De exaltação incriminatória da parte do CHEGA.
De zelo apostólico beato e enganador, por parte do PS em relação ao CHEGA. Mas o
PSD devia ser mais maleável em relação ao CHEGA, se pensasse mais na Nação do
que em si próprio e nas suas ambições de governação – sem alianças incómodas.
Um lúcido texto de Alberto
Gonçalves.
O sequestro de meio milhão de portugueses
Para a “direita” tradicional, o
inimigo confesso ou dissimulado é o Chega, responsável por cerca de 0% das
calamidades nacionais, e não o PS.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR,13 mai. 2023, 00:2210
Segundo as últimas “legislativas”, há 400 mil portugueses cujo voto não conta. Segundo
sondagens recentes, esse número pode ser de 600 mil ou 700 mil. Para arredondar, convencione-se que há
meio milhão de cidadãos que não são tratados enquanto tal. Meio milhão. Não são
emigrantes que sumiram na Nova Zelândia e perderam de vez os vínculos à pátria.
Não são infelizes que padecem de incapacidade psíquica, pelo menos não em maior
proporção que os eleitores dos restantes partidos ou em maior grau que o
espectador médio da SIC Notícias. Não são terroristas na clandestinidade,
prestes a rebentar com clínicas de abortos e a enfiar o prof. Galamba, ilustre
cartomante e fanático de computadores, em alcatrão e penas. São gente comum,
que antes privilegiava o PSD, o CDS e até o PCP, e que agora escolhe o Chega.
Sucede
que optar pelo Chega nas urnas é o mesmo que ficar em casa ou aproveitar para
rabiscar símbolos fálicos no boletim: não serve de muito. E não sou eu que o
digo. Quem o diz são 96,3% dos “media”, 98,8% dos comentadores oficiais e
oficiosos, 99,2% dos políticos em geral e 100% dos dirigentes, funcionários,
zeladores e compadres do Partido Socialista, os quais em conjunto decidiram a
nulidade cívica de meio milhão de criaturas. Hoje em dia, o cálculo das
possíveis alternativas ao encantador socialismo deixou de se fazer através da
corriqueira soma e passou a fazer-se mediante subtracção, a subtracção dos
contumazes que, em quantidade aparentemente crescente, tendem a apreciar o dr.
Ventura.
Na actual “conjuntura”, a virtude aumenta em função da distância que
se guarda face ao Chega. Entre as
agremiações não marxistas, o bom líder é o que ocupa o respectivo tempo a
traçar linhas vermelhas em redor da “extrema-direita”. O óptimo líder é o que
nem se importa de perder eleições desde que o seu asco à “extrema-direita” fique
explícito. Isto na perspectiva da opinião publicada, que zela para que os
limites estabelecidos pelo PS ao espectro político sejam aplicados com rigor.
“Alianças”, “pactos” e “acordos” são palavras malditas, apenas
aceitáveis se proferidas em tom de veemente repulsa e idealmente seguidas de
cuspidela no chão.
É engraçado. O PS não inventou o Chega, mas disfarça bem. E aproveita
melhor. A exacta pandilha que governou quatro anos com o escancarado apoio de
todos os comunistas disponíveis conseguiu impedir a “direita” de se juntar com
aqueles a que a pandilha chama “radicais”. É uma proeza, que implica enorme
astúcia do PS ou terminal ingenuidade da “direita”. Em qualquer dos casos,
o resultado é um maná para a esquerda, que pegou nas intenções de meio milhão
de votantes e, com o espectacular consentimento da oposição, as condenou à
inconsequência. Ou ao lixo, que é termo mais adequado. Os socialistas, que sem auxílio apertam
os sapatos com dificuldade, sequestraram às claras meio milhão de pessoas.
O truque tem a sua graça. E ainda
melhora. É evidente que os simpatizantes do Chega não juraram obediência
eterna. Mesmo sem alianças, pactos ou acordos com o séquito do dr.
Ventura, pareceria razoável que, no presente cenário, o PSD e a IL tentassem no
mínimo conquistar o eleitorado do dr. Ventura em lugar de o catalogar como a
derivação do Belzebu. Por sorte estamos em Portugal, pelo que a razão não
vem ao caso. O PSD não se esforça por
compreender os motivos que levam meio milhão de indivíduos comuns a preferir as
Forças do Mal. E a IL esforça-se por dedicar-lhes a estima que Maomé dedicava
ao bacon estaladiço. Para a “direita” tradicional, o inimigo
confesso ou dissimulado é o Chega, responsável por cerca de 0% das calamidades
nacionais, e não o PS, esse rodapé simpático e despiciendo que manda nisto vai
para três décadas quase ininterruptas. O PS, desculpem a rima, agradece.
Repito: o que espanta na estratégia não
é a sofisticação, e sim o facto de tamanha infantilidade funcionar. O PS, directamente ou por intermédio de
incontáveis comentadores subsidiários, espalha umas conversas sobre o perigo de
o Chega prosperar (na verdade um desejo nada oculto). E os partidos à direita
do PS ouvem as conversas, respeitam os avisos e, com resignação ou alegria,
erguem as “cercas sanitárias” que o PS impõe.
Note-se que em nenhum dos
parágrafos anteriores comentei o próprio Chega, que em questões sociais me
parece estridente, em questões “culturais” irrelevante e em questões económicas
estatista. Pormenores de lado, possui dimensão suficiente para ser
indispensável à “direita” ou, conforme convém a outros, para tornar a “direita”
dispensável. Em suma: sendo as coisas o que são, o Chega podia contribuir para
um arranjo que nos aliviasse do sufoco e da miséria socialistas. Porém, sendo
as coisas o que são, não pode. Por isso o sufoco se agrava, e a miséria também.
Nota de esclarecimento:
Em
crónica publicada no jornal “Observador” no dia 20 de junho de 2020 sob o
título “As minhas indignações não são menos do que as deles”, descrevi um
episódio que o meu pai, já falecido, me contara há muitos anos que, segundo
ele, havia ocorrido entre si e um explicador de físico-química, residente em
Leça da Palmeira.
A
presente nota destina-se a assegurar que apenas reproduzi de memória as
palavras do meu pai, sem intenção de identificar ou imputar qualquer facto a
pessoa determinada e concreta, sem averiguar o relatado.
Não
foi minha intenção ofender a memória do visado nem o legado que deixou enquanto
pessoa respeitada e estimada em Leça da Palmeira e Matosinhos.
Constato,
contudo, que tal alusão ofendeu de forma inadvertida a memória de pessoa
falecida e de seus familiares, o que lamento profundamente expressando as
minhas sinceras desculpas.
COMENTÁRIOS:
Alfaiate Tuga: Os votos no Chega nunca serão votos deitados ao lixo, servirão no mínimo
para evitar uma nova geringonça de esquerda, pois uma nova maioria absoluta do
PS acho muito difícil. Na minha esfera de amigos tenho alguns desiludidos com o PSD e IL que dizem que
ainda vão voltar no chega, eu costumo dizer-lhes, não sei se é a melhor opção,
mas seguramente é melhor do que ficar em casa ou votar à esquerda. Alexandre
Barreira: Pois. Caro AG. É isso mesmo. Devagar. Devagarinho. CHEGA.....lá....! Joao Cadete:
Sugiro que pare
de falar do Chega nas suas crônicas e não dê relevância a quem não tem nada de
bom para apresentar para o futuro de Portugal. Vitor
Batista > Joao Cadete: Concordo! ele deve é falar dos
xuxas e seus acólitos que tanto bem têm feito por Portugal, estou deveras
emocionado com tamanha perspicácia e mestria com que os xuxas corruptos,
nepotistas e ladrões têm conduzido o país. Um bem-haja para si também. Eduardo
Cunha: mais uma
excelente crónica. Parabéns. F.
Mendes: Um artigo lúcido
e corajoso, com o qual estou totalmente de acordo. De facto, o PSD continua sem
saber o que fazer relativamente ao CHEGA; e com medo de largar complexos de
esquerda, dirigindo-se também a eleitores da direita mais conservadora, que
entretanto migrou, e continuará a migrar, para o CHEGA, se não houver mudança
de rumo e coragem que baste. Ao que penso, o PSD não se entende internamente
sobre esta matéria. O que é grave. Na linha do AG, sublinho ser profundamente
antidemocrático segregar os eleitores em categorias, com os do CHEGA
basicamente vilipendiados e postos numa segunda subcave da cidadania. A ideia
que são menos cultos do que o eleitor comum, é falsa, como se prova com alguns
resultados obtidos pelo partido, em concelhos afluentes (veja-se Cascais, por
exemplo). Para piorar tudo, o PSD nem é capaz de contra-atacar com a
proximidade do PS à extrema-esquerda. É verdade que a CS não ajuda; mas teria
que haver aqui uma muito maior agressividade e coragem. Na linha do que aqui
tenho feito, não posso deixar de apontar o dedo ao prof. Marcelo: tem
assistido, deleitado, a esta perseguição (largamente encenada, é certo) a um
partido político legítimo, que não anda a defender ditaduras abjectas; tem-se
calado com as sucessivas fugas do "governo" a um escrutínio adequado
por parte da AR; idem, para tiques e sinais totalitários por parte do Augusto
SS, para a utilização abusiva de serviços do estado (o exemplo do SIS, será um
entre muitos), entre inúmeras outras ocorrências, que mostram como o PS se
confunde com o estado e promove a mediocracia. observador censurado:"...Em qualquer dos casos
... pegou nas intenções de meio milhão de votantes e, com o espectacular
consentimento da oposição, as condenou à inconsequência. Ou ao lixo, que é
termo mais adequado...." Quem votou Chega nas legislativas vai deixar de
pagar impostos? Vitor
Batistao > bservador censurado: Não, vai continuar a votar
Chega ainda com mais convicção, pois como disse o ilustre cronista, o Chega não
tem responsabilidade nos desmandos dos xuxas. Maria Paula Silva: aiiii...... "o ps agradece"
é demais, mas que rima!!! Lol Excelente, como sempre, toca nos pontos
fundamentais e, também como sempre, obrigada pelas boas gargalhadas!!! O Prof.
Galamba de turbante e os socialistas que sem ajuda não conseguem apertar os
sapatos... ( o "n~~ao" é propositado, são eles a
baixarem-se). Isto chegou a um ponto tão medíocre que nada se aguenta, já não
apetece saber notícias, mas o que não se aguenta mesmo porque enjoa é as
chamadas "linhas vermelhas". Que raio! Eu não sou de partido nenhum, sempre
votei em pessoas e não em partidos, e por isso também não sou do Chega, mas
seria engraçado que o Chega crescesse e que os outros partidos mais centrais
soubessem largar o ego e se aliassem todos e derrubassem de vez este socialismo
actual muito medíocre e corrupto. É a única maneira. Desculpem lá, mas o AC
precisa mesmo de apanhar uma grande lição!
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