domingo, 29 de outubro de 2023

Um texto duro


Que trata de extremismos, que bem gostaríamos fossem transformados em actuações feitas dos velhos conceitos de responsabilidade e respeito – próprio e alheio. Mas vamos virando num sentido de brutal discórdia… quer pela troça quer pela indiferença insensatas pelos velhos valores - em poluição dos tempos e dos espaços – físicos e morais. É o que dá a entender esta análise do Dr. Salles da Fonseca, centrada em conceitos, e em actuações extremistas, nestes nossos tempos de poder e engenho tecnológico, facilitadores dos desvios.

RADICAIS E PERMISSIVOS

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 27.10.23

 Ou

DA MILITÂNCIA E DA MÂNDRIA

 Do dicionário, extrai-se que radical tem o significado geral de «drástico» e que em política significa «aquele que quer reformas/alterações/mudanças completas» e que permissivo significa «indulgente» e/ou «ética e moralmente relaxado».

* * *

No Estado liberal, ocidental, a liberdade é conceito unicitário e integra facetas essenciais como sejam a liberdade de opinião e a liberdade e de iniciativa. Tudo condicionado pelo princípio de que a liberdade de cada um cessa onde começa a liberdade do próximo, a começar pelo valor supremo que é a vida. As condicionantes à liberdade têm a ver com o respeito pela propriedade, pelo ambiente e pela fiscalidade. Foi a partir deste conjunto de ideias maiores que nasceram diversos ideais de bem-comum, aqueles a que actualmente chamamos de Socialismo Democrático, Social Democracia, Democracia Cristã (não confessional) e Liberalismo (propriamente dito). Desta macroestrutura excluo os movimentos políticos de base étnico-regionais pois que podem assumir qualquer tipo de projecto acima referido e excluo o Conservadorismo britânico (misto de Democracia Cristã e de Liberalismo)

E o Trabalhismo britânico (misto de Socialismo Democrático e de Social Democracia).  Europa que é o berço das políticas de essência democrática.

Contudo, a prática inquestionável da liberdade permite a instalação de forças que, utilizando a liberdade instituída, preconizam modelos sociais em que essa mesma liberdade não existe. São modelos de génese autocrática que não permitem a liberdade de opinião nem a propriedade e não provaram até hoje qualquer respeito pelo ambienteÀ radical militância totalitária, a democracia liberal responde com permissividade na esperança de que, nas urnas, as propostas democraticamente absurdas chumbem rotundamente. O pior é se não o são rotundamenteMas a luta é cansativa e os instalados no conforto do bem-estar padecem da mândria.

Confortavelmente instalada no progresso material que a democracia lhe tem proporcionado desde o final da II Guerra Mundial, a burguesia ocidental não tem encontrado tempo para ver o que se passa à sua volta. E o que é?

- Um paternalista Estado social super protector que desincentiva o desenrascanço dos menos habilitados que assim se entregam ao ócio;

- Um «neo-ocidentalismo» em que preponderam os direitos e escasseiam os deveres cívicos à mistura com uma tendência amoral do pós-modernismo, uma inequívoca afirmação hedonista e a ambição imediatista do «tudo JÁ!»,…

… fazem do moderno europeu (sobretudo) um ser a quem tudo é devido. Daqui à mândria dista um infinitésimo. Tudo agravado quando esse ocidental o é ao abrigo do Direito positivo, mas que, no plano cultural, se encontra vinculado a padrões forjados alhures. Intimamente desenraizados, entregam-se à reivindicação pela reivindicação, fazem das «poubelles flammantes» uma barricada e esperam que os tradicionalistas os temam e se agachem.   E estes, permissivos, esperam pela ronda eleitoral seguinte para dizerem que o caminho chegou ao fim.

Que caminho?

O da mândria, dos compadrios na gestão da «coisa» geral, da «liberté à outrance». E então, teremos que ser nós, novamente, a desentupir esgotos, a semear batatas, a deitarmo-nos cedo e a levantarmo-nos antes do Sol deixando as pranchas de surf arrumadas até ao fim de semana seguinte.

… era tão bom viver «à pala» do subsídio…

Outubro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

 

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