O nosso papá primeiro, afirmações
bíblicas à parte, sobre Adão e sua costela estapafurdiamente germinadora. Chamou-se
Sahelanthropus Tchadensis, mesmo no
coração de África, mas nunca se sabe totalmente, há sempre outras marias, na
Terra.
"O MITO DA ORIGEM AFRICANA DE
TODOS OS HOMINÍDEOS
As últimas estimativas oficiais
referem que o Sahelantropus
Tchadensis viveu há cerca de 5 milhões de anos na região do
Chade. A comunidade científica, ignora a presença de outros espécimes,
muito mais antigos, localizados em diversos continentes"
— UTILIZADOR DE
FACEBOOK, 06 fevereiro 2023
OBSERVADOR, 30/5/23
Uma publicação nas redes sociais diz
que as teorias que afirmam que a origem de todos os hominídeos é em África não
passam de um “mito”. Contudo, é falso.
“As últimas estimativas oficiais referem
que o Sahelanthropus Tchadensis
viveu há cerca de 5 milhões de anos na região do Chade”, pode
ler-se no texto que acompanha a publicação no Facebook. Mas nem esta primeira afirmação é totalmente
verdadeira. O Sahelanthropus Tchadensis
é o hominídeo mais antigo que se conhece, e foi também — tal como diz a
publicação — encontrado na região do Chade, em África, onde a comunidade
científica acredita que tenha vivido.
Os cientistas acreditam que os vestígios
encontrados tenham entre oito e seis milhões de anos e não cinco, como refere
a partilha que verificamos. A professora Tânia Minhós, do departamento
de Antropologia da Universidade Nova,
explicou ao Observador que esta estimativa de tempo foi obtida “com base na
vegetação e outros organismos nos mesmos sedimentos com datação já conhecida”.
Mas esta não é a única imprecisão que
podemos encontrar na publicação. A
própria utilização do termo “hominídeo” tem incorreções. A palavra tem “origem na categoria taxonómica
da Familia Hominidae, que inclui todos os grandes símios — orangotangos,
gorilas, chimpanzés e humanos”, esclarece
Tânia Minhós. Contudo, a taxonomia das espécies tem sido alvo de
recorrentes revisões e alterações, o que tornou o termo
“hominídeo” desatualizado.
“De acordo com a classificação actual, os humanos divergem de todos os restantes primatas
entre os 10 e os 8 milhões de anos, e todos membros de linhagens dos
antepassados dos humanos modernos (Homo Sapiens) após a
divergência com os chimpanzés pertencem à tribo hominini, e designam-se desta
forma“, acrescenta a professora da Universidade Nova.
A publicação do Facebook comete outro
erro logo no mesmo parágrafo do texto. “A comunidade científica, na
sua maioria, ignora a presença de outros espécimes, muito mais antigos,
localizados em diversos continentes, nomeadamente na Europa”, lê-se. Também isto é falso.
O que distingue o hominini
dos restantes primatas é a locomoção
bípede. Tendo em conta esse critério, o Sahelanthropus Tchadensis é o fóssil mais antigo
encontrado até hoje e é “uma espécie exclusivamente africana”. Sobre este
ponto, Tânia Minhós refere
que “o primeiro hominini que se sabe
ter expandido para fora de África foi o Homo Erectus“. Os fósseis foram encontrados na Ásia, e datados
com cerca de 1,8 e 1,6 milhões de anos, substancialmente menos do que o Sahelanthropus
Tchadensis.
“É paradigmático
o caso de um crânio humano em carbono fossilizado, em que é impossível extrair
o ADN mitocondrial para ser analisado”, diz o último parágrafo da publicação
em análise. E acrescenta: “Encontrado
numa mina de carvão na Boémia, conhecido por Crânio de Carvão de Freiberg, com
15 milhões de anos, esteve exposto durante muito tempo no museu do Instituto
Geológico para os Combustíveis Sólidos de Freiberg, na Alemanha e [foi]
retirado daquele local recentemente e de forma discreta, por ser demasiado
incómodo para a comunidade científica que não sabe, não consegue ou não quer
justificar a sua existência.”
Tânia Minhós também ajuda a esclarecer esta ideia: “Não existe qualquer registo científico de um crânio
com essas características e, como tal, essa é uma informação falsa“. A
informação do autor da publicação carece de referência bibliográfica, de base
científica e revista por pares, que considere a existência desse crânio.
A publicação atribui a origem do texto ao
livro “Universo Consciente”, lançado em 2022 pelo autor José
Garrido. No site da livraria Bertrand, é possível
encontrar uma breve biografia. Garrido nasceu nos anos 50 e dedica-se ao estudo
da história mas também de ovnis e vida extraterrestre.
Conclusão
Uma publicação no Facebook afirma que
as teorias sobre origem da espécie humana ser em África são um “mito”.
A
publicação afirma que o Sahelanthropus Tchadensis, que viveu há cerca de “5 milhões de anos” na região
do Chade, não foi o
primeiro fóssil hominini — o termo que se utiliza actualmente pela comunidade
cientifica para designar os membros das
linhagens dos humanos modernos — a ser encontrado.
Segundo Tânia Minhós, professora de
Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, essa espécie é “exclusivamente
africana”, e os fósseis encontrados têm cerca de oito a seis milhões de anos. E
esclarece que, ao contrário do que a publicação diz, os primeiros fósseis hominini encontrados
fora de África são asiáticos e datados “com cerca de 1,8 e 1,6 milhões de
anos”.
Sobre o crânio descoberto da Alemanha com
“15 milhões de anos” que o autor da publicação refere, a professora doutorada
sublinha: “Não existe qualquer registo científico de um crânio com
essas características e, como tal, essa é uma informação falsa.”
Assim, de acordo com o sistema de
classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
De acordo com o sistema de
classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são
factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações
“falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi seleccionado pelo
Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
FACT CHECK OBSERVADOR CIÊNCIA ANTROPOLOGIA
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