terça-feira, 2 de maio de 2023

«Pela rama»


A propósito do texto de LUÍS SOARES DE OLIVEIRA, sobre o conceito de democracia, coloco o comentário de Adriano Miranda Lima a um texto do Dr. Salles da Fonseca, sobre o pensamento de Salazar relativamente ao povo português que, ao que parece, ele definia como indisciplinado e leviano, inimigo do estudo sério. Eis um excerto desse comentário -  pedindo desculpa pelo abuso da transcrição, que vai ao encontro da descrição da democracia portuguesa feita por LSO, apoiado numa análise de Ricardo Pais Mamede sobre a democracia portuguesa – das melhores do mundo – talvez por essa característica de leviandade e excesso de sensibilidade e imaturidade, que permitem certa harmonia no folclore e desinteresse pela gerência da governação (dos espertos e afins):

«Fala-se amiúde de um Portugal salazarista, mas a verdade é que, na opinião de muitos, Salazar sentia certo desprezo pelos portugueses, o que é paradoxal. Há uma entrevista de Salazar a António Ferro em que ele afirma: "O povo português é excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na acção. A própria facilidade de compreensão, diminuindo-lhe a necessidade de esforço, leva-o a estudar todos os assuntos pela rama, a confiar demasiado na espontaneidade e brilho da sua inteligência. Mas quando enquadrado, convenientemente dirigido, o português dá tudo quanto se quer". No entanto, apesar do seu longuíssimo consulado e da percepção de que dá conta nessa entrevista, Salazar nada conseguiu mudar na mentalidade do seu povo. Bem pelo contrário, pode até ter contribuído com a sua política de fechamento ao cosmopolitismo para que hoje se possa falar do Portugal Salazarista. E ao que parece está a actualmente a conquistar eleitorado, ainda que se possa pensar que nem o próprio Salazar pactuaria com os métodos e as práticas da extrema-direita que tem assento no Parlamento.»

O TEXTO de Luis Soares de Oliveira

19 h

DEMOCRACIA E GOVERNO

«Dizem-nos Machiavelli e outros profetas que a liberdade é inimiga do bom governo: há que escolher entre democracia sã e governança madura. Salazar era dessa opinião. Mas hoje vem no PUBLICO um analista económico - Ricardo Pais Mamede, de seu nome - que, fundado em estatísticas, afirma (e prova) que Portugal reune uma das melhores democracias e um dos piores governos do Mundo. E pondera: no domínio da qualidade democrática não foi Portugal que melhorou; os outros é que pioraram. Declinaram sobretudo em termos de repressão, censura, participação dos jovens no processo eleitoral, diversidade, etc.. Mas o governo deles melhorou, sobretudo em termos de resultados económicos e confiança nos governantes.

E é isto. Há que saber escolher. O povo erra porque confunde emoções com pensamento e segue a moda. Maria vai com as outras, dizia o poeta

COMENTÁRIO

Maria João Correia: Certíssimo. Terá influência nesse processo de mudança o necessário amadurecimento da democracia? Seremos nós uns jovens democratas irreverentes e teimosos que só aprendemos errando?


Nenhum comentário: