Reflexões de um HOMEM que serviu no EXÉRCITO - HENRIQUE SALLES DA FONSECA - e que se preocupa com a falta de estrutura
moral actual no seu país, a qual também assenta na disciplina, que as normas
militares impunham – e devem impor ainda
- talvez – mas que a flexibização da obrigatoriedade na prática militar
de hoje em dia (juntamente com a
flexibilização actual do modelo moral), tem feito dissipar, no torpor e
cobardia geral para atalhar tal “estado de sítio” na eficácia normativa.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A
BEM DA NAÇÃO, 25.05.23
«Honestidade é uma faceta de
carácter moral que conota atributos positivos e virtuosos como integridade,
veracidade, franqueza de conduta, juntamente com a ausência de mentiras,
trapaça, roubo, etc. Honestidade também envolve ser confiável,
leal,
justo
e sincero.
A honestidade é valorizada em muitas culturas étnicas e religiosas.
A honestidade é uma característica amplamente divulgada pela maioria das
pessoas, honestas ou não.
Em 30 de abril, nos Estados Unidos,
é o Dia da Honestidade para incentivar a honestidade e a comunicação directa
sobre política.» (Wikipédia) * * *
A honestidade é claramente a virtude superlativa sem a qual todas as
outras claudicam.
Convém acompanharmos a leitura da transcrição acima de um visionamento
«même à vol d’oiseau» do nosso hemiciclo maior e respectivas adjacências
perguntando-nos se não é mais do que tempo para revermos os métodos de formação
do carácter da nossa juventude.
A
minha resposta a esta questão é claramente favorável à mudança valorizando um
Serviço Cívico Obrigatório (de cariz militar ou civil conforme a apetência
individual e inerentes critérios de admissão) e relativizando a formação dada
pelas «jotas» partidárias cujos resultados enchem os telejornais.
Mas…
…qualquer alteração deste cariz passa pela decisão partidária e é altamente duvidoso que os Partidos queiram ver as
suas «jotas» secundarizadas por um «qualquer» Serviço Cívico Obrigatório.
E, para além do mais, seria o reconhecimento público de que as «jotas» não são
eficazes, o que, para os decisores oriundos dessas fontes, seria o naufrágio.
E então?
Então, há que lançar um debate
nacional, público, que «empurre» os náufragos até um porto seguro.
HONESTIDADE, PRECISA-SE!
FIM
Maio de 2023 Henrique
Salles da Fonseca
Tags: sociologia
COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim 25.05.2023 13:58: Ainda existe honestidade na política, nos
bancos, nas compras públicas, nos tribunais, ou isso é história antiga?
Adriano Miranda Lima 25.05.2023 17:18: Este
texto é como ir a um terreno aurífero e peneirar escrupulosamente pepitas. Isto
porque a honestidade é a virtude que mais genuinamente reflecte a alma humana e
está intimamente associada à condição humana. Diria que a maior parte dos males do mundo provém da ausência de
honestidade na alma humana. Houvesse honestidade, não seria possível deixar que
o nosso semelhante sofresse penúria ou morresse de fome porque à honestidade
subjaz um elementar sentimento de justiça e solidariedade para com o próximo.
Houvesse honestidade, não seria possível infligir sofrimento ao nosso
semelhante porque a honestidade desarma à nascença o arbítrio e a violência.
Poderia continuar por aí fora com mais exemplificações mas não é necessário.
Pois é intuitiva a noção de que a honestidade é das virtudes mais
estruturantes da condição humana. O Sr. Dr. Salles da Fonseca
de certeza que olhou em primeiro lugar para as estruturas político-partidárias
ao pensar na tremenda falta que a honestidade faz ao país. E com razão. Somos
suficientemente realistas para reconhecer que nas últimas décadas a honestidade
fugiu do nosso sistema político-partidário como água que se deita dentro de um
cesto de verga. Conforta-me
verificar que sempre que aborda alguns conceitos pensa na instituição
militar. E com razão. Embora nem todos os militares sejam um primor
das virtudes aqui tratadas, considero que a maioria merece a distinção. Lembro
factos que me ficaram impregnados na memória. Em 1965, sendo eu ainda um
alferes miliciano, com pouca experiência prática, saí de Luanda, acabado de
chegar à província, em direcção ao Leste de Angola, comandando um pelotão
independente de morteiros com cerca de 40 homens. Foi uma viagem terrestre de 3
dias e pelo caminho fomos pernoitando em quartéis. Num dado quartel, de uma
companhia de caçadores, entre o centro e o leste de Angola, pernoitámos ao
segundo dia. Ao jantar, o capitão, um homem a caminho dos 40 anos, convidou-me
para a refeição. Esta era apenas de carne de vaca guisada com massa (manga de
capote, na gíria dos soldados), igual à ementa das praças. Não obstante a
modéstia da refeição, o capitão, sentado à cabeça da mesa, direito na sua
cadeira, transpirava a mais pura dignidade e honestidade em pessoa. Como se
estivesse num palácio e não numa instalação do género pré-fabricado (JC). Nunca
mais o voltaria a ver, mas marcou-me com o exemplo da dignidade do seu porte,
que os seus alferes à mesa espelhavam igualmente. (Continua) Adriano Miranda Lima, 25.05.2023 17:19
(Continuação)
Mais tarde, em 1968, e já
regressado de Angola, estando em casa de uma tia minha, na avenida Defensores
de Chaves, casada com um tenente-coronel, ela contou-me certo dia:
- Adriano, sempre vivemos com dificuldade porque os militares não ganham muito
bem. E no entanto o tio (meu tio por afinidade, marido dela) sempre pautou a
sua vida por uma conduta de uma irrepreensibilidade que por vezes até incomoda,
não aceitando dádivas ou ajudas de quem quer que seja. No ano passado, estava
colocado na fábrica de munições ou explosivos de… [já não me lembro de qual] e
por alturas do Natal uma empresa fornecedora da fábrica enviou uns homens aqui
a casa com uns caixotes que supostamente traziam prendas (natalícias), dadas as
funções que o tio desempenhava. Ele foi abrir a porta e depois de ser informado
do que se tratava ordenou aos homens para voltarem imediatamente à origem com o
que transportavam. Vê lá tu que até fiquei com pena daqueles homens, que se
limitaram a cumprir uma ordem. É que morávamos neste último andar e tiveram de
voltar a descer as escadas com aquelas cargas. Quanto
à formação cívica dos cidadãos, tenho a certeza de que a extinção do serviço
militar obrigatório fez uma falta irremediável. Os rapazes aprendiam nas
fileiras noções básicas mas muito importantes sobre a sua conduta cívica e que
levavam para a vida civil. Durante
o PREC, puseram em prática as acções de “Dinamização Cultural”, que só duraram
enquanto o partido Comunista não se infiltrou no processo. Foi sol de pouca
dura, mas é pena porque poderiam ter tido outra orientação. Mas
algo tem de se fazer ao menos no âmbito do processo educativo, nas escolas e
nos liceus. É
nítido que os JT foram e têm sido talvez o exemplo do que não se deve fazer. Os exemplos
são mais que elucidativos do errado que tem sido a formação das juventudes
políticas. Em vez da aposta na transparência do carácter, na honestidade, na
lealdade e no espírito de sacrifício e dedicação à causa pública, o
investimento é na retórica oca e vulgar, no ardil, na aldrabice e na rasteira
ao outro e na concorrência desleal.
Goulartt
27.05.2023 13:04: Concordo.
Faz muita falta aos jovens esse serviço, cívico ou militar. Nos primeiros anos
dos partidos os políticos eram mais honestos por que tinham sido educados nos
anos 50 e 60. Agora os políticos são da geração 70 e 80 e pertencem à chamada
geração rasca. Espertice e oportunismo são a palavra de ordem.
António Fonseca 27.05.2023 21:19: Tive muito prazer em ler os seus quatro
blogues - DA CONDIÇÃO PAISANA - Doutor Henrique Salles da Fonseca. Estamos a
passar por uma Época em que se fala de mordomias como um direito e das
obrigações que acompanham os benefícios como um problema dos outros. Talvez
se pudéssemos conjugar "De cada um segundo as suas possibilidades, a cada
um segundo as suas necessidades" (abrangendo tanto a Bíblia como Karl
Marx), com "O Trabalho Liberta", possamos achar o meio-termo ideal.
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