Está visto. Os comentários acentuam o “ridículo de uma
tragédia” que definitivamente nos apouca e que Alberto
Gonçalves magistralmente expõe.
O regular falecimento das instituições
A “oposição” insiste em exigir
vigorosamente a demissão do professor Galamba. É o mesmo que confiscar um
canivete a um gangue armado com bazucas.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do
Observador OBSERVADOR, 20
mai. 2023, 00:23
“O
prestígio das instituições é fundamental”, diz o prof. Marcelo. O homem com
certeza fala da Noruega. Em Portugal, com a cumplicidade de Sua Excelência, já
não resta nada de institucional, e muito menos de prestigiado. O que há é o que se tem assistido, como na morte assistida, na novela da TAP: um Estado entregue a arruaceiros indignos do
respeito necessário para administrar uma empresa unipessoal de missangas. Podia
notar-se que a coisa se agrava de semana para semana. Não é preciso: é claro
que a coisa se agrava, dado que a permissividade da semana anterior contamina a
seguinte. E assim sucessivamente. Quando se deixa o “governo” (o conteúdo não
corresponde ao conceito) em rédea livre, o “governo” tende a exibir a sua
natureza com crescente nitidez. Se não se parar de cavar o fundo do poço, o
poço não terá fundo.
Em
benefício do rigor, não devemos engolir as declarações à CPI de Frederico
Pinheiro, ex-adjunto do prestigiadíssimo professor Galamba, sem as confrontar
com o pujante contraponto do seu antigo chefe e da chefe de gabinete deste,
ambos com prestações firmes, genuínas, coerentes e sobretudo esclarecedoras.
Não, agora a sério: o
depoimento do dr. Pinheiro não se limitou a mostrar o enorme buraco a que
descemos: sugere que, na previsível falta de consequências, em breve o buraco
será maior. Por enquanto, estamos no ponto em que o SIS serve os
desvarios privados de “governantes”, inclusive mediante recurso a telefonemas
ameaçadores a cidadãos incómodos. O
ponto em que “governantes” oferecem socos à distância a adjuntos. O ponto em que adjuntos são encurralados e atacados no
ministério por causa de informações pelos vistos impossíveis de copiar e
confinadas a um único computador.
O ponto em que, a somar às entidades oficiais e em cumprimento de ordens,
inúmeros serviçais remunerados ou voluntários saem da toca a chamar impostor e
desequilibrado ao adjunto que até há dias, e durante anos, era exemplo de
lealdade. Não tarda estaremos noutro ponto, mais grotesco, mais irreversível,
mais inimaginável. E se todos os acontecimentos, todos os métodos, todas as
mentiras e toda a impunidade tresandam a ditadura de terceiro mundo, isso não é
Impulse, e sim uma
constatação óbvia de quem não vive no Twitter a glorificar o Líder.
O Líder. O Líder responde, com maus modos, pelo
nome de António Costa e
é a figura central da transformação da nossa frágil democracia numa autocracia
sólida. O engraçado é que não
parece. A cada novo “escândalo” – ou pouca-vergonha, ou crime –, a
responsabilidade, a haver (o que é raro), verte inteirinha sobre a
insignificância que se puser a jeito. No episódio em apreço, despachados o
ex-adjunto (que não colaborou) e a dra. Eugénia (que colaborou), a insignificância disponível é o professor
Galamba, um rapaz que fazia recados ao eng. Sócrates e já então
prometia pancada a qualquer criatura com que não se cruzasse fisicamente. A existir, o professor Galamba não
passa de um boneco. Só que, aparentemente, o dr. Costa nunca possui sombra de
relação com os bonecos que pendura no seu “governo”, cujas acções são
invariavelmente alheias ao sujeito que invariavelmente lhes puxa os fios.
Para
boa parte dos “media” e a totalidade dos devotos, tamanha capacidade de fugir à
culpa pelas próprias acções eleva o dr. Costa a um estatuto superior de
político. É ao contrário: rebaixa o nosso estatuto de
cidadãos. A lendária
“habilidade” do dr. Costa, de facto um
caso de miséria,
esgota-se na veneração dos devotos e a na protecção de boa parte dos “media”. E
na misteriosa subjugação da “oposição”, que não fora o gatafunho gráfico
levaria com dezassete aspas. E no misterioso apoio da sumidade que formalmente
ocupa o cargo de presidente da República.
No momento em que escrevo, que é o
momento em que os derradeiros e pequeninos vestígios da legitimidade terminam
de desabar com estrondo, a “oposição” insiste em exigir vigorosamente a
demissão do professor Galamba. É o mesmo que confiscar um canivete a
um gangue armado com bazucas. O PSD, verdade seja dita, passou a incluir nas
exigências a demissão da senhora das “secretas”, a “bem da dignidade”. Logo, segundo o dr. Montenegro, basta enxotar um
aldrabão e a obscura chefe do SIRP para isto se tornar imediatamente digno. O
dr. Montenegro é um optimista. Ou um brincalhão. Ou um cínico munido de uma
sofisticadíssima estratégia para desgastar o dr. Costa lentamente e
substituí-lo em década, década e meia.
Sobra o prof. Marcelo, e sobrar
é o verbo adequado. Ontem, o prof. Marcelo convidou os jornalistas para
uma conversa ligeira nos jardins de Belém. Entretanto, lembrou-se de que talvez
fosse ridículo mostrar-se apenas para dizer que continua atento e cancelou a
conversa. Duas horas depois, conversou com os jornalistas para confirmar que
não haveria conversa e informá-los de que continua atento.
Atento a quê, se não for indiscrição
perguntar? Para usar uma expressão em voga, o “governo” ultrapassou as linhas
vermelhas há tanto tempo e de tal maneira que as linhas sumiram no horizonte,
muito lá para trás. Do que precisa Sua Excelência para enxotar esta gente? De
vídeos de ministros a profanar cadáveres? De uma alternativa de poder robusta?
De sondagens a castigar a inacreditável subserviência de Sua Excelência? Não
imagino qual das opções ocorrerá primeiro. Mas aposto que o regime fica para
último.
GOVERNO POLÍTICA PRESIDENTE MARCELO JOÃO GALAMBA PS ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS:
Cupid Stunt: Mais uma vez, sublime descrição
do esgoto a céu aberto em que tudo isto, há muito, se tornou....
Maria Tubucci: Excelente descrição da
putrefacção institucional, AG. A instituição governo de Portugal morreu em
2015. Agora, 2023, temos as consequências, a decomposição acelerada das
instituições. Previsível? Sim. Quando um derrotado suportado por uma colecção
de derrotados, usurpa o poder e para o manter vai buscar a quadrilha que
anteriormente tinha levado à bancarrota o país, nada de bom ao país poderia
advir dessa acção. Houve tansos que acreditaram, dando posteriormente a maioria
absoluta ao derrotado, lixaram o país. A quadrilha está óptima, já espalharam
os seus tentáculos pelo estado fora, têm o futuro garantido, sustentados pelos
impostos dos portugueses e pela protecção particular do SIS, criaram raízes e
todo o Portugal é seu. A “oposição” ou tem medo da quadrilha ou é igual. Acho
que tem medo, pois a tarefa de fazer nascer instituições sadias exigirá um
esforço ciclópico. Costuma dizer-se que, há mais mares que marinheiros, mas com
um PR ao sabor do vento é complicado alterar o rumo, ter marinheiros que
arrisquem. Vitor Batista: Mas que raio esconde aquele computador, caro AG? Esconde toda a podridão do regime, a podridão dos DDT, a podridão de um
país sem esperança e sem horizonte, a podridão de quem deveria zelar e actuar
contra este estado de delito criminal às claras, a podridão de um povo acéfalo,
cobarde e ignorante, que encolhe os ombros e nada faz, a cada episódio desta
grotesca novela. Alexandre
Barreira: Pois. Ah grande AG. Esta versão ChatGPT. Do Lobo mau e o Capuchinho
Vermelho. Está divinal. O Problema é a "avózinha". E os três porquinhos....!
observador censurado: Excelente artigo. Ainda dizem que Portugal não investe na cultura. Se
escritores e realizadores não conseguirem fazer boas obras com tanto material
disponível, mais vale mudarem de profissão.
E façam logo em
inglês para rebentar com a concorrência internacional porque isto é real, tem
qualidade e o selo de garantia da União Europeia.
Eduardo Cunha: excelente artigo, parabéns. Filipe Costa: Alberto, bateu tão forte que só me pergunto, isto começou com uma
indemnização de 500 mil euros, alguém puxou o fio e o novelo era extenso. O que
mais se passará nas outras empresas públicas? Isto bateu no fundo e comprámos
pás para afundar ainda mais. Maria Paula
Silva > Filipe Costa: e o fio ainda não foi todo
puxado. Tudo farão para encobrir muita coisa e provavelmente conseguem que
não venha tudo ao de cima... mas não nos iludamos ao pensar que isto é #tudo o
que há para saber# ... observador
censurado > Filipe Costa: Quando a novela dos comboios
estiver disponível, cujos realizadores e financiadores são os mesmos da novela
dos aviões, irei imediatamente fazer o "download" para me rir um bocado. Estes realizadores têm jeito e não lhes falta dinheiro. Por isso, deve
estar também para sair: a novela dos hospitais, a novela dos tribunais e outras
a não perder. F. Mendes: Excelente artigo. Ficará para referência futura a alguns curiosos, que
daqui a uns anitos - não muitos, temo - se darão ao trabalho de tentar perceber
o que diacho aconteceu a uma Nação com 900 anos de independência e 400 anos de
História Gloriosa. No presente, resume-se aqui uma boa parte das nossas
misérias, cuja visibilidade é cada vez maior. E, no entanto, os antecedentes da situação a que chegámos estavam à vista
de todos; para quem quisesse ver, claro. Muito embora a CS seja enviesada, isso
não explica tudo, longe disso. Mais preocupante, é a falta de ambição, rigor e
exigência de muita gente neste país, ou do que dele sobra. E quanto ao Marcelo,
respondo à pergunta formulada pelo Alberto Gonçalves, no final do seu artigo:
Marcelo, actuará quando a podridão do regime trouxer a sua preciosa
popularidade ainda mais para baixo. Mesmo a questão de uma eventual falta de
alternativa, passará, tal como o resto, para segundo plano. Porque temos na
"pr" um homúnculo com a maturidade de um pré- adolescente, a profundidade
de um La Palisse, a utilidade de um furúnculo no traseiro, e a genuinidade de
uma Lili Caneças. Sem ofensa, nas comparações que aqui deixo, com destaque para
o furúnculo no dito cujo.
Rir, amargamente,
é o que nos resta. Até ver.
Maria Paula Silva > F. Mendes: ahahahah muito bem! os
furúnculos doem que se farta!!!! Lol Quanto àquilo que nos falta, acrescentaria
- se me permite, que para além da ambição, rigor e exigência, falta-nos qualidade. Brio. O esforço de
sermos a melhor versão de nós próprios. Porque se esta é a melhor
versão do povo português, estamos mal. Muito bom e muito obrigada, AG! Vamolávê o que mais virá
por aí.... mas isto parece ter entrado numa montanha russa sem fim. O que
importa é que se apure a verdade, doa a quem
doer! Estaremos atentos! :)) F. Mendes > Maria Paula Silva: Sobre o doa a quem doer, leia o
meu comentário. Ai!
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