Que o comentário de Adriano Miranda Lima ao texto anterior de HSF sobre a “condição paisana” (in “Com vodka ou sem ela”) vem a matar como corolário deste 2º texto de continuação sobre o tema, com a falta de ética “regulamentar” destes tempos nossos, talvez já consequência de uma cada vez maior ausência de princípios – sejam eles éticos ou regulamentares – que a não obrigatoriedade do Serviço Militar torna cada vez mais precários, o que se revela afrontosamente na imbecilidade fulanizada de ministros e acompanhantes publicitários com que as televisões massacram tenebrosamente os ouvintes de tão hedionda aventura jornaleira desses ministros de pocilga.
(O comentário deAdriano Miranda Lima a este segundo texto confirma e acentua o primeiro)
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 19.05.23
A Ética paisana é intelectual; a
Ética militar é regulamentar.
* * *
A Ética tem a ver com os factos e
deriva da Moral que tem a ver com os princípios; historicamente,
cada Moral tem origem na respectiva religião e esta, por sua vez, invoca a(s)
respectiva(s) Divindade(s) para distinguir o Bem e o Mal. O pragmatismo militar
reduziu toda a exegese dos Livros Sagrados a um único texto dogmático a que por
cá chamamos «Regulamento de Disciplina
Militar».
* * *
Da condição militar fazem essencial e
nomeadamente parte três elementos, a saber: a
disciplina, o aprumo e a honra. Da condição paisana não é essencial
a pertença de qualquer um destes elementos pois andam por aí muitos
indisciplinados, despenteados e snobes
(sine nobilitatis).
E a questão era a de saber que
enquadramento dar aos paisanos «despenteados que se queriam militarizar. Assim
se inventou essa classe dos mercenários, os combatentes «sine nobilitatis».
CONCLUSÃO: Nem todos merecem a honra militar.
(continua)
Maio
de 2023
Henrique
Salles da Fonseca
Henrique
Salles da Fonseca
Tags: sociologia
COMENTÁRIO:
Adriano
Miranda Lima 19.05.2023 23:12
Permita-me,
Dr. Salles da Fonseca, que eleja Fontes Pereira de Melo, militar que foi um dos
maiores estadistas de Portugal, como a síntese da extrapolação que este seu
texto sugere: a ética paisana (intelectual) será sempre incompleta, para não
dizer coxa, se não beber alguma coisa da ética militar. Mais até do que a
disciplina e o aprumo, o sentido da honra é absolutamente essencial à ética
paisana. É um valor estruturante e catalisador de tudo o que predispõe ao
serviço público, desde logo, o sentido do dever e a dedicação à causa pública,
tendo como único móbil a satisfação pessoal pelo dever cumprido.
Olha-se para a qualidade genérica dos nossos
políticos e servidores públicos, e é impossível não reconhecer em muitos casos
importantes carências relativamente àqueles princípios. Assim se explica a
prática da corrupção e do nepotismo entre detentores de cargos públicos
constantemente ventilada na comunicação social. Mas será errado pensar que é
fenómeno dos últimos anos ou décadas. Não há muito tempo, li que no regime de
Salazar era corrente e vulgar o compadrio e o nepotismo, e se calhar também o
eram casos de corrupção. Ora, Fontes
Pereira de Melo fez história como parlamentar e como estadista, antes de,
enquanto jovem oficial, ter tido também comportamento honroso no campo da honra
(guerra civil). Os seus competentes governos cairam mais de uma vez, mas tão
depressa voltavam a ser reeditados, porque havia a percepção entre os seus
pares e opositores de que ele era difícil de substituir. Nos debates parlamentares,
em que não raro o ambiente do confronto se degradava, ele não era tratado como
mais um deles. Ninguém o ousava tratar por tu.
Direi que Fontes Pereira de Melo personificava a
junção e a articulação perfeitas da "ética paisana e da ética
militar". Tanta
falta que disso temos, mormente nos tempos que correm, em que o debate político
se transformou num verdadeiro chiqueiro.
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