Um estudo precioso, de seriedade e
rigor, com criterioso sentido de humor, de JOSÉ CARLOS FERNANDES. Para reler
e considerar quanto o “atitudismo” woke implica uma sociedade hedonista, acorrentada
ao prazer de viver sem responsabilidade, obcecada pelo aparelhozinho manual dos
seus contactos mundanos, para mais invadida por povos que se multiplicam sem
regras, e que procuram impor-se, pelo número, expulsando os naturais desatentos,
sendo nisso ajudados pelos naturais das empatias - piedosos para com esses – os
invasores, rigorosos para com os seus - os invadidos, a anarquia sendo o supra
sumo das actuais exigências vitais – ou virais, como também se lhes poderá
chamar, democraticamente considerando.
O wokismo. A ideologia que nasceu na universidade para se espalhar
pelo mundo
OBSERVADOR, 01
nov. 2023, 10:1919
Sem receio de
ser polémico ou ofender sensibilidades, Jean-François Braunstein analisa em "A Religião Woke" uma ideologia que começou como
"excentricidade académica"
para "varrer o mundo ocidental".
Índice
O wokismo é filho do
pós-estruturalismo?
Por uma “antibiologia ginocêntrica”
A universidade ainda é a “casa da
razão”?
………………….
Roland Barthes (1915-1980), figura proeminente da
French Theory
Embriagados por
estas “liberdades”, alguns pós-estruturalistas
atiraram o rigor intelectual às urtigas e devotaram-se à produção de ruminações
sob cuja retórica retorcida, tom assertivo e prosa deliberadamente obscura se
ocultava o mais absoluto vácuo. Esta voga
instaurou nas ciências sociais e humanidades um clima de “anything
goes”, que levou o matemático e
físico Alan Sokal a denunciar a proliferação impune de disparates
pseudocientíficos forjando um artigo deliberadamente tolo, vazio e
estrategicamente polvilhado com clichés de sabor desconstrucionista – afirmava, por exemplo, que “está
a tornar-se cada vez mais evidente que a ‘realidade’ física [é,
fundamentalmente] uma construção social e linguística” e que a investigação
científica “não pode reivindicar um estatuto epistemológico privilegiado face
às narrativas contra-hegemónicas que emanam das comunidades dissidentes ou
marginalizadas”, e apelava ao desenvolvimento de uma “ciência libertadora” e
de uma “matemática emancipatória” que providenciassem “um poderoso apoio
intelectual a um projecto político progressista”. O artigo, com o abstruso título
“Transgressing the boundaries: Towards a transformative hermeneutics of quantum
gravity”, passou praticamente intacto pela “revisão pelos pares” e foi
publicado em 1996
(e não em
1966, como se indica, por engano, na pg. 44) pela revista Social Studies. O escândalo
que se seguiu à exposição da fraude por Sokal não foi suficiente para que os
editores da Social Studies admitissem
a sua falta de rigor e discernimento e o seu enviesamento ideológico (pelo contrário, apresentaram desculpas esfarrapadas e acusaram Sokal de
comportamento pouco ético), nem para reverter ou mitigar a corrosão das ciências sociais e das
humanidades pelo pós-estruturalismo e suas tóxicas derivações, como teriam
oportunidade de demonstrar, em 2018, três académicos que, na peugada de Sokal,
forjaram e enviaram “para revistas científicas, especializadas em estudos
de gender, queer e outros fat studies, uma série de 20 artigos,
delirantes e eticamente chocantes”, a fim de “testar as reacções das comissões
de leitura destas revistas” (pg. 44).
Em síntese,
na sua refutação da filiação do wokismo no pós-estruturalismo,
Braunstein deixa por contabilizar a
elevada probabilidade de os raciocínios pouco vigiados, a logorreia críptica e
a ideia de que os factos não existem e tudo é narrativa (e, logo, todas as
opiniões se equivalem), que são típicas do pós-estruturalismo, terem
contribuído decisivamente para gerar a “epistemologia do ponto de vista” e o
desprezo do movimento woke pela racionalidade, pela objectividade e pela
ciência.
Michel Foucault (1926-1984), outro dos papas
da French Theory
Por uma “antibiologia ginocêntrica”
A epistemologia do ponto de vista (“standpoint
epistemology”), também designada como “conhecimento situado” (“situated knowledge”, termo cunhado
em 1988 por Donna Haraway, feminista, especialista em história da ciência e
pioneira do wokismo), parte do princípio de que toda a produção de conhecimento
está inquinada pela subjectividade de quem o produz (nomeadamente pela sua
identidade social) e reflecte as condições em que foi produzido. E como a produção de
conhecimento foi, durante séculos, uma coutada exclusiva do cis-heteropatriarcado
branco imperialista e colonialista, aquilo que passa por ciência e
objectividade mais não será do que uma criação perversa destinada a justificar
o poder e os privilégios dessa elite.
O wokismo
propõe-se libertar a ciência deste viés secular e “empoderar” os grupos
tradicionalmente oprimidos e Braunstein oferece um vislumbre do espantoso
chorrilho de tolices, propostas e exigências que têm sido feitas a coberto
deste desiderato. Thierry
Hoquet, por exemplo, proclamou que “a biologia enviesa-nos.
Patriarcal, compraz-se no androcentrismo e no heterossexismo, duas doenças de
que deve ser curada, caso contrário está condenada a falhar quando fala das
mulheres” e apelou à criação de uma “antibiologia ginocêntrica, matriarcal ou
homossexual” (pg. 140). “Chandra K. Raju, professor universitário indiano e
vice-presidente da Academia Indiana das Ciências Sociais, explica que, para se descolonizar
verdadeiramente a ciência, é preciso pôr em causa a sua objectividade e
universalidade” (pg. 147). Linda Nordling, pleiteando por uma “ciência
africana”, afirmou ser preciso “desmantelar a hegemonia dos valores europeus e
dar lugar à filosofia e às tradições locais que os colonos puseram de lado” (pg. 147-48).
Este tipo de ideias tem
vingado nas universidades e tem ganho contornos inquietantes – como escreve Braunstein, “não é apenas
um snobismo passageiro e sem consequências. Defrontamo-nos com militantes que
se entusiasmam pela sua causa. Não são professores
universitários, mas sim combatentes ao serviço de uma ideologia que dá sentido à sua vida”. Braunstein
compara os militantes woke mais radicais aos “guardas vermelhos chineses
durante a Revolução Cultural” e recorda a
resposta dada por um deles a Brett Weinstein, um professor do Evergreen State
College (em Olympia, estado de Washington, EUA), que, durante os desacatos de
inspiração woke que assolaram aquela universidade em 2017, tentou chamar os
estudantes “amotinados” à razão: “Pára de argumentar, a lógica é
racista”.
Manual escolar
chinês, 1971: Jovens Guardas Vermelhos zelam fervorosamente pela ortodoxia das
palavras e do pensamento
Seria ingénuo
pensar que a epistemologia
do ponto de vista seria uma perspectiva tão
esdrúxula e tão afastada da realidade que apenas poderia medrar na estufa dos
departamentos de estudos africanos ou de estudos de género. A verdade é que ela
foi alastrando pelo meio académico e está
hoje a infiltrar-se em variadas áreas de conhecimento e a implantar-se na
linguagem e na mundividência de boa parte da sociedade.
A ciência como conto de fadas
Braunstein debruça-se sobre os ideólogos pioneiros que, a partir do final da década
de 1980, contribuíram para fomentar a epistemologia do ponto de vista, como Donna
Haraway (n.1944), Sandra Harding (n.1935), Patricia Hill Collins (n.1948) e
Helen Longino (n.1944). Dá também atenção aos activistas woke que floresceram
no século XXI, como Robin DiAngelo (n.1956) e Ibram X. Kendi (n.1982), que
denunciam a falácia do conceito de objectividade, “uma crença […] associada ao posicionamento dos brancos fora de qualquer
cultura […] [e que] permite que os brancos se considerem seres humanos
universais que podem representar toda a experiência humana” (segundo
DiAngelo). Porém, Braunstein deixa de fora
um pensador que prefigura claramente muitas das “teorias” e posições defendidas
pelo movimento woke, no domínio da epistemologia
do ponto de vista e da oposição
objectividade vs. subjectividade e “saberes
situados” vs. ciência: o filósofo
austríaco Paul Feyerabend
(1924-1994), pai do relativismo epistemológico (ver capítulo “A cada um a sua verdade” em George
Santos, a verdade da mentira e a política no século XXI). A obra mais conhecida e influente de Feyerabend, Against method:
Outline of an anarchistic theory of knowledge (Contra o método: Esboço de uma teoria anarquista do conhecimento), publicada em 1975 pela New Left Books, pode ser vista como estando para
a ciência e para o conhecimento como Mein Kampf está para a
política.
Em Against
method, Feyerabend defende que “numa democracia, as instituições científicas e os programas de
investigação devem ser submetidos ao controlo do público; deve existir uma
separação entre Estado e ciência tal como existe entre Estado e instituições
religiosas, e a ciência deve ser ensinada como apenas uma perspectiva entre
muitas outras e não como a única via para a verdade e para a realidade” e exorta a que todos, “peritos e
leigos, profissionais e diletantes, obcecados com a verdade e mentirosos”,
sejam convidados a contribuir para a produção de conhecimento não-dogmático e
para “o enriquecimento da nossa cultura”. Os cientistas não gozarão, nesta “comissão alargada”,
de uma posição de privilégio e autoridade: “A tarefa do cientista já não é
‘a busca da verdade’, ‘exaltar Deus’, ‘sintetizar observações’ ou ‘fornecer
predições mais exactas’. Estes são apenas efeitos colaterais de uma actividade
cujo principal foco passará a ser ‘dar força ao argumento mais fraco’” (presume-se daqui que os
investigadores em farmacologia deverão colocar em segundo plano o
desenvolvimento de novas moléculas para combater o cancro e concentrar esforços
em encontrar argumentos em apoio da homeopatia e dos florais de Bach).
Em contraponto ao
“método científico”, Feyerabend propõe uma “metodologia pluralista”, em que “[o cientista] deve
comparar ideias com outras ideias, em vez de as cotejar com resultados
experimentais, e as teorias que ficaram para trás na competição, devem ser, não
descartadas, mas aperfeiçoadas. Desta forma, [o cientista]
recuperará as teorias sobre o homem e o cosmos que se encontram no Génesis ou
no Poimandres [um dos 14 tratados do Corpus Hermeticum, uma
colecção de escritos esotéricos de pendor teológico-filosófico dos séculos I-III
d.C.], irá desenvolvê-las e usá-las para aferir o sucesso da [teoria da]
evolução e de outras perspectivas ‘modernas’.
Poderá, então, concluir que a teoria da evolução não é tão boa como tem sido
assumido e que terá de ser complementada, ou integralmente substituída, por uma
versão melhorada do Génesis”. O
conhecimento deixa, assim, de ser, “uma série de teorias autoconsistentes que
convergem para uma visão ideal, nem uma aproximação gradual à verdade. É antes um oceano em permanente expansão de alternativas
mutuamente incompatíveis e em que cada teoria, cada conto de fadas, cada mito
que dele faz parte induz os restantes a articularem-se melhor, e em que o todo,
através deste processo competitivo, contribui para o desenvolvimento da nossa
consciência. Nada ficará, alguma vez, estabelecido e nenhuma perspectiva será,
alguma fez, excluída da visão global” (impõe-se,
portanto, que a comunidade científica peça perdão por ignorar ou ridicularizar
os terraplanistas e passe a convidá-los a apresentar comunicações nos
congressos de geografia, astronomia e cosmologia).
Ao longo de Against
method é várias vezes
repetida a ideia de que “uma ciência
que insiste em reivindicar possuir o único método correcto e os únicos
resultados credíveis é uma ideologia e, como tal, deverá ser separada do Estado
e, em particular, do sistema educativo”. Feyerabend, falecido em 1994, gostaria certamente de
saber que hoje, um pouco por todo o mundo ocidental, se multiplicam as escolas
disponíveis para acolher os “saberes” trazidos de casa, da rua e das redes
sociais pelos alunos; para substituir o ensino da matemática (pretensamente)
“universal” (mas na verdade “branca”) pelo da “etnomatemática” (isto é, a
matemática correspondente a cada grupo étnico ou cultural); e para aceitar que
a sintaxe rudimentar, o vocabulário curto e dominado pelo calão e o abuso da
muleta “tipo” (“like”, nos anglófonos), com que tentam disfarçar a atroz
insuficiência da sua expressão oral, são inerentes à subcultura juvenil (e ao
seu meio social e étnico) e não devem ser alvo de correcções em nome de uma
norma erudita e castradora.
Paul Feyerabend (1924-1994)
No artigo “How to defend society against science”, publicado, no mesmo ano
de Against method, na
revista Radical Philosophy,
Feyerabend afirma pretender “defender a sociedade e os seus membros de todas as
ideologias, incluindo a ciência. Todas as ideologias devem ser vistas em perspectiva.
Não devemos tomá-las muito a sério. Devemos lê-las como contos de fadas, que
contêm muitas coisas interessantes, mas também albergam mentiras malévolas”. Neste artigo, Feyerabend
lamenta que a ciência desfrute de um estatuto que a coloca acima das críticas: “Os juízos dos cientistas são
hoje recebidos com a mesma reverência que, há não muito tempo, acolhia os
juízos dos bispos e cardeais […] A ciência tornou-se hoje tão opressiva como as
ideologias que ela, em tempos, teve de defrontar. Não se deixem iludir pelo
facto de, nos nossos dias, ninguém ser executado por aderir a uma heresia
científica. Isto nada tem a ver com a ciência em si mesma; resulta sim das
características gerais da presente civilização. Todavia, os hereges da ciência
estão sujeitos às mais severas punições que esta civilização relativamente
tolerante tem para oferecer”, um trecho que
certamente merecerá a entusiástica aprovação das seitas conspiracionistas que
hoje florescem nas margens da Cloaca Maxima das redes
sociais (como sejam, por exemplo,
os antivaxxers). Feyerabend conclui o artigo com “três vivas aos fundamentalistas da Califórnia
que lograram que uma formulação dogmática da teoria da evolução fosse removida
de um manual escolar e fosse nele incluída o relato do Génesis”.
Não há
qualquer dúvida de que Feyerabend é santo padroeiro, não só da Igreja Woke,
como dos sandeus das mais variadas inclinações que pululam pelo vasto mundo –
mesmo que nunca tenham ouvido falar do filósofo austríaco e nunca tenham lido
um livro, de filosofia ou outro assunto, em toda a sua vida.
A universidade ainda é a “casa
da razão”?
Sejam quais forem
os contributos dos diferentes pensadores para a génese das ideias woke, é
indiscutível, segundo Braunstein, que estas “se desenvolveram antes de mais nas
universidades […] Actualmente, a universidade está a fabricar a sua própria
religião. O
conteúdo da doutrina woke, quer se trate da teoria de género, da teoria crítica
da raça ou da interseccionalidade, são ‘estudos’ de todo o tipo, que se
converteram no âmago das actividades universitárias actuais, e as velhas
‘disciplinas’ cedem-lhes progressivamente o lugar” (pg. 38). Claro que, uma vez que o meio
está dominado pelo unanimismo e os pressupostos estão fixados – qualquer estudo
de raça, por exemplo, tem de assumir que o racismo é “sistémico” – os
resultados estarão necessariamente em sintonia com os dogmas; ou seja, os
“estudos” limitam-se a “[validar] escolhas militantes feitas previamente” (pg.
39).
A origem universitária da religião woke torna “extremamente difícil propor uma crítica científica da mesma,
considerando que esta nasceu no seio da própria instituição que se encarregou,
depois do Iluminismo, de defender a ciência contra as usurpações do pensamento
religioso” (pg. 39). Neste trecho de Braunstein ouve-se um eco do alerta lançado por Allan Bloom em A destruição do
espírito americano, em 1987: “considerando
que, mais do que qualquer outra nação do passado, as nações modernas se
fundaram nos vários usos da razão […], ter uma crise na universidade, a casa da
razão, é talvez a crise mais profunda que [aquelas] podem enfrentar” (ver Platão,
Nietzsche e Mick Jagger: Entre guerras culturais e crises civilizacionais). Douglas Murray,
outro tenaz opositor do wokismo fez, em 2019, denúncia similar em A
insanidade das massas: Como a opinião e a histeria envenenam a nossa
sociedade, obra várias vezes citada por Braunstein: “O
objectivo de largas secções da academia deixou de ser a exploração, a
descoberta ou a disseminação da verdade. O objectivo tornou-se, pelo contrário,
a criação, promoção e propagandização de uma marca peculiar de política” (ver Como
a “identidade” se converte em dogma e cegueira).
Selina Todd, historiadora com
relevante obra sobre a classe trabalhadora e o papel e os direitos das mulheres, faz
parte do número crescente de professores universitários e intelectuais que têm
sido alvo de ameaças e boicotes pela parte do wokismo – a ponto de a
Universidade de Oxford, onde lecciona, contratar seguranças para a proteger. Tudo isto por Todd ser, alegadamente,
“transfóbica”, ou
seja, por ter denunciado publicamente algumas teorias woke na área transgénero
como “tendenciosas e anticientíficas”
O filósofo americano Peter Boghossian sintetizou a origem
universitária da religião woke, no
artigo “Idea laundering in academy”, publicado no Wall Street
Journal de 24.11.2019, de que Braunstein
cita apenas uma linha, mas que tem vários trechos dignos de serem reproduzidos,
como este: “Cis-género, ‘fat shaming’,
‘heteronormatividade’, ‘interseccionalidade’, ‘cultura de violação’,
‘patriarcado’ e ‘branquitude’ […] Se ouvimos falar destes termos foi porque foram
desenvolvidos ao longo de mais de 30 anos por académicos politicamente
engajados e têm andado a infiltrar-se durante todo este tempo. Só recentemente
começaram a emergir na cultura de massas. Os académicos lograram este feito ao
impingirem as suas ideias como conhecimento; ou seja, como se estes termos
descrevessem factualmente o mundo e a realidade social. Ora, ainda que algumas
destas ideias contenham elementos de verdade, elas não são científicas. São,
essencialmente, ruminações de ideólogos”.
Braunstein descreve assim a rápida difusão do wokismo no mundo exterior à academia: “Esta origem
universitária da religião woke tem outra consequência […]: na medida em que as
nossas sociedades se tornaram em ‘sociedades do conhecimento’, a conversão das
universidades à religião woke faz com que esta se tenha muito rapidamente
disseminado no conjunto da sociedade. As consequências são já muito
perceptíveis nos professores do ensino primário e secundário, nas redes sociais
e nas indústrias culturais, mas também nas empresas e, em primeiro lugar nas
GAFAM [Google/Alphabet, Apple, Facebook/Meta, Amazon, Microsoft], que difundem
com fervor esta nova religião” (pg. 40). Para mais, dada a sua génese, a religião woke preserva
muitos dos defeitos e enviesamentos inerentes à instituição universitária
(alguns dos quais foram abordados em Ensino
superior e investigação: Há uma fuga de cérebros no país dos senhores doutores?, Ensino
superior e investigação: A miragem das pós-graduações e Ensino
superior e investigação: Dentro da torre de marfim): “as suas querelas e a sua faceta burocrática, a sua
falta de largueza de perspectivas, o seu farisaísmo”; soma-se a isto a
tendência dos “‘eleitos’ woke [para conservarem] da sua formação universitária,
neste ou naquele ‘estudo’ ultra-especializado, um complexo de superioridade
frequentemente deslocado” (pg. 41).
Nota: este é o primeiro de quatro artigos sobre A religião woke.
No próximo, abordar-se-á o papel das redes sociais na propagação e
radicalização do wokismo.
(o autor escreve segundo a
antiga ortografia)
COMENTÁRIOS (de 19)
João Floriano >José B. Dias: O
tema interessa-me e muito. Também vou ler. é curioso como as universidades estão
para o wokismo como as madrassas estão para a jihad. O mesmo fanatismo. O
cancelamento intelectual nos primeiros e com derramamento de sangue nos
segundos. Jose
Almeida: Muito obrigado por este food for thought.
O wokismo parece começar por um
certo relativismo em que tudo pode ser (metarealidade), mas depois parte para
uma espécie de quase nihilismo dogmático em que o conhecimento tal como era
entendido na sociedade moderna (pós-medieval) é negado - e mesmo
"cancelado". Esse conhecimento suportava-se
e era gerado no método científico que, em si mesmo, o limita - o conhecimento
científico nunca é absoluto: o que se prova é a falácia de hipóteses
alternativas. O woke impõe a aceitação de algumas dessas hipóteses
alternativas, em alguns casos, cuja inaplicabilidade até já foi demonstrada
através do método científico. Algumas dessas hipóteses aceites/impostas pela
teoria/religião woke até são contraditórias entre si. Para o woke isso não é
sequer um paradoxo - a religião woke nem a lógica aceita: a lógica, para o
woke, não é mais que uma (das muitas) construção artificial das sociedades
dominadoras (de outrora). Esta não aceitação da lógica e
da dialéctica impede qualquer tipo de debate com o woke que permita
aproximar-se ao conhecimento - isso não preocupa o woke, para ele não há
conhecimento, não há verdade, não há realidade. Quando muito há uns quantos
dogmas que negam conhecimentos científicos anteriormente aceites que o woke
considera artificiais, falsos e impostos por essas sociedades dominadoras do
passado. O incrível é como é que uma teoria tão obscurantista pode ter sido tão
aceite (aparentemente) nos meios universitários. Talvez o livro explique isto. Gaspar
Queiroz: "os conservadores apropriaram-se do
termo e conferiram-lhe conotação negativa"? A mesma ideologia inicial, mas
que passa a ser usada para oprimir, silenciar, impedir as diferencas e eliminar
a tolerância. Ninguém se apropriou do termo, este passou foi a ser usado, pela
mesma esquerda, como poder sobre as pessoas. Pertinaz O movimento woke começou pelas universidades,
como viveiro de divulgação privilegiada. Infelizmente a academia está cada vez
mais refém de mentes vazias, quando devia ser o contrário. A violência será o
passo seguinte (ver as acções da escumalha climaximo) e finalmente culminará em
ditaduras. Reparemo-nos para resistir a essa escumalha de esquerda…!!! Lupus Maris: Cá está um excelente artigo. Muitos jornalistas do Observador deviam ter este
critério, sendo certo que não terão capacidade para um texto desta qualidade. João Eduardo > Gata Wokismo:
da Universidade para o Mundo, e do Mundo para o Lixo. unknown
unknown: Fantástico artigo sobre este livro.
Parabéns. José B. Dias: Estou a ler e recomendo a quem o tema interessar. J. Costa O wokismo está a tornar-se no novo fascismo, onde a
bem da nação ( neste caso mundo) tudo pode ser cancelado, começando pelas
restrições da liberdade de expressão e continuando no cancelamento de todos os
que pensam fora da caixa. O wokismo quer impor as suas ideologias sem aceitar o
contraditório.
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