Nestas hipocrisias com inícios
pedantemente desenvoltos, daqueles tempos do escol literário francês, mais ou
menos seguidor dos comparsas marxistas, que por cá se proibiam, de
existencialismo culturalmente aceite, a dar gabarito aos nossos ledores de
então, e que hoje caminha, pelo menos entre nós, no seu plebeísmo democrático e
repetitivo, em aparência de generosidade beata, de voz contidamente sombria, ao
estilo das Marianas Mortáguas difundindo os seus espectáculos de reivindicações
sérias e pausadas, demonstrativas de bons sentimentos, ou mesmo de vozes mais
raivosamente sonoras impregnadas de acusações contra as direitas de preceitos
convencionais.
Jaime Nogueira Pinto é daqueles
seres preocupados, que nos esclarece com o seu saber sem ilusões. E só tenho
pena que se não lance nesse “precipício” de governar “com decência” este país
“ingovernável” – o Homem certo no momento incerto. Mas… pobre dele se
o fizesse, e pobres de nós que perderíamos, talvez, estas suas crónicas de
excelência orientadora.
O único “perigo para a democracia”
É com o “perigo da extrema-direita”
que o manto diáfano da propaganda vai tentar ocultar os males endémicos do
regime.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 18 nov. 2023, 00:2056
É
perfeitamente natural que o alarme, por estes dias, à volta do “perigo da
direita radical” não se faça acompanhar de um alarme equivalente à volta do
“perigo da esquerda radical”. Até porque, como é sabido, a Esquerda é
sempre democrática, frequentável e coligável, e nunca “exacerbada”, “radical”
ou “perigosa”. Já a Direita que não seja “moderada” (qualificação que só obtém
quando se porta bem e jura solenemente não transpor as “linhas vermelhas” que
lhe traça a Esquerda) é invariavelmente infrequentável, incoligável, “radical”,
“exacerbada”, enfim, um “perigo para a Democracia”.
Verdade e propaganda
No século XX, os regimes inspirados
pela Esquerda Radical excederam largamente em número de vítimas, em longevidade
e em galeria de horrores os inspirados pela Direita Radical. Mas parece que,
por um estranho fenómeno de esquecimento, a Esquerda é automaticamente
absolvida de todo e qualquer “crime contra a Humanidade”, alegando “recta
intenção”, argumentando que tais “excessos” fazem parte do caminho para que se
cumpram os seus generosos e imaculados ideais, ou que os “desvarios” são fruto
da acção de um ou outro líder transviado.
É bem conhecida, nesta matéria, a
justificação, na esquerda e à esquerda,
de uma ideologia idealista, revolucionária, igualitária e fraterna,
inesperadamente “traída” por Estaline, ou por Mao, ou por Pol Pot, ou por
Macias Ngema, homens com maus fígados e piores sentimentos, excepções, desvios,
enganos. Já Hitler e o hitlerismo, longe de
constituírem um desvio, uma excepção ou uma aberração, são, tão só, a expressão
acabada de toda a Direita, passada, presente e futura.
Raymond Aron, que morreu há 40 anos, foi um dos
pensadores que viu no comunismo uma “religião secular”; um cristianismo sem
transcendência, isto é, reduzido a uma prática política, económica e social de
igualdade e elevando ao rubro o pior da Igreja e das igrejas: a superioridade
moral, o fundamentalismo, a exercício inquisitorial e a aniquilação do “infiel”.
Aron foi um polemista militante e
combatente, liberto do respeito acrítico dos intelectuais da sua geração pelas
palavras sagradas “Esquerda”, “Revolução”, “Proletariado”. Dedicou-se à
desconstrução do comunismo e dos intelectuais comunistas, em obras como Les Marxismes
Imaginaires e L’Opium des Intelectuels, em que acusou os “mandarins” do seu
tempo, de que Sartre era o modelo, de absolverem, em nome do fim, todos os
crimes e horrores do comunismo – enquanto
surgiam, quais puritanas vestais, na primeira linha da denúncia de qualquer
violência à direita.
O fim do comunismo
O comunismo praticamente
desapareceu com a implosão da União Soviética e quando a China de Pequim, a
partir de Deng-Xiaoping, se tornou um nacional-capitalismo autoritário e de
direcção central. O que resta de regimes comunistas assumidos como tais – Cuba,
Venezuela, Coreia do Norte – são exemplos tão pouco recomendáveis que nem os
partidos comunistas que restam ousam gabá-los. Pelo menos os partidos comunistas
sobreviventes no Parlamento Europeu, cuja representação é hoje exígua: o
Partido Comunista Francês tem um deputado num grupo de 74; os Belgas têm um em
21; os checos, um em 21; os gregos, dois em 21; os portugueses, dois em 21 e os
espanhóis, dois em 54. Proporcionalmente, os mais bem colocados são os
cipriotas, que têm dois em seis.
Este
desastre da esquerda comunista explica-se pelo divórcio das classes
trabalhadoras a que as novas esquerdas têm vindo a condenar a Esquerda como um
todo. Estas esquerdas estão bem acantonadas na Academia e nos media,
impondo o seu pensamento como pensamento correcto e a sua retórica como
retórica oficial; e o Centro, o Centrão,
apressa-se a declarar como inimigo principal, não estas esquerdas
pós-comunistas, fracturantes, globalistas e decadentistas, não o estatismo
governamental, mas a direita nacional e popular, ou a direita
nacional-conservadora, para onde tendencialmente têm vindo a migrar as
negligenciadas classes trabalhadoras.
Direitas populares
É esta a direita que está a ganhar espaço na Europa e nas Américas,
a ponto de governar em países como a Itália e a Hungria e de ter uma presença
eleitoral poderosa em França, na Polónia, na Suécia, na Finlândia, em Espanha e
na Alemanha.
Os ideários destas direitas são
diferentes, como diferentes são os valores e tradições próprias de cada nação,
e a sua subida eleitoral nos últimos anos também tem razões diferentes ou
responde a diferentes conjunturas: nalguns casos, a imigração culturalmente
diferente, não controlada, com comunidades difíceis ou impossíveis de integrar
nas respectivas sociedades; noutros, como em Espanha, os separatismos; noutros
ainda, como em Portugal, o centrismo dos dirigentes da direita do regime, com a
ausência, ao fim de meio século de Terceira República, de um partido de direita
fora do centro; e em quase todos, a corrupção, o compadrio e o afastamento do
povo dos partidos do “arco da governação”.
Os seus inimigos e a generalidade
dos media acusam estes partidos de direita popular de “populismo”,
conceito que, geralmente, não se dão ao trabalho de explicar, mas que, pelos
vistos, no quadro maniqueísta em que se movem, não toca à Esquerda. “Populista” passa, assim, a ser sinónimo
de mau, eleitoralista, demagogo, anti-democrata, enfim, de perigoso para os
direitos e liberdades individuais e para a democracia.
Ora a verdade é que, ao contrário do que acontecia nas chamadas
“Democracias Populares” do pós-guerra, onde os comunistas, chegados ao poder,
já de lá não saíam, os partidos da Direita dita populista não têm acabado com a
Democracia: têm acedido ao poder por eleições e, quando as têm perdido, têm
saído do poder, como já aconteceu com os húngaros do Fidesz e voltou agora a
acontecer com os polacos do Lei e Justiça.
Portugal e o Futuro
Portugal é hoje o país mais à
esquerda da Europa. Dá-se, porém, a infelicidade de a crise com que tão
visivelmente se debate coincidir com os preparativos para a celebração do
meio-século do regime; celebração essa largamente subvencionada, assinalada e
acarinhada pelo poder e pelos partidos do sistema.
Aparentemente, a boa notícia é que, a
toldar a celebração, só há um mal, um único “perigo para democracia”: a
ascensão da “direita populista, radical e exacerbada”. É perante este
“perigo iminente” que empalidecem até à irrelevância os vários e sucessivos
episódios que tornam públicos e notórios os males endémicos do regime – a cumplicidade e corrupção da classe
política, a ausência de reformas estruturais, o colapso progressivo do Serviço
Nacional de Saúde, o estado da Educação, o aumento da pobreza real, moral e
ideológica, a passividade das oposições.
Assim, é com o “perigo da
extrema direita” que o manto diáfano da propaganda vai tentar
ocultar o resto. Mas poderá o resto ocultar-se?
Uma coisa é certa: o debate eleitoral entre “fascistas” e “corruptos”, promete ser tudo
menos edificante.
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA CULTURA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 56):
AdOB: A minha experiência europeia - que vale
o que vale - dita-me que, gato escaldado, de água quente tem medo. É o que
senti quando vi os Europeus do Leste preferirem ser chamados de nazis do que
comunistas; e o que vejo quando Europeus ocidentais preferem ser chamados de
comunas do que de nazis. O trauma mais recente é aquele que interessa. Não interessa
que a extrema-esquerda seja ainda mais brutal e que existe hoje, interessa a
memória e a cultura. O mundo não sabe o que é extrema-direita há mais de 50
anos mas conhece bem o que são gulags e a repressão comunista de hoje. Mas nada
faz, como se um gulag fosse melhor que um campo de concentração... pessoalmente,
preferiria morrer numa câmara de gás do que ser escravizado até morrer. Mas
isso sou eu. O nosso problema é que a repressão canhota passa-se longe,
enquanto a dextra subsiste como fantasma, etéreo mas bem mais marcante. Se é verdade o
que escreve, também me parece ser óbvio que é preciso Portugal passar por uma
ditadura de Esquerda para que realmente a possa rejeitar. Ou então, ser mais
educado e informado, algo que a Esquerda nunca o permitirá - como aliás vemos
pelos resultados da educação que piora sempre que a Esquerda está no poder.
Dado que ninguém no seu perfeito juízo quer uma ditadura comunista, esta guerra
cultural só se vai ganhar nos manuais escolares. A esquerda sabe disso. Quando
aprenderemos nós? Filipe
Paes de Vasconcellos: Mas o que mais me dói é ver o PSD, de que sou
militante desde sempre, completamente agachado perante o PS. Esta semana assisti
na SIC a um debate entre Miguel Morgado e Miguel Prata Roque, em que este
acusou a direita e o PSD de que no tempo de Passos Coelho do mal que se fazia
aos reformados e pensionistas de que transcrevo uma pequena parte: “Vocês estavam habituados em fazer sofrer as
pessoas… As pessoas
tremiam lá em casa sem saber o que ia acontecer aos pensionistas no mês
seguinte. Portanto é normal que vocês não tenham discurso.” Miguel Morgado
que até costuma ser contundente não teve a coragem de desmontar esta enormidade
de mentira, o mesmo se passando por exemplo com Leitão Amaro. Faltam muitos tomates à Direita, pois
enquanto a dita se preocupar mais com o que a esquerda diz dela do que ela tem
a dizer ao país, a esquerda vence. Será que a Direita para ganhar as eleições e
tirar de lá a maralha socialista precisa que se lhe faça um desenho? Arre!!! Rui Lima: « Argentina foi o país mais rico do
mundo « tinha um regime liberal e democrático, hoje é a miséria e o grande
drama na imprensa é que podem eleger amanhã um « Trump »
« extrema direita que concorre com um peronista. Estamos num mundo de
doidos então o grande drama não devia ser se os argentinos voltam a eleger um
peronista, ideologia que é a mãe da sua miséria ? Penso o mesmo de Portugal: o
dramático para o país é voltar a colocar no poder os socialistas, se for o
Chega não acredito que consiga fazer pior . O fundo de comércio da esquerda é
gritar pelo lobo da extrema direita quando não conheço na Europa um partido com
essa ideologia, hoje para ser chamado de extrema direita basta pedir um pequeno
controlo nas fronteiras, que é a única diferença de fundo entre todos
partidos, uns são pelas fronteiras abertas e outros querem saber quem entra . Hoje
há milhares de mesquitas em França com gente que vive separada dos valores da
República, estar contra tem alguma coisa a ver com extrema-direita e quando no
passado o líder o PCF Georges Marchais era radicalmente contra, destruindo
mesmo casas destinadas a refugiados do Mali , isso fez dele um homem de extrema
direita ? afonso
moreira: Excelente, como sempre. Poderemos, um
dia, ter uma reflexão dos 50 anos do 25 de Abril, sem receio das esquerdas? Já
nem falo da tragédia das populações de Angola, Moçambique e Guiné, mas o
abandono a que todo o nosso interior tem sido votado. Quem fala, pelos
poucos que ainda restam nas aldeias e vilas perdidas, onde a única coisa que
efectivamente têm é poderem falar livremente, só que em tantos casos já nem têm
com quem falar? Quem foram e continuam a ser os efectivamente ganhadores com
o 25 de Abril? Ninguém defende o "ó tempo volta para trás", mas a
esquerda nunca permitiu, nas escolas, na CS, etc, que se fizesse qualquer
reflexão sem complexos.
Maria Nunes: Excelente, como é
costume. As esquerdas têm uma máquina publicitária muito bem oleada, e a CS
domesticada. Somando um povo muito ignorante em relação à política, a muitos
interesses instalados e a uma abstenção enorme, faz com que seja fácil a
esquerda ganhar. Domingas
Coutinho: Parabéns! Isto é um verdadeiro tratado e desmonta com
lucidez e bem documentada a panaceia com que a esquerda, principalmente em
Portugal, nos ilude e tenta amedrontar, pois tem mais influência no nosso País
porque como dizia Eça de Queirós nos Maias “o povo não é mau mas é uma
cavalgadura”. João
Floriano: Excelente! Recomendo vivamente que se veja o Expresso
da Meia noite de ontem onde tiveram assento o CDS (a precisar que alguém lhe
empurre a cadeira de rodas e com muito medo de se apresentar sozinho às
legislativas), o PSD (através de um ex deputado!!! que nem sequer vinculava as
ideias do partido mas as suas a título individual), um empertigado Cotrim
do IL com PARVO! escrito na testa) e o representante do CHEGA que mal conseguia
falar e que foi o saco de pancada dos restantes. E claro que os moderadores
também ajudaram à festa. Usem esta crónica de Jaime Nogueira Pinto como mapa de
ideias e preparem-se para algumas surpresas a maior parte delas cómicas e
completamente irreais, sobretudo quando o ex deputado do PSD acha que o
resultado do partido com Montenegro à frente vai ser de à volta de 40%. Quanto
a Cotrim o que mais desagradavelmente me surpreendeu, quando as intenções de
voto no seu partido chegarem pelo menos a 10%, em vez de estarem em queda, aí
poderá ser grosseiro, mal educado e erguer a voz com um autoritarismo ridículo
que não lhe fica nada bem porque é preciso ter pé para dar coice. Além disso o
desidério de um partido político não é debitar teorias económicas mas aplicá-las
na prática, o que o IL está cada vez mais longe de conseguir, até porque
estão-se a colocar as fichas todas numa coligação CDS/PSD/IL, coligação
essa que precisa da autorização do CHEGA, e que esses três partidos não vão
conseguir aguentar por culpa própria, por culpa da esquerda que lhes fará a
vida num inferno e não pela direita «populista, racista, xenófoba e
incoligável.» João
Floriano > Glorioso
SLB: Unir-se, deixar de ser parva e aceitar o
óbvio.
Rui Lima > AdOB: Caro AdOB Posso confirmar
que é verdade o que diz tenho muitos amigos polacos para eles o mal supremo é o
comunismo, eles não compreendem que se tenha iniciado uma guerra para impedir
que os nazis os ocupassem para os deixar nas garras do Estaline. Hoje o
Ocidente faz o mesmo nos países muçulmanos derruba líderes autocráticos
mas racionais para deixar no poder fanáticos. João
Ramos: Jaime, só faltou referir uma coisa e que é, de uma
forma geral, a abjecta comunicação social, maioritariamente composta por gente
com pouca preparação, complexada de esquerda, pensando que esse facto os torna
inteligentes e já agora também referir uma população inculta que não sabe
pensar pela sua cabeça e que apenas se limita a beber o que a referida comunicação
social lhes mete na cabeça, de resto o artigo está perfeito como sempre !!! João
Floriano > Joaquim
Almeida: Está a referir-se à lei do parlamento europeu
para controlar as redes sociais? Não prestei atenção à posição do IL sobre o
assunto, se é que estamos a falar do mesmo. Lembro-me da intervenção de
Rui Tavares no sentido de fazer o que ele chamou uma higienização do discurso
político, tendo Jaime Nogueira Pinto respondido em conformidade. Fernando
Correia > Liberales
Semper Erexitque: Nazismo… Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães. É de direita?… e o Comunismo de que lado é?… Nazismo = Comunismo
Comunismo = 100 milhões de mortos Nazismo/Fascismo = 20 milhões de mortos.
Ignorante é a sua tia. Fernando
Correia > Liberales
Semper Erexitque: Baralhada deve estar a sua cabeça. Marxismo,
Leninismo, Estalinismo, Maoismo e outros… quantas mortes provocaram?… A URSS,
por ex., quantos países usurpou/invadiu?… Estaline não fez um pacto com
Hitler?… Descanse, tome os comprimidos e estude História… fazia-lhe bem. Joaquim Almeida
> Filipe Paes
de Vasconcellos: O Morgado, quando for para debate com um
esquerda, deve saber que eles são como o comunista analfabeto Lula -
dizem qualquer patacoada mentirosa que lhes venha à cabeça. Joaquim Almeida > João
Floriano: O deputado do PSD parece bem talhado
para, a propósito do PSD, escrever um artigo nos moldes da Isabel Moreira sobre
PNS. Cotrim não é aquele liberal que, por abstenção, votou a Carta
pidesca da censura? Joaquim
Almeida: Belo quadro, sereno, luminoso e
fiel. À atenção de "minus habens" tais como Montenegro e outros
do PSD. S Belo: Como sempre,
excelente! GateKeeper
> AdOB: No "dia de
S. Nunca à tarde, aprox. pelas 17h, hora do 5 o'clock tea. E como essa data
não está prevista para mais cedo do que tarde a brilhante
crónica do JNP é mais do que válida. Já aprendemos como FOI com a
"geringonça", como antes tínhamos já aprendido com a
"junta militar-civil" do "pzp" estalinista do
"vasco" e dos "suvs". Capisci?
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