segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Mais palavras, para quê?


Recebi da minha filha Paula este email, com um rigoroso discurso crítico do Professor Luís Freitas. Neste momento está o Ricardo Araújo Pereira a fazer a sua sátira sobre igual tema, entre outros, no seu programa dominical “Isto é gozar com quem trabalha”.

E neste rolar de diferentes discursos, de seriedade ou de paródia, conquanto de idêntica nula eficácia, vamos rolando e rodando imparavelmente, a caminho de um qualquer buraco negro definitivo…

 

Prof.ª Paula Maria Henriques Lacerda <paula.lacerda@ibn-mucana.pt>

11:54 (há 4 horas)

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Para mim, lacerdapaulaster

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Percam 5 minutos da vossa vida para lerem, sff... 

Vale mesmo a pena❤🇵🇹

Excelente reflexão de Luís Freitas. 

 

"... Não vou carpir aqui as desgraças dos professores, nem vou arrancar as vestes por causa da “casa às costas”, dos vencimentos, dos congelamentos. Não é isto que, está em causa nestas greves. Ou, melhor, não é isto que, na minha modesta opinião, está em causa.

O que está em causa é que os professores são uma classe profissional intelectual. Devem sê-lo, querem sê-lo e só fazem sentido se o forem. Uma classe docente que não seja intelectual, que não fundamente a sua atividade em conhecimento profundo, reflexão, evolução constante, melhoria do conhecimento e da transmissão desse conhecimento e em verdadeira exigência, perde sentido. É inútil. E aos professores, atualmente, não é pedido nem exigido que sejam intelectuais.

É-lhes pedido que sejam cuidadores de centros de dia para a infância e adolescência, que informem os pais das faltas dos filhos e aceitem, sem questionar que todas sejam justificadas, que saibam detetar a dislexia, os abusos, a violência e o bullying, que acolham palestras, sessões disto e daquilo nas suas aulas, mas que cumpram os “programas” (expressão que detesto), que façam ação social, que “deem aulas(outra expressão que detesto, porque o que é dado perde sempre valor) mas não exijam que se aprenda, que avaliem mas não “violentem” com a informação do insucesso, que corrijam mas não obriguem ao esforço da repetição, que dediquem uma atenção individualizada a cada aluno em salas cheias com 28, que a todos ouçam e que tudo ouçam, que tudo aceitem, até insultos e violência (se assim acontecer) sem que haja consequências, que acolham todos os alunos por igual, os que querem aprender, os que não querem aprender, os que não querem que ninguém aprenda, que tudo integrem numa escola “inclusiva” numa amálgama cultural, social e educativa mas acima de tudo, que simulem, que finjam.

Simulem que ensinam, simulem que avaliam, simulem que acompanhem. Isto, desde que os alunos, estejam “dentro” da escola. E estar dentro não é estar “na” escola. É apenas estar lá dentro, fora da rua, vigiado por professores e funcionários, com uma hora de saída que é a hora de voltar ao lar. É por isso que ninguém se preocupa com as aulas que não se dão quando os professores não são colocados, porque não os há para colocar e os alunos não têm aulas. Não têm aula, mas estão “dentro” da escola. Não vi, nestes anos, os pais protestar por causa disso. E é contra isso que eu estou.

Portugal sempre teve uma má relação com os intelectuais e com a intelectualidade. Sempre os olhou com suspeita e, portanto, não pode ter uma boa relação com os professores. Não consegue. É este o problema que leva esta classe profissional para a rua.

As “casas às costas”, os “vencimento”, a “progessão” são fatores importantes na vida destas pessoas? São. São as “bandeiras sindicais”? Sem dúvida! E essas bandeiras trazem o perigo da manipulação política? Claro que sim! Porque qualquer luta de classe é naturalmente transformada numa causa política, com as inevitáveis diferenças de discurso consoante as cores partidárias. Mas estas questões são a versão simplificada da explicação do problema muito mais profundo que já referi. (...)

Para concluir, gostaria de perguntar o seguinte. Quantas vezes se ouve e se lê, em redes sociais, nos órgãos de comunicação social, que somos um povo passivo, que não se revolta, que não há elites em Portugal que questionem o poder e os seus desmandos? Pois, esta é uma revolta, e é uma revolta de uma elite intelectual que quer um país melhor, onde, na escola, se valorize o esforço, onde se veja a escola como uma prioridade DE FACTO, onde se construa um ser humano “capaz de liderar e ser liderado”, onde as pessoas saiam do seu estado natural de ignorância e, em vez de se promoverem cretinos se promova a VIRTUDE em todas a aceções possíveis aplicáveis ao ser humano.

Se tudo o que até agora escrevi não for significativo, concedam-me, ao menos, a graça de reconhecerem que seria muito bom que ao longo de toda a vida dos vossos filhos TODAS as pessoas que deles se aproximassem e com eles convivessem, tivessem as mesmas intenções que os seus professores tiveram para com eles.

Que belo lugar este mundo seria se assim fosse!"

 

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