Uma
mais-valia no nosso prestígio lá fora, juntamente com os azeites e a cortiça, o
destes mais diluído, não admira que nos seja atribuída uma nesguita
organizadora do próximo mundial futebolístico, Alberto Gonçalves nunca fica contente com as considerações, quanto mais
se lhe oferece, mesmo com a amizade do respeito, mais ele reclama, com a
iracúndia da insatisfação, “oh! Senhores!”,
este, sendo o grito de protesto da “Catarina”
dos Batanetes, perante as perguntas ilógicas da sua professora, faço-o meu,
também, na minha revolta contra o exagero dessa insatisfação, bolas!
Quem não tem vergonha, todo o
“mundial” é seu
Uma
fracção do “mundial”, ainda que pequenita, é ocasião rara para tentarmos
espantar o mundo. Espero que seja desta que o mundo se espanta connosco. Nós,
por cá, já não nos espantamos com nada.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador
OBSERVADOR,
07
out. 2023, 00:2347
Esperávamos, desejávamos,
conseguimos: vitória! Desculpem se esta crónica parecer excessivamente
contaminada pelo entusiasmo. É porque o é. Estou feliz e a comemorar há 48
horas ininterruptas, e quem tem de perguntar a razão não é patriota, nem bom
chefe de família, ou sequer um ser humano completo. É óbvio
que comemoro a escolha de Portugal para organizador do campeonato do
mundo da bola em 2030. De Portugal,
do que entretanto sobrar de Espanha, de Marrocos, do Uruguai, do Paraguai, da
Argentina e talvez do Chile. Com jeito, haverá mais países
organizadores do que equipas participantes. E assim é que é bonito. Foi pena a Ucrânia ter ficado pelo
caminho, e não se ter agregado a Venezuela, a Ilha da Páscoa, o Sudão, a Síria
e o Alto Carabaque. Mas ainda vamos a tempo. Para já, a
companhia é de gabarito.
É claro que, como de costume, a FIFA mostrou-se inflexível nos
critérios de admissão. Há muito que a
entidade que tutela o futebol internacional não abre a organização do “mundial”
a qualquer um, apertando o filtro de modo a que apenas passem nações prósperas,
livres e democráticas. Sucedeu com a África do Sul em 2010, o
Brasil em 2014, a Rússia em 2018 e o Qatar em 2022. Ao negociar com governos sérios, a FIFA garante a seriedade de todo
o processo. Fora o ocasional e irrisório suborno, a remoção de indigentes da
via pública para evitar mau aspecto e o falecimento de uns quantos trolhas
imprudentes, aqui não se brinca.
Na parte que nos interessa, a coisa
promete. Pelo menos o dr. Costa já prometeu que o “mundial” será “um
enorme sucesso” e “uma nova demonstração da capacidade” que temos para receber
maravilhas do género. Ora isso é
que importa. Custos? Os
custos não importam. E por não
importarem é que ninguém os conhece. O
rigor orçamental não pode sobrepor-se ao prestígio da pátria e à alegria do
povo. Eu próprio aplico esse princípio no quotidiano: primeiro mando vir o lavagante, depois
constato o preço, por fim tento explicar ao empregado de mesa que a conta deve
ser partilhada pelos contribuintes em prol da equidade. Às vezes o empregado é
casmurro e pouco versado em finanças modernas. De qualquer modo, o prejuízo
destes eventos históricos raramente ultrapassa as centenas de milhões,
contrapartida ridícula face aos ganhos simbólicos e meros trocos para as
possibilidades de uma economia pujante (e não falo só da paraguaia).
Agora, o fundamental é parar de
celebrar e lançar mãos à obra, leia-se às
verbas disponíveis. É urgente nomear cinco ou seis comissões,
observatórios e gabinetes para planeamento e supervisão do que há a fazer, além
de nomear cinco ou seis comissões, observatórios e gabinetes. Antes disso,
porém, convém começar pelas conclusões, e concluir que, como sempre, um grande
acontecimento é um pretexto para construir o futuro. O futuro e o que calha. O “Europeu” de 2004, por exemplo, abençoou-nos com uma resma de
estádios novinhos em folha, alguns dos quais até continuaram a ser utilizados
após a competição. Hoje, os ditos estádios estão naturalmente velhos e
ultrapassados. O ideal seria erguer de raiz uma dúzia de recintos, três para os
únicos jogos que se vão jogar cá (incluindo, com sorte, um desafio dos
quartos-de-final!) e nove de reserva. Caso não se consiga, no mínimo há que actualizar os estádios existentes,
apetrechando-os com ar condicionado, tectos removíveis, ecrãs individuais com
WiFi, poltronas em pele e balizas em mogno.
Bem entendido, as infra-estruturas
necessárias a três (ou quatro) partidas não se esgotam nos campos de jogo. Sermos
anfitriões de 4% (ou 5%) de um torneio desta dimensão é uma oportunidade para
remodelar o país em peso. Para início de conversa, há que despachar o segundo, e quiçá um terceiro, aeroporto de
Lisboa. Se formos responsáveis, amanhã abre-se concurso para a ampliação do
aeroporto do Porto. Ferrovia? É rasgar depressa o território com linhas de
alta-velocidade, de norte a sul, de leste a oeste e ao contrário. Rodovias?
Sugiro “circulares” inéditas na AML e na AMP, um punhado de auto-estradas para
ali e para acolá e “troços” avulsos. Pontes, carecemos de pontes em diversos
lugares. Viadutos, os suficientes. Rotundas, imensas, com arte de Joana Vasconcelos
e Bordalo II em cima ou em baixo. Ciclovias,
a dar com um pau. Precisamos de reforçar linhas de autocarros, metros e
cacilheiros, em greve total ou parcial. Precisamos de inaugurar hotéis com
abundância, de preferência nos edifícios interditos ao alojamento local e que o
governo ia converter em residências em 2018. Precisamos de fingir
conciliar os desígnios acima com a neutralidade carbónica, que é um pechisbeque
bonito nos discursos. Precisamos de apresentar tudo numa cerimónia digna e
grandiosa, com variedades e foguetório. Precisamos
de ambição, dinâmica e visão. Precisamos de dinheiro, que virá do PRR
permanente e, com maior probabilidade, dos nossos prestáveis bolsos.
A “Expo”. O “Euro”. O Rock in
Rio. A Eurovisão. A Ovibeja. A final da Champions para médicos e enfermeiros.
As Jornadas da Juventude. Uma fracção do “mundial”, ainda que pequenita, é
outra ocasião rara para tentarmos espantar o mundo. Espero que seja desta que o
mundo se espanta connosco. Nós, por cá, já não nos espantamos com nada.
FUTEBOL DESPORTO FIFA EVENTOS SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 47)
Jose Ferreira > F. Mendes:
Mais uma para espantar El Mundo latino afro- americano.
O próximo conclave do PS, a entronizar novo tipo de liderança: Rex Costa II, na linha do Afonso da 1ª República. Com o
seu futuro escudeiro, o comprovado inocentíssimo Sócrates. Regime de vento em popa, OK? Alexandre Barreira: Pois. Ah
grande AG, Desta
vez reconheço que tens veia prá "baliza". E em 2030 continuarás "careca". Mas os "desígnios" da pátria são
"insondáveis". Tem
calma porque ainda podes ser "convocado" Para "apanha-bolas".....! Alexandre
Barreira > Maria Paula Silva: Pois. Calma Maria. Ainda faltam 7 anos. Não é
preciso.....correr....! Alexandre
Barreira > Manuel Martins: Pois. A Fátima duvido. Mas a Meca acredito. E a cantar
o "fungagá-da-bicharada"........!!! Maria Paula
Silva: A D O R E I !!! maravilhoso, tocou nos
pontos todos importantes. "Somos os maiores", ... em mediocridade. Triste
sina. Quero ir-me embora. F. Mendes: Brilhante artigo, a imprimir e distribuir por amigos e
conhecidos que não tenham ainda aberto os olhos. E os ouvidos. Apenas um
comentário: apesar de tudo, continuo a espantar-me com o que se passa no que
sobra deste pobre país. Nunca pensei que o nosso "pr" viesse gozar
com todos, a propósito do bacalhau (com todos) e do corridinho. Isto, para não
falar da questão do "chalupa", para mim inconcebível, mesmo esperando
quase tudo do personagem. Quem devia ser corridinho era ele e a cáfila que o
suporta e demais parasitas que infestam Belém e São Bento. Antes que, também
nós, fiquemos chalupas. observador
censurado: Existe algum relatório do Tribunal de
Contas sobre os benefícios da organização do Euro 2004 para a qualidade de vida
dos contribuintes? Num país sem médicos e com, pelos menos, 20 por cento das crianças com
fome, quantos milhões de Euros são gastos anualmente em manutenção, por
exemplo, do estádio do Algarve e do estádio de Aveiro para não criarem
"bolor"? Ainda faz sentido o Banco Alimentar contra a Fome havendo
tanto dinheiro para esbanjar? José
Paulo C Castro: A final da Champions para médicos e enfermeiros. Brilhante.
Essa foi realmente épica ! Os seres do futuro nem vão acreditar. Contado,
ninguém acredita. E temos de ser nós, que o vimos, a contar... É assim que
nascem as lendas para crentes.
Maria Paula Silva > F. Mendes: e quem corre com eles? povinho
inculto e anestesiado.... falta-nos consciência cívica, somos mansos. Manuel Martins: A não ser que o Ronaldo faça
uma peregrinação a Fátima e comece a cantar o fado, o futebol é mesmo o melhor
amigo dos governantes. Nada como uma vitória de Portugal para fazer esquecer o
povo que não tem consulta há anos, que o ensino não presta, que não há justiça,
que é um chato, fascista e racista porque se queixa dos serviços públicos.... Cupid Stunt: Na mouche. Uma caricatura da
ainda mais tristemente cómica da realidade... Miguel Sanches: O circo continua. E
votam nisto... Paulo Saavedra: Retrato exacto da nossa sociedade e da nossa
"politiquice". Brilhante! Eduardo L: Brilhante João Floriano:
Tudo isto é simultaneamente ridículo e
trágico. Alegria esfuziante só porque seremos as franjas de Espanha, se bem que
AG tenha razão quando diz que não sabemos o que restará de Espanha em 2030. Se
tanto cá como por lá as esquerdas continuarem a mandar, temos dúvidas sobre que
países e gentes irão encher os estádios do Mundial 2030. Calculo que uma onda
colorida de ojás e turbantes pakistaneses e do Bangladesh seja um belo
espectáculo. Incomoda-me este fervor patriótico que percorre o país, um dos
mais pobres da UE, por causa de um evento em que a Espanha ficará com a parte
de leão e nós com os restos. Mas há algo que me incomoda ainda muito mais: já
repararam como Costa e Marcelo se referem ao evento e como nem sequer colocam a
hipótese de daqui a 7 anos não ocuparem o governo? Não se constroem casas,
hospitais, equipamentos mas as verbas vão ser disponibilizadas para que empresários
amigos e as autarquias do costume encham os bolsos e engordem á custa de
negociatas pouco claras. Comecem já por reservar uma fatia do orçamento de 2024
para as obras faraónicas que vêm por aí. António Santos:
Ó AG, muito bom! Maria Tubucci: Calma, Sr. AG, não entre já em depressão! É preciso ter
muita, mas mesmo muita perseverança. O tempo corre contra os instalados, os
politicamente correctos, ainda não reparou? A onda está a formar-se, as pessoas
muitas vezes precisam de levar com o pau nas costas para abrirem as pestanas,
se andar no meio do povo verá que o cor-de-rosa, está a virar vermelho, a turba
quer sangue. O 1º embate vai ser nas eleições Europeias, o bom senso, a que
esquerda “canceladora” globalista colocou o rótulo de “extrema-direita” vai
varrer os principais países da Europa, depois passa para o USA. Não há mal que
sempre dure nem bem que se não acabe. O tempo do rendimento básico universal
dado ao governo Costa pela Europa, PRR permanente, está a terminar, tem até
2026. A partir daí kaput, outros valores mais altos se alevantam... afonso moreira: Excelente. É para mim um mistério que as esquerdas, que
tanto vociferam contra os capitalistas, nunca mostrem um pingo de indignação,
por meia dúzia de indivíduos "ligados" ao futebol, acumularem e
exibirem fortunas que deixariam qualquer latifundiário envergonhado. Talvez
porque o único feito duradouro e eficaz é o estado de transe em que muitos
entram e permaneçam quando esses artistas lhes põem uma bola a saltitar à
frente dos olhos, deixando os políticos conduzi-los para onde mais lhes interessa
e sem grande esforço. Políticos e futebolistas são o melhor exemplo de
cumplicidade e solidariedade: uns hipnotizam os outros realizam os truques. No
fim eles sabem que o povo paga e nem quer saber o que paga. Coxinho: Por que será que a imprensa portuguesa não se atreve a
chamar ao homem aquilo em que ele se tornou (criminoso)? Refiro-me ao Costa,
evidentemente.
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