Simpático e simples, a respeito do casamento
de ascendência real, embora não de linha directa, a amenizar estes tempos reais
de falta de linha. Mas projectou-nos para uma obra que a Biblioteca da Universidade de Coimbra publicou, lemos
na Internet, do antepassado de D. Duarte
de Bragança, o Príncipe D. Pedro, e que a Universidade deveria vulgarizar, em
publicação de editora externa. Seria uma outra benfeitoria igualmente virtuosa.
Porque necessária.
Infantas de Portugal
As virtuosas benfeitorias que as
vidas de Filipa e Maria Adelaide de Bragança representaram. O grande desafio de
Maria Francisca, infanta de Portugal. Os portugueses precisam disso.
TERESA
CÔRTE-REAL Dirigente
associativa
OBSERVADOR, 04 out. 2023, 00:1211
Todos os verões o ritual se repetia
naqueles finais dos anos setenta, princípios dos anos oitenta. Da Praia da Luz
se chegava a Ferragudo e a casa da que conhecíamos com a Senhora Infanta. Era ela Dona
Filipa de Bragança, neta de D. Miguel I. Naqueles fins de tarde, entre
tartes de framboesa e limonada, com a luz do Algarve a entrar pelas janelas se
falava do país, de história, das preocupações com o papel da família real. Só muito mais tarde percebi a importância
dos muitos anos de trabalho político e diplomático iniciado nos finais da
década de trinta que aquela Senhora, tão firme e tão austera mas que tinha
sempre um cuidado especial para os mais novos, tinha tido no cumprimento do seu
dever perante a História. Mas, por essa altura, era como uma viagem no
tempo. A Mayerling e à conspiração para assassinar Rudolfo, o herdeiro do
império austro-húngaro, desmentindo a tese do suicídio ou ao célebre retrato do homem de chapéu negro
que tinha logo à entrada então conhecido como sendo do Infante D. Henrique e que ela nos explicava ser o de D. Pedro, o Infante das Sete Partidas. E
reforçando sempre no que nos passava o sentido de serviço, razão de ser de cada
episódio que nos contava.
É hoje amplamente conhecido o seu papel nas negociações com Oliveira
Salazar para o estabelecimento em Portugal do seu irmão, Dom Duarte Nuno, Duque
de Bragança, após a morte da Rainha Dona Amélia em Versalhes. Uma vez revogada, pela lei nº 2:040 de Maio de 1950, e ainda em vida desta, a lei do Banimento e
Proscrição, que
impedia na prática o regresso dos descendentes de D. Miguel e únicos
representantes dos direitos dinásticos, havia que assegurar as condições para
que tal acontecesse, garantindo dignidade e relevância para o que podia ser o
futuro do país. Mas, como sabemos, era outro o jogo de Salazar:
ainda em 1949, quando em Espanha Franco
já tinha feito regressar Juan Carlos de Bourbon, preparando a sua sucessão e a
solução monárquica, o presidente do Conselho joga com os monárquicos
iludindo-os com jogos de bastidores e apresentando a bondade do regime na
abertura à família real como prova da sua boa vontade numa possível (mas nunca
de facto pensada) alteração de regime. E Dona Filipa, que conhece bem Salazar, nunca desiste. Se a Monarquia não volta por esta via,
que consiga demonstrar aos portugueses a sua mais-valia, que o seu tempo não
era de meses ou anos mas de gerações. Visita em França a Rainha já doente mas ainda bastante lúcida, volta
com o irmão uma e outra vez, faz a ponte entre o Estado Português e a Família
Bragança. É aliás ela quem a representa na abertura da
exposição do Mundo Português em 1940. Até ao fim, como naquelas tardes,
mais do que restabelecer a monarquia, tem como missão de vida garantir que os
séculos de História que representa, esse enorme capital simbólico, se mantém
vivo e válido para Portugal. Se Condestável defensor do Reino ainda houvesse
teria sido com toda a certeza ela. E foi-o de certa maneira.
Mas
não era a única Infanta a desempenhar o seu papel. Bem diferente na
personalidade e na acção mas não no espírito, no sentido e na capacidade de
decisão, a sua irmã Maria
Adelaide. Resistente
nazi, presa pela Gestapo, é salva da morte primeiro por Salazar, alegando a sua
condição de cidadã portuguesa, e numa segunda deportação pelo exército
soviético para a Sibéria por entre os papéis dos seus interrogatórios ter sido
encontrada uma prova da sua ajuda a um resistente comunista. Assistente
social e enfermeira, chega a Portugal em 1949. Na margem sul do Tejo para
onde vai viver crescem a pobreza e a miséria. Será essa a sua luta até aos seus
cem anos de vida. Critica
abertamente o governo no sector da assistência social, está no terreno, resolve
problemas, encontra soluções. Cria o que será depois a Fundação Assistência
D. Nuno Alvares Pereira,
fundamental no apoio aos mais carenciados daquela zona. Muitas vezes sem meios, não desistindo
nunca. Exemplo de vida para muitos, talvez aquela que melhor personificou nos
nossos dias, e até agora, o que deve ser alguém que nasce Infanta de Portugal. O pensar o
outro, indiferente às conveniências políticas, focada no bem comum e no bem
estar daqueles a quem servia. Real na ascendência e na vivência, o Estado Português reconheceria a
sua obra concedendo-lhe o grau de Grande oficial da Ordem de Mérito Civil.
Honra que a ela provavelmente pouco lhe terá dito, que o que contava eram as
vidas que tinha mudado.
Filipa e Adelaide de Bragança,
duas irmãs, duas Infantas, duas portuguesas. Presentes e activas na defesa do país e da sua população, como só
pode ser quem esse papel herdou.
Voltemos
ao retrato do príncipe português
da casa de Ferragudo, hoje
pertencente a Dom Duarte Pio, sobrinho de ambas. O percursor, durante
a regência de D. Afonso V das primeiras viagens atlânticas, o reorganizador das Ordenações Afonsinas, tradutor de Cícero, autor do Tratado da Virtuosa Benfeitoria, a grande influência do seu neto, o enorme rei D. João II. O primeiro Duque de Coimbra. Porque por estes dias se celebra o casamento de uma
outra Infanta e de uma nova Duquesa de Coimbra, Maria
Francisca, única filha dos Duques de Bragança. Que com a sua maneira de ser (tão portuguesa na generosidade e na
abertura ao outro também) saiba demonstrar no século XXI e na nova vida
que vai iniciar do que é feito uma Infanta
Portuguesa: o serviço ao país, a ligação ao mundo português iniciado pelo
primeiro detentor da honra desse ducado, uma missão de vida e uma enorme
responsabilidade perante a História. Aquilo que verdadeiramente dá sentido
a tudo isto. As virtuosas
benfeitorias que, independentemente
do regime, as vidas de Filipa e Maria Adelaide de Bragança representaram. O
grande desafio de Maria Francisca,
infanta de Portugal. Portugal e
os portugueses precisam disso.
MONARQUIA SOCIEDADE HISTÓRIA CULTURA
COMENTÁRIOS:
O Tintin: Sim. Um rei faria muito melhor figura do que o vaidoso narcisista psicopata
do Marcelo. A começar pelo facto De a monarquia ter continuidade e por isso
haver interesse em deixar um bom legado à descendência.
José Paulo C Castro > O Tintin: Esse pormenor faz toda a
diferença: os descendentes ficam cá para sofrer as consequências do que um rei
fizer. O que o obriga a pensar muito longe: é um contrato multigeracional. Em que país estão agora a morar
os descendentes de Sampaio e Marcelo ? E os dos outros ?
Rosa Silvestre: Tenho as minhas dúvidas em relação à monarquia, mas não
duvido de que D. Duarte faria melhor trabalho que Marcelo Rebelo de Sousa.
NOTAS DA INTERNET:
Livro da
Vertuosa Benfeytoria - Infante…
Vários
Editora: Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra
Categorias: Livros > Literatura Ano: 1994
ISBN: 9789726161370
Número de
páginas: 362
Capa: Brochada
Sinopse
«O Livro da virtuosa benfeitoria» é uma obra fundamental no plano da
cultura, da literatura e da língua portuguesas do século xv: não se trata, como é já sabido, de uma simples
tradução do De
beneficiis de Lúcio Aneu Séneca, mas de um trabalho de vasta erudição, desenvolvido
com base num amplo conhecimento (directo e/ou indirecto) dos
textos bíblicos e de autores clássicos e medievais enquadrado por uma
importante capacidade de reflexão autónoma. É
também uma obra literária pela sua concepção e pela sua expressão formal, e
distingue-se como um marco linguístico pela sua posição liminar numa fase
crucial do enriquecimento vocabular da língua portuguesa. Produto de uma corte em que toda a vida social foi
orientada por princípios morais, religiosos e disciplinares muito rígidos,
o Livro da virtuosa benfeitoria pode ser definido no seu
conteúdo de várias maneiras, conforme o que cada um vê nele de maior
interesse.»
Autor(Es)
FREI JOÃO VERBA
INFANTE D. PEDRO
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