Um artigo impecável sobre um assunto que
certamente já passou na cabeça de todos e que MARGARIDA BENTES PENEDO expõe com clareza, rigor e saber crítico …
decerto que para o charco dos inúteis valores, nas actuais supremacias das modas
pensantes, num país de brincadeira.
Bicicletas e loendros
As bicicletas não são um meio de
transporte ou um recurso de mobilidade, são uma ideologia. Das mais ferozes.
Ninguém ousa levantar um dedo contra os prosélitos das bicicletas.
MARGARIDA BENTES
PENEDO Arquitecta e deputada municipal
0BSERVADOR, 04 mai. 2023
Números do INEM (Instituto Nacional de
Emergência Médica), em 2022 houve 6.280 feridos resultantes de acidentes
em “mobilidade suave”. Destes,
4.254 em bicicleta, 1.691 em trotinete, e 335 em skate (aparentemente, um dia
alguém decretou que o skate é uma forma de “mobilidade”). Um em cada três destes feridos foi considerado
grave. A maioria dos acidentes aconteceu no verão, durante os meses de Julho e
Agosto; e nos concelhos de Lisboa, Porto, Gaia, Cascais e Coimbra. Isolemos as
bicicletas, porque só elas determinaram alterações no traçado das ruas; e
comparemos com anos anteriores. Em 2019, houve 1.510 feridos em
acidentes de bicicleta; em 2020, houve 1.970 (mais 30%); em 2021, houve 3.004
(mais 52%); e em 2022, como já vimos atrás, houve 4.254 (mais 42%). Números
sempre a subir, com ou sem pandemia; variações entre os 30% e mais de 50% de um
ano para o outro. Cada vez mais acidentes e mais feridos, cada vez com mais
ciclovias. Pior: João Varandas Fernandes, cirurgião e director de ortopedia
do Hospital de São José, combinou recolher informação, com a Autoridade
Nacional para a Segurança Rodoviária, sobre as vítimas de acidentes de
“mobilidade suave” que entrem nos hospitais de São José, Santo António dos
Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia, e Curry Cabral. Está convencido de
que os números reais “podem ser cinco vezes superiores”.
Como é que estes números não aparecem
nos jornais e televisões? Todos os dias somos agredidos com notícias alarmantes
de acidentes de automóvel. Porque será que os acidentes de bicicleta não fazem
notícias? Por
uma razão dogmática: é tabu. Porque as bicicletas não são um meio de transporte
ou um recurso de mobilidade, são uma ideologia. Das mais ferozes. Ninguém ousa
levantar um dedo contra os prosélitos das bicicletas. Dentro da esquerda,
tornaram-se o grupo mais agressivo.
Ainda
assim, para conhecermos bem a cara do problema, falta informação importante. Um
exemplo: dentro de Lisboa, ou do Porto, quantos feridos resultaram de acidentes
em bicicleta e quantos em acidentes de automóvel? Não conheço a resposta, mas
suspeito que serão muito mais os de bicicleta. Caso contrário, os números
sabiam-se. Outro exemplo: quantas pessoas deixaram de usar carro particular
para passar a andar de bicicleta? Também suspeito, pelas mesmas razões, que
será um número ridiculamente baixo. Caso contrário, seria exibido. Uma e outra
informação dariam reportagens, capas de jornais, aberturas de noticiários nas
televisões.
As cidades do norte da Europa são
planas, por isso se popularizou o uso de bicicletas em Londres, Amsterdão, ou
Paris, sem esperar pela construção de ciclovias. As cidades portuguesas, de
génese defensiva, nasceram e desenvolveram-se em volta de fortificações no topo
de colinas. Por isso os hábitos não foram nem nunca poderão tornar-se iguais. Aqui só funcionam bicicletas eléctricas,
um eufemismo para motas de baixa cilindrada. Aos onze anos tive uma mota com
pedais; andava a gasolina, no alcatrão, e ninguém lhe chamava bicicleta.
Insistir em ciclovias, na maior parte das cidades portuguesas, é uma fantasia
que a esquerda conseguiu impor para uma mudança de hábitos inteiramente
artificial. E sistematicamente rejeitada.
A esquerda não quer saber do planeta, da “pegada de carbono”, das
“alterações climáticas”, do ambiente ou dos combustíveis fósseis. Se quisesse
não apoiava as greves dos comboios e do Metro, os dois únicos transportes
simultaneamente colectivos e movidos a energia “limpa”. Nada disso interessa à
esquerda. As bicicletas são o pretexto que a esquerda encontrou para legitimar
os obstáculos à circulação de carros particulares. Podia ser com canteiros de
loendros. Os carros particulares são um símbolo da independência burguesa face
ao Estado e uma extensão da liberdade individual, que a esquerda detesta do fundo
do coração. De maneira que as câmaras municipais andam a construir ciclovias
dizendo que fazem políticas “com as pessoas e para as pessoas”, mas não fazem.
Fazem ciclovias, com base numa ideologia e contra o capitalismo. São
principalmente usadas por estafetas das empresas de entregas.
Convém esclarecer que a questão não está
no uso da bicicleta, uma escolha respeitável. Nem sequer está em causa que os
poderes públicos facilitem as condições de conforto e segurança para quem
quiser andar de bicicleta. O ponto está em que a bicicleta não é uma solução para
a mobilidade urbana – numa população progressivamente envelhecida – como é o
transporte colectivo, público ou privado, e o carro particular. E a
bicicleta só está nessa lista por razões ideológicas, imposta pela esquerda e
pelos grupos de pressão controlados pela esquerda. Se dependesse da ditadura
woke – no fundo, a única esquerda que existe hoje em dia –, os loendros também
contavam como recurso de mobilidade urbana. As ciclovias servem para entupir o trânsito
e infernizar a vida a milhares de pessoas em nome de um grupo muito pequeno e
minoritário. Mas muito vocal, muito fanático, muito puritano e muito colérico.
MOBILIDADE
URBANA AUTO HABITAÇÃO E
URBANISMO PAÍS BICICLETAS CICLISMO…
COMENTÁRIOS (de 95):
servus inutilis: A lisboetada
discute cada minhoquice. Falar de biclas em boa parte de Lisboa e Porto com o
trânsito absurdo que por ali anda não lembraria ao careca. Desaproveitar
tradições ciclistas - que as temos, por exemplo, em Aveiro e em quase todas as
cidades litorais - é de atrasados mentais. Liberales Semper Erexitque: Para os escandalizados com o artigo e com a opinião por
aqui largamente maioritária de que há um problema com os velocípedes e veículos
equiparados nas cidades causado pelos políticos, deixo ainda uma questão: serão
os parisienses tão atrasados, tão "sem mundo", tão
mesquinhos, tão intolerantes, que 90% deles votem a favor
da proibição das trotinetas de aluguer na
cidade-luz? Alguém se atreverá a responder que sim? Este
caso mostra bem como se decide nestas matérias de "salvação do mundo"
de forma completamente anti-democrática, impondo às maiorias coisas que elas
rejeitam e com muito bons motivos. Depois admiram-se por o extremismo de
direita ganhar asas. Quem tiver lido O Caminho Para A Servidão de Hayek sabe
bem que não há nada para se ficar admirado. Saberão as pessoas que os
"coletes amarelos" franceses foi uma revolta que resultou
directamente da imposição de impostos "ecológicos" sobre a gasolina?
E saberão que o poder de Paris os enrolou de tal maneira que os
"convenceu" de que eles eram a favor de uma tal de "transição
energética"? Não estou nada optimista em relação a quem vai ser eleito
próximo presidente da república francesa. Escrevi eleito, mas deveria ter
escrito eleita.
Gabriela Gop: As bicicletas
e trotinetes são um flagelo para os peões. Não há segurança nos passeios. Eu, como
muitos lisboetas já apanhámos grandes sustos, nos passeios e nas passadeiras, mesmo
não tendo sido atropelados. Quanto às
tácticas agressivas de ciclistas em relação aos automobilistas são o pão nosso de cada dia... Liberales Semper Erexitque
> Gabriela Gop: Concordo
quase inteiramente, mas não são todos os ciclistas e "trotinetistas"
que se comportam dessa maneira. De qualquer forma, a única verdadeira solução é
tirar todos os velocípedes e equiparados dos espaços para os peões. Chama-se
cumprir a lei... S
Belo > Liberales Semper Erexitque: Sim, mas a Lei, neste caso, não deve ter sido feita
para ser cumprida. Tenho assistido, frequentemente, à total indiferença de agentes da dita perante o flagrante
desrespeito por regras de trânsito e sinalização
quando se trata de bicicletas, skates etc. Na Av da República, frente a C
Pequeno só se atravessa a pé, com alguma segurança, na faixa central por haver
semáforos. Nos passeios, ciclovia, e outras faixas várias, vigora a lei do mais
atrevido. Vasco
Silveira: "As bicicletas não são um meio de
transporte ou um recurso de mobilidade, são uma ideologia. Das mais ferozes.
Ninguém ousa levantar um dedo contra os prosélitos das bicicletas. "Cara
Senhora, Felicito-a pelo seu artigo, que resume tão bem neste parágrafo que tomei a
liberdade de reproduzir. As bicicletas (o único transporte em que a
"besta" é o homem, diziam os antigos), e seus aderentes, que, a
propósito, se queixam da arrogância dos automobilistas e comportam-se pior que
eles face aos peões, participam também num culto religioso, o da" saúde e
modernidade". é uma seita de culto não discutido e que não aceita
contraditório. Melhores cumprimentos. Pobre Portugal: Parabéns por dizer o que 99%
dos portugueses pensa mas que não tem coragem de o dizer. (O restante 1%
"pensa" igual, só não tem é coragem de o admitir).
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