Recebi da minha filha Paula este email, com um rigoroso discurso
crítico do Professor Luís Freitas.
Neste momento está o Ricardo Araújo Pereira a fazer a sua sátira sobre igual
tema, entre outros, no seu programa dominical “Isto é gozar com quem trabalha”.
E neste rolar de diferentes discursos, de seriedade ou de paródia, conquanto
de idêntica nula eficácia, vamos rolando e rodando imparavelmente, a caminho de
um qualquer buraco negro definitivo…
|
11:54 (há 4 horas) |
|
||
|
Percam 5 minutos da vossa vida para lerem,
sff...
Vale mesmo a pena
Excelente reflexão de Luís Freitas.
"... Não vou carpir aqui as
desgraças dos professores, nem vou arrancar as vestes por causa da “casa às
costas”, dos vencimentos, dos congelamentos. Não é isto que, está em causa
nestas greves. Ou, melhor, não é isto que, na minha modesta opinião, está em
causa.
O que está em causa é que os professores são uma classe profissional
intelectual. Devem sê-lo, querem sê-lo e só fazem sentido se o forem. Uma
classe docente que não seja intelectual, que não fundamente a sua atividade em
conhecimento profundo, reflexão, evolução constante, melhoria do conhecimento e
da transmissão desse conhecimento e em verdadeira exigência, perde sentido. É
inútil. E aos professores,
atualmente, não é pedido nem exigido que sejam intelectuais.
É-lhes
pedido que sejam cuidadores de centros de dia para a infância e adolescência,
que informem os pais das faltas dos filhos e aceitem, sem questionar que todas
sejam justificadas, que saibam detetar a dislexia, os abusos, a violência e o
bullying, que acolham palestras, sessões disto e daquilo nas suas aulas, mas
que cumpram os “programas” (expressão que detesto), que façam ação social, que “deem aulas” (outra expressão que detesto, porque o
que é dado perde sempre valor) mas não exijam que se aprenda, que
avaliem mas não “violentem” com a informação do insucesso, que corrijam mas não
obriguem ao esforço da repetição, que dediquem uma atenção individualizada a
cada aluno em salas cheias com 28, que a todos ouçam e que tudo ouçam, que tudo
aceitem, até insultos e violência (se assim acontecer) sem que haja
consequências, que acolham todos os alunos por igual, os que querem aprender,
os que não querem aprender, os que não querem que ninguém aprenda, que tudo
integrem numa escola “inclusiva” numa amálgama cultural, social e educativa mas
acima de tudo, que simulem, que finjam.
Simulem
que ensinam, simulem que avaliam, simulem que acompanhem. Isto, desde que os
alunos, estejam “dentro” da escola. E estar dentro não é estar “na”
escola. É apenas estar lá dentro, fora da rua, vigiado por professores e
funcionários, com uma hora de saída que é a hora de voltar ao lar. É por isso
que ninguém se preocupa com as aulas que não se dão quando os professores não
são colocados, porque não os há para colocar e os alunos não têm aulas. Não têm aula, mas estão “dentro” da
escola. Não vi, nestes anos, os pais protestar por causa disso. E é contra isso
que eu estou.
Portugal
sempre teve uma má relação com os intelectuais e com a intelectualidade. Sempre
os olhou com suspeita e, portanto, não pode ter uma boa relação com os
professores. Não consegue. É este o problema que leva esta classe profissional
para a rua.
As
“casas às costas”, os “vencimento”, a “progessão” são fatores importantes na
vida destas pessoas? São. São as “bandeiras sindicais”? Sem dúvida! E essas
bandeiras trazem o perigo da manipulação política? Claro que sim! Porque
qualquer luta de classe é naturalmente transformada numa causa política, com as
inevitáveis diferenças de discurso consoante as cores partidárias. Mas estas
questões são a versão simplificada da explicação do problema muito mais
profundo que já referi. (...)
Para concluir, gostaria de perguntar o
seguinte. Quantas vezes se ouve e se lê, em redes sociais, nos órgãos
de comunicação social, que somos um povo passivo, que não se revolta, que não
há elites em Portugal que questionem o poder e os seus desmandos? Pois, esta é uma revolta, e é uma revolta
de uma elite intelectual que quer um país melhor, onde, na escola, se valorize
o esforço, onde se veja a escola como uma prioridade DE FACTO, onde se construa
um ser humano “capaz de liderar e ser liderado”, onde as pessoas saiam do seu
estado natural de ignorância e, em vez de se promoverem cretinos se promova a
VIRTUDE em todas a aceções possíveis aplicáveis ao ser humano.
Se tudo o que até agora escrevi não for
significativo, concedam-me, ao menos, a graça de reconhecerem que seria muito
bom que ao longo de toda a vida dos vossos filhos TODAS as pessoas que deles se
aproximassem e com eles convivessem, tivessem as mesmas intenções que os seus
professores tiveram para com eles.
Que belo lugar este mundo seria se assim
fosse!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário