Aqui, na crónica de ALBERTO GONÇALVES. Valerá a pena?
Este PS não faz falta à democracia
A acreditar nas sondagens, o PS
prepara-se para discutir as eleições na sequência de um governo que desabou sob
o peso de falcatruas e, presume-se, liderado por um sujeito com cabeça de
adolescente.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR,11 nov. 2023, 00:219
Não sei o que foi mais comovente, se
a queda do pior primeiro-ministro do regime fundado a 25 de Novembro de 1975,
se o coro de papagaios que se lhe seguiu, a tentar “explicar” a queda mediante
as tradicionais “cabalas”. O dr. Costa saiu tarde, finalmente enxovalhado após oito anos de enxovalhos
a que submeteu os portugueses. Os papagaios entraram cedo: passado o
desnorte inicial causado pela trágica demissão, já todos haviam recebido instruções sobre o que dizer nas “redes
sociais”, nos jornais, nas rádios e nas televisões. Como muitos crânios
não fazem um cérebro, e os avençados devem partilhar o grupo de Whatsapp, todos disseram o mesmo. Em
resumo, disseram que o Ministério Público (MP) perpetrou um golpe de Estado
para prejudicar um estadista sem rival na História Universal dos Estadistas,
pelo menos desde que o “eng.” Sócrates caiu em desgraça e na Ericeira.
Vale a pena atentar nos detalhes da estratégia. A propaganda do PS
consiste em isolar pormenores insignificantes do processo de modo a
ridicularizá-los e, de caminho, ridicularizar o processo inteiro. Os papagaios começaram pelo “parágrafo”,
incluído no comunicado à imprensa da PGR e que admitia o envolvimento do dr.
Costa nas trafulhices da eventual “start up” em Sines. Depois saltaram para o
haxixe encontrado em casa do ministro, e ex-blogger, Galamba. Por fim, sempre
cumprindo ordens, desataram a rir de triviais facturas de restaurante e do
carácter inofensivo de pedacinhos seleccionados das escutas.
O caso parece irrelevante? Parece.
Principalmente se, à semelhança da propaganda, esquecermos convenientemente o
resto, os inúmeros trambiques entretanto já divulgados para, além de outras
minudências, influenciar ao mais alto nível (ou baixíssimo, se formos
rigorosos) uma negociata de milhares de milhões perpetrada por uma
empresa com o currículo de uma comissão de festas – “Como no Freeport”, afirmou num telefonema o ex-blogger.
Perante um edifício em cinzas, os papagaios agarram num “passe-partout” pouco
chamuscado para “demonstrar” que não há indícios de incêndio. É
preciso uma espectacular dose de crendice para acreditar nos papagaios e na
propaganda do PS.
O problema é que crendice não falta. O PS
governou-nos, e governou-se, quase ininterruptamente durante três décadas. Uma
vez por década, a “gestão” (desculpem) socialista rebenta num festival de
incompetência, estatismo, mediocridade, corrupção, prepotência, nepotismo,
alucinação, bancarrota e, claro, pobreza geral. De cada vez, cede momentaneamente o poder
à “direita” para esta lidar com
os destroços e assumir o odioso. De cada vez, o PS regressa ao poder num ápice,
mediante vitórias eleitorais ou artimanhas parlamentares com os extremistas que
calhar. De cada vez, reinicia-se o ciclo de incompetência, estatismo,
mediocridade, corrupção, prepotência, nepotismo, alucinação, bancarrota e,
claro, pobreza geral. E não se aprende nada.
Talvez seja útil acrescentar que, pelo meio, os portugueses votam.
Votam com a atitude do sujeito que dá marteladas na cabeça por acreditar que a
próxima vai fazer-lhe bem, mas votam. Com curiosa frequência, portentosa
amnésia e desmesurado optimismo, votam no PS o bastante para o PS
continuar a existir. E, geralmente, a mandar. O dr. Costa caiu agora. Num lugar
menos exótico, Costa teria caído há anos, logo que se acumularam os sinais do
inevitável desastre. Corrijo: num
sítio civilizado Costa nunca teria chegado a governar. E Sócrates, provavelmente, também não. O
pântano que Guterres legou, e no qual nos afundamos sem parança, seria
suficiente para, à primeira oportunidade, o país reduzir o PS aos escombros a
que o PS costuma reduzir o país. Não o fez à primeira oportunidade, não o fez à
segunda e sabe Deus se, a curto ou médio prazo, não o fará à terceira.
A hipótese do curto prazo não é desprezível. A acreditar nas sondagens, e na
experiência, o PS prepara-se para discutir as eleições de Março, na sequência
de um governo que desabou sob o peso de falcatruas e, presume-se, liderado por
um sujeito com cabeça de adolescente e apetência por brincar com aviões, com o
dinheiro alheio e com forças apoiantes do Hamas. Não consigo explicar tão radical absurdo. Por
sorte, a propaganda do PS explica tudo, e espalha recorrentemente a ideia de
que os sucessivos carrascos são pobres vítimas de conspirações infames. E o bom
povo, ou a parte que chega para decidir sufrágios, engole com sofreguidão a
porcaria que lhe servem.
Tenho um sonho. Sonho com o dia em que a
vasta maioria dos cidadãos descubra uma evidência: a de que um
partido que em larga medida ocupa e domina o Estado dificilmente é alvo de
maquinações e injustiças. Salvo
por uma avaria, depressa consertada, chamada António José Seguro, a
desonestidade e a inépcia não são boatos, e sim a natureza deste PS,
reinventado em 1995 pelo actual porta-voz do ministério da Saúde de Gaza. Não há
aqui azares, coincidências ou perseguições. Há factos. E, para esconder os
factos, há o embuste, a vocação primordial dos socialistas. Ainda que tosca, a
coisa funciona.
Na quinta-feira, à saída do Conselho de
Estado, o dr. Costa afirmou que “O país não merecia ser chamado
novamente a eleições”. Pois não. Sobretudo se não as aproveitar, como não vai
aproveitar, para enterrar em definitivo o PS.
PS POLÍTICA CRISE
POLÍTICA ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS (de 9)
F. Mendes: Mais um excelente artigo do AG. Como noutras ocasiões, recomendo que
transmitam este artigo a amigos e conhecidos, eventualmente menos atentos, para
ver se os ditos acordam a tempo das eleições; refiro-me, principalmente, aos
proverbiais portadores do chavão "eles são todos iguais",
abstencionistas relapsos. Tramam a vida a todos, começando neles mesmos. Tenho
pena que o AG não tenha mencionado o vergonhoso papel do Marcelo nesta
situação. Para não recuar a 2015, sublinho que esta aventesma, na sua
comunicação desta quinta-feira, começou por recompensar e elogiar o Costa, marcando
eleições para daqui a 4 meses; com a agravante de ter mentido ao país,
ignorando a Constituição e a decência, nos argumentos invocados para esta
demora bizarra e intolerável. Assim o PS aprovará o Orçamento à medida de
interesses eleitorais. Não são só os Portugueses
comuns os culpados; e mais, nem todos os Portugueses são culpados desta
situação, bem pelo contrário. Convém apontar responsabilidades aos responsáveis
e não generalizar culpas: culpar todos, equivale a não culpar ninguém. Seria bom ter isto em mente,
quanto mais não seja para não desesperarmos!
S BeloF. > Mendes: Marcelo não tem conserto!
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