Num mundo progressivamente impiedoso. Por vezes bem caricato. Não houvesse
tanto sofrimento à vista - ou mesmo mais resguardado - no segredo tímido das
almas…
Mais
rápidos que a velocidade do som e capazes de transportar ogivas. O que são os
mísseis Kinzhal que deixaram a Ucrânia em alerta?
Ucrânia diz ter conseguido destruir,
pela primeira vez, um míssil hipersónico Kinzhal, mas continua a temê-los.
"Extremamente rápidos" e "precisos", deixaram todo o
território ucraniano em alerta.
ADRIANA ALVES: Texto
OBSERVQADOR, 09
mai. 2023, 22:442
Índice
O que são os
mísseis Kinzhal que a Ucrânia diz ter abatido?
Kinzhal vs.
Patriot: o primeiro embate
Ucrânia canta
vitória com os Patriot, enquanto os analistas assumem posição cautelosa
Imparáveis. A Rússia não escondeu que
este era o objetivo que tinha em mente quando desenvolveu os mísseis
hipersónicos Kinzhal, um dos sistemas mais sofisticados que possui no seu
arsenal. E não poupou nos elogios às suas capacidades, defendendo que não podiam
ser abatidos por nenhum sistema de defesa no mundo. Postos à prova no conflito
na Ucrânia, estas armas podem agora ter encontrado um adversário à altura: pela primeira vez, foram interceptados e
destruídos pela defesa ucraniana com recurso aos Patriot norte-americanos. Mas
apesar da vitória, Kiev continua em alerta e esta segunda-feira foram activadas
as sirenes de ataque aéreo um pouco por todo o país, receando-se um novo ataque
com os Kinzhal.
O aviso partiu do porta-voz da Força
Aérea ucraniana, Yurii Ignat, que revelou durante a manhã que o país estava em
prevenção após um caça MiG-31K russo, com capacidade para transportar os
mísseis Kinzhal, ter levantado voo. “Quero recordar que não temos
suficientes sistemas Patriot que possam proteger os céus da Ucrânia para este
tipo de armamento”, advertiu, sublinhando que são “extremamente rápidos” e
“precisos”. Mas, afinal, que mísseis são estes que a Ucrânia diz ter
abatido pela primeira vez, mas continua a recear?
O que são os mísseis Kinzhal que a Ucrânia diz ter
abatido?
O míssil Kinzhal (punhal, em
russo) é uma das seis armas de
“próxima geração” anunciadas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, em 2018,
durante o discurso do Estado da Nação. Foi durante essa intervenção, a
poucas semanas das eleições presidenciais que viriam a garantir-lhe o quarto
mandato, que o líder russo revelou ao mundo que o país tinha desenvolvido e
estava a testar uma nova linha de
armas estratégicas “invencíveis” e com capacidade nuclear, incluindo os mísseis
balísticos hipersónicos Kinzhal.
À semelhança de todos os armamentos
hipersónicos, os Kinzhal obedecem a duas características: atingem uma
velocidade superior a Mach 5 — ou seja, mais de cinco vezes a velocidade do som — e
não têm uma trajectória fixa, sendo capazes de executar manobras (verticais e
horizontais) enquanto viajam a estas velocidades, como explica o especialista Dmitry Stefanovich, num artigo do
Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia.
Estes
mísseis fazem parte do arsenal hipersónico russo, que também é composto pelos
veículos planadores hipersónicos Avangard, que entraram ao serviço das forças
russas em 2019; e os mísseis Zircon, que podem ser lançados a partir de
navios de guerra e submarinos, tendo começado a ser produzidos em 2021.
Os
Kinzhal estão ao serviço da Rússia desde 2017 e, segundo o Centre for Strategic and
International Studies, conseguem atingir velocidades até Mach 10
(12,350 quilómetros por hora). Com um alcance estimado de entre os 1.500 e os
2.000 quilómetros, são capazes de carregar uma carga de até 480kg,
transportando desde ogivas convencionais a ogivas nucleares. As autoridades
russas alegam que, pelas suas características, são extremamente difíceis de
detectar e interceptar.“Mais ninguém tem algo assim”, assinalou Vladimir Putin
no seu discurso de 2018. A sua velocidade permite-lhes “superar todos os
sistemas de defesa antiaérea e antimísseis existentes e, acredito, prospectivos”,
sublinhou.
AFP VIA GETTY
IMAGES
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Kinzhal vs.
Patriot: o primeiro embate
Ucrânia canta vitória com os Patriot, enquanto os
analistas assumem posição cautelosa
O Chefe de Estado russo tem
destacado por várias vezes que Moscovo é um líder global no desenvolvimento e
produção de mísseis hipersónicos. Mas a Rússia não é o único país a apostar no
desenvolvimento deste tipo de armamento. Os Estados Unidos estão activamente a
desenvolver armas hipersónicas e, em abril de 2022, juntaram-se à Austrália e
ao Reino Unido para anunciar um acordo no qual contemplavam a cooperação para
alcançar esse objectivo. Essa também tem sido uma aposta da China, enquanto o Irão, Israel e a Coreia do Norte conduziram alguns testes de
pesquisa iniciais sobre estas tecnologias, segundo revelaram as autoridades
norte-americanas.
A Ucrânia foi
o palco escolhido pela Rússia para testar as capacidades dos mísseis hipersónicos
Kinzhal. A 19 de março de 2022, as forças russas dispararam pela
primeira vez em combate um destes equipamentos. Na altura, o Ministério da
Defesa russo, liderado por Sergei Shoigu, confirmou o ataque, alegando que tinha
sido atingido um depósito de munições no Sul da Ucrânia.
Desde então, os Kinzhal já foram
usados, ainda que em número reduzido, em vários ataques ao território
ucraniano. Até agosto do ano passado tinham sido usados por três vezes e “por
três vezes mostraram as suas características impressionantes”, garantiu Shoigu numa entrevista ao canal Rossiya-1. “Mais ninguém tem, para já, um míssil
destes: hipersónico e com tal velocidade e capacidade de ataque. São
impossíveis de detectar ou interceptar”, sublinhou o ministro, acrescentando
que estavam a ser usados para atacar alvos de “particular importância”.
A eficácia destes equipamentos na
“operação especial militar” — termo usado pelo Kremlin para se referir à guerra
na Ucrânia — também foi defendida por Valery Gerasimov, chefe do Estado-maior
russo que assumiu o comando pessoal das acções no território ucraniano em
janeiro deste ano. “Os sistemas de
mísseis Kinzhal provaram ser altamente eficazes e invulneráveis às capacidades
de defesa aérea ucranianas”, afirmou. O próprio Presidente norte-americano, Joe
Biden, chegou a admitir que os mísseis Kinzhal eram “quase imparáveis”, após a
sua utilização na Ucrânia.
Já este ano, no início de março, os
Kinzhal voltaram a ser postos à prova, desta vez num ataque massivo que
envolveu o lançamento de mais de 80 mísseis de vários modelos e drones
Kamikaze. O resultado: seis mortos, centenas de milhares de habitações sem
eletricidade por todo o país. No mais recente ataque, na semana passada, a
Rússia voltou a disparar um destes equipamentos, mas, pela primeira vez, a defesa
ucraniana terá sido bem sucedida a abatê-lo.
Kinzhal vs. Patriot: o primeiro
embate
Sábado, 4 de maio, 02h40. Sobre o céu de Kiev, um míssil lançado
pelas forças russas foi abatido pela defesa anti-aérea ucraniana. Nada
de novo nos mais de 14 meses de guerra, não fosse tratar-se de um míssil hipersónico Kinzhal, destruído com
recurso ao sistema norte-americano Patriot.
A
confirmação partiu das autoridades ucranianas, mas não chegou no próprio dia. À
falta de declarações oficiais, a hipótese foi ganhando forma e começou a ser
noticiada por alguns meios de comunicação. No domingo, já o jornal Ukrainska
Pravda noticiava a
possibilidade de um míssil Kinzhal russo ter sido destruído por um Patriot,
citando o Defense Express,
empresa ucraniana com experiência na análise de questões de segurança nacional
e cooperação militar e parceira da indústria de defesa ucraniana
(Ukroboronprom).
PAWEL SUPERNAK/EPA
Índice
Kinzhal vs. Patriot: o primeiro embate
Publicando imagens dos destroços do
míssil, o Defense Express avançava
que pelas características deveria tratar-se do Kh-47 Kinzhal, informação
inicialmente desmentida pelo porta-voz da Força Aérea ucraniana, que
garantiu à estação de televisão ucraniana Suspilne que nenhum míssil balístico
tinha sido destruído ou sequer detetado no espaço aéreo a 4 de maio. “Embora a
possibilidade de o seu uso ter sido apontada, não foi registado o lançamento de
nenhum míssil balístico”, garantiu Yurii Ihnat.
A confirmação oficial das autoridades
só viria a chegar uma semana depois, pelo próprio comandante da Força Aérea.“Parabéns ao povo ucraniano por um feito
histórico”, começou por escrever Mykola Oleshchuk na conta oficial de Telegram.
“Sim, conseguimos destruir o ‘inigualável’ Kinzhal”, escreveu no post,
acompanhado pelo emoji de um relâmpago.
Oleshchuk confirmou a data do ataque
como 4 de maio, acrescentando que o míssil russo tinha sido disparado a
partir de um caça MiG-31K. Não foi mais longe nos detalhes, dizendo apenas que
tudo seria divulgado “a seu tempo” para não beneficiar as forças russas.
Para já, os Estados Unidos não se
pronunciaram oficialmente sobre o caso, mas ao New York Times três oficiais norte-americanos confirmaram o
feito. Esta parece ser a primeira prova de que estes mísseis hipersónicos
russos, apresentados por Putin como invencíveis, podem ser derrotados pelos actuais
sistemas de defesa ocidentais. E este episódio demonstrou, assim, o
papel potencialmente revolucionário dos Patriot, um dos
sistemas mais caros que os Estados Unidos já forneceram à Ucrânia.
Ucrânia canta vitória com os Patriot, enquanto os analistas assumem
posição cautelosa
“Um sonho.” Foi assim que o ministro da
Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, descreveu os sistemas norte-americanos
Patriot à sua chegada a Kiev, em abril deste ano. Durante vários meses, estes
equipamentos estiveram na lista de desejos da Ucrânia, que conseguiu
finalmente assegurá-los após a viagem do Presidente Volodymyr Zelensky aos
Estados Unidos, na primeira deslocação ao estrangeiro desde o início
da guerra. Não é conhecido o número de sistemas que a Ucrânia tem ao seu
dispor. Apenas se sabe que foram fornecidos pelos Estados Unidos e pela
Alemanha, que admitiram ter enviado pelo menos uma bateria, e que os Países
Baixos disponibilizaram dois lançadores.
Estes sistemas de defesa foram usados pela primeira vez em 1980,
estreando-se na Guerra do Golfo para abater os mísseis balísticos iraquianos Scud.Cada
bateria está avaliada em cerca de 4 milhões de dólares, enquanto os lançadores
podem custar cerca de 10 milhões. Dado o custo elevado e o número de pessoas
necessárias para os pôr a funcionar — entre 80 e 90 operadores –, pensava-se
que só seriam utilizados pela Ucrânia contra aeronaves russas ou mísseis
hipersónicos. Para já, funcionaram e destruíram algo que Putin dizia
ser invencível.
"Atingir
um Kinzhal russo com um míssil Patriot seria difícil, mas não impossível",
explicou Ian Williams, do Center for Strategic and International Studies, em
entrevista ao New York Times.
Índice
Ucrânia canta vitória com os Patriot, enquanto os
analistas assumem posição cautelosa
Para já, os analistas independentes são
cuidadosos e estão relutantes em confirmar que o Kinzhal foi de facto interceptado
por um Patriot, até que seja disponibilizada mais informação. Consideram, no
entanto, que em determinadas condições esta é uma possibilidade que pode ser
contemplada. “Atingir um Kinzhal russo com um míssil Patriot seria difícil, mas
não impossível”, defendeu Ian Williams, do Center for Strategic and
International Studies, em entrevista ao New York Times. O especialista aponta que há
vários factores em jogo, nomeadamente a posição do sistema de defesa, a direção
na qual seguia o míssil russo e se estava ou não a fazer manobras.
A Ucrânia, por outro lado, tem sido
rápida a celebrar vitória. “A Rússia dizia que os Patriot eram uma arma
norte-americana desatualizada e que as armas russas são as melhores do mundo.
Bem, agora há confirmação de que trabalham eficazmente mesmo contra um míssil
hipersónico”, afirmou o porta-voz da Força Aérea em declarações ao Channel 24. Para
o responsável ucraniano, esta é uma “chapada na face da Rússia”.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO RÚSSIA
COMENTÁRIOS:
Margarida Rosa: Pássaro
Filipe Costa: Os Kinzhal
baixam muito de velocidade antes de bater no alvo, além disso a precisão deixa
muito a desejar, um Patriot manda-os abaixo antes de baixarem a velocidade, o
Iris-T não consegue antes dos 2km, o que é trágico. Gosto de ler
coisas na NET, metade mentira, metade verdade, é por ai.
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