Análise de Jaime Nogueira Pinto com cujas
ilações nem todos os comentadores concordam. Mas o sentido crítico, sobre um
mundo a descontrolar-se, está nela contido, na ironia sobre a sociedade por quotas de responsabilidade
limitada. De resto, que importam as opiniões dos historiadores, ou
dos comentadores, num mundo de animalidade desenfreada, à mercê dos instintos
ferozes? Uma análise cuidadosa e objectiva, como sempre, apenas para nossa
ilustração, a lembrar Pessoa e o seu “SINTA
QUEM LÊ”, para nossa recreação, enquanto pudermos
vivê-la:
Isto
Dizem
que finjo ou minto
Tudo
que escrevo. Não.
Eu
simplesmente sinto
Com a
imaginação.
Não
uso o coração.
Tudo
o que sonho ou passo,
O
que me falha ou finda,
É
como que um terraço
Sobre
outra coisa ainda.
Essa
coisa é que é linda.
Por
isso escrevo em meio
Do
que não está ao pé,
Livre
do meu enleio,
Sério
do que não é,
Sentir,
sinta quem lê!
Saudades da Guerra Fria?
Embora vejamos ordem num passado que acabou e caos no
presente que ainda corre, estamos face ao fim de um mundo relativamente
ordeiro, dominado por duas grandes potências que controlavam os seus campos
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 21
out. 2023, 00:1916
Um sinal da transição
acelerada para uma ordem mundial multipolar está na multiplicação de conflitos
periféricos que se juntam aos principais. E além
dos conflitos e da sua dimensão existe outra característica, também singular:
o facto de haver protagonistas
internacionais – Estados, movimentos políticos e político-militares – que tomam
iniciativas e estabelecem alianças contraditórias, numa geometria variável que
parece incontrolada. E
que podem ser, também eles, agentes incontrolados. Assim, o Hamas – o
movimento radical sunita que estava dado como moribundo, ineficaz,
descartável, não só pelos serviços de inteligência de Israel, mas por outros
serviços médio-orientais – lançou bruscamente o mais mortífero dos ataques
contra o “lar judaico” na Terra Santa; um ataque que,
além das perdas e da humilhação da surpresa, colocou o governo de Telavive
perante a alternativa diabólica de ripostar em força – com o
risco dos previsíveis excessos. O caso do hospital al-Ahli Arab passou
por ter sido um desses excessos ou desastres de guerra, cujo odioso, com razão
ou sem ela, caiu sobre Telavive. E imediatamente desencadeou o levantamento da
“rua
árabe” e o congelamento da reunião dos “moderados” da região com
Biden – Mahmoud Abbas, da
Autoridade Palestiniana, Abd al-Fatah al-Sisi, presidente do Egipto, e o rei da
Jordânia, Abdullah II. Perante a tensão levantada pelas notícias da
bomba ou míssil no hospital, tudo parou.
Saudades da Guerra Fria?
É um novo mundo, ou uma nova ordem no
mundo. A
Guerra Fria, com o seu bilateralismo bem oleado, alternava as
suas fases mais tensas com a tranquilidade da détente, e havia uma certa
segurança, transmitida pelos políticos americanos, como Eisenhower, Nixon, Kennedy e Johnson, e pelos burocratas que sucederam a Staline, como Kruschev ou Breznev, gente
que ninguém via a correr riscos apocalípticos ou precipitados, num tempo de
telefones vermelhos e conversas paralelas, longe do público.
Esse tempo acabou. Embora vejamos tendencialmente ordem num
passado que acabou e caos no presente que ainda corre, não podemos deixar de
observar o fim de um mundo relativamente ordeiro, porque dominado por duas
grandes potências que se vigiavam, equilibravam e controlavam os respectivos
campos. Em vez desse mundo bipolar à volta de dois duelistas
principais, encabeçando o campo socialista e o campo capitalista, o campo
totalitário e o campo liberal, e mantendo a disciplina dos seus apoiantes e
clientes, temos agora uma multiplicidade de protagonistas. Protagonistas que são potências
político-militares várias, com capacidade de decisão autónoma, com agendas, ora
paralelas ora conflituantes, num panorama geopolítico onde se alinham as
maiores, como os Estados
Unidos, a China, a Índia, todas nucleares, mas
disputado por outras – a Rússia, o
Paquistão, a Turquia, Israel, a Arábia Saudita; e também o Brasil, a Indonésia, o Japão, e os Estados europeus,
a França, o Reino Unido, a Alemanha.
Na confusão
À volta destes Estados
principais, agrupam-se as suas clientelas político-militares, culturais,
económicas. Já não há alinhamentos ideológicos, a não ser alguns restos
nostálgicos da Guerra Fria – como a descrição do Presidente
americano das tensões com a Rússia como uma cruzada das democracias contra os
“iliberais” ou autoritários, esquecendo talvez que nessa categoria caberia
quase todo o Sul Global, a África, o Médio Oriente, e até a América Hispânica,
democrática, mas neutralista. E
haverá também desenquadrados e tecnologias de destruição maciça à solta.
É por isso que este tempo de
transição é um tempo perigoso, com focos de guerra principais mais ou menos
consolidados na Europa Oriental e no Médio-Oriente. Só que,
aproveitando o empenho e a concentração dos países importantes no conflito
principal, NATO-Rússia, os azeris avançaram para
resolver a disputa da Nagorno-Karabakh com a Arménia; e, em África,
multiplicam-se os golpes militares.
Terá sido o ataque do Hamas sunita
inspirado pelos ayatohlas do Teerão shiita? Fará
sentido semelhante ruptura num momento em que iranianos e sauditas pareciam em lua de mel nos BRICS, depois
de uma inesperada e celebrada reconciliação impulsionada pelos chineses?
Um dos danos colaterais do ataque do
Hamas é o fim das aproximações políticas de alguns destes Estados terrivelmente
desavindos, que, depois de surpreendentes esforços, como os Acordos de Abraão,
podem agora ter de retroceder. A aproximação Arábia Saudita-Israel, provocada pelo “inimigo principal”, o Irão
dos ayatohlas, será um deles, já que o todo poderoso Príncipe Herdeiro Saudita, Mohammed
bin-Salman, é suficientemente avisado para, no momento em que no mundo árabe soa a hora de solidariedade
anti-Telavive, refrear as suas
aberturas a Israel.
Além
da Arábia Saudita, também a Turquia vai ter problemas na sua recente política de entendimento e negociação com Israel. O líder turco Erdogan é
outro político experimentado e prudente, que tem combinado autoritarismo e
popularidade e trazido ao seu país uma modernização acelerada. Ora, depois do
encontro com Netanyahu,
em Nova Iorque, em
Setembro, Erdogan estava empenhado num diálogo próximo e muito aberto
com Telavive. Diálogo que terá agora de interromper.
Compreende-se que o líder de um país
de maioria absoluta muçulmana, que
quer fazer da Turquia um farol otomano numa região perturbada por políticas de
confronto, reaja mal quando o Secretário de Estado
americano, Anthony Blinken, invoca a sua
ascendência judaica para justificar as generosas dádivas de Washington a Israel. Que
poderia Erdogan fazer senão reagir a esta alusão identitária de um alto
representante de uma super-potência em negociações trans-estatais? Se
Blinken estava ali “como judeu”, ele, Erdogan, líder da Turquia, país de
religião muçulmana, estaria ali “como muçulmano”.
Curiosamente, os dois Estados, Israel e Turquia, pertencem ao número
de protagonistas internacionais que, recentemente, tinham intervindo em vários
conflitos de forma nem sempre alinhada religiosa e culturalmente e, por vezes,
até aparentemente contraditória.
Os moderadores
O ataque do Hamas, além de ter
posto fim ao diálogo de Riade e Ankara com Telavive, desencadeou
também uma profusão de diligências externas, quer para reparar os destroços e
reconfortar Israel, quer para moderar Telavive, com vista a impedir uma vindicta
de proporções bíblicas.
Neste
aspecto, foi pouco feliz a visita a Israel da Presidente da Comissão
Europeia, Úrsula von der Leyen,
considerada intrusiva e abusiva pelo Alto Representante da União para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell. Borrell,
não só criticou o apoio unilateral de von der Leyen a Israel, sem ressalvar a necessidade de moderação
na resposta armada em nome dos civis de Gaza, como lembrou à Presidente que não
era ela quem decidia a política externa da União Europeia, mas os Estados
membros – e na presença e sob a orientação dele, Josep, e não dela, Úrsula. Até porque, na União
Europeia, vigora a regra da unanimidade e, como se tem visto com os “grandes”, a Inglaterra, a França e a
Alemanha, os Estados funcionam como Estados e tomam as suas próprias
iniciativas moderadoras.
Biden, que também se deslocou
expressamente a Israel, exprimiu claramente a solidariedade dos Estados Unidos,
mas foi também cauteloso, pedindo a Telavive prudência e moderação na resposta. Muito americanamente, achou por bem
penitenciar-se pelos excessos
cometidos por Washington nas represálias ao 11 de Setembro, antes de
aconselhar Netanyahu a não ocupar Gaza (“um grande erro”, tendo em conta que a
imensa maioria dos habitantes de Gaza não tinha culpa do terrorismo do Hamas) e
de lhe pedir que adiasse a operação terrestre, lembrando-lhe ainda a
necessidade de repor na Agenda a solução dos dois Estados.
Compreensivelmente, a grande
preocupação de Washington parece ser a de evitar o alastrar da guerra na região,
com um possível ataque do Hezbollah a Israel a partir do Líbano e uma entrada
da Liga Árabe no conflito.
Solicitados em duas frentes muito
quentes, os norte-americanos não têm outro remédio senão recorrer ao rival chinês, que se
vai desenhando como candidato a
guia do “Sul global” e que, evidentemente, também não quer um conflito generalizado no Médio Oriente. Ainda
que possa ter interesse saber se Teerão teve alguma influência no ataque do
Hamas, ninguém vai querer tirar daí consequências punitivas. De resto, Blinken já solicitou os bons
ofícios e a influência de Pequim junto dos dirigentes iranianos e Pequim já
respondeu com o apelo a um cessar-fogo.
Isto apesar do formalismo da votação
no Conselho de Segurança ao apelo chinês – que lembrou as votações do tempo da
Guerra Fria, com os membros permanentes divididos (EUA, Reino Unido e França,
de um lado; Rússia e China do outro) – e do veto
americano à resolução brasileira de criar um corredor humanitário, resolução
que deixou Washington sozinho, contra “o resto mundo”, Japão e França incluídos.
Contradições mais que naturais numa
ordem internacional fragmentada em termos de ideias, valores e interesses; uma
ordem organizada num agrupamento que, por vezes, se julga uma comunidade de
nações, mas que é apenas uma sociedade.
Por cotas e de responsabilidade
limitada.
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA CULTURA GEOPOLÍTICA MUNDO
COMENTÁRIOS:
Liberales Semper Erexitque: Bom artigo hoje, informativo. Já no que respeita a
divagações e a filosofias, deixa a desejar. Tomar a necessária acalmia na aproximação
entre a Arábia Saudita e Israel e entre a Turquia e Israel pelo fim
dessas aproximações é um absurdo. Superada a micro-questão da "Faixa
de Gaza" (do tamanho da região de Lisboa), Riade e Ancara voltarão a
dançar o tango com Telavive.
Antonio Castro: Excelente
artigo ! vitor
Manuel: Nem os melhores
dos melhores conseguem ser sempre bons, há dias assim e JNP naturalmente não
fugirá à regra. Isto só para dizer que os responsáveis pelos países que mais ou
menos ainda vão garantindo o respeito pelas liberdades de cada indivíduo, nunca
poderão recuar perante o avanço paulatino dos que têm como agenda o domínio de
tudo e todos. Vi e ouvi hoje numa reportagem no Cairo" o mais inteligente
da minha geração" segundo o porta-voz do "nosso" governo, a
discursar o seguinte... Mas nada pode justificar o ataque repreensível do
Hamas que aterrorizou o povo israelita. E esses ataques abomináveis, nunca
poderão justificar ... O exemplo do que será o Mundo com canalhas destes,
como responsáveis da nossa vida futura. Francisco Almeida: Ler JNP é sempre gratificante
mas hoje suscitou-me algumas questões. Se bem interpretei a interrogação, JNP
abre dúvidas sobre a paternidade do Irão no ataque de Hamas. Talvez por ter
sido um leitor ávido de policiais, tendo a perguntar em primeiro lugar, a quem
aproveita. E o Irão é a resposta imediata. E, se não for, a questão do
financiamento e da preparação, implicaria especulações e teorias da conspiração
que me parecem excessivas. Aplicando Occam, sabe-se que os persas querem
suceder aos otomanos e aos árabes da chefia do Islão e que o ódio a Israel é o
cimento possível da união muçulmana sob sua direcção. E sabe-se também que
controlam o Hezbollah. que também atacou Israel, e a facção iemenita que lançou
os drones interceptados pelos americanos. Reconheço que posso ignorar factores
que alterem a percepção mas, pelo que sei, o Irão não me oferece dúvidas. Também
o confronto Borrell/von der Leyen me levanta uma interrogação. Foi um
incidente isolado ou vem de trás e há divisões sérias na UE sobre política
externa? Não me esqueço que Borrel foi o mesmo que se sentou com Erdogan
deixando Ursula von der Leyen de pé numa situação constrangedora e quase
humilhante. Só coincidência? Biden quer evidentemente limitar o conflito à sua
actual dimensão. Mas há que saber o porquê. Voltando atrás, a administração
Trump elegeu o Irão como inimigo, Israel como amigo e a Arábia Saudita (e
os Emiratos) como aliado. Era uma política que fazia sentido a quem queria
eximir os EUA de envolvimento directo em conflitos no Médio Oriente e
culminaria com o acordo Abraão. Falhou a finalização por culpa da
personalidade narcisista de Trump mas a ideia era clara. Biden, lembrando
António Costa e Passos Coelho, fez o oposto, interrompendo a venda de armas aos
Emiratos, incompatibilizando-se decisivamente com a Arábia Saudita e reaproximando-se
depois do Irão para tentar suprir a falta do petróleo russo. Ora a maioria
da opinião pública americana, está já contra a continuação do apoio à Ucrânia,
e se os Estados Unidos forem obrigados a uma intervenção no Médio Oriente,
Biden e os democratas perdem inexoravelmente a próxima eleição. Isso é o que os
assusta e motiva a hiperactividade diplomática que têm prosseguido. Maria Cabral
> Francisco
Almeida: Correção. Não foi Borrel, foi Charles Michel que
deixou von der Leyen sem cadeira
Francisco AlmeidaMaria Cabral: Obrigado pela correcção. Partida
da memória que altera a questão. A haver conflito, será mais de competências,
sem que se possam concluir divergências na política externa. José Carvalho
> Francisco
Almeida: Apesar do lapso de memória, os seus comentários são
muito pertinentes. Com as suas objecções, e com a que fiz no meu comentário,
parece que JNP não esteve feliz hoje. Há dias assim, e não é por um dia que
perde o meu grande apreço.
acg Cisteina > José
Carvalho: José Carvalho, é verdade que "há dias assim"
quando lemos alguns textos ou crónicas na comunicação social. Mas também é
verdade que, neste tema, não é fácil opinar, ainda que, sem sombra de dúvida, o
Hamas ultrapassou tudo o que se possa imaginar com este ataque bárbaro,
hediondo e covarde, tal como a esmagadora maioria do povo palestino ao longo
dos tempos tem vindo a ser massacrado e que o Hamas, por esta razão, deve ser
punido exemplarmente. João
Ramos: O fim do muro
(cortina de ferro), tornou-se num conjunto de muros de geometria variável e
indefinida e no meio do qual é perigoso tomar decisões e para o tentar
“resolver” será necessário mexer com pinças… Isabel Amorim: Como sempre, uma lição para
compreender o já de si tão complexo problema (desde sempre) e as complicações
que este ataque provocou com as ditas alianças e conversações em curso para se
alcançar uma plataforma de paz neste intrincadíssimo problema. O único pormenor
de que discordo é o suposto ataque ao hospital que já se viu por imagens de
satélite que foi um missil perdido (lançado pelo Hamas) propositado ou não.
Caiu no parque de estacionamento destruiu alguns automóveis e não terá
havido centenas de mortos sequer. E sim, saudades, muitas da Guerra Fria! E dos
telefones encarnados... José Carvalho: Estamos cercados pelo Hamas,
como bem dizia ontem o Dr. Ribeiro e Castro. Até o Dr. Nogueira Pinto admite
que o ataque ao hospital tenha sido de Israel! Esquecendo que isto é uma guerra
de propaganda na qual Israel não dá tiros no seu pé. Américo
Silva: Excelente e
trabalhosa crónica, o que está a acontecer lembra um pouco o mundo da droga,
dantes o crime estava organizado, os grupos controlavam-se mutuamente e a
policia monitorizava os grupos, depois caíu num caos imprevisível, difícil de controlar
e muito mais perigoso. Fernando
CE: Mais uma lição de um grande
senhor da análise política. Bom de ler , sem os lugares comuns e trincheiras fáceis. Rui Lima: A guerra fria funcionou porque
a URSS aceitou a ordem mundial existente , hoje da China ao Irão todos querem
destruir a existente . Há 2 países com ambições e condições a China a Índia que
querem estar no comando do mundo ao lado dos USA sem pagar a conta . A China é o problema quer destruir a ordem existe no seu combate contra os
USA a sua estratégia é apoiar tudo o que possa afectar o poderio Americano . Tim do Á > Rui Lima: No meio disso tudo a UE não
existe. A Europa desapareceu. A UE é a coceira da Europa. AdOB:
Caríssimo,
gostaria de saber a sua opinião sobre a seguinte questão: Terá o mundo algo a
aprender - na sua inevitável transição para uma ordem multipolar - com o
desastroso processo de descolonizacão Português? Se sim, quais as licões e
directrizes? Contexto da pergunta: 1)Formámos as elites desses países para que
pudessem exercer cargos de liderança ; os países em desenvolvimento têm, cada
mais mais, conhecimento e poder sobre os seus recursos 2) Não o fizemos de
forma suficientemente celére para que a coisa pudesse 'correr bem' (democracia
e direitos humanos vingassem face à barbárie que se viu e vê) 3) Existe um
trauma/inveja sobre os 'donos' anteriores e o que fizeram que ou os faz
combater moinhos de ventos ou que amplifiquem o círculo vicioso 4) A natureza
humana global que é tendencialmente autoritária e não democrática Como poderemos
garantir que esta transição nos leve ao século xxii invés do séc xiv?
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