Esperando Godot. Implacavelmente rodando. Tristemente ridículos.
Presidente 1, primeiro-ministro 0
O ministro, personalidade assanhada,
gerador de polémica que evocou o SIS como se o SIS não fosse o SIS, continua ao
leme de um dossier trágico. Porquê?
MARIA JOÃO AVILLEZ
Jornalista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 03 mai. 2023, 00:2296
1Não é demais repeti-lo mesmo que “o”
assunto não seja esse: o dique levou um rombo. O SIS? Chamar o SIS por causa de
um computador? Quem assim agiu desconhece absolutamente 1) o que é um país; 2) o sentido de Estado; 3) a segurança do Estado;
4) a responsabilidade de governar; 5) as obrigações de um ministro (e do seu
gabinete).
O andar da carruagem socialista tinha
já privado os portugueses de algumas das suas garantias: os diques da Educação,
da Justiça, da Saúde, da Administração Pública, foram cedendo levados pela
desordem das águas governativas. Aquilo
que porém nos parecia de aço – a segurança tem de ser e nos parecer de aço –
pode ter aberto uma fissura. Ficou registada.
2É evidente que a história se mantém mal
contada (bastou atentar ontem na “encenação” do primeiro-ministro); que faltam
peças para completar o desastroso puzzle, o colar de mentiras e omissões vai
dar ainda muitas voltas, talvez nunca venhamos a saber tudo. Não importa,
sabemos o suficiente: há uma luz
vermelha em cima do SIS que em circunstância alguma poderia haver. E há
suspeitas, fundamentadas, claro, sobre o real significado da tal “matéria
classificada”… É que até aqui havia um carrocel vertiginoso,
antiético e antiestético, de casos e episódios, uns relevando da
irresponsabilidade, outros do abuso de poder, outros da ostentação e da
arrogância, outros da mera vulgaridade, outros da caricatura. E outros, claro,
da tonteria presidencial. A
mistura ia produzindo resultados deploráveis mas com uma passividade digna de
estudo e uma indignação inoperante, fomo-nos habituando. E
subitamente, há dias, pisou-se uma impisável linha vermelha. O que não é nada a
mesma coisa do que tem ocorrido ultimamente. E o ministro que esteve no centro
desta história turva, dono de personalidade assanhada, gerador de polémica,
dotado de pouca credibilidade política e a quem ouvimos evocar o SIS como se o
SIS não fosse o SIS, continua ao leme de um dossier trágico. Porquê? Porque a venda da TAP pode estar num
ponto delicado e não convir mudar de rosto e de nome? Não. Dizer que estamos
perante a oficialização de uma declaração de guerra ao PR, sendo verdade, fica
aquém. A “consciência” de António Costa será a conveniente camuflagem da sua
vontade de uma dissolução rápida do parlamento, por saber melhor que ninguém
que já lhe sobra pouco tempo para puxar pelos galões, vitimizando-se ou
glorificando-se? Talvez mas nunca o PR lhe oferecerá o bombom da
vitimização numa bandeja. O Presidente esperará que a espiral negativa em que
se encontra a governação teça as suas malhas e que um dia o governo caia ao
chão e já não se levante. Mas eu insisto: há uma pergunta – a única que
interessa – que ficou por responder: porque é que António Costa não
demitiu João Galamba? Se lhe antepusermos o inédito caso do SIS – também
ainda por responder – sabemos ao menos que vivemos um momento politico
particular. Começou outra história.
3São muitas as perplexidades, incomensuráveis as
estranhezas, incontáveis as razões de queixa do comportamento dos órgãos de
soberania – dos três, o que, convenhamos, é pouco vulgar. Mas apesar delas e
apesar de convivermos com a tal governação impreparada, inoperante, abusadora;
apesar da misteriosíssima gestão política do país tão generosa no fornecimento
de vergonha diária; apesar do irresponsável relevo que o PS – por razões
meramente tácticas e não de pundonor democrático – confere à meia dúzia de
gatos pingados rudimentares e boçais do Chega, qualquer dia levando-o ao colo
ao altar da vitória; apesar de tudo isso que já era muito, subiu-se um lance na
escala da vida politica nacional. Não se pode sair disto:
porque é que João Galamba não foi demitido? (Que aconteceu? Quem tem medo de
quem? Quem se quer vingar de quem?)
4Ontem, terça-feira, dia 2 de Maio de
2023, foi o primeiro dia do “depois” nas relações entre o PR e o PM. Anteontem
vivia-se no “antes”: no fundo “eles” davam- se bem, conheciam-se há tanto
tempo, riam das mesmas coisas, faziam coro a dizer mal do PSD, Costa sempre fez
o que quis, Marcelo sempre o deixou fazer o que ele queria. Agora não, já
passou. Passou de vez. A era agora chama-se “depois”. Com todas
as consequências que daí virão: dissolução ou… (sim, sim) um dia a demissão
do chefe do governo. Não há hipótese C. Na certeza porém de que
detestando Marcelo confrontos como detesta, nesta nova era do “depois” quem
está aliviado é Marcelo Rebelo de Sousa e a fazer contas de cabeça é António
Costa. Quem diria?
JOÃO GALAMBA PS POLÍTICA ANTÓNIO COSTA PRESIDENTE
MARCELO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA
COMENTÁRIOS (de 97):
Alberico Lopes: Maria João: há
pouco esqueci-me de dizer: não gostei do que escreveu sobre o Chega! Mesmo não
indo à pala com o Ventura nem com o Chega no seu ideário, acho que não se pode
chamar tão depreciativamente mais de 400 mil votantes. Para isso já temos o
malhador da direita, essa inconcebível criatura que, infelizmente, é o actual
presidente da AR! Alberico
Lopes: D.Maria João:
concordando com quase tudo o que escreve e dado que a Maria João tece as mesmas
dúvidas que eu sinto acerca desta encenação, só queria perguntar-lhe se, com a
sua perspicácia e experiência, consegue mesmo vislumbrar os motivos desta encenação
que tão mal nos foi vendida em horário nobre e com tanta solenidade pelo 1º.
ministro mais analfabeto que algum dia Portugal teve! E já agora: se não
concorda comigo quando me rio do dr. Marcelo por ter andado tanto tempo com o
sr. Costa ao colinho e agora este lhe ter correspondido com esta garotice! Bem
feito! Joaquim
Rodrigues: Como seria
possível o Costa e o Galamba não se entenderem? Em momentos diferentes, dizia
Vasco Pulido Valente: (sobre
o Galamba): "O sr. Galamba não tem boas maneiras ou educação: ninguém iria jantar
com ele ou o convidaria para casa. Como a sua insignificância é absoluta, era
bom que se impedisse o indivíduo de maçar as pessoas." (sobre
o Costa): "Desde a I
República que não aparecia um cacique da envergadura do dr. Costa, pronto a
meter o país no fundo por vaidade pessoal ou conveniências partidárias". O mais grave é que o Galamba
prepara-se para lançar um concurso da Linha Ferroviária Lisboa-Porto, a que ele
chama TGV, para fazer uma aberração de Projecto, onde vão gastar muitos
biliões, à custa dos contribuintes, que é contra os interesses dos cidadãos, da
economia portuguesa e de Portugal e que a Comissão Europeia já declarou que não
financiaria, por contrariar o Plano da Rede Ferroviária Transeuropeia aprovado
por todos os Países da União incluindo Portugal. Está tudo a ser feito pela
"calada" enquanto vão entretendo os indígenas com estes "faits
divers". Nem 4 anos depois .... Não concordo com muito. Costa
manda e Marcelo submete-se. Porquê? Que Costa quer eleições? Não tenho nada
certeza disso, Costa quer é ir para a UE e vai esperar por esse tempo, quanto
ao Chega, a Mariazinha já vai vivendo no passado sem se aperceber que vieram
para ficar. F.
Mendes: Fica deste artigo
a referência de MJA, à "tonteria presidencial". Até que enfim, mais
vale tarde do que nunca, mesmo sendo evidente que Marcelo nunca jogou com o
baralho todo certo. E também escreve que Costa e Marcelo se divertiram a dizer
mal do PSD, repetindo não ser alternativa. Depois, queixa-se dos
"boçais" do CHEGA; que crescem graças ao PS e ao encolhimento do PSD,
começado por Rio e Marcelo, e acelerado pelo Ventura, Santos Silva, Marcelo e
Costa. Agora estamos assim: Marcelo atou-se a ele mesmo, porque o PSD continua
a recuperar devagarinho de quase 5 anos de desaparecimento, e, a haver
eleições, teremos um grande berbicacho. Continuem a escrever alguns, que o
Marcelo é muito inteligente. Quando oiço tal, quase me sinto um Einstein! Antonio Bentes: Eu continuo a achar que foi António Costa que deu
ordens para que se envolvesse o SIS. Se como dizem o SIS reporta diretamente ao
primeiro-ministro, então só a este é que o SIS obedece. Quem é que pode
acreditar que o SIS tenha atendido a um pedido da Chefe de Gabinete do Galamba.
E por acaso o número de telefone do SIS está na lista de telefones úteis de
todos os gabinetes e ministérios? Obviamente que não. Costa está metido nisto
até aos cabelos como também em todo o dossier da TAP. júlio correia: Estimada MJA: No meio desta caldeirada toda os
deputados do Chega é que são boçais e rudimentares? Exemplo acabado de como uma
frase inquina toda uma crónica, pelo menos para mim.
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