Que a integridade – e a inteligência – sustentam.
Autores e herdeiros
A lei prevê uma punição para quem alterar ou rasurar o
que alguém assinou. Não, não se trata de “revisionismo literário”, mas de
falsificação. Um livro é um documento assinado.
18 mai. 2023, 00:1628
Quando o PSD apresentou uma
recomendação à Câmara de Lisboa para proteger do “revisionismo literário” as
bibliotecas municipais, declarou que esta prática de alterar os livros era
comparável à censura própria dos regimes totalitários. O documento invocava o nazismo e o
fascismo, já que em matéria de horror e prepotência são estes os regimes mais
presentes na memória desta parte ocidental da Europa. Vou completar esta
memória, contra a
cartilha da esquerda ainda hoje recitada pelos próceres do Estado e da alegada
“cultura” a benefício da Pátria desejadamente analfabeta. Lembro os regimes comunistas. Neles a censura
sempre foi política oficial.
Lembro a União Soviética, onde
Aleksandr Solzhenitsyn foi preso pela primeira vez ainda antes de terminar a
segunda guerra mundial, por lhe terem interceptado uma crítica a Stalin numa
carta a um amigo. A correspondência não era sagrada na União Soviética.
Onze anos antes do “Arquipélago de Gulag”, em Novembro de 1962, Solzhenitsyn
publicou “Um dia na vida de Ivan Denisovich”, sobre a vida dele num “campo
especial” para prisioneiros políticos. A publicação foi autorizada por
Khrushchev por lhe servir a ideia de circunscrever ao período de Stalin todos
os horrores. De resto,
uma fraude que Solzhenitsyn nunca aceitou e que, aos olhos da União Soviética,
constituiu o seu maior crime político: para ele não existia “estalinismo”;
existia comunismo. Todo ele igualmente infernal. Por este crime de opinião,
Solzhenitsyn viveu perseguido, torturado, condenado até ser expulso, em 1974. Primeiro
o NKVD, depois o KGB. Puseram-lhe escutas em casa, ouviram-lhe as conversas com
os amigos, com os filhos, com a mulher. Não voltou a ter um minuto de
privacidade. Hoje é fácil fazer uma biografia de Aleksandr Solzhenitsyn; toda a
vida dele está gravada e transcrita, guardada nos arquivos do KGB.
Lembro Cuba, onde Reinaldo Arenas, escritor, poeta, e
homossexual, foi comunista até deixar de ser. “Antes que anoiteça”, a autobiografia publicada em 1992, serviu de base ao
filme com o mesmo nome, de 2000, com Javier Bardem no papel de Arenas. Dizia
que em Cuba não era proibido ser homossexual; o que não se podia era ser
homossexual e, ao mesmo tempo, opositor do regime. A liberdade sexual estava
limitada pela opinião política. Os apoiantes do regime eram livres de
viver livremente a sua sexualidade; aos outros era servida a perseguição.
A própria expressão “revisionismo
literário” é inadequada. Desde logo porque o revisionismo é, muitas vezes,
não só legítimo como necessário. Por exemplo, aplicado à história. Sucede
sempre que uma versão dos acontecimentos, aceite por largo período de tempo, é
substituída por outra, em resultado do trabalho de um historiador que, olhando
para outros dados, ou fazendo deles uma interpretação diferente, estabelece um
novo conhecimento genericamente reconhecido. Sucedeu com a Revolução
Francesa e o livro “Citizens: A Chronicle of the French Revolution”, de Simon
Schama, publicado em 1989. E sucedeu em Portugal, com “O poder e o povo”, de
Vasco Pulido Valente, publicado pela primeira vez em 1976, que destruiu a
ortodoxia marxista em vigor e mostrou que a I República tinha sido “uma
ditadura terrorista”, e um regime assente numa “cultura política que perseguia
sem escrúpulos (e, às vezes, matava) uma extensa e indeterminada multidão
de suspeitos”. A I República, a quem o PS insiste em prestar homenagem
oficial, atingiu limites em número de presos políticos dos quais nenhum outro
regime do Portugal moderno, incluindo o Estado Novo, algum dia se aproximou.
Mas um livro é uma obra de arte, e uma
obra de arte é um documento. Não passa (ou ainda não passou) pelas cabeças
destes polícias da nova moralidade alterar os quadros de Caravaggio, ou de
Rubens, ou de Velázquez. Mas andam por aí alterando o que os autores
escreveram. A lei prevê uma punição para quem alterar ou rasurar o que alguém
assinou. Não, não se trata de “revisionismo literário”, mas de falsificação. Um
livro é um documento assinado.
Convém
relembrar histórias horríveis e olhar para as coisas como elas são, sobretudo
aqui, em Portugal, desgraçado país cujo atraso também se expressa pela natureza
do seu espectro político. É que felizmente não existe, com representação
parlamentar, na Assembleia da República ou, para voltar ao início deste texto,
na Assembleia Municipal de Lisboa, nenhum partido que se reconheça a si próprio
como herdeiro do nazismo ou do fascismo. Mas há vários herdeiros do comunismo.
E o PS, herdeiro estridente da I República, votou contra a recomendação do PSD.
É importante e oportuno perceber exactamente o que eles representam.
LISBOA PAÍS COMUNISMO POLÍTICA CULTURA
COMENTÁRIOS
vitor Manuel: Tudo de bom e que continue na
luta durante muitos e muitos anos no combate às forças negras destruidoras
desta Sagrada Pátria, para a corajosa Margarida Bentes Penedo. João Floriano: Excelente aviso para quem ainda não percebeu naquilo que o PS se
está a tornar ou então sempre foi um partido comunista envergonhado que agora
perdeu o pudor de se declarar, de sair do armário, assim como está a perder o
pudor em muitas outras situações. Maria Paula Silva > João Floriano: Não
acho que sempre tenha sido. Há uma grande diferença entre os ideais e a prática
do PS original e este. Acho que o PS de AC o é.
Porque, e sempre o disse, o Costa não é socialista, he is the mole :) João Floriano > Maria Paula Silva: Boa tarde cara Maria Paula Pelo menos desde 2015 que António Costa anda de braço dado com o
PCP. Certamente já reparou na notícia: grupo de Bilderberg em Lisboa. Alguns
portugueses no grupo, os do costume, penso eu. Vou ver o depoimento de João
Galamba. Vamos ver se não promete uns murros a alguém que o «aperte». Até já! Maria Paula Silva > João Floriano: Ainda não vi a notícia do grupo B mas vou ver. Ok, depois conte-me como foi a galambada!!!! João Floriano > Maria Paula Silva: Estou quase a dormir. Está muito chato. Maria Paula Silva > João Floriano: ahahah foi o que me aconteceu ontem ao ouvir a Eugénia.... não há
pachorra, amanhã sai 1 notícia com a síntese : Carminda Damiao: Excelente artigo. Ana Silva: Excelente! A
chamar a atenção para um dos maiores perigos actuais para a liberdade: o
controlo do pensamento e da História pela manipulação da linguagem. Maria Paula Silva > Ana Silva: e a falta de respeito pelo autor da "obra mutilada"! Hás De Cá Vir O "grupo de buda" ou o "grupo de Paris",
Afonso Costa, Bernardino e outros despojos físicos da I Republica morreram, em
Paris, nos inicios dos anos 40 de tédio e inanição. Todavia, o pai Soares homem da I Republica e herói da laicidade
via seminário de Cernache, passou a herança laica e o pior que a república
tinha ao filho Mário, juntando este depois o socialismo, quando passeava pela
social democracia do norte da Europa, barrando o caminho ao PSD e, ao mesmo
tempo fazendo a colecta de umas "kroas" para o precisado e recém
nascido PS, ficando assim um partido socialista republicano e laico. Ora, este partido que nos tem governado maioritariamente depois do
25 de Abril, de resto muito bem representado pelo que se passou ontem na CPI e,
só Deus sabe o que se passará logo à tarde, é o espelho consanguíneo dos
caceteiros da I Republica. Ah,
vou reler o livro do VPV "o poder e o povo" para refrescar a memória. Joaquim Lopes: Júlio de Melo Fogaça, fidalgo do Cadaval, (esquecem as origens de
Lenine ou de Engels), Fogaça foi denunciado pelo grupo de Cunhal do PCP à PIDE
por ter craveira intelectual muito superior ao cego estalinista Cunhal e
decerto por outros motivos que o ódio da figura de Cunhal e seguidores não
toleravam, era assim dos arquivos da PIDE roubados e enviados para a URSS. Apagado da história do PCP, o partido de paredes de vidro e de
telhados também de vidro, todos escaqueirados, pela sua contínua tentativa de
tomada de poder com a ajuda da frente popular, do PS e do BE e Livre, o que
hoje é impossível, tentaram em 1975, com a ajuda dos militares de carreira que
destruíram as Forças Armadas e a economia com as nacionalizações do PCP de
Cunhal e Mário Soares que também por lá passou, mas envergonhou-se ou então não
lhe era conveniente, como se viu. De facto, adulterar livros com direitos de autor é crime e as
editoras deveriam ser castigadas e julgadas, desacreditadas por quem ainda
compra livros, os do acordo ortográfico e estes das novas narrativas, das
minorias, muito micro, mas muito activas e impositivas, tipo pequenos grupos de
ditadores a quererem impor os seus hábitos ou costumes, deveriam ser
respeitados apenas.
Mas
ao andar sempre armados em vítimas, só serve para ter efeito contrário, foi
como a vergonha da projecção na fachada AR da bandeira de várias cores, decerto
decisão de ASS que já poucos engana.
Joaquim Almeida > Joaquim Lopes: ASS a cuidar do seu rebanho eleitoral... Ofereçam-lhe um exemplar
da Constituição ( "todos os cidadãos são iguais perante a lei, sem
distinção de..., de..., de orientação sexual, etc.") para ele revelar o
citado preceito constitucional a uma cambada de imbe..is hemicirculares. Sérgio: Muitíssimo bom! Obrigado. Lourenço de Almeida: As minhas desculpas. Escrevi o comentário anterior assim que li o
primeiro período do texto. Quando me dispus a continuar a lê-lo, vi que o
comunismo é referido logo em seguida. Parabéns pelo artigo. Lourenço de Almeida: Não sei porque é que se associa a censura a Nazismo e Fascismo e
não a Marxismo, Socialismo e Comunismo quando o Fascismo acabou em 1944 (na
versão portuguesa que de Fascismo tem pouco, em 1974), o Nazismo em 1945 e o
comunismo, continua a existir em várias partes do mundo e mesmo na Europa
Ocidental, continuou a fazer-se ouvir até hoje, quase 80 anos depois do fim do
Nazismo e Fascismo (dois derivados directos ou variantes do socialismo) e 50
anos depois do fim do Estado Novo. bento guerra: Ficaria melhor com exemplos concretos. Trata-se de querer
"orientar" o pensamento. Estão por todo o lado e neste jornal, há no
mínimo, uma dúzia de leitores a fazê-lo. Tiques herdados João Serra: Um clássico: Margarida Bentes Penedo a
escrever verdades incómodas para o regime sociopata dos que se governam com o
povo. Muito bem. Parabéns Rosa Silvestre: Modificar o que alguém escreveu é um crime. Será que
também aceitariam a modificação ou corte de documentos orais? Imaginem uma
entrevista de há 50 anos cheia de pip-pips sobre palavras censuradas... Alexandre Barreira: Pois. Cara Margarida. Acha bem o
"Lobo Mau". Comer a "avózinha"....?! C Barria: Parece-me também que esta história de
andarem a alterar obras é falsificação, falta de honestidade para com as
gerações futuras e acharem que as pessoas não têm capacidade de discernimento e
que andam a comer gelados com a testa. paternalismo que me parece inaceitável.
Woke uma treta. Pobre
Portugal: É por o PSD ter medo de dizer que o comunismo é igual
ao nazismo, que não chega ao poder. Quem é que confia em pessoas que sabemos
estar a mentir? O PS tem essa qualidade (a única!) que falta ao PSD: é honesto.
Mostra o que é e assume-se amigo do comunismo. O problema, para o PSD, é que a
honestidade cativa. Carlos
Dias: O sistema político mais necessário a uma sociedade
como a nossa é o liberal mais absoluto Só deve haver leis que protejam os
direitos fundamentais A vida A propriedade privada A dignidade de ser português
O resto não deve ser um direito mas sim uma responsabilidade de cada um A saúde
A educação A habitação Quem não puder por si assumir as suas responsabilidades
individuais por incapacidade física ou mental não deve ser excluído e deve sim
ser ajudado por quem pode e deve ajudar por dever de honra Por dever de honra e
não de solidariedade É um dever maior que qualquer sistema de segurança social
imposto Carlos
Dias: O marxismo foi experimentado em Portugal durante o
breve período do PREC e apesar da curta duração provocou danos económicos e
sociais que perduram até hoje A antítese do fascismo português foi uma desgraça
pior ainda que o próprio estado novo Menos direitos humanos Menos economia
Menos justiça Menos liberdade Só foi melhor no tempo que durou É impossível
mudar de um regime autoritário para outro também autoritário e ideológico e
esperar que possa correr bem Um projecto falhado não pode ser substituído por
outro igual de sinal contrário O resultado não é algébrico É o mesmo ou ainda
muito pior Carlos
Dias: Existe uma benevolência endógena para com os
declarados e orgulhosos herdeiros do comunismo É sobretudo fruto de
desconhecimento histórico e também de décadas de propaganda que enaltecem o
partido comunista português como o maior defensor da liberdade em oposição ao
regime autoritário do estado novo É um paradoxo português que nunca foi
verdadeiramente posto em causa e até foi inclusive alimentado por uma classe
política com medo de afrontar a percepção de uma sociedade pouco esclarecida e
pouco receptiva a mudar de opinião Maria Paula Silva: Excelente! Adorei :) Hoje em dia não é
preciso porem escutas, pois já todos temos as vidas escutadas através
dos devices que
usamos. Para além disso, até colaboramos voluntariamente através das redes
sociais. :) Este artigo é importantíssimo e é bom que várias vozes se levantem,
como fez recentemente Tom Hanks Esta onde wokista (até o nome é feio) pode ter vários objectivos mas
representa apenas muita mediocridade e ignorância. Qualquer pessoa com
dois dedos de testa se recusaria a colaborar com esta idiotice. Obrigada,
MBP. Joaquim Almeida > Maria Paula Silva: Mas o
que essa gente busca é exactamente o obscurantismo. Por ex., o Min. Educação
chama "integração de saberes" à sua "educação para a
cidadania", a qual não passa de uma evidente charlatanice ideológica,
anti-objectiva e anti-científica -
obscurantista, portanto. Maria Paula Silva
> Joaquim Almeida:
Sem dúvida
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