Nestes
assuntos económicos, gostei de ler, proponho-me reler, para melhor entender e
reponho as frases que mais me impressionaram, por via do tal “braço económico”
da “Hidra Woke”, tão negativamente descrita: «Na vertente económica podemos mesmo
dizer que o ESG é uma espécie de braço
económico da Hidra Woke, a qual se caracteriza assim: uma lógica profundamente totalitária ao
procurar impor desígnios colectivos às escolhas individuais; certezas
arrogantes, pseudo-científicas ou morais, sobre aquilo que é a suposta virtude
do desígnio, seja ele, por exemplo, a descarbonização ou desigualdade entre
sexos; por último, a vitimização e a infantilização».
Ao menos, que a tal Hidra ficasse
poderosamente maneta, e sem ser só economicamente falando, pois até assusta um
tal braço de apoio num terreno pátrio tão despido disso, de repente vendo-se
manipulado por um tal bichinho hediondo, que, para mais, pode viver
eternamente, segundo análise feita na Internet, que me apresso a transpor,
soltando, simultaneamente, um “Lagarto! Lagarto!” de sentido repúdio
nacionalista:
DA INTERNET, sem,
todavia, o expressivo desenho:
«Hidra, um pequeno animal com
capacidade de viver para sempre, segundo cientistas. — Foto: Getty Images. O sonho de ser
eternamente jovem fascina a mente humana há tempos, mas no mundo animal a
habilidade de não envelhecer é uma realidade. Ao menos para a hidra, um ser
milimétrico que vive em água doce e, segundo cientistas, pode viver
indefinidamente.Com corpos em forma de pólipos, as hidras são cnidárias,
animais da família das medusas e águas vivas. Para encontrá-las, basta examinar
com afinco (e uma boa lente de aumento), o fundo de rochas e folhas submersas
na água. O tamanho médio delas é de 25 milímetros.»
Olhem agora uma tal Hidra Woke perene, e assim miudinha, a desvalorizar-nos ainda mais,
ó sorte! E não direi macaca, para não sobrecarregar de bichos – metafóricos que
sejam - este nosso espaço nacional. Fiquemo-nos pela hidra, que até virou também,
outrora, poderoso monstro mítico, destruído, contudo, pelo valentão do Hércules,
o que não acontecerá, hélas! à nossa Woke de agora, virada hidra, de protecção não direi
divina, mas caseiramente costista. Provavelmente também marcelista, para as
selfies da estremosa família que formamos.
Cultura Woke
As boas empresas contribuem para a sociedade tendo em linha de conta
todos os grupos de interesse em jogo, embora em nome de um objectivo último: o
lucro.
ALEXANDRE MOTA Convidado da Oficina da
Liberdade
OBSERVADOR, 20
out. 2023, 00:143
Há cerca de um ano, nesta coluna, foram
publicados dois artigos (aqui e aqui) que
abordaram a temática ESG (environmental, social, governance).
Desde então, na economia, na
política, na academia, na imprensa e em várias situações da vida social multiplicaram-se
exemplos dos avanços da Cultura Woke. Na vertente económica podemos
mesmo dizer que o ESG é uma
espécie de braço económico da Hidra Woke, a qual
se caracteriza assim: uma
lógica profundamente totalitária ao procurar impor desígnios colectivos às
escolhas individuais; certezas arrogantes, pseudo-científicas ou morais, sobre
aquilo que é a suposta virtude do desígnio, seja ele, por exemplo, a
descarbonização ou desigualdade entre sexos; por último, a vitimização e a
infantilização.
Quem
investe num negócio, directamente ou através dos mercados financeiros, deve ter
em linha de conta o prémio de risco. O prémio de risco é o
acréscimo de retorno que o investidor exige face a uma alternativa com risco
nulo (ou uma aproximação de risco nulo). Por exemplo, um investidor poderá investir em títulos do tesouro
alemão se considerar que é a melhor alternativa disponível de baixo risco, isto
é, com rendimento praticamente certo; ou então poderá investir em acções para
obter melhor retorno, embora mais arriscado.
O valor de um negócio pode ser apurado estimando os seus fluxos de
caixa futuros descontados para o presente ao chamado custo de capital, sendo
que este resulta da soma da taxa de juro sem risco ao prémio de risco desse
negócio. Negócios mais arriscados
implicam (é exigido pelos investidores) um retorno maior, isto é, um prémio de
risco mais alto, o que é equivalente a dizer preços de entrada mais baixos.
O risco do negócio pode ter origem em
muitas fontes, designadamente o país, o sector e riscos específicos diversos. O
papel do mercado, ao consistir na descoberta do preço e implicitamente no
prémio de risco, contribui para uma alocação de recursos mais eficiente, isto
é, “empresas más” têm prémios de risco altos por comparação com as “empresas
boas”. Esta lógica financeira significa que é no prémio risco determinado no
mercado que são incluídas considerações sociais ou ambientais ou outras, na
medida em que estas possam influenciar os lucros e fluxos de caixa das empresas
e, por consequência, a rentabilidade do negócio.
Foi nesta linha que, no seu famoso
artigo no NY Times em 1970,
Milton Friedman escreveu que o papel social das empresas é
maximizar o lucro. Esse artigo
procurou contrapor-se à tendência, nessa altura emergente e hoje aparentemente
vencedora através do ESG, de que o papel das empresas é servir o interesse dos
vários grupos de interesses na empresa, para além dos accionistas
(os stakeholders). Estes incluem funcionários, fornecedores,
clientes e, claro está, o Estado. Nessa altura, a preocupação de Friedman
era sobretudo ao nível do efeito prejudicial da interferência do governo nos
negócios, designadamente nos graus de liberdade que lhes retira, em nome de
valores colectivos que são, por definição, discutíveis. Em termos
resumidos, segundo Friedman, as empresas têm de cumprir a lei e maximizar o seu
lucro, sendo esse o seu contributo para a sociedade. Acresce
como autoevidente que as boas empresas o fazem tendo em linha de conta todos os
grupos de interesse em jogo, embora em nome de um objectivo último: o lucro.
No
seu livro Woke Inc., Vivek Ramaswamy avançou com um tipo argumentação diferente. Segundo o
autor, o problema não é tanto a interferência do governo nos negócios, mas a
captura do governo por uma determinada elite empresarial que, sinalizando
virtude e fingindo preocupações ambientais ou sociais, visa obter uma parte
significativa do bolo. Acresce o
papel de empresas gestoras de fundos como a Blackrock ou Vanguard, cujo activismo
funciona como uma verdadeira chantagem que põe em causa a integridade da
sociedade e do mercado.
De qualquer forma, seja o governo a
capturar os negócios ou o seu contrário, estamos
a falar de um movimento de cima para baixo que mudou a forma como o mercado
empresarial e financeiro se organiza.
No entanto, investir numa empresa sem
considerações financeiras ou acrescentando outras variáveis ligadas a
preferências pessoais é também uma questão pessoal. Por essa razão, é útil
perceber até que ponto a
Cultura Woke por parte do consumidor de produtos financeiros não tem também um
papel importante na vitória do capitalismo dos stakeholders.
Se os consumidores têm um papel importante na disseminação do
fenómeno, quais as raízes históricas do movimento Woke? E qual o estado da arte
deste movimento na academia, na imprensa e na política?
Para responder a estas e outras perguntas, a Oficina da
Liberdade organiza uma tertúlia, no dia 26 de Outubro, no Porto. Nela
participarão, entre outros, alguns colunistas regulares do Observador,
como é o caso de Alberto
Gonçalves e Patrícia Fernandes, em cujas crónicas podemos
testemunhar um pensamento estruturado sobre o tema. A entrada é livre (ver cartaz com informações adicionais) e não
haverá “No Woke Zone”.
Nota editorial: Os pontos
de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão
não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente
uma posição da Oficina da
Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de
terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que
querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem
sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.
OFICINA DA LIBERDADE POLÍTICA EMPRESAS ECONOMIA SOCIEDADE LUCROS
COMENTÁRIOS (DE 3)
Ana Luís da Silva: Como consumidora oponho-me a todas as empresas que
apoiem a (in)cultura Woke. Deixei de ser cliente daquelas que (eu saiba que) o
fazem. Espero/prevejo que desse encontro provenham/provirão excelentes
crónicas aqui no Observador!
Nenhum comentário:
Postar um comentário