Como elemento de ataque, revelador
de arguta estratégia, eu admiro a valer o povo ucraniano – militar e paisano -
que defende o seu terreno devastado, com o velho patriotismo que é de todos os
tempos, embora não de todos os lugares – pese embora o dedo satírico de Salles
da Fonseca, num descritivo pleno de humor.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.05.23
Dos dicionários se extrai que paisano é aquele que se desloca
desgarradamente pelo país em contraste com o militar que se desloca
organizadamente.
* * *
É durante a guerra que mais salta à vista a condição paisana por
contraste com a condição militar sendo que estes morrem por dever e os outros
morrem sem querer. Melhor dizendo, ao militar cumpre servir a Pátria (a sua
comunidade nacional, ou seja, a sua Nação, o seu Estado) com risco da própria
vida, ao paisano não é suposto que morra e, pelo contrário, é suposto que
sobreviva à guerra. Felizmente, há muitos militares que sobrevivem à guerra e
infelizmente há paisanos que morrem pois, desgarradamente, estavam no local
errado à hora errada. O militar morre como herói; o paisano morre como vítima.
* * *
Na guerra ora em curso na Ucrânia, há dois elementos principais a tomar
em consideração: o invasor russo composto por militares e por mercenários; a
Nação Ucraniana em armas composta por todos, militares, paisanos, os homens e
mulheres, velhos e novos. O invasor está mais ou menos motivado; o invadido
está a defender a vida da própria família. A invasão foi feita com muito
equipamento bélico; o invadido começou por só ter cajados e pedras mas a partir
de certa altura passou a usar a vodka que trocava pelo combustível dos carros
de combate russos que assim se imobilizavam com os depósitos vazios e com as
tripulações embriagadas, adormecidas e à mercê dos tais cajados e pedras.
E assim começou o flagelo em curso a que a Nação Russa está a ser
submetida pela demência do tirano.
CONCLUSÃO: a motivação paisana
pode ser mais poderosa que a tecnologia militar (sobretudo quando acompanhada
pela vodka).
(continua)
Maio de 2023
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo 18.05.2023 11:56: ESPERO ANSIOSAMENTE PELA SEGUNDA
PARTE A PRIMEIRA TÁ DIVINAL 👏👏👏👏👏👏👏 Isabel Pedroso
Adriano Miranda Lima 19.05.202313:37: Numa interpretação
pejorativa, consideremos "paisanice" a expressão do desregramento
mais ou menos acentuado, com cada um a procurar valer-se mais por si do que em
sintonia com os objectivos e as prioridades de um desígnio colectivo. Direi que
esta parece ser a nossa predestinação como povo, com sinais de uma evidência preocupante
de que pouco ou nada haverá a fazer para mudar os parâmetros mentais que o
predispõem. Se a instituição militar obriga a um procedimento de passo
acertado, por imposição rígida de regras de comportamento colectivo, a
sociedade civil é precisamente o corpo estranho que a contra gosto se lhe
sujeita. Assim se explica a
desconfiança tradicional da nossa classe política pela instituição militar e o
desconforto que lhe causa pensar nos problemas da defesa nacional e as suas
exigências orçamentais. Assim se explica também a precipitação com que as
juventudes partidárias precipitaram a decisão do governo de Cavaco Silva para
extinguir o serviço militar obrigatório, sem se pensar minimamente nas suas
consequências imediatas e futuras. Seria um exercício intelectual de interesse estudar
convenientemente o perfil mental e psicológico dos políticos das gerações mais
actuais a fim de se apurar se alguma lacuna se lhes nota que possa relacionar-se
com a falta do cumprimento do serviço militar. Sim, quando olho para a postura pífia e ridícula de alguns deputados que
integram as comissões parlamentares de inquérito sobre o caso ocorrido no
ministério das infra-estruturas, pergunto-me se não se está a descredibilizar
irresponsavelmente as instituições democráticas e a república, que é ao fim e
ao cabo o objectivo de algumas forças políticas que passaram a ter assento no
parlamento. Convém olhar atentamente para deputados que não passam de jovens desprovidos
de estofo cívico e sem nada que os recomende para representar a nação a não ser
um cartão de militante num partido político. Nunca tiveram emprego, nunca deram
provas de capacidade onde quer que fosse, muitos se calhar nem sequer ainda
governam a sua casa. E se se der alguma atenção às suas habilitações
académicas, não será surpreendente descobrir-lhes carências, inclusivamente até
ao nível da capacidade de expressão escrita ou da construção de um raciocínio
coerente e articulado. Onde faltará essência qualitativa, por certo sobrará
retórica vazia e coxa ou arrogância e superficialidade de postura. A Europa está numa guerra que indirectamente nos
implica, ou pelo menos nos devia suscitar certa ordem de prioridades, e no
entanto os nossos deputados andam a perder horas infindas a procurar saber se
um ministro telefonou a que horas ou com quem falou. Nas vésperas da II Guerra Mundial, o embaixador inglês em Portugal,
Campbell, pôs o dedo na ferida, e muito acertadamente, ao classificar-nos como
povo “emotivo e simplório que acredita que rezando à Virgem de Fátima ou
confiando nas virtudes morais de Salazar ficará a salvo dos males do mundo.” De resto, os
actuais políticos da nossa praça são bem o reflexo destas palavras de Eduardo
Lourenço: “Os Portugueses não convivem entre si, espiam-se, controlam-se uns aos
outros; não dialogam, disputam-se, e a convivência é uma osmose do mesmo ao
mesmo, sem enriquecimento mútuo, que nunca um português confessará que aprendeu
alguma coisa de um outro, a menos que seja pai ou mãe…”. E a
qualidade da comunicação social espelha igualmente a mesma realidade. Concluindo, há “paisanice” a mais e alguma ordem terá
de ser imposta.
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