sexta-feira, 19 de maio de 2023

Com vodka ou sem ela


Como elemento de ataque, revelador de arguta estratégia, eu admiro a valer o povo ucraniano – militar e paisano - que defende o seu terreno devastado, com o velho patriotismo que é de todos os tempos, embora não de todos os lugares – pese embora o dedo satírico de Salles da Fonseca, num descritivo pleno de humor.

DA CONDIÇÃO PAISANA - 1

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 17.05.23

Dos dicionários se extrai que paisano é aquele que se desloca desgarradamente pelo país em contraste com o militar que se desloca organizadamente.

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É durante a guerra que mais salta à vista a condição paisana por contraste com a condição militar sendo que estes morrem por dever e os outros morrem sem querer. Melhor dizendo, ao militar cumpre servir a Pátria (a sua comunidade nacional, ou seja, a sua Nação, o seu Estado) com risco da própria vida, ao paisano não é suposto que morra e, pelo contrário, é suposto que sobreviva à guerra. Felizmente, há muitos militares que sobrevivem à guerra e infelizmente há paisanos que morrem pois, desgarradamente, estavam no local errado à hora errada. O militar morre como herói; o paisano morre como vítima.

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Na guerra ora em curso na Ucrânia, há dois elementos principais a tomar em consideração: o invasor russo composto por militares e por mercenários; a Nação Ucraniana em armas composta por todos, militares, paisanos, os homens e mulheres, velhos e novos. O invasor está mais ou menos motivado; o invadido está a defender a vida da própria família. A invasão foi feita com muito equipamento bélico; o invadido começou por só ter cajados e pedras mas a partir de certa altura passou a usar a vodka que trocava pelo combustível dos carros de combate russos que assim se imobilizavam com os depósitos vazios e com as tripulações embriagadas, adormecidas e à mercê dos tais cajados e pedras.

E assim começou o flagelo em curso a que a Nação Russa está a ser submetida pela demência do tirano.

CONCLUSÃO: a motivação paisana pode ser mais poderosa que a tecnologia militar (sobretudo quando acompanhada pela vodka).

(continua)

Maio de 2023

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS

Anónimo 18.05.2023 11:56: ESPERO ANSIOSAMENTE PELA SEGUNDA PARTE A PRIMEIRA TÁ DIVINAL 👏👏👏👏👏👏👏 Isabel Pedroso

Adriano Miranda Lima 19.05.202313:37: Numa interpretação pejorativa, consideremos "paisanice" a expressão do desregramento mais ou menos acentuado, com cada um a procurar valer-se mais por si do que em sintonia com os objectivos e as prioridades de um desígnio colectivo. Direi que esta parece ser a nossa predestinação como povo, com sinais de uma evidência preocupante de que pouco ou nada haverá a fazer para mudar os parâmetros mentais que o predispõem. Se a instituição militar obriga a um procedimento de passo acertado, por imposição rígida de regras de comportamento colectivo, a sociedade civil é precisamente o corpo estranho que a contra gosto se lhe sujeita. Assim se explica a desconfiança tradicional da nossa classe política pela instituição militar e o desconforto que lhe causa pensar nos problemas da defesa nacional e as suas exigências orçamentais. Assim se explica também a precipitação com que as juventudes partidárias precipitaram a decisão do governo de Cavaco Silva para extinguir o serviço militar obrigatório, sem se pensar minimamente nas suas consequências imediatas e futuras. Seria um exercício intelectual de interesse estudar convenientemente o perfil mental e psicológico dos políticos das gerações mais actuais a fim de se apurar se alguma lacuna se lhes nota que possa relacionar-se com a falta do cumprimento do serviço militar. Sim, quando olho para a postura pífia e ridícula de alguns deputados que integram as comissões parlamentares de inquérito sobre o caso ocorrido no ministério das infra-estruturas, pergunto-me se não se está a descredibilizar irresponsavelmente as instituições democráticas e a república, que é ao fim e ao cabo o objectivo de algumas forças políticas que passaram a ter assento no parlamento. Convém olhar atentamente para deputados que não passam de jovens desprovidos de estofo cívico e sem nada que os recomende para representar a nação a não ser um cartão de militante num partido político. Nunca tiveram emprego, nunca deram provas de capacidade onde quer que fosse, muitos se calhar nem sequer ainda governam a sua casa. E se se der alguma atenção às suas habilitações académicas, não será surpreendente descobrir-lhes carências, inclusivamente até ao nível da capacidade de expressão escrita ou da construção de um raciocínio coerente e articulado. Onde faltará essência qualitativa, por certo sobrará retórica vazia e coxa ou arrogância e superficialidade de postura. A Europa está numa guerra que indirectamente nos implica, ou pelo menos nos devia suscitar certa ordem de prioridades, e no entanto os nossos deputados andam a perder horas infindas a procurar saber se um ministro telefonou a que horas ou com quem falou. Nas vésperas da II Guerra Mundial, o embaixador inglês em Portugal, Campbell, pôs o dedo na ferida, e muito acertadamente, ao classificar-nos como povo “emotivo e simplório que acredita que rezando à Virgem de Fátima ou confiando nas virtudes morais de Salazar ficará a salvo dos males do mundo. De resto, os actuais políticos da nossa praça são bem o reflexo destas palavras de Eduardo Lourenço: “Os Portugueses não convivem entre si, espiam-se, controlam-se uns aos outros; não dialogam, disputam-se, e a convivência é uma osmose do mesmo ao mesmo, sem enriquecimento mútuo, que nunca um português confessará que aprendeu alguma coisa de um outro, a menos que seja pai ou mãe…”. E a qualidade da comunicação social espelha igualmente a mesma realidade. Concluindo, há “paisanice” a mais e alguma ordem terá de ser imposta.

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