segunda-feira, 1 de maio de 2023

Pressões


Para quê? Porquê? Se o silêncio é o que resta… A todos nós.

Costa e Marcelo, liguem à Eugénia. Imediatamente

Antecipar as eleições seria não só a forma de livrar Marcelo e Costa do confronto com o monstro que criaram como oferecer-lhes uma segura fuga em frente. Se não acreditam em mim liguem à Eugénia.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 abr. 2023, 03:1811

Há umas horas que a Eugénia se interpõe entre mim e o que quero escrever. A Eugénia atende o telemóvel a qualquer hora (a Eugénia não tem o direito a desligar). A Eugénia enfrenta adjuntos em fúria. A Eugénia assina a fundamentação da crítica do ministério das Infraestruturas à forma como o ministério das Finanças despediu a CEO da TAP e sobretudo a Eugénia surge como a tábua de salvação de um ministro de cabeça perdida: “Liga imediatamente à Eugénia. Imediatamente.” – ordenava João Galamba ao seu adjunto com o desespero de quem antecipa que o pior está para vir. A Eugénia em questão é chefe de gabinete de João Galamba, mas, de certo modo, representa os homens e mulheres dessa massa que, para o melhor e o pior, rodeia os ministros.

Incapaz que estou de me libertar da Eugénia só me resta portanto trazer a Eugénia para dentro do meu texto. Sim, Eugénia, eu ligo-te logo que possa e tu explicas-me preto no branco como pode um simples adjunto, como era o caso de Frederico Pinheiro, ter acesso a informação de tal forma reservada que se chamou o SIS para reaver o seu computador. De caminho Eugénia (desculpa que te trate por tu, mas o ministro impôs o estilo tu cá tu lá e não sou eu que o vou contrariar, conhecedora que estou da forma como nesse ministério se enfrenta quem os contraria), podes então, Eugénia. ver o que está registado no teu computador sobre o episódio do anúncio dos dois aeroportos por Pedro Nuno Santos & Hugo Mendes em meados do ano passado? Obrigada, Eugénia, há muito por explicar nesse caso e creio que me podes dar uma ajuda. E, agora, que já deves ter com que te entreter, passemos ao que me interessa e que basicamente se resume a isto: por mais negativa que seja a apreciação que se tenha sobre o desempenho do actual Governo não podemos aceitar que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa recorram à criação de um facto – a dissolução da AR – que os libertaria do confronto com as suas responsabilidades na situação que vivemos.

Não duvido que um governo de gestão e um clima de campanha eleitoral são o que de melhor se pode oferecer ao PS neste momento. Em menos de uma semana o PS estaria em estado de luta contra o fascismo por interposto Chega: referir o atraso de ano e meio na portaria que leva José Sócrates a tribunal logo será designado como “fazer as mesmas perguntas que o Chega”. Denunciar os números da mortalidade infantil será fazer a política do Chega. Denunciar a esmagadora carga fiscal equivalerá a ficar igual a André Ventura… Ao falhar como projecto governativo, o PS agarra-se ao paradigma da luta contra os fascismos O fascismo passado, o fascismo presente e o fascismo futuro tornaram-se vitais para o PS.

Já os estou a ver, Costa e Marcelo, libertos da rotina governativa: o Presidente ufano a dizer que usou os seus poderes. Que decidiu a dissolução da AR após três fases: reflexão, ponderação e decisão. Que na decisão havia duas hipóteses: manutenção do Governo ou dissolução da AR. Que tendo decidido pela dissolução da AR dois cenários se colocam: ou uma maioria absoluta, ou uma maioria relativa e que portanto três soluções se configuramSete anos de Marcelo como Presidente da República fizeram de mim uma perfeita falante de “marcelês” e uma analista imperfeita daquilo a que a leviandade pode conduzir em política: Marcelo, que não tem coragem nem vontade para exercer o seu poder como PR, ilude o seu falhanço institucional com o estrépito da dissolução do parlamento.

Já António Costa, mais ufano ainda que a presidencial vacuidade ao ser confrontado com os escândalos do seu governo, nessa campanha eleitoral antecipada diria de imediato que a resposta vai ser dada pelos eleitores: a ingerência política na gestão da TAP? Os despedimentos bolivarianos de Manuel Beja e Christine Widener? O processo colocado por um seu ministro ao jornal que primeiro denunciou que não havia Parecer algum?…

Antecipar as eleições seria não só a forma de livrar Marcelo e Costa do confronto com o monstro que criaram como oferecer-lhes uma segura fuga em frente. Se não acreditam em mim liguem à Eugénia.

Ps. A notícia chegou inesperada e brutal: o Paulo Tunhas morreu. Horas antes tinha ido verificar ao mail se teria ido para spam a mensagem que esperava dele.

Vi-o pelo pela primeira vez num encontro com Fernando Gil e desde então íamos mantendo uma espécie de conversa interminável. Falar com ele era fascinante, pelo muito que ele sabia mas também pela forma desconcertante com que olhava para as coisas do mundo. No Contra-Corrente em que participou várias vezes aconteceu ficarmos a ouvi-lo numa espécie de prazer antecipado de sermos surpreendidos com o seu raciocínio, com as referências que fazia…

Agora que sei que mais nenhuma mensagem vai chegar resta-me, quando voltar ao Porto, encaminhar-me para aquele restaurante onde ele às vezes ia e pedir aquele arroz de vitela acompanhado com ovo estrelado que deu sabor às nossas últimas conversas sobre o desconsolo do país.

PS    POLÍTICA   MARCELO REBELO DE SOUSA   PRESIDENTE DA REPÚBLICA   ANTÓNIO COSTA

COMENTÁRIOS:

Jota Mamba: Está montado o circo, um circo especial com uma única qualidade de artistas: palhaços.      Paulo J Silva: Era uma vez um homem que tinha uma quinta mas porque não podia administrar a mesma resolveu contratar um administrador. Celebrou um contrato por quatro anos. Ao fim de um ano verificou que o administrador, que tão boas referências lhe dera, afinal não sabia administrar e o estado da quinta degradava-se a olhos vistos. Cara Helena Matos, se fosse a dona da quinta diria que o contrato é para manter e que no fim do mesmo é que vai acertar contas e pedir responsabilidades ao mau administrador?. Um mau Governo não é para manter. Mesmo os idiotas que deram a maioria ao PS e que agora sofrem na pele o resultado da sua escolha não devem ter como castigo aguentarem isto mais 3 anos. Portugal não merece isto!                      Ana Silva: A sério!? Não acredito no que aqui diz Helena Matos. Nem nos comentários que a apoiam. Aguentar a maioria absoluta dos absolutamente incompetentes e corruptos socialistas da escola de Sócrates e Costa (este com a invenção maquiavélica da geringonça) até ao fim, foi uma opinião que já defendi em fevereiro de 2022 aqui no Observador, sobretudo como pedagogia para um povo politicamente iletrado que deu maioria absoluta a esta gente. No entanto as coisas mudaram mil vezes para pior desde essa altura. Temos uma crise social a rebentar com o aperto económico às famílias, com a inflação a aumentar e muito os bens essenciais, com os arrendamentos e o preço das casas a duplicar, os juros do crédito à habitação a disparar, os transportes públicos a não servirem os mais necessitados no acesso ao trabalho de que dependem para viver. A gravíssima crise da natalidade ignora-se, a da emigração agudiza-se, com os jovens, motor de qualquer economia saudável a sair de Portugal… o desinvestimento no sector público, a maior carga fiscal de sempre com o monstro da Função Pública cada vez maior, e pior, entrou a Ideologia do Género nas escolas, o SNS já deixa morrer mulheres grávidas e os seus bebés porque fecham serviços de urgência, ou doentes em ambulâncias a dançar um corridinho macabro entre hospitais… e o problema é não deixar Costa e Marcelo saírem desta embrulhada que também ajudaram a criar? E o busílis é o PS ter argumentos para fugir com o rabo à seringa, acenando com o papão do fascismo (mas pensa mesmo que as gerações mais novas acreditam nisso?) e atirando as culpas para Marcelo? O foco não pode ser esse. Não pode ser pela negativa. O foco tem que ser o PSD levantar o rabo gordo e ser oposição verdadeira em vez de um alinhado com esta desgraça toda. O foco está em o PSD arranjar uma ideia de futuro para o paîs com seriedade, deixar-se de preconceitos em relação a quem faz a verdadeira oposição a este país, sim o Chega, a organizar uma alternativa que abranja toda a Direita e não só a conveniente Direita fofinha (a que foi entretanto corrida do parlamento por efeito de eleições, lembra-se?) ou então, a deixar-se engolir pela História, porque da maneira que está este PSD não presta para nada, e a dar lugar ao Chega, que esse sim, os tem no sítio.            Rui Lima: Já foi um erro quando se salvou o PS (o PSD foi precipitado e pouco inteligente sede de poder fez o resto ) no tempo de José Sócrates  Se tem deixado mais uns meses o governo socialista de Sócrates quando já só havia 300 milhões de euros em para despesas de estado , as reformas e salários da função pública deixariam de ser pagos e o PS morria nesse dia e seria uma grande lição para o povo português . Este governo tem de ficar até ao fim .                   Alfaiate Tuga: Temos um governo constituído na sua grande maioria por gente que nunca fez mais nada na vida do que andar metida na política, como se isso já não chegasse, ainda por cima são muitos deles jovens inexperientes, para ajudar à festa, quase todos encabeçam ou integram as diferentes facções que lutam entre si pela sucessão do Kosta. O PS consegue abandalhar tudo onde se mete, costuma dizer-se que o hábito faz o monge, neste caso os monges são tão maus que acabam por conspurcar o hábito, não me lembro de a palavra de um ministro valer tão pouco ou mesmo nada. Uma coisa são putos inexperientes, outra são putos inexperientes e mentirosos ao serviço de interesses obscuros que normalmente tem por finalidade lesar o erário em proveito deles e dos amigos.Por falar em amigos, tenho lido e ouvido por aí muita gente a dizer que os crimes imputados ao antigo chefe do bando vão prescrever, ouço os juízes a dizer que o advogado do figurão já meteu 31 recursos para ir parando o processo por forma a dar tempo dos crimes prescreverem. Também já ouvi os juízes a explicar que seria fácil alterar a lei para que os recursos não parassem os processos e fossem analisados num processo à parte enquanto o processo principal decorria. Agora pergunto: - Que partido da direita à esquerda apresentou na assembleia da república uma proposta para alterar a lei dos recursos? Pois, vir encher a boca com a corrupção é fácil, apresentar soluções para agilizar os processos, tá quieto, depois querem ser levados a sério.               Carlos Gonçalves: Genial!                       Fernando CE: Muito boa crónica.                  António Lamas: Já estamos a evoluir. Passamos da responsabilização do motorista, para a chefe de gabinete. Ainda com sorte chegamos ao ministro                           Pedro Almeida: A culpa é do Zé Povinho, que tem os políticos que merece. Em 2015 escolheu votar à Esquerda. Está aqui a factura. E vai surgir outra (pior) quando vier uma crise, pois Portugal passa uma crise de x em x tempo       Francisco Miguel Colaço > Pedro Almeida: O problema de hoje não é 2015, mas as eleições seguintes, que blindaram o PS no poder em vez de o sacar de lá de vez.                    Pedro Almeida: Quero ver Marcelo e Costa a fugirem com o rabo à seringa          Pedro Almeida: O (des)governo está cada vez mais patético                     Fernando Cascais: Marcelo pode dissolver este governo e pedir a Costa para formar e apresentar um novo governo, ou não pode? Seria a chamada chicotada psicológica utilizada no futebol, só que em vez de trocar de treinador, trocava antes a equipa toda. Não seria fácil para António Costa arranjar uma nova equipa, mas sempre podia pescar fora. Imaginem um governo com 5x Paulos Macedos, seria um caso sério. Outra possibilidade seria Costa formar um novo governo na base de uma nova geringonça. A Educação para o BE e à Saúde para o PCP. Acabavam-se as greves, e, pior do que está não podia ficar. Como dizia o outro, a brincar a brincar é que o macaco fez não sei o quê mais sério. Bem, mas este governo precisa efectivamente da chicotada psicológica e não é preciso novas eleições. Costa, como refere Júdice, é o melhor político da sua geração, só lhe falta mostrar o que vale enquanto governante. O calvário dele e o nosso ainda tem três longos anos de caminho. Todos o devemos levar até ao fim. Não devemos, quando a coisa começa a doer simplesmente saltar fora. O caminho escolhido é da responsabilidade de quem o escolhe. Estou 200% de acordo com a Helena, novas eleições seria uma grande escapatória para Costa. Já não tanto para Marcelo, porque passaria a ser o culpado pela crise institucional e o político mais contestado por socialistas e a direita em geral. Para falar marcelês é preciso sempre contar até três; esperávamos, desejávamos, conseguimos…               Vitor Batista > Fernando Cascais: Essa de considerar Costa o melhor politico da sua geração, tem muito que se lhe diga.                  João Floriano > Fernando Cascais: Bom dia Fernando Há sempre a possibilidade de António Costa apresentar a demissão e forçar mesmo eleições antecipadas. É um golpe muito arriscado face à surpresa que pode vir da direita. Há ainda um aspecto com que não se está a contar: a luta interna no PS pela sucessão de Costa e a alternativa PNS. Os Pedronunistas e os seus apoiantes nos partidos de esquerda vão querer aproveitar a oportunidade. Muito, muito complicado. É bom que o PSD já tenha estudado todas as possibilidades, tenha planos para todas as letras do ABC e perceba que o momento não é para hesitações.                  Nuno Gomes > Fernando Cascais: Isto é um ciclo sem fim, só possível por falta de cultura de um povo. Preferem ser coitadinhos e miseráveis a tentarem terem sucesso e uma vida de liberdade. Não vejo como dar a volta a isto, sem ser passar por fome ou guerra, ou aparece um dom sebastião que inspire esta  gente toda.             Cisca Impllit: O liga imediatamente à Eugénia de João  Galamba é  inversamente proporcional ao génio de Chico Buarque em atira na Géni!                  Cisca Impllit: Gostar do Paulo Tunhas era fácil, e muito bom. Era de dentro, de dentro de nós que esperávamos com ele falar e aqui, no Observador, pelas quintas feiras.

 

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