Ao que parece, foi um casamento discreto.
De negócios escusos, instituídos, ao que
se vê, pelos do próprio governo. Sem apelo, com agravo. Julga-se que também com
agrado. Já lá vai há muito o rumor das saias de Elvira. E há muito mais, o
rumor das naus fendendo as ondas e semeando padrões. Agora trata-se de um mega
projecto silencioso, estatuído por alguns do governo, escolhidos a dedo, para
ganharem à sorrelfa, em suma: «Não industrializámos o país e apostámos
numa forma de energia que custa, pelo menos, 10 vezes mais e que não tem
nada ainda feito no terreno, mas que tem grandes suspeitas de corrupção», leio
na Internet.
Eugénia de Vasconcellos dá mais uma achega ao acontecimento, com a elegância própria da sua escrita sugestiva.
De entre dois males, o menor
Há outro PS. Que deveria ter sido o
filtro deste – tal como o CDS-PP deveria ter sido o filtro do Chega e o PSD da
Iniciativa liberal. Não foi. Não foram. É tempo de o serem.
EUGÉNIA DE
VASCONCELLOS Poeta, ensaísta, escritora
OBSERVADOR, 10
nov. 2023, 00:15
O Estado de Direito não pode
compadecer-se com a opacidade das suas instituições. Se é verdade que antes de
ontem António Costa caiu de um parágrafo abaixo, é igualmente verdade que tal
parágrafo, numa primeira leitura, é, no mínimo, vago, e isso, do Ministério
Público, não o podemos aceitar. Este parágrafo teria sempre de ser conducente a
inequívocos esclarecimentos; e mais do que o direito, teríamos o dever de os
exigirmos, e a breve tempo. E temos.
Porém,
hoje, numa segunda leitura do mesmo parágrafo à luz da descoberta de mais de
75.000 euros entre os livros das estantes do gabinete de Vítor Escária, e
sabendo que este dinheiro vivo não se destina a incentivos à leitura, a
percepção sobre aquele parágrafo muda. Não digo que os factos mudaram. Mas a
percepção, sim. De repente, é outro texto. Torna-se necessariamente vago para
salvaguardar as diligências em curso.
Pior. António Costa, que obviamente
presumimos inocente, aparece contaminado pelo seu Chefe de Gabinete. Mas não
apenas.
A própria rede de influências
substancia-se – e equipará-la aos lobbies que Portugal não tem e
deveria ter, não é honesto: os lobbies têm regulação e os lobbistas não
fazem parte dos governos. À
relação entre Lacerda Machado e Escária para a questão do Centro de Dados de
Sines soma-se a do Chefe de Gabinete da Presidência do Conselho de Ministros
que terá assessorado juridicamente aquela empresa. A Start Campus está no
governo? Foi eleita por quem? Sobre o papel de Galamba nem há o que dizer,
afinal materializa a inqualificável destruição da confiança nas instituições
que nos devem salvaguardar.
Nada do que tem acontecido neste último
ano e meio é, infelizmente, surpreendente. Surpreendente foi a maioria absoluta
deste PS. Surpreendente foi a escolha de equipa que António Costa fez, a qual,
de maus a péssimos incidentes, criou um modus faciendi de
informalidade e irregularidades várias e sucessivas. Resta saber se criminosas.
Há outro PS. Que deveria ter sido o filtro deste – tal
como o CDS-PP deveria ter sido o filtro do Chega e o PSD da Iniciativa liberal.
Não foi. Não foram. É tempo de o serem.
O país está por um fio: do caos no
SNS ao da Educação, da TAP à miséria da CP, e a tudo isto acresce a dificuldade
da maioria dos portugueses em fazer face a um dia a dia inflacionado onde a
habitação é uma espada sobre a cabeça e a imigração o destino natural da
juventude qualificada. Isto para não falar na execução do PRR. Ou na recessão à
espreita. E não há uma boa solução. Há duas soluções: a má e a
menos má.
Uma será manter o governo. Mas mesmo com uma remodelação profunda
não reparará a confiança perdida – a maioria dos portugueses não quer tal.
A outra será a dissolução do
Parlamento. Mas não há
uma alternativa credível com Montenegro. Queremos uma solução
espanhola mas à direita? Em que os interesses partidários se sobrepõem aos
interesses do país? Um ciclo instável? Não.
É precisa uma visão de futuro e
capacidade de execução. Seria preciso um PSD competente, maduro e
escrutinado capaz de esvaziar parte do Chega e da IL, e capaz de nos devolver
uma ideia de Portugal. Sou pessimista. Duvido. Mas veremos.
PS: O
Presidente da república acaba de dissolver a Assembleia da República e de
anunciar eleições a 10 de Março.
COMENTÁRIOS:
João Floriano: Há outro PS.
Que deveria ter sido o filtro deste – tal como o CDS-PP deveria ter sido o
filtro do Chega e o PSD da Iniciativa liberal. Não foi. Não foram. É tempo de o
serem.
Esqueça
cara Eugénia. Já não há tempo, nem criatividade, nem ideias. O PS vai
colar-se ainda mais à extrema- esquerda com as consequências que todos sabemos
e que não são agradáveis. A CS vai-se encarregar de o apresentar numa primeira
fase como o rosto de um novo PS. Depois será o salvador da pátria, o PM de que
precisamos. As consequências são óbvias: geringonça II. O PSD, com
Montenegro, mesmo o IL, sofrerão as consequências das suas estratégias erradas.
O CHEGA duplicará o número de deputados mas de nada vai valer. Ainda não
começou a campanha eleitoral, pelo menos oficialmente e já se sabe como vai ser
pelos debates televisivos que tão abundantemente são transmitidos: ideias
velhas, rançosas, linhas vermelhas, o medo do CHEGA e não reconhecer que o
adversário é a esquerda e não o Ventura. Desengane-se Eugénia e habitue-se como
dizia alguém há cerca de uma ano, à frente de um reposteiro vermelho: Isto só
vai piorar!
O Tintin: O PSD e a IL já não vão a tempo disso. Pois deixaram-se
confundir com o PS por demasiado tempo. E a direita fartou-se do PS.
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