Para quê? Porquê? Se o silêncio é o que resta… A todos
nós.
Costa e Marcelo, liguem à Eugénia. Imediatamente
Antecipar as eleições seria não só a
forma de livrar Marcelo e Costa do confronto com o monstro que criaram como
oferecer-lhes uma segura fuga em frente. Se não acreditam em mim liguem à
Eugénia.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 30 abr. 2023, 03:1811
Há
umas horas que a Eugénia se interpõe entre mim e o que quero escrever. A
Eugénia atende o telemóvel a qualquer hora (a Eugénia não tem o direito a
desligar). A Eugénia enfrenta adjuntos em fúria. A Eugénia assina a fundamentação da crítica do ministério
das Infraestruturas à forma como o ministério das Finanças despediu a CEO da
TAP e
sobretudo a Eugénia surge como a tábua de salvação de um
ministro de cabeça perdida: “Liga imediatamente à Eugénia. Imediatamente.” –
ordenava João Galamba ao seu adjunto com o desespero de quem antecipa que o
pior está para vir. A Eugénia em questão é chefe de gabinete de João Galamba,
mas, de certo modo, representa os homens e mulheres dessa massa que, para o
melhor e o pior, rodeia os ministros.
Incapaz
que estou de me libertar da Eugénia só me resta portanto trazer a Eugénia para
dentro do meu texto. Sim, Eugénia, eu ligo-te logo que possa e tu explicas-me
preto no branco como pode um simples adjunto, como era o caso de
Frederico Pinheiro, ter acesso a informação de tal forma reservada que se
chamou o SIS para reaver o seu computador. De caminho Eugénia (desculpa que te
trate por tu, mas o ministro impôs o estilo tu cá tu lá e não sou eu que o vou
contrariar, conhecedora que estou da forma como nesse ministério se enfrenta
quem os contraria), podes então, Eugénia. ver o que está registado no teu
computador sobre o episódio do anúncio
dos dois aeroportos por Pedro Nuno Santos & Hugo Mendes em meados do ano
passado? Obrigada, Eugénia, há muito por explicar nesse caso e creio que
me podes dar uma ajuda. E, agora, que já deves ter com que te entreter,
passemos ao que me interessa e que basicamente se resume a isto: por
mais negativa que seja a apreciação que se tenha sobre o desempenho do actual
Governo não podemos aceitar que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa
recorram à criação de um facto – a dissolução da AR – que os libertaria do
confronto com as suas responsabilidades na situação que vivemos.
Não duvido que um governo de
gestão e um clima de campanha eleitoral são o que de melhor se pode oferecer ao
PS neste momento. Em menos de uma semana o PS estaria em estado de luta
contra o fascismo por interposto Chega: referir o atraso de ano e meio na portaria que leva José Sócrates a
tribunal logo será designado como “fazer as mesmas perguntas que o Chega”. Denunciar
os números da mortalidade infantil será
fazer a política do Chega. Denunciar a esmagadora carga fiscal equivalerá a ficar igual a André
Ventura… Ao falhar como projecto governativo, o PS agarra-se ao paradigma da
luta contra os fascismos O fascismo passado, o fascismo presente e o fascismo
futuro tornaram-se vitais para o PS.
Já os estou a ver, Costa e
Marcelo, libertos da rotina governativa: o Presidente ufano a dizer que usou os
seus poderes. Que decidiu a dissolução da AR após três fases: reflexão,
ponderação e decisão. Que na decisão havia duas hipóteses: manutenção do
Governo ou dissolução da AR. Que tendo decidido pela dissolução da AR dois cenários se colocam: ou uma maioria
absoluta, ou uma maioria relativa e que portanto três soluções se configuram…
Sete anos de Marcelo como Presidente da República fizeram de mim uma
perfeita falante de “marcelês” e uma analista imperfeita daquilo a que a
leviandade pode conduzir em política: Marcelo, que não tem coragem nem vontade
para exercer o seu poder como PR, ilude o seu falhanço institucional com o
estrépito da dissolução do parlamento.
Já António Costa, mais ufano ainda que a presidencial vacuidade ao ser
confrontado com os escândalos do seu governo, nessa campanha eleitoral
antecipada diria de imediato que a resposta vai ser dada pelos eleitores: a
ingerência política na gestão da TAP? Os despedimentos bolivarianos de Manuel
Beja e Christine Widener? O processo colocado por um seu ministro ao jornal que
primeiro denunciou que não havia Parecer algum?…
Antecipar as eleições seria
não só a forma de livrar Marcelo e Costa do confronto com o monstro que criaram
como oferecer-lhes uma segura fuga em frente. Se não acreditam em mim liguem à
Eugénia.
Ps. A notícia chegou inesperada e brutal: o
Paulo Tunhas morreu. Horas antes tinha ido verificar ao mail se teria ido para
spam a mensagem que esperava dele.
Vi-o pelo pela primeira vez num encontro
com Fernando Gil e desde então íamos mantendo uma espécie de conversa
interminável. Falar com ele era fascinante, pelo muito que ele sabia mas também
pela forma desconcertante com que olhava para as coisas do mundo. No
Contra-Corrente em que participou várias vezes aconteceu ficarmos a ouvi-lo
numa espécie de prazer antecipado de sermos surpreendidos com o seu raciocínio,
com as referências que fazia…
Agora que sei que mais nenhuma mensagem
vai chegar resta-me, quando voltar ao Porto, encaminhar-me para aquele
restaurante onde ele às vezes ia e pedir aquele arroz de vitela acompanhado com
ovo estrelado que deu sabor às nossas últimas conversas sobre o desconsolo do
país.
PS POLÍTICA MARCELO REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA REPÚBLICA ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
Jota Mamba: Está montado o circo, um circo especial com uma única
qualidade de artistas: palhaços. Paulo J Silva: Era uma vez um homem que tinha
uma quinta mas porque não podia administrar a mesma resolveu contratar um
administrador. Celebrou um contrato por quatro anos. Ao fim de um ano verificou
que o administrador, que tão boas referências lhe dera, afinal não sabia
administrar e o estado da quinta degradava-se a olhos vistos. Cara Helena Matos, se fosse a
dona da quinta diria que o contrato é para manter e que no fim do mesmo é que
vai acertar contas e pedir responsabilidades ao mau administrador?. Um mau
Governo não é para manter. Mesmo os idiotas que deram a maioria ao PS e que
agora sofrem na pele o resultado da sua escolha não devem ter como castigo
aguentarem isto mais 3 anos. Portugal não merece isto! Ana Silva: A sério!? Não acredito no que
aqui diz Helena Matos. Nem nos comentários que a apoiam. Aguentar a maioria
absoluta dos absolutamente incompetentes e corruptos socialistas da escola de
Sócrates e Costa (este com a invenção maquiavélica da geringonça) até ao fim,
foi uma opinião que já defendi em fevereiro de 2022 aqui no Observador,
sobretudo como pedagogia para um povo politicamente iletrado que deu maioria
absoluta a esta gente. No entanto as coisas mudaram mil vezes para pior desde
essa altura. Temos uma crise social a rebentar com o aperto económico às
famílias, com a inflação a aumentar e muito os bens essenciais, com os
arrendamentos e o preço das casas a duplicar, os juros do crédito à habitação a
disparar, os transportes públicos a não servirem os mais necessitados no acesso
ao trabalho de que dependem para viver. A gravíssima crise da natalidade
ignora-se, a da emigração agudiza-se, com os jovens, motor de qualquer economia
saudável a sair de Portugal… o desinvestimento no sector público, a maior carga
fiscal de sempre com o monstro da Função Pública cada vez maior, e pior, entrou
a Ideologia do Género nas escolas, o SNS já deixa morrer mulheres grávidas e os
seus bebés porque fecham serviços de urgência, ou doentes em ambulâncias a
dançar um corridinho macabro entre hospitais… e o problema é não deixar Costa e
Marcelo saírem desta embrulhada que também ajudaram a criar? E o busílis é
o PS ter argumentos para fugir com o rabo à seringa, acenando com o papão do
fascismo (mas pensa mesmo que as gerações mais novas acreditam nisso?) e atirando
as culpas para Marcelo? O foco não pode ser esse. Não pode ser pela negativa. O
foco tem que ser o PSD levantar o rabo gordo e ser oposição verdadeira em vez
de um alinhado com esta desgraça toda. O foco está em o PSD arranjar uma
ideia de futuro para o paîs com seriedade, deixar-se de preconceitos em relação
a quem faz a verdadeira oposição a este país, sim o Chega, a organizar uma
alternativa que abranja toda a Direita e não só a conveniente Direita fofinha
(a que foi entretanto corrida do parlamento por efeito de eleições, lembra-se?)
ou então, a deixar-se engolir pela História, porque da maneira que está este
PSD não presta para nada, e a dar lugar ao Chega, que esse sim, os tem no sítio. Rui Lima: Já foi um erro quando se
salvou o PS (o PSD foi precipitado e pouco inteligente sede de poder fez o
resto ) no tempo de José Sócrates Se tem
deixado mais uns meses o governo socialista de Sócrates quando já só havia 300
milhões de euros em para despesas de estado , as reformas e salários da função
pública deixariam de ser pagos e o PS morria nesse dia e seria uma grande lição
para o povo português . Este governo tem de ficar até ao fim . Alfaiate Tuga: Temos um governo constituído na
sua grande maioria por gente que nunca fez mais nada na vida do que andar
metida na política, como se isso já não chegasse, ainda por cima são muitos
deles jovens inexperientes, para ajudar à festa, quase todos encabeçam ou
integram as diferentes facções que lutam entre si pela sucessão do Kosta. O PS
consegue abandalhar tudo onde se mete, costuma dizer-se que o hábito faz o
monge, neste caso os monges são tão maus que acabam por conspurcar o hábito,
não me lembro de a palavra de um ministro valer tão pouco ou mesmo nada. Uma coisa são putos inexperientes, outra são putos
inexperientes e mentirosos ao serviço de interesses obscuros que normalmente
tem por finalidade lesar o erário em proveito deles e dos amigos.Por falar em amigos, tenho lido
e ouvido por aí muita gente a dizer que os crimes imputados ao antigo chefe do
bando vão prescrever, ouço os juízes a dizer que o advogado do figurão já meteu
31 recursos para ir parando o processo por forma a dar tempo dos crimes prescreverem.
Também já ouvi os juízes a explicar que seria fácil alterar a lei para que os
recursos não parassem os processos e fossem analisados num processo à parte
enquanto o processo principal decorria. Agora pergunto: - Que partido da
direita à esquerda apresentou na assembleia da república uma proposta para
alterar a lei dos recursos? Pois, vir encher a boca com a corrupção é fácil,
apresentar soluções para agilizar os processos, tá quieto, depois querem ser
levados a sério. Carlos
Gonçalves: Genial! Fernando
CE: Muito boa crónica. António Lamas:
Já estamos a
evoluir. Passamos da responsabilização do motorista, para a chefe de gabinete. Ainda
com sorte chegamos ao ministro Pedro
Almeida: A culpa é do Zé
Povinho, que tem os políticos que merece. Em 2015 escolheu votar à Esquerda.
Está aqui a factura. E vai surgir outra (pior) quando vier uma crise, pois
Portugal passa uma crise de x em x tempo
Francisco Miguel Colaço > Pedro
Almeida: O problema de hoje não é 2015, mas as eleições
seguintes, que blindaram o PS no poder em vez de o sacar de lá de vez. Pedro Almeida: Quero ver Marcelo e Costa a
fugirem com o rabo à seringa Pedro
Almeida: O (des)governo está cada vez mais patético Fernando
Cascais: Marcelo pode dissolver este governo e pedir a Costa
para formar e apresentar um novo governo, ou não pode? Seria a chamada
chicotada psicológica utilizada no futebol, só que em vez de trocar de treinador,
trocava antes a equipa toda. Não seria fácil para António Costa arranjar uma
nova equipa, mas sempre podia pescar fora. Imaginem um governo com 5x Paulos
Macedos, seria um caso sério. Outra possibilidade seria Costa formar um novo
governo na base de uma nova geringonça. A Educação para o BE e à Saúde para o
PCP. Acabavam-se as greves, e, pior do que está não podia ficar. Como dizia o
outro, a brincar a brincar é que o macaco fez não sei o quê mais sério. Bem,
mas este governo precisa efectivamente da chicotada psicológica e não é preciso
novas eleições. Costa, como refere Júdice, é o melhor político da sua geração,
só lhe falta mostrar o que vale enquanto governante. O calvário dele e o nosso
ainda tem três longos anos de caminho. Todos o devemos levar até ao fim. Não
devemos, quando a coisa começa a doer simplesmente saltar fora. O caminho
escolhido é da responsabilidade de quem o escolhe. Estou 200% de acordo com a
Helena, novas eleições seria uma grande escapatória para Costa. Já não tanto
para Marcelo, porque passaria a ser o culpado pela crise institucional e o
político mais contestado por socialistas e a direita em geral. Para falar
marcelês é preciso sempre contar até três; esperávamos, desejávamos,
conseguimos… Vitor Batista > Fernando
Cascais: Essa de considerar Costa o
melhor politico da sua geração, tem muito que se lhe diga. João Floriano
> Fernando
Cascais: Bom dia Fernando Há sempre a possibilidade de António
Costa apresentar a demissão e forçar mesmo eleições antecipadas. É um golpe
muito arriscado face à surpresa que pode vir da direita. Há ainda um aspecto
com que não se está a contar: a luta interna no PS pela sucessão de Costa e a
alternativa PNS. Os Pedronunistas e os seus apoiantes nos partidos de esquerda
vão querer aproveitar a oportunidade. Muito, muito complicado. É bom que o PSD
já tenha estudado todas as possibilidades, tenha planos para todas as letras do
ABC e perceba que o momento não é para hesitações. Nuno Gomes >
Fernando
Cascais: Isto é um ciclo sem fim, só possível por falta de
cultura de um povo. Preferem ser coitadinhos e miseráveis a tentarem terem
sucesso e uma vida de liberdade. Não vejo como dar a volta a isto, sem ser
passar por fome ou guerra, ou aparece um dom sebastião que inspire esta gente toda. Cisca Impllit: O liga imediatamente à Eugénia
de João Galamba é inversamente proporcional ao génio de Chico
Buarque em atira na Géni!
Cisca Impllit: Gostar do Paulo Tunhas era fácil, e muito bom. Era de
dentro, de dentro de nós que esperávamos com ele falar e aqui, no Observador,
pelas quintas feiras.
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