sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Conclusão do texto anterior


Um estudo precioso, de seriedade e rigor, com criterioso sentido de humor, de JOSÉ CARLOS FERNANDES. Para reler e considerar quanto o “atitudismo” woke implica uma sociedade hedonista, acorrentada ao prazer de viver sem responsabilidade, obcecada pelo aparelhozinho manual dos seus contactos mundanos, para mais invadida por povos que se multiplicam sem regras, e que procuram impor-se, pelo número, expulsando os naturais desatentos, sendo nisso ajudados pelos naturais das empatias - piedosos para com esses – os invasores, rigorosos para com os seus - os invadidos, a anarquia sendo o supra sumo das actuais exigências vitais – ou virais, como também se lhes poderá chamar, democraticamente considerando.

O wokismo. A ideologia que nasceu na universidade para se espalhar pelo mundo

OBSERVADOR, 01 nov. 2023, 10:1919

JOSÉ CARLOS FERNANDES: Texto

Sem receio de ser polémico ou ofender sensibilidades, Jean-François Braunstein analisa em "A Religião Woke" uma ideologia que começou como "excentricidade académica" para "varrer o mundo ocidental".

Índice

De olhos bem abertos

Puritanos sem Deus

O wokismo é filho do pós-estruturalismo?

Por uma “antibiologia ginocêntrica”

A ciência como conto de fadas

A universidade ainda é a “casa da razão”?

………………….

Roland Barthes (1915-1980), figura proeminente da French Theory

Embriagados por estas “liberdades”, alguns pós-estruturalistas atiraram o rigor intelectual às urtigas e devotaram-se à produção de ruminações sob cuja retórica retorcida, tom assertivo e prosa deliberadamente obscura se ocultava o mais absoluto vácuo. Esta voga instaurou nas ciências sociais e humanidades um clima de “anything goes”, que levou o matemático e físico Alan Sokal a denunciar a proliferação impune de disparates pseudocientíficos forjando um artigo deliberadamente tolo, vazio e estrategicamente polvilhado com clichés de sabor desconstrucionista – afirmava, por exemplo, que “está a tornar-se cada vez mais evidente que a ‘realidade’ física [é, fundamentalmente] uma construção social e linguística” e que a investigação científica “não pode reivindicar um estatuto epistemológico privilegiado face às narrativas contra-hegemónicas que emanam das comunidades dissidentes ou marginalizadas”, e apelava ao desenvolvimento de uma “ciência libertadora” e de uma “matemática emancipatória” que providenciassem “um poderoso apoio intelectual a um projecto político progressista. O artigo, com o abstruso título “Transgressing the boundaries: Towards a transformative hermeneutics of quantum gravity”, passou praticamente intacto pela “revisão pelos pares” e foi publicado em 1996 (e não em 1966, como se indica, por engano, na pg. 44) pela revista Social Studies. O escândalo que se seguiu à exposição da fraude por Sokal não foi suficiente para que os editores da Social Studies admitissem a sua falta de rigor e discernimento e o seu enviesamento ideológico (pelo contrário, apresentaram desculpas esfarrapadas e acusaram Sokal de comportamento pouco ético), nem para reverter ou mitigar a corrosão das ciências sociais e das humanidades pelo pós-estruturalismo e suas tóxicas derivações, como teriam oportunidade de demonstrar, em 2018, três académicos que, na peugada de Sokal, forjaram e enviaram “para revistas científicas, especializadas em estudos de genderqueer e outros fat studies, uma série de 20 artigos, delirantes e eticamente chocantes”, a fim de “testar as reacções das comissões de leitura destas revistas” (pg. 44).

Em síntese, na sua refutação da filiação do wokismo no pós-estruturalismo, Braunstein deixa por contabilizar a elevada probabilidade de os raciocínios pouco vigiados, a logorreia críptica e a ideia de que os factos não existem e tudo é narrativa (e, logo, todas as opiniões se equivalem), que são típicas do pós-estruturalismo, terem contribuído decisivamente para gerar a “epistemologia do ponto de vista” e o desprezo do movimento woke pela racionalidade, pela objectividade e pela ciência.

Michel Foucault (1926-1984), outro dos papas da French Theory

Por uma “antibiologia ginocêntrica”

A epistemologia do ponto de vista (“standpoint epistemology”), também designada como “conhecimento situado” (“situated knowledge”, termo cunhado em 1988 por Donna Haraway, feminista, especialista em história da ciência e pioneira do wokismo), parte do princípio de que toda a produção de conhecimento está inquinada pela subjectividade de quem o produz (nomeadamente pela sua identidade social) e reflecte as condições em que foi produzido. E como a produção de conhecimento foi, durante séculos, uma coutada exclusiva do cis-heteropatriarcado branco imperialista e colonialista, aquilo que passa por ciência e objectividade mais não será do que uma criação perversa destinada a justificar o poder e os privilégios dessa elite.

O wokismo propõe-se libertar a ciência deste viés secular e “empoderar” os grupos tradicionalmente oprimidos e Braunstein oferece um vislumbre do espantoso chorrilho de tolices, propostas e exigências que têm sido feitas a coberto deste desiderato. Thierry Hoquet, por exemplo, proclamou que “a biologia enviesa-nos. Patriarcal, compraz-se no androcentrismo e no heterossexismo, duas doenças de que deve ser curada, caso contrário está condenada a falhar quando fala das mulheres” e apelou à criação de uma “antibiologia ginocêntrica, matriarcal ou homossexual” (pg. 140). “Chandra K. Raju, professor universitário indiano e vice-presidente da Academia Indiana das Ciências Sociais, explica que, para se descolonizar verdadeiramente a ciência, é preciso pôr em causa a sua objectividade e universalidade” (pg. 147). Linda Nordling, pleiteando por uma “ciência africana”, afirmou ser preciso “desmantelar a hegemonia dos valores europeus e dar lugar à filosofia e às tradições locais que os colonos puseram de lado” (pg. 147-48).

Este tipo de ideias tem vingado nas universidades e tem ganho contornos inquietantes – como escreve Braunstein, “não é apenas um snobismo passageiro e sem consequências. Defrontamo-nos com militantes que se entusiasmam pela sua causa. Não são professores universitários, mas sim combatentes ao serviço de uma ideologia que dá sentido à sua vida”. Braunstein compara os militantes woke mais radicais aos “guardas vermelhos chineses durante a Revolução Cultural” e recorda a resposta dada por um deles a Brett Weinstein, um professor do Evergreen State College (em Olympia, estado de Washington, EUA), que, durante os desacatos de inspiração woke que assolaram aquela universidade em 2017, tentou chamar os estudantes “amotinados” à razão: “Pára de argumentar, a lógica é racista”.

Manual escolar chinês, 1971: Jovens Guardas Vermelhos zelam fervorosamente pela ortodoxia das palavras e do pensamento

Seria ingénuo pensar que a epistemologia do ponto de vista seria uma perspectiva tão esdrúxula e tão afastada da realidade que apenas poderia medrar na estufa dos departamentos de estudos africanos ou de estudos de género. A verdade é que ela foi alastrando pelo meio académico e está hoje a infiltrar-se em variadas áreas de conhecimento e a implantar-se na linguagem e na mundividência de boa parte da sociedade.

A ciência como conto de fadas

Braunstein debruça-se sobre os ideólogos pioneiros que, a partir do final da década de 1980, contribuíram para fomentar a epistemologia do ponto de vista, como Donna Haraway (n.1944), Sandra Harding (n.1935), Patricia Hill Collins (n.1948) e Helen Longino (n.1944). Dá também atenção aos activistas woke que floresceram no século XXI, como Robin DiAngelo (n.1956) e Ibram X. Kendi (n.1982), que denunciam a falácia do conceito de objectividade, “uma crença […] associada ao posicionamento dos brancos fora de qualquer cultura […] [e que] permite que os brancos se considerem seres humanos universais que podem representar toda a experiência humana” (segundo DiAngelo). Porém, Braunstein deixa de fora um pensador que prefigura claramente muitas das “teorias” e posições defendidas pelo movimento woke, no domínio da epistemologia do ponto de vista e da oposição objectividade vs. subjectividade e “saberes situados” vs. ciência: o filósofo austríaco Paul Feyerabend (1924-1994), pai do relativismo epistemológico (ver capítulo “A cada um a sua verdade” em George Santos, a verdade da mentira e a política no século XXI). A obra mais conhecida e influente de Feyerabend, Against method: Outline of an anarchistic theory of knowledge (Contra o método: Esboço de uma teoria anarquista do conhecimento), publicada em 1975 pela New Left Books, pode ser vista como estando para a ciência e para o conhecimento como Mein Kampf está para a política.

Em Against method, Feyerabend defende que “numa democracia, as instituições científicas e os programas de investigação devem ser submetidos ao controlo do público; deve existir uma separação entre Estado e ciência tal como existe entre Estado e instituições religiosas, e a ciência deve ser ensinada como apenas uma perspectiva entre muitas outras e não como a única via para a verdade e para a realidade” e exorta a que todos, “peritos e leigos, profissionais e diletantes, obcecados com a verdade e mentirosos”, sejam convidados a contribuir para a produção de conhecimento não-dogmático e para “o enriquecimento da nossa cultura”. Os cientistas não gozarão, nesta “comissão alargada”, de uma posição de privilégio e autoridade:A tarefa do cientista já não é ‘a busca da verdade’, ‘exaltar Deus’, ‘sintetizar observações’ ou ‘fornecer predições mais exactas’. Estes são apenas efeitos colaterais de uma actividade cujo principal foco passará a ser ‘dar força ao argumento mais fraco’” (presume-se daqui que os investigadores em farmacologia deverão colocar em segundo plano o desenvolvimento de novas moléculas para combater o cancro e concentrar esforços em encontrar argumentos em apoio da homeopatia e dos florais de Bach).

Em contraponto ao “método científico”, Feyerabend propõe uma “metodologia pluralista”, em que “[o cientista] deve comparar ideias com outras ideias, em vez de as cotejar com resultados experimentais, e as teorias que ficaram para trás na competição, devem ser, não descartadas, mas aperfeiçoadas. Desta forma, [o cientista] recuperará as teorias sobre o homem e o cosmos que se encontram no Génesis ou no Poimandres [um dos 14 tratados do Corpus Hermeticum, uma colecção de escritos esotéricos de pendor teológico-filosófico dos séculos I-III d.C.], irá desenvolvê-las e usá-las para aferir o sucesso da [teoria da] evolução e de outras perspectivas ‘modernas’. Poderá, então, concluir que a teoria da evolução não é tão boa como tem sido assumido e que terá de ser complementada, ou integralmente substituída, por uma versão melhorada do Génesis”. O conhecimento deixa, assim, de ser, “uma série de teorias autoconsistentes que convergem para uma visão ideal, nem uma aproximação gradual à verdade. É antes um oceano em permanente expansão de alternativas mutuamente incompatíveis e em que cada teoria, cada conto de fadas, cada mito que dele faz parte induz os restantes a articularem-se melhor, e em que o todo, através deste processo competitivo, contribui para o desenvolvimento da nossa consciência. Nada ficará, alguma vez, estabelecido e nenhuma perspectiva será, alguma fez, excluída da visão global” (impõe-se, portanto, que a comunidade científica peça perdão por ignorar ou ridicularizar os terraplanistas e passe a convidá-los a apresentar comunicações nos congressos de geografia, astronomia e cosmologia).

Ao longo de Against method é várias vezes repetida a ideia de que “uma ciência que insiste em reivindicar possuir o único método correcto e os únicos resultados credíveis é uma ideologia e, como tal, deverá ser separada do Estado e, em particular, do sistema educativo”. Feyerabend, falecido em 1994, gostaria certamente de saber que hoje, um pouco por todo o mundo ocidental, se multiplicam as escolas disponíveis para acolher os “saberes” trazidos de casa, da rua e das redes sociais pelos alunos; para substituir o ensino da matemática (pretensamente) “universal” (mas na verdade “branca”) pelo da “etnomatemática” (isto é, a matemática correspondente a cada grupo étnico ou cultural); e para aceitar que a sintaxe rudimentar, o vocabulário curto e dominado pelo calão e o abuso da muleta “tipo” (“like”, nos anglófonos), com que tentam disfarçar a atroz insuficiência da sua expressão oral, são inerentes à subcultura juvenil (e ao seu meio social e étnico) e não devem ser alvo de correcções em nome de uma norma erudita e castradora.

Paul Feyerabend (1924-1994)

No artigo “How to defend society against science”, publicado, no mesmo ano de Against method, na revista Radical Philosophy, Feyerabend afirma pretender “defender a sociedade e os seus membros de todas as ideologias, incluindo a ciência. Todas as ideologias devem ser vistas em perspectiva. Não devemos tomá-las muito a sério. Devemos lê-las como contos de fadas, que contêm muitas coisas interessantes, mas também albergam mentiras malévolas”. Neste artigo, Feyerabend lamenta que a ciência desfrute de um estatuto que a coloca acima das críticas:Os juízos dos cientistas são hoje recebidos com a mesma reverência que, há não muito tempo, acolhia os juízos dos bispos e cardeais […] A ciência tornou-se hoje tão opressiva como as ideologias que ela, em tempos, teve de defrontar. Não se deixem iludir pelo facto de, nos nossos dias, ninguém ser executado por aderir a uma heresia científica. Isto nada tem a ver com a ciência em si mesma; resulta sim das características gerais da presente civilização. Todavia, os hereges da ciência estão sujeitos às mais severas punições que esta civilização relativamente tolerante tem para oferecer”, um trecho que certamente merecerá a entusiástica aprovação das seitas conspiracionistas que hoje florescem nas margens da Cloaca Maxima das redes sociais (como sejam, por exemplo, os antivaxxers). Feyerabend conclui o artigo com “três vivas aos fundamentalistas da Califórnia que lograram que uma formulação dogmática da teoria da evolução fosse removida de um manual escolar e fosse nele incluída o relato do Génesis”.

Não há qualquer dúvida de que Feyerabend é santo padroeiro, não só da Igreja Woke, como dos sandeus das mais variadas inclinações que pululam pelo vasto mundo – mesmo que nunca tenham ouvido falar do filósofo austríaco e nunca tenham lido um livro, de filosofia ou outro assunto, em toda a sua vida.

A universidade ainda é a “casa da razão”?

Sejam quais forem os contributos dos diferentes pensadores para a génese das ideias woke, é indiscutível, segundo Braunstein, que estas “se desenvolveram antes de mais nas universidades […] Actualmente, a universidade está a fabricar a sua própria religião. O conteúdo da doutrina woke, quer se trate da teoria de género, da teoria crítica da raça ou da interseccionalidade, são ‘estudos’ de todo o tipo, que se converteram no âmago das actividades universitárias actuais, e as velhas ‘disciplinas’ cedem-lhes progressivamente o lugar” (pg. 38). Claro que, uma vez que o meio está dominado pelo unanimismo e os pressupostos estão fixados – qualquer estudo de raça, por exemplo, tem de assumir que o racismo é “sistémico” – os resultados estarão necessariamente em sintonia com os dogmas; ou seja, os “estudos” limitam-se a “[validar] escolhas militantes feitas previamente” (pg. 39).

A origem universitária da religião woke torna “extremamente difícil propor uma crítica científica da mesma, considerando que esta nasceu no seio da própria instituição que se encarregou, depois do Iluminismo, de defender a ciência contra as usurpações do pensamento religioso” (pg. 39). Neste trecho de Braunstein ouve-se um eco do alerta lançado por Allan Bloom em A destruição do espírito americano, em 1987: “considerando que, mais do que qualquer outra nação do passado, as nações modernas se fundaram nos vários usos da razão […], ter uma crise na universidade, a casa da razão, é talvez a crise mais profunda que [aquelas] podem enfrentar(ver Platão, Nietzsche e Mick Jagger: Entre guerras culturais e crises civilizacionais). Douglas Murray, outro tenaz opositor do wokismo fez, em 2019, denúncia similar em A insanidade das massas: Como a opinião e a histeria envenenam a nossa sociedade, obra várias vezes citada por Braunstein: “O objectivo de largas secções da academia deixou de ser a exploração, a descoberta ou a disseminação da verdade. O objectivo tornou-se, pelo contrário, a criação, promoção e propagandização de uma marca peculiar de política(ver Como a “identidade” se converte em dogma e cegueira).

Selina Todd, historiadora com relevante obra sobre a classe trabalhadora e o papel e os direitos das mulheres, faz parte do número crescente de professores universitários e intelectuais que têm sido alvo de ameaças e boicotes pela parte do wokismo – a ponto de a Universidade de Oxford, onde lecciona, contratar seguranças para a proteger. Tudo isto por Todd ser, alegadamente, “transfóbica”, ou seja, por ter denunciado publicamente algumas teorias woke na área transgénero como “tendenciosas e anticientíficas

O filósofo americano Peter Boghossian sintetizou a origem universitária da religião wokeno artigo “Idea laundering in academy”, publicado no Wall Street Journal de 24.11.2019, de que Braunstein cita apenas uma linha, mas que tem vários trechos dignos de serem reproduzidos, como este: “Cis-género, ‘fat shaming’, ‘heteronormatividade’, ‘interseccionalidade’, ‘cultura de violação’, ‘patriarcado’ e ‘branquitude’ […] Se ouvimos falar destes termos foi porque foram desenvolvidos ao longo de mais de 30 anos por académicos politicamente engajados e têm andado a infiltrar-se durante todo este tempo. Só recentemente começaram a emergir na cultura de massas. Os académicos lograram este feito ao impingirem as suas ideias como conhecimento; ou seja, como se estes termos descrevessem factualmente o mundo e a realidade social. Ora, ainda que algumas destas ideias contenham elementos de verdade, elas não são científicas. São, essencialmente, ruminações de ideólogos”.

Braunstein descreve assim a rápida difusão do wokismo no mundo exterior à academia: “Esta origem universitária da religião woke tem outra consequência […]: na medida em que as nossas sociedades se tornaram em ‘sociedades do conhecimento’, a conversão das universidades à religião woke faz com que esta se tenha muito rapidamente disseminado no conjunto da sociedade. As consequências são já muito perceptíveis nos professores do ensino primário e secundário, nas redes sociais e nas indústrias culturais, mas também nas empresas e, em primeiro lugar nas GAFAM [Google/Alphabet, Apple, Facebook/Meta, Amazon, Microsoft], que difundem com fervor esta nova religião” (pg. 40). Para mais, dada a sua génese, a religião woke preserva muitos dos defeitos e enviesamentos inerentes à instituição universitária (alguns dos quais foram abordados em Ensino superior e investigação: Há uma fuga de cérebros no país dos senhores doutores?Ensino superior e investigação: A miragem das pós-graduações e Ensino superior e investigação: Dentro da torre de marfim):as suas querelas e a sua faceta burocrática, a sua falta de largueza de perspectivas, o seu farisaísmo”; soma-se a isto a tendência dos “‘eleitos’ woke [para conservarem] da sua formação universitária, neste ou naquele ‘estudo’ ultra-especializado, um complexo de superioridade frequentemente deslocado” (pg. 41).

Nota: este é o primeiro de quatro artigos sobre A religião woke. No próximo, abordar-se-á o papel das redes sociais na propagação e radicalização do wokismo.

(o autor escreve segundo a antiga ortografia)

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COMENTÁRIOS (de 19)

João Floriano >José B. Dias: O tema interessa-me e muito. Também vou ler. é curioso como as universidades estão para o wokismo como as madrassas estão para a jihad. O mesmo fanatismo. O cancelamento intelectual nos primeiros e com derramamento de sangue nos segundos.                       Jose Almeida: Muito obrigado por este food for thought. O wokismo parece começar por um certo relativismo em que tudo pode ser (metarealidade), mas depois parte para uma espécie de quase nihilismo dogmático em que o conhecimento tal como era entendido na sociedade moderna (pós-medieval) é negado - e mesmo "cancelado". Esse conhecimento suportava-se e era gerado no método científico que, em si mesmo, o limita - o conhecimento científico nunca é absoluto: o que se prova é a falácia de hipóteses alternativas. O woke impõe a aceitação de algumas dessas hipóteses alternativas, em alguns casos, cuja inaplicabilidade até já foi demonstrada através do método científico. Algumas dessas hipóteses aceites/impostas pela teoria/religião woke até são contraditórias entre si. Para o woke isso não é sequer um paradoxo - a religião woke nem a lógica aceita: a lógica, para o woke, não é mais que uma (das muitas) construção artificial das sociedades dominadoras (de outrora). Esta não aceitação da lógica e da dialéctica impede qualquer tipo de debate com o woke que permita aproximar-se ao conhecimento - isso não preocupa o woke, para ele não há conhecimento, não há verdade, não há realidade. Quando muito há uns quantos dogmas que negam conhecimentos científicos anteriormente aceites que o woke considera artificiais, falsos e impostos por essas sociedades dominadoras do passado. O incrível é como é que uma teoria tão obscurantista pode ter sido tão aceite (aparentemente) nos meios universitários. Talvez o livro explique isto.             Gaspar Queiroz:  "os conservadores apropriaram-se do termo e conferiram-lhe conotação negativa"? A mesma ideologia inicial, mas que passa a ser usada para oprimir, silenciar, impedir as diferencas e eliminar a tolerância. Ninguém se apropriou do termo, este passou foi a ser usado, pela mesma esquerda, como poder sobre as pessoas. Pertinaz O movimento woke começou pelas universidades, como viveiro de divulgação privilegiada. Infelizmente a academia está cada vez mais refém de mentes vazias, quando devia ser o contrário. A violência será o passo seguinte (ver as acções da escumalha climaximo) e finalmente culminará em ditaduras. Reparemo-nos para resistir a essa escumalha de esquerda…!!!                      Lupus Maris: Cá está um excelente artigo. Muitos jornalistas do Observador deviam ter este critério, sendo certo que não terão capacidade para um texto desta qualidade.                    João Eduardo  > Gata Wokismo: da Universidade para o Mundo, e do Mundo para o Lixo.                    unknown unknown: Fantástico artigo sobre este livro. Parabéns.                 José B. Dias: Estou a ler e recomendo a quem o tema interessar.                  J. Costa O wokismo está a tornar-se no novo fascismo, onde a bem da nação ( neste caso mundo) tudo pode ser cancelado, começando pelas restrições da liberdade de expressão e continuando no cancelamento de todos os que pensam fora da caixa. O wokismo quer impor as suas ideologias sem aceitar o contraditório.  

 

 

 

 

 

 

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