o país se tivesse aproximado do rendimento médio dos países mais ricos da União Europeia, se as desigualdades se tivessem esbatido, se a diferença entre quem ganha menos e mais tivesse diminuído. Não passámos a ser a Suíça, ou mesmo a França. Estamos mais próximos dos países menos desenvolvidos que aparecem muito bem colocados nestes “top’s” de milionários.

Aumentar o número de ricos e o número de pobres não é acabar com a pobreza, é acabar com a classe média e agravar as desigualdades. Ver Portugal aparecer num top de multimilionários quando, ao mesmo tempo, somos confrontados com mais pessoas em risco de pobreza, quando vemos que o crescimento do país se faz à custa do sector do turismo, um dos que piores salários paga, e há imigrantes em quantidade crescente, a viverem em condições lamentáveis, revela um país que nos devia preocupar a todos.

Não é um problema que se resolva facilmente, este agravamento das desigualdades, mas pode fazer-se alguma coisa para que não se agrave. E uma das medidas passa seguramente por acabar com o paraíso fiscal em que Portugal se transformou, para pensionistas ricos, supostos nómadas digitais ou para quem quer comprar o passaporte europeu. Certamente que contribuía para sairmos do ‘ranking’ visível de multimilionários.

E não, isso não é acabar com os ricos. Reduzir a atracção do país para os super-ricos, que basicamente fogem de pagar impostos nos seus países, é libertar recursos para as outras classes de rendimento.

No caso da habitação é frequente desvalorizar-se o efeito dos vistos ‘gold’ e do estatuto de não residente (leia-se pagar menos impostos em Portugal do que os portugueses e do que no seu país de origem) na subida dos preços e respectiva escassez de oferta para a classe média. Mas basta pensar que, num país em que se reduziu a oferta de construção na sequência da crise de 2011, as construtoras do mercado têm um fortíssimo incentivo para deslocarem os seus recursos para a construção de imóveis de gama alta, onde há uma elevada procura e margens mais altas do que nas casas para a classe média.

Não precisamos de multimilionários a investir em imobiliário, precisamos de uma nova Autoeuropa, precisamos de aproveitar as oportunidades que estão a ser abertas pelo reajustamento da globalização e pela estratégia europeia de se tornar menos dependente em alguns sectores essenciais e que fazem regressar alguma indústria para a Europa. O investimento imobiliário cria rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a prazo. O investimento em empresas, e especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e liberta regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de Setúbal.

Lisboa já não é para pobres e o país caminha no mesmo sentido. Ninguém quer acabar com os ricos, mas também ninguém quer, certamente, que os ricos nos transformem a todos em pobres.

DESIGUALDADE   SOCIEDADE   LISBOA   PAÍS   RIQUEZA   ECONOMIA   VISTOS GOLD

COMENTÁRIOS:

Tristão:  “O investimento imobiliário cria rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a prazo. O investimento em empresas, e especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e liberta regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de Setúbal.” Uma coisa não impede a outra, ou seja, o investimento do imobiliário cria riqueza e não impede o investimento em empresas na indústria que também criam trabalho, o problema está em não se saber promover a produção de bens transaccionáveis, desde logo um IRC mais amigo das empresas – temos mundos mais altos da Europa - e actuar sobre a burocracia e a lentidão da justiça…                Miguel Ramos: O imobiliário tem as costas muito largas em Portugal. Esta crónica é de um nível ridículo inesperado, algo que não esperava da cronista. A origem da pobreza em Portugal é sobejamente conhecida e o imobiliário qto muito atrasou esse destino inevitável.               Velha do Restelo > Miguel Ramos: Custa ouvir a realidade. A realidade vista, sentida e concreta. Não é só Lisboa. Veja também o exemplo de Cascais... basta andar na rua para ver o que o imobiliário para ricos está a fazer. Os que chegam com estatuto de residente não habitual ou com visto gold ou com outra benesse fiscal de qualquer tipo vêm sempre distorcer as condições. Benefícios fiscais, porquê? Para quê?                Fernando Cascais: Não se consegue construir barato em Portugal com a carga de impostos, taxas e mão-de- obra cada vez mais escassa e cara. A opção de construir ainda mais caro para captar a atenção de estrangeiros é a alternativa que resta a muitos promotores. Tentar construir barato em Portugal resulta no seguinte: a) continua demasiado caro para o bolso dos portugueses b) a qualidade deixa de ser aliciante para quem pode comprar. Construir habitação acessível com projecto de autor, sustentabilidade e enquadramento paisagístico só se consegue com subsídios estatais. Se tivermos construção subsidiada passa a ser construção social, e a construção social não se pode dar a luxos de qualidade, sustentabilidade e projetos de autor, tem obrigatoriamente de ser a barracara e prosaica em todos os sentidos. É assim que a classe média tem os dias contados em Portugal, ou se é pobre ou rico. Falta a coragem de subsidiar a construção habitacional para a classe média; construção cara porque tem qualidade mas acessível através da participação do estado. Construção para vender não por um milhão mas sim por 300 mil euros, e também para alugar, mas não por 15 euros por mês a quem nunca descontou uma única quinhentas em impostos durante toda a vida, mas sim, a quem trabalha e paga impostos através do cálculo de taxa de esforço e com contratos renováveis.             Manuel Cardozo: A economia do Turismo mostrou o que vale aquando da pandemia. Mas já todos esqueceram isso, até à próxima. Aceitam-se apostas! ...mas que agora dá jeito ao governo lá isso dá. E é mais uma desculpa para não fazer as tais reformas estruturais que ninguém sabe quais são!                Alexandre Nicolau: Dinheiro atrai dinheiro. Todos esses imigrantes com maior capacidade económica criarão novas oportunidades, até pelos seus padrões de consumo. Criam-se, por exemplo. ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria, que não eram possíveis antes por não haver procura que as sustentasse . Alguns farão cá os seus próximos investimentos, o que poderá alavancar criação de novas empresas e empregos na area do digital, na economia do conhecimento, etc. O desafio será promover, finalmente, redistribuição e descentralização. O português médio vai fartar-se dos grandes centros, mas terá cada vez melhores condições de se estabelecer noutras regiões e usufruir de muito mais qualidade de vida              Velha do Restelo > Alexandre Nicolau: "...ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria..." Pois, os espaços gourmet, a mudança repentina do almoço por 12 euros para almoços de 40 ou 50 euros.... para quem pode... É tudo trendy... O pior é quem não tem dinheiro para experimentar essas delícias e "vivenciar" essas experiências hoteleiras... Tudo uma bolha do consumismo estúpido e desenfreado... para ricos...                    Cisca Impllit: É p que há!!                  Joao Felix: O socialismo sempre culpando aos outros pelos seus próprios erros.             F. Mendes: A meu ver, este artigo passa quase completamente ao lado do que interessa, salvo a observação relativa à imigração selvagem, com a qual estou de acordo. Citar nómadas digitais e vistos Gold, para invocar o quase desaparecimento de nova construção e habitação para a classe média, é um perfeito disparate. Não é daqui que vem a subida de preços. O que se passa, isso sim, é o estrangulamento crescente do mercado de arrendamento, sucessivamente agravado por este desgoverno, que empurra quase toda a classe média para a compra, por falta de alternativa. Casas para arrendar quase não há, e são caríssimas. Arrendar, tornou-se, para os senhorios, um negócio de alto risco. Logo, surge a pressão sobre a compra, que também escasseia a preços acessíveis, por causa de burocracias no licenciamento, uma carga fiscal absurda, a subida de preços de materiais, e juros bancários baixos, até recentemente. Houvesse bom senso, e teríamos um mercado de arrendamento a funcionar com alguma expressão. Assim, é o que se vê. Todos pagamos estas malfeitorias socialistas!               observador censurado > F. Mendes Para que serve o Estado? Isto é, é o Estado que deve estar ao serviço dos cidadãos ou os cidadãos que devem estar ao serviço do Estado? O Estado suga o dinheiro dos cidadãos em todas as etapas do processo sem dar nada em troca: impostos no preço dos terrenos, nas licenças de construção, na construção, em IRC das empresas de construção. E depois desta enxurrada de impostos, queríamos que o preço de um apartamento fosse para a classe média?                  F. Mendes´> observador censurado: Tristão  “O investimento imobiliário cria rendimento de curto prazo e pode gerar problemas a prazo. O investimento em empresas, e especialmente na indústria, cria emprego a médio e longo prazo e liberta regiões do risco de desemprego, como aconteceu com a península de Setúbal.” Uma coisa não impede a outra, ou seja, o investimento do imobiliário cria riqueza e não impede o investimento em empresas na indústria que também criam trabalho, o problema está em não se saber promover a produção de bens transacionáveis, desde logo um IRC mais amigo das empresas – temos mundos mais altos da Europa - e actuar sobre a burocracia e a lentidão da justiça…                  Miguel Ramos: O imobiliário tem as costas muito largas em Portugal. Esta crónica é de um nível ridículo inesperado, algo que não esperava da cronista. A origem da pobreza em Portugal é sobejamente conhecida e o imobiliário qto muito tem atrasou esse destino inevitável.               Velha do Restelo > Miguel Ramos: Custa ouvir a realidade. A realidade vista, sentida e concreta. Não é só Lisboa. Veja também o exemplo de Cascais... basta andar na rua para ver o que o imobiliário para ricos está a fazer. Os que chegam com estatuto de residente não habitual ou com visto gold ou com outra benesse fiscal de qualquer tipo vêm sempre distorcer as condições. Benefícios fiscais, porquê? Para quê?                Fernando Cascais: Não se consegue construir barato em Portugal com a carga de impostos, taxas e mão-de-obra cada vez mais escassa e cara. A opção de construir ainda mais caro para captar a atenção de estrangeiros é a alternativa que resta a muitos promotores. Tentar construir barato em Portugal resulta no seguinte: a) continua demasiado caro para o bolso dos portugueses b) a qualidade deixa de ser aliciante para quem pode comprar Construir habitação acessível com projeto de autor, sustentabilidade e enquadramento paisagístico só se consegue com subsídios estatais. Se tivermos construção subsidiada passa a ser construção social, e a construção social não se pode dar a luxos de qualidade, sustentabilidade e projetos de autor, tem obrigatoriamente de ser abarracara e prosaica em todos os sentidos. É assim que a classe média tem os dias contados em Portugal, ou se é pobre ou rico. Falta a coragem de subsidiar a construção habitacional para a classe média; construção cara porque tem qualidade mas acessível através da participação do estado. Construção para vender não por um milhão mas sim por 300 mil euros, e também para alugar, mas não por 15 euros por mês a quem nunca descontou uma única quinhentas em impostos durante toda a vida, mas sim, a quem trabalha e paga impostos através do cálculo de taxa de esforço e com contratos renováveis.                 Manuel Cardozo: A economia do Turismo mostrou o que vale aquando da pandemia. Mas já todos esqueceram isso, até à próxima. Aceitam-se apostas! ...mas que agora dá jeito ao governo lá isso dá. E é mais uma desculpa para não fazer as tais reformas estruturais que ninguém sabe quais são!             Alexandre Nicolau: Dinheiro atrai dinheiro. Todos esses imigrantes com maior capacidade económica criarão novas oportunidades, até pelos seus padrões de consumo. Criam-se, por exemplo. ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria, que não eram possíveis antes por não haver procura que as sustentasse . Alguns farão cá os seus próximos investimentos, o que poderá alavancar criação de novas empresas e empregos na area do digital, na economia do conhecimento, etc. O desafio será promover, finalmente, redistribuição e descentralização. O português médio vai fartar-se dos grandes centros, mas terá cada vez melhores condições de se estabelecer noutras regiões e usufruir de muito mais qualidade de vida                  Velha do Restelo > Alexandre Nicolau: "... ofertas mais diferenciadas na restauração e hotelaria..." Pois, os espaços gourmet, a mudança repentina do almoço por 12 euros para almoços de 40 ou 50 euros.... para quem pode... É tudo trendy... O pior é quem não tem dinheiro para experimentar essas delícias e "vivenciar" essas experiências hoteleiras... Tudo uma bolha do consumismo estúpido e desenfreado... para ricos...                Cisca Impllit: É o que há!!  Joao Felix: O socialismo sempre culpando os outros pelos seus próprios erros.                  F. Mendes: A meu ver, este artigo passa quase completamente ao lado do que interessa, salvo a observação relativa à imigração selvagem, com a qual estou de acordo. Citar nómadas digitais e vistos Gold, para invocar o quase desaparecimento de nova construção e habitação para a classe média, é um perfeito disparate. Não é daqui que vem a subida de preços. O que se passa, isso sim, é o estrangulamento crescente do mercado de arrendamento, sucessivamente agravado por este desgoverno, que empurra quase toda a classe média para a compra, por falta de alternativa. Casas para arrendar quase não há, e são caríssimas. Arrendar, tornou-se, para os senhorios, um negócio de alto risco. Logo, surge a pressão sobre a compra, que também escasseia a preços acessíveis, por causa de burocracias no licenciamento, uma carga fiscal absurda, a subida de preços de materiais, e juros bancários baixos, até recentemente. Houvesse bom-senso, e teríamos um mercado de arrendamento a funcionar com alguma expressão. Assim, é o que se vê. Todos pagamos estas malfeitorias socialistas!               observador censurado > F. Mendes: Para que serve o Estado? Isto é, é o Estado que deve estar ao serviço dos cidadãos ou os cidadãos que devem estar ao serviço do Estado? O Estado suga o dinheiro dos cidadãos em todas as etapas do processo sem dar nada em troca: impostos no preço dos terrenos, nas licenças de construção, na construção, em IRC das empresas de construção. E depois desta enxurrada de impostos, queríamos que o preço de um apartamento fosse para a classe média?                F. Mendes > sobservador censurado: Estou de acordo consigo. Ainda por cima, o Estado é péssimo senhorio, além de criar imensa incerteza no que sobra do mercado de arrendamento, com constantes alterações legislativas; produzidas por gente que não sabe o que está a fazer. 

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