A propósito do texto de LUÍS
SOARES DE OLIVEIRA, sobre o conceito de democracia, coloco o comentário de Adriano Miranda Lima a um texto do Dr. Salles da Fonseca, sobre o pensamento
de Salazar
relativamente ao povo português que, ao que parece, ele definia como
indisciplinado e leviano, inimigo do estudo sério. Eis um excerto desse
comentário - pedindo desculpa pelo abuso
da transcrição, que vai ao encontro da descrição da democracia portuguesa feita
por LSO, apoiado numa análise de Ricardo Pais Mamede sobre a democracia
portuguesa – das melhores do mundo – talvez por essa característica de
leviandade e excesso de sensibilidade e imaturidade, que permitem certa
harmonia no folclore e desinteresse pela gerência da governação (dos espertos e
afins):
«Fala-se amiúde de um Portugal salazarista, mas a verdade é que, na opinião de muitos, Salazar sentia certo desprezo pelos portugueses, o que é paradoxal. Há uma entrevista de Salazar a António Ferro em que ele afirma: "O povo português é excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na acção. A própria facilidade de compreensão, diminuindo-lhe a necessidade de esforço, leva-o a estudar todos os assuntos pela rama, a confiar demasiado na espontaneidade e brilho da sua inteligência. Mas quando enquadrado, convenientemente dirigido, o português dá tudo quanto se quer". No entanto, apesar do seu longuíssimo consulado e da percepção de que dá conta nessa entrevista, Salazar nada conseguiu mudar na mentalidade do seu povo. Bem pelo contrário, pode até ter contribuído com a sua política de fechamento ao cosmopolitismo para que hoje se possa falar do Portugal Salazarista. E ao que parece está a actualmente a conquistar eleitorado, ainda que se possa pensar que nem o próprio Salazar pactuaria com os métodos e as práticas da extrema-direita que tem assento no Parlamento.»
O TEXTO de Luis Soares de Oliveira
DEMOCRACIA E GOVERNO
«Dizem-nos Machiavelli e outros profetas que a liberdade é inimiga
do bom governo: há que escolher entre democracia sã e governança madura. Salazar
era dessa opinião. Mas hoje vem no PUBLICO um analista económico - Ricardo Pais
Mamede, de seu nome - que, fundado em estatísticas, afirma (e prova) que
Portugal reune uma das melhores democracias e um dos piores governos do Mundo.
E pondera: no domínio da qualidade
democrática não foi Portugal que melhorou; os outros é que pioraram.
Declinaram sobretudo em termos de repressão, censura, participação dos jovens
no processo eleitoral, diversidade, etc.. Mas o governo deles melhorou,
sobretudo em termos de resultados económicos e confiança nos governantes.
E é isto. Há que saber escolher. O povo erra porque confunde emoções
com pensamento e segue a moda. Maria vai com as outras, dizia o poeta.»
Maria João Correia: Certíssimo. Terá influência nesse processo de
mudança o necessário amadurecimento da democracia? Seremos nós uns jovens
democratas irreverentes e teimosos que só aprendemos errando?
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