sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Para releitura


Um excelente texto, de José Ribeiro e Castro,  que põe as dúvidas que sempre nos pusemos, a colher excelentes comentários de esclarecimento sobre um anti-semitismo tão abjecto.

Israel

Continua a ser razão de profundo mistério por que tem o povo judeu sido objecto de tantas violências, tantas perseguições, tanta discriminação, tantos massacres, tantas atrocidades?

JOSÉ RIBEIRO E CASTRO, Advogado e  Cidadão

OBSERVADOR, 13 out. 2023, 00:183

Aqueles bandos terroristas do Hamas que, no sábado e dias seguintes, assaltaram Israel querem a destruição e o fim de Israel. Assim o disseram. É esse o propósito que explica o apoio engajado dos líderes extremistas do Irão e de bandos vários da mesma seita: destruir Israel. É a mesma obsessão desde a primeira guerra de 1948. Há 75 anos que planeiam e atacam.

Em 2010, quando eu era Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, recebemos a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Manouchehr Mottaki. Provocou alguma agitação: não tanto pela invulgaridade do facto, mas entre as deputadas, que queriam ver se ele, por serem mulheres, não as cumprimentaria. Foi isso: o ministro cumprimentava, um a um, os deputados com aperto de mão e, diante de cada deputada, mostrando experiência e agilidade, fazia um gesto esquivo, sorria com desembaraço e passava adiante sem lhes tocar. Antes assim. Melhor do que ensinam ao Hamas.

A reunião durou uma hora, com várias perguntas dos deputados. No final, cabendo-me a última pergunta, pensei embaraçar o ministro. Perguntei: “Senhor ministro, diz-se que, na crise do Médio Oriente, a posição do Irão é pelo fim do Estado de Israel. Não lhe parece que essa posição impede a paz e empurra para a guerra? Favorece até a guerra permanente?A minha ingenuidade era grande. O ministro não se atrapalhou. Teve resposta pronta:Não, não se diz isso. É a verdade, a posição do Irão. A existência de Israel é a causa da guerra. Só haverá paz, quando Israel acabar.” Fiquei esclarecido.

Na segunda-feira, chocou-me ouvir no Fórum da TSF, dois intervenientes, ao comentarem a violência do Hamas em Israel e a resposta israelita, repetirem a mesma ideia dos ayatollahs do Irão: Israel é a causa da guerra, é preciso Israel desaparecer para a guerra acabar. É uma doutrina louca: a guerra para acabar com a guerra; destruir, esmagar, subjugar para impor a paz. Chantagem com o mundo: só há paz nos nossos termos, quando este ou aquele povo for destruído ou submetido. É a doutrina que conduz aonde temos estado: a guerra permanente.

É curioso (e sintomático) que, já em Portugal, haja seguidores do extremismo do Irão, capazes de o verbalizar na rádio sem o menor rebuço, hesitação ou atrapalhação, mesmo em cima das atrocidades com que o Hamas fustigou milhares de civis inocentes com crueldade ímpar. Há também vozes alinhadas na imprensa, que nenhuma atrocidade, por mais cruenta, abala ou faz vacilar. Fazem coro com o Hamas e o seu trabalho assassino no terreno.

Porém, creio que este ataque do Hamas mostra, afinal, por que razão o Estado de Israel tem mesmo de existir e explica-o, enfim, a todo o mundo que não tenha ainda entendido. Fá-lo de forma particularmente dolorosa e intensa. Mas revela por que é mesmo necessária a existência do Estado de Israel, o Estado judaico.

Quarta-feira, ao princípio da tarde, saí para a rua, em Lisboa, na zona do Saldanha. Estava um tempo magnífico. Muita gente a passear-se, esplanadas cheias. Vi mulheres conversando, alegres; crianças e bebés com seus pais; algumas com os avós, a que arrancavam aqueles sorrisos enrugados, ternos, longos, como só os velhos sabem; casais despreocupados, andando por ali; rapazes e raparigas que pareciam vindos da universidade; homens, de jeito executivo, em passo mais apressado; mulheres e homens em grupos, jovens adultos, trocando histórias e gargalhadas. Muita cor, uma atmosfera feliz.

Sugestionado pelas notícias e imagens que nos têm chegado de Israel, passou-me pela cabeça, por um momento, ali, na parte sul da Avenida da República, a imagem de centenas de terroristas, encapuçados, armados de metralhadoras, pistolas e adagas, saltarem das transversais, berrando gritos selvagens, para caírem, sem piedade, sobre os inocentes, homens e mulheres, crianças, velhos, bebés de colo. Imaginei, de repente, uma hora de desordem sanguinária. Civis fugindo, apavorados, em todas as direcções, abatidos a tiro à distância, pela frente ou pelas costas, ou, à queima-roupa, na testa ou na nuca. Casais que procuravam escapar-se para o metropolitano, terem de fugir para trás de novo, atacados por novos terroristas que subiam pelas mesmas escadas. Raparigas, em desespero, imploravam pela vida: “Don’t kill me! Don’t kill me!” Instalou-se o pânico, o horror, o céu a desabar-nos em cima da cabeça. Casais capturados, sendo a mulher barbaramente violada diante do marido, uma, duas, cinco vezes por bandidos sucessivos; no fim, a mulher assistir ao marido ser decapitado e ser levada como refém e troféu, escorrendo sangue. Crianças mortas a tiro, pelas costas, incluindo bebés, diante dos pais ou dos avós, antes de os executar também, com excepção dos tomados por reféns. O vendaval sanguinário visava o terror e capturar centena e meia de reféns, para poder prolongar o terror por mais dias. Não sobrou vivo um idoso, nem um bebé. Os captivos levados eram sobretudo raparigas adolescentes e mulheres abaixo dos 40, crianças pequenas (guardadas e transportadas em gaiolas de capoeira), e rapazes e homens até aos 30. A tarde de atmosfera feliz terminara num massacre e numa tragédia ainda por acabar. Porque um bando terrorista quis, decidiu e fez.

Esta tragédia, que não aconteceu em Lisboa, aconteceu em Sderot e noutras cidades e localidades várias do Negev, no sul de Israel. Aconteceu em muito pior do que ali imaginei e numa escala muito maior. Em magnitude de surpresa e brutalidade, aproxima-se das Torres Gémeas de Nova Iorque. E ultrapassa em muito o 11 de Setembro, nos requintes de perversidade, de tortura, de desumanidade, de crueldade, de abuso, numa acção cara-a-cara. Vi e li cenas piores que os nazis. A guerra terrorista lançada no sul de Israel ultrapassa a capacidade de ver e vomitar. O Hamas abriu outra vez guerra a Israel. Podia ter atacado alvos militares, mas escolheu festivais de música. Podia ter atacado quartéis ou bases militares, mas escolheu kibutzim e cidades, vilas, aldeias. Podia ter atacado exércitos, mas preferiu aterrorizar e matar civis desarmados, inocentes e indefesos.

Envergonha ler quem desculpa estes actos inqualificáveis e absolve o Hamas de culpas que nunca pagará suficientemente. É chocante ver jornais escreverem “barbaridades” entre aspas, condicionados não se sabe porquê ou por quem e mostrando medo da decência e da verdade.

Por que razão isto mostra a razão de ser do Estado de Israel? Esta tragédia, que ainda se desenrola, não é a primeira na história do povo judeu. Pelo contrário. Continua a ser profundo mistério, para mim, por que tem o povo judeu, ao longo dos séculos, sido objecto de tantas violências, tantas perseguições, tanta discriminação, tantos massacres, tantas atrocidades?

Não há objectivamente razão para isto, admitindo que as atrocidades podem ter algum tipo de explicação que não seja a própria brutalidade do agressor. Nos últimos 2000 anos e antes ainda da nossa era, são muitos os povos que atentaram contra a dignidade do povo judeu. Há outros povos vítimas, numa ou noutra época. Mas nenhum outro tanto como os judeus. Nós também contribuímos no seculo XVI.

O pior de tudo foi o Holocausto nazi, mancha tenebrosa na História da Humanidade. E, todavia, os judeus não construíram impérios; espalharam-se pela sua diáspora, pacificamente, contribuindo para o progresso de largas dezenas de países. Mas, apesar de pacíficos, produtivos e frequentemente criativos, os judeus foram feitos objecto de intriga, difamação, preconceito, acendendo ódios que terminavam em perseguição e violência. Porquê? E porque é que, mesmo depois do Holocausto, essa maldade antijudaica não ficou saciada? Por que pede mais sangue e mais atrocidade? Por que não respeita um velho, uma mulher, uma criança, um bebé, uma avó, um rapaz, um homem comum, apenas por ser judeu ou judia?

É possível, por isso, que os judeus, ao longo dos séculos, acumulando perseguições e errâncias, tenham amadurecido a ideia de que precisavam de ter um Estado seu, um Estado judaico, que fosse a sua casa e para onde pudessem ir, como porto seguro, em caso de absoluta necessidade e desespero. No tempo dos pogroms, é possível que, a cada pogrom, amadurecessem essa ideia. Porquê? Porque, a cada perseguição, havia às vezes quem ajudasse, mas os judeus viam-se normalmente sós e sem destino. Aquele desígnio, assim, não é só possível que surgisse, como se tornou natural, devido e merecido quanto a um povo historicamente tão marcado pelo ferrete da perseguição injusta e cruel.

Os judeus não desistirão jamais da diáspora, que é também, historicamente, muito da sua condição e natureza. Mas precisam do seu país, do seu pé no mapa, do seu Estado. Exactamente como outros povos de grandes diásporas: os italianos de todo o mundo têm a sua Itália, os gregos têm a Grécia, os cabo-verdianos têm Cabo Verde, os portugueses temos o nosso Portugal, os irlandeses têm a sua Irlanda. E os judeus têm Israel, recriado, com o consentimento da comunidade internacional, numa parte do seu território histórico.

Esta nova fúria cruenta do Hamas, do Irão e dos extremistas que, montados nos palestinianos, querem destruir Israel, comprova precisamente a necessidade de Israel. Se Israel desaparecesse, o povo judeu estaria outra vez perdido e voltaria a ser a presa fácil de todos os antissemitas que, infelizmente, infestam o mundo. O Hamas, o Irão e outros da sua estirpe, incluindo na Europa onde o antissemitismo há décadas que ressurge, é isso que querem: os judeus à sua mercê.

Quem tiver dúvidas, basta focar-se nestas vítimas civis do Hamas. Olhe os rostos das crianças israelitas mortas, pense nos corpos decepados de alguns bebés, veja a cara das mulheres e raparigas atrozmente violadas, veja as cenas de execução de reféns para uma vala comum, olhe as cabeças tombadas dos velhos assassinados, e verifique que é mesmo essa bestialidade: é isso que eles querem, é isso que eles fazem. Torturam-nos porque são judeus. Abusam delas porque são judias. Fazem-nos sofrer porque são judeus. Matam-nos porque são judeus.

O Estado de Israel é a sua garantia. Têm direito a ela. A garantia de que não se massifique e não se generalize esta selvajaria. A garantia de que, se a tragédia voltar a acontecer, será combatida, travada e vencida. É muito revelador o facto de muitas das imagens que vemos das atrocidades cometidas pelo Hamas terem sido filmadas e postas a circular por eles próprios. Sádicos exibicionistas que se deleitam com o sangue e o sofrimento das vítimas.

Eles querem destruir o Estado de Israel. Em nome da decência e da humanidade, é indispensável apoiar a justa defesa pelo Estado de Israel. Que os Hamas, Hezbollah, ISIS, Al-Qaeda, similares e metamorfoses, percam e sejam vencidos e dissolvidos para sempre.

CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO    MUNDO    ISRAEL    MÉDIO ORIENTE 

COMENTÁRIOS

Fernando Cascais: Segundo rezam as crenças, em 1.250 a.C., Moisés, imbuído de uma missão divina, liberta o povo judeu do Egipto e conquista a Terra de Canaã que recebeu o nome de Israel. Depois, as invasões, as guerras, os novos impérios e as várias diásporas, levaram o povo judeu para as terras que são hoje o Iraque e da Babilónia (Iraque) para outras paragens pelo mundo inteiro.  Segundo as escrituras Jesus foi um judeu rebelde que formou a sua própria religião. Os judeus não o aceitaram como Messias, foram responsabilizados pela sua morte e perseguidos barbaramente pelo mundo cristão que entretanto se desenvolveu. Partilham o Velho Testamento com os cristãos mas não o Novo Testamento. O cristianismo destruiu a graça dos Judeus acusando-os de tudo e mais alguma coisa, passando esse testemunho de geração em geração praticamente até aos dias de hoje. Nasci com a ideia que os judeus eram agiotas, adoradores do dinheiro e que todas as grandes fortunas estavam ligadas aos judeus. Mandavam na banca dos Estados Unidos e na de muitos outros países. O estigma criado ao povo judeu foi também uma das razões que levaram à sua perseguição na Segunda Guerra Mundial. São negociantes de sucesso, o que parece ser uma verdade incontestável, só que o sucesso nos negócios e a criação de riqueza suscita uma inveja figadal O sucesso não é difícil de explicar. Enquanto comunidade perseguida fecharam-se sobre si mesmos e defenderam os seus negócios privilegiando sempre os membros da comunidade. Imaginem comparar uma colmeia de abelhas em produção com as mesmas abelhas, mas cada uma a trabalhar individualmente. A mesma razão por que a China tem sucesso hoje em dia, assim como muitas outras organizações blindadas sobre si mesmo, como são por exemplo a Maçonaria ou em sentido contrário a Opus Day. Depois do massacre na 2GG, a comunidade internacional sob os hospícios de uma resolução da ONU, ressuscita o Estado de Israel para o povo judeu voltar para as suas terras de origem. Se na Europa a perseguição aos judeus comerciantes e ricos tinha terminado, outra estava prestes a começar: a perseguição aos judeus invasores da sua própria terra.  Resumindo, a história de perseguição dos judeus já vem desde os tempos de Moisés. Começou com os árabes egípcios, depois com os vários impérios que controlaram a região da palestina, mais tarde chegou a perseguição do cristianismo, depois foram perseguidos devido ao sucesso dos seus negócios e mais recentemente são novamente perseguidos pelo mundo árabe que não aceita o Estado de Israel. O mais impressionante, é que mesmo com tanta perseguição, são uma nação rica (tem praticamente o dobro do PIB per capita de Portugal que tem a mesma população; 10 milhões de habitantes) e de sucesso. Rodeados de vizinhos hostis com populações e territórios 10x maiores são temidos por estes devido à sua organização e força militar. Se existe realmente um povo de Deus, este, só pode mesmo ser o Povo Judeu                 Paulo Silva: Caro Ribeiro e Castro, ao fim de tantos séculos de perseguições, para certas criaturas que dizem defender os direitos-humanos, o maior problema do povo judeu parece ser a sua perseverança em existir ao fim de 2 milénios. E quanto a Israel na actualidade, de há um bom tempo a esta parte, o maior problema chama-se Ocidente. Quando Estaline deu aval à criação do novo Estado de Israel um dos seus objectivos era alavancar a saída dos britânicos da região. Assim foi, e por isso uma das primeiras ajudas em armamento para defesa dos judeus contra o assalto dos países árabes ao jovem estado judaico proclamado em 1948 veio de Moscovo via Checoslováquia. Mas quando Moscovo começou a perscrutar nas novas lideranças árabes uma capacidade de desafio às potências ocidentais, (crise do Suez), o apoio começou a pender para o outro lado. A consequência foi que Israel ficou cada vez mais dependente do Ocidente e dos EUA; pese uma boa parte da sua população ser originária da Rússia e Europa de Leste. Este é o verdadeiro pecado original de Israel aos olhos dos bem-pensantes e de um exército de idiotas úteis que os seguem acefalamente. Uma história que os crápulas da esquerda desconhecem… Não fosse o apoio ocidental dado ao Estado judaico, e uma panóplia de associações de amizade e organizações beneméritas de apoio à causa palestiniana deixariam de ter razão de existir e acabariam no dia seguinte... Quanto aos árabes, a presença de um estado judaico, (ou qualquer outro estado não-árabe), em território reivindicado pelo fanatismo e ultra-nacionalismo árabes é como uma afronta religiosa, um ultraje. O drama dos amigos da Palestina e dos palestinianos é que os judeus vivem! Não foram exterminados nem foram assimilados noutras culturas e civilizações como sucedeu com tantos outros povos da idade do ferro. É esta singularidade de um povo que resistiu até aos dias de hoje depois de escorraçado da sua pátria histórica há cerca de 2 mil anos. Os palestinianos não são mais que o resultado de séculos de colonização, (já que o termo está na moda), promovida potências ocupantes que fizeram dos judeus uma minoria na sua própria terra. O palestiniano é um colono à custa do infortúnio do judeu. O azar do palestiniano é que o judeu em número veio bater à porta dois mil anos depois...                        Rafael Valverde: Está tudo dito, muito bem!

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